GORK: O BONECO ASSOMBRADO

4398 Words
Hoje é um dia maravilhoso para o pequeno Joe, pois é o primeiro dia em que ele está enxergando o mundo à sua volta. Esse é o dia em que ele retira as bandagens após a cirurgia de córnea e é tudo tão lindo! Ele se encanta com as cores dos objetos, as pessoas com seus cabelos, alturas, formas diferentes; os animais; as praças, as casas, as igrejas... Mas nem sempre foi assim, pois Joe era cego de nascença. - Olhe mamãe! Este é o melhor dia da minha vida! Estou enxergando! Estou vendo tudo! Joe nasceu no Queens, um dos subúrbios de Nova York. Mas apesar da pouca condição de vida ele, seu pai Ricky e sua mãe Lucy eram muito felizes. E tudo ficava ainda mais radiante, quando Ricky chegava do trabalho e o pegava nos braços, brincando com ele durante toda a noite até a hora do jantar. Sua mãe cuidava dele a maior parte do dia, mas mesmo em casa, brincava e conversava com Joe, ensinando muitas coisas que ele ouvia e imaginava. Quando sua mãe queria sair para fazer compras e não podia ficar com ele, Joe passava o dia com outras crianças, na creche de sua tia Louise, irmã de seu pai Ricky. Nessa creche, ele passa o dia brincando com várias crianças e alguns voluntários levam amigos para conhecerem o trabalho social de tia Louise, que cuida de crianças de famílias carentes, como a voluntária Franchini, que um dia levou o namorado Maxwell para conhecer a creche da tia Louise, mostrando todas as crianças especiais que ela cuida e quando menos se espera, Joe some do meio de todas elas. Desesperados, todos procuraram Joe por todo o prédio, o encontrando conversando alegremente com um boneco, que ninguém sabia de quem era. Mas Franchini ficou quase em estado de choque, quando viu que era um velho boneco que andava com Maxwell em todo lugar que o mesmo ia: Gork. - Max! Meu Deus! Porque você trouxe esse boneco para cá pros Estados Unidos? – Disse a jovem cochichando nos ouvidos do namorado - Ele é amaldiçoado! - Eu nem sabia que o tinha colocado na mala, Fran. Vou lá pegar ele. Quando se aproximou do boneco, uma forte energia negativa o repeliu. Maxwell sentiu-se m*l e quanto mais o garoto sorria, conversando com o boneco, mais ele sentia-se m*l. Porém ele conseguiu ultrapassar as barreiras de energia impostas pelo mesmo e quando tomou o mesmo dos braços de Joe, percebeu que o menino era cego. E assim que Maxwell tomou o boneco das mãos de Joe, ele pode ver nos olhinhos azuis vítreos e cegos da criança, uma enorme tristeza, além de algumas lágrimas rolando em seu pequeno rosto. Comovido, Maxwell entrega Gork de volta para Joe, que volta a abrir um sorriso radiante ao abraçar aquele velho boneco, que mais parecia um dinossauro, com dois olhos de botões pretos e um zíper no lugar da boca. Porém antes mesmo de voltar com Joe para onde estavam as outras crianças, Maxwell sentou com o pequeno e lhe deu algumas instruções: - Olha Joe, se quiser ficar brincando com o Gork, você vai ter que evitar algumas coisas, senão ao invés de brincadeira, pessoas podem se machucar. O garoto abraça forte o boneco e pergunta: - Ele é perigoso? Não quero ficar longe dele! - Ele não é perigoso Joe. Mas pra que ele possa ser um boneco comum e sempre agradável, você vai ter que evitar certas coisas, como por exemplo: não deixar ele na frente da televisão; não falar palavras feias perto dele; não brigar perto dele e não desobedecer a seus pais, pois ele se alimenta pelos olhos e ouvidos. Mas se caso acontecer algo desse tipo, tire ele de perto e leve ele pra algum lugar longe, de preferência onde não tenha ninguém, como o sótão ou o porão. Joe ouvia os conselhos de Maxwell com uma ansiedade fora do comum, igual quando Você está para ganhar o presente que tanto sonhou na vida e ele está ali a poucos metros de você. Os olhinhos do garoto estavam tão voltados na direção de Max, que ele nem parecia ser um menino cego. O sorriso em seu rosto também era inevitável, porque ia de uma orelha a outra. Mas apesar disso, Jack continuava com suas recomendações: - Também