Capítulo 4
Luciana (Lu ) narrando :
E aí, galera. Chegou a hora de eu me apresentar pra vocês. Meu nome é Luciana, mas todo mundo me conhece por Lu. Eu tenho 19 anos e moro aqui no morro desde sempre. Minha mãe me abandonou quando eu era bem pequena, com uns 4 ou 5 anos. Eu ainda lembro um pouco daquela época. Meu pai, que era um dos vapores do morro, nunca me deixou faltar nada. Com a ajuda da minha madrinha, que é minha vizinha, ele me criou.
Quando eu tinha 15 anos, meu pai morreu em uma invasão, numa troca de tiros. A partir daí, só ficamos eu e meu irmão, o Rafa. Não tenho o que reclamar dele. O Rafa sempre fez o máximo que podia por mim, nunca precisei trabalhar. Ele sempre me manteve deu do melhor que estava ao alcance dele . Ele não gosta que eu trabalhe em nenhum lugar aqui no morro, porque tem medo de eu me envolver com alguém que não preste.
Eu sou morena com pele clara, olhos verdes e cabelo castanho, liso e comprido na altura da cintura . Tenho 1,67 metro, sou magra, mas com um corpo bem bonito, mesmo sem me cuidar muito. Acho que é genética, porque, pelas fotos com a minha mãe, ela também era linda de corpo .
Nunca namorei. Na época em que estudava fora do morro, até tive alguns rolos, mas sempre que meu irmão descobria, ele ia atrás dos caras e acabava assustando eles. Então, a palavra namorar não está exatamente no meu dicionário.
O Rafa tem 24 anos e, até agora, nunca teve uma relação séria. Ele é da p*****a e não está sempre se envolvendo em resenhas e raramente passando uma noite em casa. Já briguei com muita p*****a na rua por causa dele. As piranhas acham que vão virar fiel , mas eu não tenho paciência pra isso. Já deixei bem claro que não quero nenhuma dessas aqui em casa.
Eu tenho duas amigas próximas. Uma é a Thaís, que é como uma irmã pra mim. Passei por muita coisa com ela, principalmente quando ela perdeu a mãe. E agora, com tudo que ela está enfrentando, sinto como se a dor dela fosse minha também. A outra amiga é a Patrícia, a Paty. Ela saiu do morro há dois anos, quando o pai dela se separou da mãe. Desde então, a gente não se vê, mas nunca perdemos o contato. Falei com ela essa semana e ela disse que está voltando pra cá. Não vejo a hora de matar a saudade.
Estava em casa assistindo TV, com o Rafa mexendo no celular no sofá, quando ouvi batidas na porta. Saí correndo pra atender e, para minha surpresa, era a Thaís, desesperada. Fiquei em choque ao vê-la daquele jeito. Não sabia o que fazer, coitada da minha amiga. Já sabia que ela tinha problemas com aquele padrasto nojento. Ela sempre desconfiou que ele a olhava de uma forma errada, mas a mãe dela parecia não perceber.
Fiz o que pude para amenizar a dor dela e acalmá-la. Senti como se estivesse vivendo tudo aquilo junto com ela. A situação era tão grave que, por um momento, parecia que eu estava sentindo cada pedacinho daquela dor.
Meu irmão ficou furioso ao ver o que aconteceu com a Thaís e saiu atrás do Joel pra dar uma surra nele. Ele voltou depois, com a cara amarrada e um brilho de satisfação nos olhos. Já dá pra imaginar como ele deve ter deixado o cara. O Rafa sempre foi reservado, mas é visível que ele tem uma queda pela Thaís. Só a Thais que não vê isso ou se finge .
E o Rafa, apesar de nunca ter tido coragem de se declarar, eu sei que ele sempre teve uma quedinha por ela. Não entendo bem o motivo de ele não ter tomado uma atitude. Meu irmão é um pedaço de mau caminho, mas é leal e protegem quem gosta. Falo pra vocês, o cara é bruto, mas é do bem. Se não fosse meu irmão, até eu daria uma chance.
A noite estava pesada, mas a gente precisava encontrar alguma forma de amenizar o clima. Vi a Thais tão abatida, com o olhar distante e o corpo ainda tremendo. Então, decidi preparar um brigadeiro. Era uma forma de tentar trazer um pouco de normalidade e conforto para ela.
— Eu vou preparar um brigadeiro pra gente, o que você acha? A gente já fechou o filme. Eu não estou com sono mesmo. Você também não deve estar, né? — perguntei, tentando trazer um pouco de leveza à situação.
Ela me deu um leve aceno de cabeça, e eu fui para a cozinha. Enquanto misturava o brigadeiro, pensava em como poderia ajudar a Thais a lidar com a situação. Quando o brigadeiro estava pronto, voltei para a sala com a panela e duas colheres, tentando esconder a minha própria inquietação.
Sentei ao lado dela, entregando uma colher e me preparando para ouvir o que precisasse falar. Olhei para a Thais, que estava visivelmente lutando contra as lágrimas.
— Amiga, tenta não ficar pensando no que aconteceu. Tá, eu sei que é difícil, mas tenta não ficar pensando. Agora, você não vai mais precisar ficar perto daquele monstro. A gente vai ser sua família. Fica tranquila — falei, com a esperança de que minhas palavras pudessem trazer um pouco de alívio.
A Thais olhou para mim, os olhos ainda marejados, e agradeceu com sinceridade.
— Muito obrigada, Lu, de verdade, de coração. Você é como uma irmã pra mim.
Eu sorri, sentindo um calor no peito. Não podia apagar o que aconteceu, mas estava determinada a oferecer a Thais o apoio e a segurança que ela precisava. Nós duas precisávamos de um pouco de conforto, e o brigadeiro era um pequeno passo para nos ajudar a lidar com o que veio. E, enquanto eu a abraçava, percebi que, mesmo nas piores situações, a amizade e o amor podem fazer uma grande diferença.
Continua ....