Capítulo 13

1612 Words
Lily Ajudo Jenny a se vestir enquanto Gen está terminando de tomar banho. Ela tem a aparência menos abatida que a irmã. Isso porque Gen estava disposta a morrer de frio, se necessário, para proteger a irmãzinha. Olha-las assim cuidando uma da outra me faz lembrar de quando Eleonor e eu éramos mais novas e nos encobríamos em nossas travessuras. _ Quer que penteie o seu cabelo? – Pergunto quando ela afasta alguns cachinhos do rosto com o braço bom. _ Sim. – Fala com um largo sorriso que parece iluminar todo o quarto. – Você sabe pentear cabelos iguais ao meu? _ Não tenho muita experiencia, mas acho que consigo me virar bem. – Digo pegando uma escova e algumas presilhas na minha penteadeira. Me posiciono atrás dela e começo o trabalho de tirar os nós sem quebrar os fios e com cuidado para que não a machuque. Não tenho nenhum produto próprio para cabelos cacheados, mas os meus devem servir por hoje. Embora ache que ela nunca fez uso de produtos desse tipo. Estou terminando de fazer um penteado simples quando Gen deixa o banheiro usando uma de minhas roupas, que ficam um tanto grandes para ela. Tem os braços cruzados e um olhar envergonhado que me dá vontade de abraça-la e não a soltar nunca. Jamais havia sentido nada assim por nenhuma criança. É um sentimento tão arrebatador quanto o que começo a nutrir por Ben. _ Olha o penteado lindo que a Lily fez em mim, Gen. – Jenny fala mostrando os cabelos animada e faz a irmã sorrir. – Você gostou? _ Sim. – Responde de modo monossilábico. Não sei se faz isso por estar com vergonha, sentindo algo ou porque é o seu jeito. Para mim Gen é indecifrável. _ Quer que a Lily faça um igual em você? – Ouço Jenny falar me tirando do transe em que estava. – Você faz um desses na minha irmã, Lily? _ Faço. – Digo sorrindo para a menina que me olha desconfiada. _ Não precisa pentear o meu cabelo. – Diz na defensiva. – Nem o da minha irmã. – Passa o braço sobre os ombros da mais nova. – Sou eu quem cuido da minha irmã. _ E tem feito um ótimo trabalho. – Falo a pegando de surpresa. – Bom. Se não quiser que te ajude com o cabelo, tudo bem. Pode usar o que quiser da penteadeira. – Aponto o móvel logo atrás de mim. – Vou ajudar a minha mãe com o almoço. Quando estiverem prontas podem descer. Abro a porta para deixar o quarto e quase sou atropelada por Max que corre para perto de Jenny. Faço sinal o chamando para fora, mas sou miseravelmente ignorada pelo traidor. Ele só tem olhos para as meninas. _ Deixa ele aqui comigo. – Jenny pede afagando os pelos dourados de Max. _ Certo. – Digo com um meio sorriso. – Mas não deixa ele entrar no banheiro. Ele gosta de brincar com a água do vaso. _ Pode deixar. – Diz abraçando o meu bebezão que ama a atenção. – Vou cuidar dele direitinho. – Garante me fazendo sorrir. Me despeço delas com um aceno e saio fechando a porta. Vou até a cozinha para ver se precisam de ajuda, mas mamãe praticamente me expulsa. Sem escolha me junto aos rapazes que conversam na sala de estar. As meninas descem alguns minutos depois. Jenny parece estar mais à vontade e até interage um pouco com os filhos de Herry. Já Gen se mantem distante. Claro que sempre de olho na irmã mais nova. De longe se vê que ela ama muito a irmã e que daria tudo por ela. Só a vejo se soltar um pouco na hora do almoço. Acho que a fome fala mais alto que a cautela. Constatar isso me parte o coração e quando me volto para Ben percebo que o mesmo acontece com ele. E que o afeta. _ Você está legal? – Sussurro para que só ele me escute. _ Vou ficar. – Diz forçando um sorriso. Depois que terminamos de comer Eleonor e Jordan saem para um passeio de casal, Carly e Herry ficam de olho nas crianças que vão assistir a um filme na sala de televisão, tia Maggie se recolhe alegando estar com dor de cabeça e meus pais também se recolhem. E sobra para Ben e eu a louça para lavar. _ Eu lavo e você seca e guarda. – Sugere e assinto em resposta. _ Quer falar um pouco? – Pergunto quando ele me estende o primeiro prato. _ Não. – Conta lavando outro. – Se eu falar as coisas podem vir à tona e não quero fazer uma cena na casa dos seus pais e nem na frente das meninas. _ É tão r**m assim? – Questiono com um aperto no coração. – Eles maltratavam