tem o mais importante, Joe: se caso quiser conversar com Gork, abra o zíper da boca dele, mas só faça isso se estiver sozinho em casa, porque os adultos não entenderiam a magia que ele tem. Mas se ouvir o som de um guizo, como se ele tivesse um pequeno sino dentro da boca, ou o barulho de moedas, não abra o zíper! Só cubra o rosto dele com um pano preto e deixe-o de rosto coberto e isolado de todos por pelo menos dois dias, até o som dentro da boca dele desaparecer. Lembre-se: ele se alimenta pelos olhos e pelos ouvidos. O menino ouvia tudo atentamente, passeando as mãos pelo boneco, estudando e conhecendo cada fibra velha, passeando pela boca de zíper e pelos olhos de botão, como que encantado com o novo brinquedo. Ele prometeu a Max que cuidaria muito bem de Gork, pois nunca tinha ganhado um presente tão bonito. Joe levou o novo brinquedo para casa. Sua mãe Lucy, apesar das poucas condições, como sempre cantava e brincava com Joe, até que Ricky chegasse do trabalho. Apesar de não ganhar muito, Ricky era um homem bom, pois ele, Lucy e seu filho Joe eram muito felizes. E sempre que sua mãe cansava de brincar com ele, ele tinha seu bichinho de pelúcia, o Gork, para brincar com ele. Quando chegou o inverno, o aquecedor deles não era muito potente, mas mesmo assim, Lucy envolvia Joe em seus braços para mantê-lo aquecido e o menino ficava abraçado com seu boneco, que ficava aquecido apenas para ele. Joe não se lembrava muito de seu pai, porque ele passava o dia todo trabalhando e morreu em um acidente de trabalho quando ele era ainda muito pequeno. Mas ele se lembra perfeitamente do choro de sua mãe Lucy todas as noites, e de como ela conversava com Joe, como se ele pudesse entender todo o pesar que ela estava passando. Não demorou muito e Lucy começou a trabalhar logo, depois que seu esposo Ricky falecera, deixando Joe na creche da irmã, o dia todo. Nessa nova fase da vida de ambos, o pequeno não ficava muito tempo com ela. Mas assim que ela o pegava na creche e o levava para casa, o colocava no colo e ensinava as coisas, conversando sempre com ele e o beijando. Essa conexão entre eles fazia Joe se sentir tão bem, que logo ele esquecia de que ela havia passado o dia inteiro fora. Lucy tentava ensinar as coisas para Joe, porque ele não podia ir à escola como todas as crianças que enxergavam, porque todas as vezes que ela tentou matricular o pequeno, sempre diziam que ela deveria procurar uma escola especial. Isso sem contar que a creche em que a irmã de Lucy era dona, apenas cuidava das crianças e não lhes ensinava nada, fora o fato de que Joe ficava isolado o tempo todo, por ser cego. Por isso ele não tinha muitos amigos com quem brincar. Mas ele nem se importava com isso, porque Gork, seu novo bichinho de pelúcia estava sempre com ele. Ele e o estranho bicho de pelúcia ficaram tão ligados, que o pequeno nem lembrava mais como o boneco veio parar em suas mãos. E esse laço se tornou tão profundo, que a impressão que Joe tinha de Gork, era a de que ele sempre o teve. Tanto era, que quando Joe estava maior e já não precisava ficar na creche, ele passava o dia inteiro com ele, conversando sobre muitas coisas. Quando Lucy chegava, Joe contava tudo o que conversara e aprendera com o boneco e como ele o guiava dentro de casa, não deixando que tropece em nada. O tempo passou e Lucy se casou de novo. E desde que conhecera seu novo pai, Joe nunca conseguiu gostar dele, como gostava do verdadeiro. Sua mãe Lucy, também não gostava de seu novo marido. Mas casou-se apenas pensando no bem-estar e na proteção do pequeno. O que não era bem verdade, pois o novo marido não respeitava a condição especial dele. - Joe, esse é seu novo pai. Ele vai cuidar da gente a partir de hoje. - Oi, papai. - Há, há! Aonde vai menino? Estou aqui na sala: não na cozinha! Um pesar entrou na alma do pequeno, pois sua mãe e muito menos o Gork, seu bichinho de pelúcia, nunca riram dele, por ele às vezes não enxergar o caminho com as mãos. Então porque seu novo pai estava rindo dele? Foi