Capítulo 12

1429 Words
Ben Tenho o coração batendo a mil por hora enquanto dirijo pelas ruas quase desertas de uma parte mais afastada da cidade. Foco minha total atenção em cada pequeno beco ou ruela onde aquelas meninas podem ter se enfiado. Minha preocupação só aumenta quando penso que estão nesse frio desde ontem à noite e que Jenny ainda está com o braço machucado. _ Para o carro. – Lily pede de forma brusca. _ As viu? – Pergunto estacionando de qualquer maneira. _ Acho que estão ali. – Ela diz saltando do carro apressada e faço o mesmo. Praticamente preciso correr para conseguir alcança-la quando ela entra em uma ruela sem titubear. É uma rua sem saída e ao final posso ver duas pessoas abraçadas e encolhidas. Não tenho dificuldades em reconhecer as duas. A cena é de partir o coração. Gen está batendo os dentes e tem os lábios roxos enquanto abraça a irmã que usa o seu casaco e tem uma aparência muito melhor que a mais velha. É Jenny a nos perceber primeiro. Pensei que a sua reação seria chamar a irmã e saírem correndo para longe, mas ela faz o completo oposto e se lança nos braços de Lily, que a acolhe num forte abraço sem pestanejar. Em contra partida Gen se mantém imóvel. Parece não ter forças para se mover e isso me deixa em sinal de alerta. Toco o seu rosto com cuidado em busca de alguma reação, mas nada acontece. O máximo que consigo é receber um olhar carregado de medo e suplica. _ Precisamos levar ela para um lugar quente rápido. – Digo a Lily enquanto jogo o meu casaco sobre os ombros da garota e a ergo em meus braços. _ O carro. – Responde rápido indo na frente com Jenny e as sigo depressa. Ela abre a porta traseira e entro com Gen ainda em meu colo. Esfrego seus braços na tentativa de aquece-la mais rápido. Lily entra em seguida com a pequena que se apressa em segurar a mão da irmã. Jenny me olha apavorada em ver a situação da irmã. _ A Gen vai ficar bem? – Pergunta com a voz embargada. _ Vai. – Garanto sem parar com o meu trabalho. – Acha que devemos leva-la ao hospital? – Pergunto a Lily que olha para Gen com preocupação. _ Não. – Gen sussurra. – Nada de hospital. _ Seria melhor para você. Assim se recuperaria mais rápido. – Lily argumenta calmamente. _ Já estou melhor. – Diz tentando se afastar de mim, mas está fraca e não tem muito sucesso em sua tentativa. _ Fica calma, Gen. – Peço tirando o gorro da cabeça de Lily e coloco em sua cabeça. – Não vamos para o hospital. _ E para onde a gente vai? – Lily pergunta com o cenho franzido. _ Vamos para a casa dos seus pais. – Respondo o primeiro lugar que vem na minha cabeça. – Lá é quentinho e seguro. Cuidamos delas e depois cuidamos do resto. _ Certo. – Ela concorda junto com um maneio de cabeça. Com cuidado coloco Gen no banco e logo Lily ocupa o meu lugar em aquecê-las. Me sento atrás do volante e começo a dirigir de volta para a casa dos meus sogros. Pelo retrovisor consigo ver que os lábios de Gen não estão mais tão roxos como antes e isso me tranquiliza um pouco. Estaciono em frente à casa dos pais de Lily quase que ao mesmo tempo que Anthony e Jordan. Imagino que Lily os tenha avisado que já havíamos encontrado as meninas e estávamos voltando para casa enquanto tentava dirigir sem entrar em pânico. Saltar do carro é um pequeno alvoroço. Como Gen ainda está um pouco fraca a carrego no colo para dentro enquanto Jenny vai colada a Lily. Acredito que esteja assustada com esse tanto de gente falando quase que ao mesmo tempo. Não a julgo. Se fosse eu no lugar dela acho que sentiria o mesmo. Noto um leve sorriso se formar nos lábios de Jenny quando Max vem para perto dela em busca de carinho. Logo mantas grossas e canecas de chocolate quente surgem para as pequenas que estão acomodadas diante da lareira. _ Agora que estamos todos mais calmos. – Miranda começa a dizer sentando na mesinha de centro de frente para as duas meninas. – Podem