você no abrigo? _ Os adultos, não. – Diz me estendendo mais uma peça. – Mas algumas crianças podem ser bastante cruéis. Principalmente quando já se teve uma família de verdade antes de ir parar naquele lugar. _ Família de verdade? _ Um pai e mãe amorosos. – Explica parando o que está fazendo para me olhar. – Muitos que vão parar lá tem histórias parecidas com a dessas meninas. E alguns convertem a dor em raiva e descontam nos outros. _ Acha que é o caso delas? – Pergunto preocupada. _ Não. – n**a voltando a sua função. – Elas apenas estão lutando para sobreviver e desesperadas por ajuda. Mesmo que não peçam com palavras. _ Os olhos falam muito. – Comento e ele assente em resposta. – E o que as crianças cruéis faziam com você? _ Coisas que não quero falar agora. – Suspira me entregando o último copo. _ E sobre o que quer falar agora? – Pergunto guardando o copo no armário. _ Sobre isso. – Diz envolvendo minha cintura e me puxando para perto. Ele me beija e não resisto. Sei que em algum momento essa brincadeira pode nos machucar e que eu deveria dar um basta antes que custe a nossa amizade. Mas acabo de descobri que sou fraca e que amo beijar o meu melhor amigo. _ Não sabe o quanto estava querendo esse beijo. – Sussurra em meu ouvido me deixando arrepiada. _ Não faz isso. – Peço no mesmo tom. _ Por que? _ Porque alguém pode entrar e vou morrer de vergonha. – Digo já sentindo minha bochechas queimarem. _ Amo quando fica vermelha. – Diz antes de me beijar mais uma vez. Nos juntamos ao pessoal na sala de televisão e pegamos o filme pela metade. É algum sobre princesas que cantam a cada três minutos de filme. Acho graça quando ouço meu primo Herry cantarolando algumas partes. Imagino que tendo uma filha pequena ele deva assistir a muitos filmes como este. Perto da hora do jantar é novamente aquela bagunça. Mas percebo uma certa tensão em Gen à medida que a hora de dormir se aproxima. Não sei se é porque está em um ambiente estranho ou se é porque sabe que amanhã a essa hora estará de volta ao abrigo. A constatação novamente me machuca. _ É hora de criança ir para cama. – Mamãe fala quando tudo está em ordem outra vez. _ Onde a gente vai dormir? – Jenny pergunta diretamente para mim. – Vai ser num quarto só para a gente? _ Para com isso, Jenny. – Repreende a mais velha. – Nós podemos dormir no sofá. _ Nada disso. – Ben diz apoiando as mãos sobre os meus ombros. – Vocês podem dividir o quarto com a Lily e eu durmo no sofá. _ Não precisa. – Gen tenta argumenta claramente sem graça pela iniciativa de Ben. _ Claro que precisa. – Reforço tocando seu braço. – Vocês passaram por uma noite complicada, tiveram um dia agitado e precisam descansar. _ E já está decidido. – Ele determina. Elas não brigam ou se queixam. Apenas aceitam o que foi imposto. Não sei se por serem obedientes ou por terem medo. Ben entra conosco no quarto, mas não se demora muito. Ele apenas pega o seu pijama e uns lençóis para preparar sua cama e então sai depois de me beijar. Empresto algo confortável e quentinho para elas vestiram. Aproveito enquanto estão no banheiro para deixar a cama pronta para elas e preparar o colchonete para mim. _ Vamos dormir as duas aí? – Gen pergunta deixando o banheiro acompanhada da irmã, que já coça os olhos assonada. _ Não. – Digo me erguendo e parando diante delas. – Vocês vão dormir na cama e eu que vou dormir ali. – Aponto para o chão. _ Que legal! – Jenny exclama pulando na cama. – Esse colchão é bem fofinho. – Se aconchega melhor. – E essa cama é enorme. Você também pode dormir aqui com a gente, Lilica. – Sorrio ao ouvi-la me chamar pelo apelido que minha família me deu. _ O nome dela é Lily. – Repreende Gen. _ Tudo bem, Gen. – Garanto. – E é melhor só vocês duas ficarem com a cama. Assim ficam mais cômodas. _ Ah! – Lamenta me fazendo sorrir ainda mais. _ Mas vou ficar aqui bem pertinho e qualquer coisa é só chamar. – Garanto indo até ela e beijo o topo da sua cabeça. Faço o mesmo com Gen que não esconde a surpresa. – Descansem e durmam bem. – Desejo antes de ir me trocar no banheiro. Quando retorno para o quarto elas já estão dormindo. Fico um tempo as observando antes de ir me deitar também.

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