quando pela primeira vez, sem que ninguém notasse e no meio das gargalhadas escarnecedoras do novo pai de Joe, que Gork, seu bichinho de pelúcia, voltou seus olhos pretos de botão para o novo homem da casa. Enquanto o homem ria do menino, o estranho bicho de pelúcia o encarava fixamente, como se estivesse sendo atraído pelas risadas de escárnio. O tempo foi passando e Joe foi ficando cada vez mais afastado de sua mãe, pois desde que seu novo pai fora morar com eles, ele passou a dormir sozinho. Mas ele nem se importava, pois Gork fazia companhia para ele e, quando ele abria o zíper que ficava no lugar de sua boca, o estranho ser de pelúcia contava várias histórias para Joe, até ele dormir profundamente. Joe gostava da companhia de Gork, porque para ele, o bicho de pelúcia sempre fora seu único amigo. Lucy e Joe tinham muito medo do novo marido e pai. Ele era muito m*l com eles e com freqüência fazia Lucy chorar. O pequeno ouvia tudo, agarrado em seu bicho de pelúcia. E sem que ninguém percebesse, Gork olhava para o homem, como se estivesse se alimentando de tudo o que ele falava ou fazia. - Dinheiro, dinheiro! Você só pensa nessa nisso! Deixe de amolação, sua i****a! - Snif... Oh Jeffrey... Está chegando o inverno e o Joe precisa de sapatos e meias novas. Snif! A mãe de Joe parecia sempre estar infeliz, pois não tinha ânimo para nada. Ela sempre ia trabalhar e implorava para que sua irmã ficasse com Joe na creche, pois tinha muito medo do novo marido e temia que algo r**m acontecesse com o pequeno. Principalmente quando Jeffrey não voltava para casa à noite. Joe e Gork ficavam acordados, ouvindo Lucy chorando em sua cama. E quando Jeffrey chegava, quase sempre estava bêbado. - Tire as mãos de mim, sua imprestável: eu sei andar! Traga comida! - Está bem, Jeffrey! Mas não fique zangado! Vou trazer algo o mais rápido possível! Muitas vezes, quando Jeffrey chegava à casa, bêbado, xingando e quebrando tudo, ele se assustava ao se deparar com o bicho de pelúcia de Joe, Gork, perto dele, como se o observasse. E acredite: encarar aqueles enormes olhos pretos, feitos de botão de costura rodada era de gelar a espinha. Era como se os olhos do boneco tivessem vida e por mais imóvel que ele estivesse, parecia que o estranho bicho de pelúcia, que se assemelhava a um dinossauro velho e surrado, por causa da cauda e dos espinhos, estava vivo e tinha ido parar lá na sala por vontade própria. Por causa desse bicho de pelúcia ser tão assustador para Jeffrey, ele odiava cada vez mais Joe, zombando e rindo dele, pelo fato dele ser cego. Um dia, Joe tropeçou duas vezes no mesmo lugar, pois Gork não ficava perto dele, para dizer por onde andar, quando Jeffrey estava em casa. O brinquedo de pelúcia estava sempre perto de Jeffrey, prestando atenção em tudo o que ele falava ou fazia. - Há, há, há, há! É a segunda vez que você tropeça nessa cadeira. Porque não OLHA por onde anda, menino! Há, há, há! Muitas vezes, Jeffrey, o novo pai de Joe, não dava dinheiro para Lucy. Por isso ela voltou a trabalhar e dava muito duro. E o pequeno, mesmo com pouca idade, sabia que aquele esforço era demais para ela. Então um belo dia o pior acontece: Lucy amanheceu doente. - Mamãe... A senhora não parece bem. Está doente, está? - Cof! Cof! Não amanheci bem de saúde hoje, Joe. Cof! Estou m*l. Vou deitar. Jeffrey, ao invés de ajudar a cuidar de Joe, enquanto Lucy está acamada, só piora as coisas: - Há, há, há! Você tem os olhos mais esquisitos que eu já vi, sabia? Eu quero que um raio desabe na minha cabeça, se seus olhos não se parecerem com os olhos de botão desse seu bicho de pelúcia encardido! Há, há, há! Essa piada agora foi boa! O pequeno Joe, ao ouvir aquelas palavras tão duras, começava a chorar. Ele não podia evitar ter nascido cego, podia? A culpar não era dele, era? Não... A culpa não era. Ele fica pela casa, tocando nas coisas, evitando tropeçar ou esbarrar, para que seu novo pai não caçoe dele, sempre conversando com seu bicho de pelúcia. E enquanto Jeffrey ria escarnecidamente, Gork, com