nos contar porque fugiram? As duas se olham trocando um olhar de cumplicidade. Nenhuma das duas vai contar as razões que fez com que fugissem. Elas não confiam em ninguém. Para elas, todo e qualquer adulto só se aproxima para fazer uma coisa. Machucá-las. _ Podem confiar na gente. – Anthony garante apoiando as mãos sobre os ombros da esposa. – Não vamos brigar com vocês. Novamente há aquela troca de olhares e nenhuma palavra é dita. Reconheço o que estão fazendo. Vi muitas crianças fazerem o mesmo quando estavam no abrigo. Estão tentando se proteger. _ Eles foram agressivos, não é? – Pergunto olhando diretamente nos olhos de Gen. – Tentaram bater em vocês. – Dessa vez não é uma pergunta. _ Se foi isso deveria ter chamado a polícia. – Anthony comenta me olhando sobre os ombros. – Fugir nunca é uma solução. _ É a solução quando se sabe que ninguém vem ajudar. – Rebato sem desviar os meus olhos dos de Gen. – Não preciso ser um grande conhecedor da cidade para saber que o lugar onde aquelas pessoas viviam não era uma prioridade para a polícia. Ninguém chegaria a tempo para ajuda-las. – Vejo quando ela engole em seco. – Não é? _ Como sabe disso se elas nem mesmo tentaram? – Tia Maggie pergunta ao lado da nora e recebe um olhar de advertência do filho. _ Eles não chegaram quando Bob fez isso comigo. – Aponta para a cicatriz no rosto. – Tive que resolver sozinha. – Sua voz é pura raiva. – Fui caminhando até o hospital levando Jenny comigo. Só depois disso que nos levaram para o abrigo. _ Ele tentou ferir você outra vez? – Lily pergunta apertando a minha mão como se buscasse força em mim. _ Não. – Ela n**a em um tom sombrio. – Tentou machucar a Jenny. – Olha para a irmã que se mantém calada. – Não podia deixar que fizessem com ela o mesmo que fizeram comigo. – Diz a abraçando com força na tentativa de afastar as lembranças ruins dos acontecimentos recentes. A indignação de todos ao ouvir esse relato é geral. Eleonor esconde o rosto no peito do marido enquanto chora silenciosamente. Posso ver pela dor no olhar de Carly que ela imagina os filhos nessa situação e isso a faz sofrer. Não consigo ver as feições de Miranda e Anthony, mas sei que estão abalados com o que acabaram de ouvir. _ O que vai acontecer com a gente agora? – Jenny pergunta num fio de voz. – Vamos voltar para o abrigo? _ Deveria ser assim, mas por conta da neve as estradas estão fechadas. Então o diretor e eu achamos melhor que vocês ficassem conosco até o tempo melhorar e poderem voltar. – Miranda explica afagando a bochecha da menor. _ Vamos ficar aqui? – Pergunta a Lily com os olhinhos brilhando e isso já me faz ganhar o dia. _ Parece que sim. – Lily responde com um meio sorriso. _ Imagino que estejam com fome. – As duas assentem com um maneio de cabeça quando Miranda comenta. – Ótimo. Eu e a tia Maggie vamos preparar algo gostoso e rápido para o almoço enquanto vocês sobem, tomam um banho quentinho e vestem roupas secas. Ela termina de falar olhando para as filhas que rapidamente entendem o recado e se apressam em levar as meninas para o primeiro andar. Exalo com pesar deixando o meu corpo cair sobre uma das poltronas. Me sinto exausto como se houvesse participado de um triatlo. Foram muitas emoções para um único dia. _ Como sabia que elas estavam fugindo de maus-tratos? – Jordan pergunta quando sobramos apenas os homens na sala. _ Aprendi quando vivia no abrigo. – Conto porque não preciso esconder isso. _ Viveu em um abrigo? – Anthony pergunta com o cenho franzido. _ Sim. Meus pais não tinham parentes vivos e acabei ficando no sistema até completar a maior idade e começar a caminhar por conta própria. Sei que querem perguntar mais sobre o assunto, mas não o fazem e agradeço mentalmente por isso. Acho que não aguentaria remexer mais em coisas que me lembram o meu passado.
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