seus enormes olhos pretos de botões rodados, o observava. - Puxa Gork... Você e a mamãe são meus únicos amigos. Sabe... Eu gostaria de poder ver. Aí... Snif... Eu queria ver se ele teria coragem de zombar de mim! Apalpando as paredes e com seu bicho de pelúcia nos braços, ele vai até o quarto onde sua mãe está deitada, para na porta e fala: - Também queria ser grande, para poder cuidar de minha mãe, pois eu não gosto de a ouvir chorar tanto. Quando meu verdadeiro pai estava aqui, ela não vivia dessa maneira. Não é justo, não é Gork? Não é justo que uma pessoa boa como a minha mãe, tenha de passar a vida inteira chorando e... Snif... Snif... Eu não posso evitar ter olhos esquisitos. E o pequeno Joe vai para seu quarto com seu bicho de pelúcia nos braços e chora até pegar no sono. Jeffrey havia saído e parecia que não iria voltar tão cedo. Dessa vez ele estava há vários dias sem aparecer, sinal de que tudo estava mais difícil, pois sem ele, Lucy, mesmo trabalhando, não tinha o suficiente para manter a casa. Uma calmaria se instalou naquela casa, até que numa noite, perto do natal, Joe estava deitado na cama com Gork, abraçado ao bicho de pelúcia tentando manter-se aquecido, quando de repente a porta se abriu. Era Jeffrey: - Como é? Cadê todo mundo? Estou com fome e... - Jeffrey... - Que está havendo com você, sua imprestável? - Jeffrey... Por favor... Cof... Cof... Estou doente... O menino... Jeffrey passou a gritar com Lucy. Gritava e a fazia chorar. Ele não deveria ter feito aquilo, pois ela estava doente. Foi aí que Joe, furioso com toda aquela situação, pulou da cama. - Vamos Gork: precisamos ajudar mamãe! O pequeno saiu correndo do quarto, gritando e chorando de raiva ao mesmo tempo: - Seu valentão, covarde! Deixe a minha mãe em paz, está me ouvindo? DEIXE A MINHA MÃE EM PAZ! - Ora, ora... Se não é o menino esquisito, dos olhos de botão. Joe queria bater nele. O pequeno estava tão furioso, que queria machucar Jeffrey de qualquer jeito. Mas infelizmente ele não conseguia ver onde Jeffrey ia, e o homem colocou o pé para o menino cair, fazendo com que Joe fosse ao chão, chorando muito. Lucy logo se abaixou e abraçou Joe, tentando confortá-lo. Ele ouvia o novo pai gritar. Ele estava com Gork na mão. Jeffrey estava tão furioso que nem percebia o estranho bicho de pelúcia o encarando, como se estivesse absorvendo a raiva e tudo o que de r**m saía do coração daquele homem bêbado e fedorento. - Vou dar um jeito em você, seu moleque maldito, e nesse seu bicho de pelúcia do inferno também! Sem pensar duas vezes, Jeffrey arrancou os olhos de Gork, que eram feitos de dois botões pretos rodados e enormes. A ligação entre eles era tanta, que Joe sentiu a dor do brinquedo ao ter os olhos arrancados. - Pronto! Está ouvindo, seu merda? Arranquei os olhos do seu bicho de pelúcia. Agora ele está igual a você: cego, sem ver nada e com os olhos esquisitos, igual ao dono! Joe ouviu seu novo pai bater a porta ao sair. Então tudo ficou silencioso. Lucy o abraçou ali mesmo no chão da sala e, durante um bom tempo, chorou enquanto embalava o pequeno nos braços. Joe chorava bem mais, pois aquilo o que seu novo pai Jeffrey tinha feito, foi muito mais doloroso do que as ofensas que ele ouvia. - Snif... Puxa mamãe... Ele não precisava ter machucado o Gork, precisava? Não tinha importância ele me machucar. Mas o meu bicho de pelúcia? - Oh, meu filho... Meu filho... - Queria que o Gork tivesse os olhos dele de volta, mamãe! Ele precisa dos olhos para poder enxergar! Eu estou acostumado a não enxergar. A senhora acha que o papai Noel pode trazer os olhos de Gork de volta, mamãe? - Não sei meu filho... Não sei... Cof! Cof! - Papai Noel nunca me deu nada, mamãe. Será que dessa vez, só dessa vez ele poderia trazer os olhos de Gork de volta, mamãe? - Não sei Joe... Vá dormir, meu filho, vá. Não se sabe ao certo. Mas no dia seguinte logo cedo, Lucy pegou o dinheiro com o qual deveria comprar remédio e saiu de casa. Era um dia muito frio no Queens e Joe teve de ficar na cama, todo vestido, para se aquecer. Lucy não deveria ter saído, pois estava muito, mas muito doente. Joe ouviu ela voltar e após eles conversarem um pouco, mandou o pequeno ir para a cama, para que ele não pegasse um resfriado. Joe deitou-se e ouviu um movimento na cozinha. Ele ouviu sua mãe respirando de maneira estranha e ela tossia quase sem parar. Porém ele nem sonhava com o que ela estava fazendo. O pequeno não sabe ao certo, mas adormeceu profundamente. E ele não sabe como explicar, mas em seu coração a magia do Natal aconteceu naquele dia, pois o pequeno sentiu quando Papai Noel levantou seu braço e colocou Gork ao seu lado. O pequeno estava em um sono quase profundo, mas lembra de ter tocado o rosto do bicho de pelúcia e sentido seus olhos colocados no lugar. Eles eram feitos de botões rodados pretos, enormes e estavam ainda mais bonitos! Mas esse momento de alegria e felicidade do pequeno Joe durou pouco, pois algumas horas depois ele acorda assustado, com seu novo pai Jeffrey aos berros dentro de casa. Ele gritava bêbado com uma garrafa de uísque na mão, possesso, urrando para que Lucy se levantasse da cama. Mas Lucy não se mexia. Não se mexia de maneira alguma. - Sua p*****a maldita! Levante logo dessa cama! Está ouvindo? Vamos: levante-se! Levante-se! - Snif... Mamãe... Mamãe... Por favor... Acorde. Quando Jeffrey percebe que Joe está na porta do quarto aos prantos, ele olha para o menino e, possesso, aponta o dedo para ele, bradando com toda a sua raiva: - É tudo culpa sua, seu cego maldito, filho dessa p**a! Se não fosse por você, Lucy daria muito mais atenção a mim! Com toda a raiva possuindo seu ser, Jeffrey desfere um forte tapa no rosto de Joe, fazendo o garoto voar longe e bater a cabeça na quina da cama, fazendo o menino desmaiar. Ele então olha para Gork, que está sentado de frente a ele na porta do quarto e grita com ainda mais fúria: - E esse boneco amaldiçoado dos infernos? Que ódio eu tenho de olhar para você! Se Lucy não tivesse saído de casa para comprar linha para costurar esses seus malditos olhos de botão, isso tudo não teria acontecido! Vou queimar você e botar fogo nessa casa infernal que só me trouxe azar no amor! Jeffrey então vai até Gork e o pega. Ele sente o boneco quente, mas o ignora. Mas uma coisa ele ficou atento: quando chacoalhou o boneco, ouviu um barulho semelhante ao de várias moedas, que vinham de dentro da boca de Gork. - Mas olha só que merdinha esperto: escondendo dinheiro dentro desse boneco encardido. He, He, He, He! Por isso que ele não desgrudava dele de jeito nenhum! Agora esse dinheiro vai ser meu. Com um forte desejo de avareza dentro de si, Jeffrey segurou o boneco de pelúcia e ainda ouvindo o barulho das moedas, abriu o zíper que ficava no lugar da boca de Gork. Porém quando abriu, o barulho cessou. Ele até pensou que as moedas tinham descido para dentro da barriga do boneco e o ergueu acima dos olhos, chacoalhando-o para ver se elas desciam de dentro dele, mas nada! - Que maldição! Enganado por um menino cego! Se ele não estivesse desmaiado, eu o faria desmaiar de novo! Moleque maldito dos olhos de botão! Foi aí que, olhando fixamente para o boneco, já com uma raiva cega por ter sido enganado, Jeffrey o chacoalhou de novo e escutou o barulho de moedas que vinham da boca de Gork. Só que agora era como se estivesse saindo de dentro da barriga, pois o som era bem mais baixo do que da primeira vez. - Ah, ah, ah, ah, ah! Esse moleque pensou que ia me enganar! As moedas estão dentro do boneco. Que menino cego e i*****l! Jeffrey colocou os dedos, indicador e médio, dentro da boca de Gork, tentando alcançar cada vez mais o barulho das moedas, a fim de ver se conseguia colocar a mão dentro das supostas moedas. De repente o homem sente uma forte agulhada nos dedos, como se algo os pressionasse de maneira abrupta. A reação foi a de puxar o dedo para fora do boneco. Quando assim o fez, rapidamente ele puxou os dedos e para seu espanto e medo, eles haviam sido arrancados. Um forte esguicho de sangue jorrou pelas paredes. Jeffrey jogou Gork longe, fazendo o boneco cair atrás da cama. Apavorado e em pânico, Jeffrey correu para a cozinha, pegou um pano e enrolou a mão, tentando estancar o sangue que não parava de jorrar. De repente, ele escuta o barulho de ossos sendo mastigados. Mesmo com medo, ele caminha lentamente até onde o barulho está que era justamente atrás da cama, onde havia arremessado o bicho de pelúcia. Quando ele chega perto, o mesmo entra em estado de choque, tamanho o pavor com o que vê: os panos que cobriam o boneco haviam se rasgado e no lugar, estava uma criatura que se assemelhava a um pequeno demônio. Este tinha mais ou menos uns sessenta e seis centímetros, patas de animal; braços de gente, com quatro dedos com garras nas mãos e nos pés; pele vermelha, olhos pretos iguais aos botões, uma pequena crista de espinhos que vai do meio da testa descendo pelas costas, dois chifres saindo do maxilar, dentes que lembravam um animal e uma cauda enorme, com quatro dedos com garras na ponta. O demônio estava saboreando os dedos que acabara de arrancar da mão de Jeffrey, e mastigava os ossos como se estivesse mastigando um pedaço de chocolate. - Hum... Ainda tem gosto de frango – dizia o demônio. Quando o demônio percebeu que Jeffrey o observava, voltou a atenção para ele. O choque do homem que acabara de perder os dedos, com o olhar penetrante do demônio, fez sua espinha gelar. Jeffrey ficou paralisado de medo, enquanto o pequeno demônio o fitava com seus olhos negros. Um silêncio fúnebre tomou conta da sala, pois os olhos do pequeno demônio eram de paralisar qualquer um que os fitasse. E aquilo seria infinito, se o monstro não quebrasse o gelo: - Há! Jeffrey começou a correr apavorado pela casa. Mas tropeçou em Joe e caiu no chão. Nisso engatinhou até a sala, apavorado. O medo podia ser visto nos olhos dele, pois estava quase em estado de choque, pelo que tinha acabado de presenciar. Ele parou no sofá da sala e olhou para o quarto. Seu corpo todo tremia e seus olhos estavam incrédulos. A adrenalina corria por seu sangue tão rápido quanto um piloto de corrida querendo se matar. Ele sentou-se no sofá, querendo acreditar que tudo aquilo era criação de sua mente, mas a mão envolta em um pano e sem o dedo indicador e médio, o faziam acreditar que aquilo tudo era real: aquele demônio existia e tudo estava acontecendo diante de seus olhos. Quando menos espera, o pequeno demônio surge no meio das pernas de Jeffrey, crava as garras em sua barriga e começa a estripá-lo, sem dó nem piedade, tendo as carnes rasgadas, como se ele não fosse nada. O homem solta um enorme grito de dor e desespero e morre sentado no sofá, vendo suas vísceras sendo arrancadas e devoradas sem dó nem piedade. E como se a morte por rasgamento de ventre fosse pouca, Gork arranca os olhos de Jeffrey, coloca-os em um copo e o enche de uísque. Em seguida ele dá uma golada na garrafa de uísque de Jeffrey, senta-se ao lado dele e volta a ser um bicho de pelúcia de novo. Quando ele retorna a sua condição de bicho de pelúcia, os vizinhos invadem a casa e flagram o horror: Jeffrey estava sentado no sofá, com marcas de garras e dentes, como se algum animal feroz e extremamente forte, tipo um urso, o tivesse estripado e devorado suas vísceras. Imediatamente, os vizinhos chamaram a polícia e uma ambulância, pois Joe e sua mãe estavam conscientes, apesar de estarem desmaiados. Ao final de tudo aquilo, ninguém podia explicar o que havia acontecido dentro daquela casa. Porém, a parte mais macabra daquela cena, foi encontrar o bicho de pelúcia de Joe todo ensangüentado, largado aos pés do corpo sem vida de Jeffrey... Sorrindo! Como não podiam fazer nada por Jeffrey, as córneas dos olhos dele foram retiradas e transplantadas para os olhos de Joe, que ficou em êxtase, quando viu o mundo e principalmente sua mãe, pela primeira vez. - A senhora é tão linda, mamãe! Sempre soube que a senhora é a mulher mais linda do mundo! E é tudo... Tão bonito!
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