O RITU4L D4 C4DEIR4
Quando Natalie ainda era criança, mesmo para uma menina era impossível não notar que sua família estava crescendo. Seu pai, que era corretor de imóveis e um dos mais conceituados da cidade, decidiu comprar uma casa bem maior do que a que eles moravam. A procura foi grande e quase que impossível. Era como encontrar uma agulha num palheiro. Mas enfim ele conseguiu encontrar uma que atendia todas as necessidades dele e de sua família. O preço da casa foi extremamente em conta, pois pertenceu a um viúvo que ganhou na loteria e foi embora da cidade. E depois de comprada em pouco tempo, Natalie, suas irmãs e seus pais, logo se mudaram de casa.
- Essa casa é linda e enorme, papai! – Disse Natalie admirada com o tamanho da nova residência – m*l posso ver o nosso quarto!
- E você só está vendo ela pelo lado de fora – disse o pai dela – espere até entrarmos.
Assim que chegaram, trataram de arrumar tudo o mais rápido possível, para conhecerem logo a vizinhança e tudo mais que o novo bairro pudesse oferecer. Mas infelizmente a arrumação foi demorada e por unanimidade, ninguém mais quis sair, de tão cansados que estavam. Nesse dia, todos foram dormir cedo. Natalie e suas irmãs ficaram com o quarto maior, por serem três irmãs, seus pais ficaram com o quarto mediano e o pequeno Josh, herdou o menor quarto, por ser o mais novo m****o a família.
- Olha só que quarto enorme – disse Nancy, a irmã mais nova de Natalie – dá pra nós três e ainda podemos hospedar mais gente nesse quarto!
- Sei que dá – disse Noemi, a irmã encostada a Natalie – mas você sabe muito bem que mamãe não é muito sociável com estranhos.
Suas irmãs ficaram conversando e decidiram ir logo dormir. Natalie foi dormir mais tarde, pois ainda iria fazer suas orações. Ela abre seu livreto de orações infantis e começa a rezar. Porém nessa primeira noite, enquanto rezava, ela escutou a porta se abrir. De início pensou que se tratasse de sua mãe... Mas não era! Eram umas mulheres que ela nunca tinha visto na vida. Elas seguravam um candelabro na mão e pareciam flutuar, ao invés de caminhar. Apavorada e tremendo de medo, Natalie acorda as irmãs, que também ficam assustadas.
- Meu Deus! Quem são elas? – Perguntou Noemi assustada – São fantasmas, olhem.
- Elas não falam – disse Natalie – parecem mais com esses efeitos de cinema.
As estranhas mulheres ficaram paradas na frente das meninas com os candelabros nas mãos, fazendo sinal para que todas as meninas a seguissem. A irmã mais nova de Natalie, Nancy, não se conteve e começou a chorar. Assim que ouviu o choro da menina, as estranhas mulheres desapareceram no ar, como se tivessem virado fumaça.
A mãe delas correu para o quarto, abraçou todas as três e começou a tranquilizá-las, dizendo que aquilo tinha sido apenas um pesadelo. Ela ficou um tempo no quarto até que todas dormissem, mas Natalie apenas fingiu dormir, para que as irmãs não ficassem tão assustadas. Assim que a mãe delas saiu do quarto, ela abriu os olhos e não conseguiu mais pegar no sono.
- Pai nosso que estais nos céus...
Na noite seguinte, as estranhas aparições haviam voltado. Natalie ficou assustada como na noite passada. Mas dessa vez não acordou as irmãs, para não assustá-las de novo. As mulheres, assim como na primeira vez, faziam sinal para que ela as seguisse. Ela, mesmo com o corpo inteiro trêmulo, levantou-se da cama e começou a seguir as estranhas mulheres pelo caminho que elas estavam indicando.
Quando ambas chegaram ao porão, as mulheres apontavam para uma das paredes e antes que pudessem fazer mais alguma coisa, horrendas e monstruosas mãos com garras, que mais pareciam uma névoa enegrecida, saíram da mesma e as puxaram para dentro, de maneira brusca e assustadora. Gritos de dor podiam ser ouvidos do outro lado da parede.
No outro dia, quando todos estavam tomando café da manhã, Natalie contou aos seus pais, tudo o que presenciara na noite anterior e todos os adultos que ouviam seu relato, sempre diziam a mesma coisa: que ela tinha tido um pesadelo.
- Isso é só porque você ainda não se acostumou com a nova casa, meu anjo – disse o pai dela – quando acostumar de verdade, sua mente não vai mais imaginar essas coisas.
- Sem contar que tivemos um velório recente na família – disse sua mãe – ou você esqueceu que uma de suas primas, a Emanuele, faleceu recentemente?
- Mas mãe...
- Mas nada! – exclamou seu pai – Agora tome o café que já era para você estar na escola.
Natalie tentou inutilmente avisar a todos das estranhas aparições. Mas seus familiares só foram entender que ela estava dizendo a verdade, quando todos sem exceção, também viram as estranhas mulheres que apareciam todas as noites, sempre apontavam para o mesmo local e as mãos demoníacas as seguravam fortemente, puxando-as para dentro de parede do porão, podendo-se ouvir os gritos de dor e agonia do outro lado.
Desconfiado, o pai de Natalie resolveu contratar pedreiros para que eles derrubassem a parede onde as mulheres das madrugadas sempre apontavam. Era uma parede extremamente grossa, erguida com tijolos e vergalhões, como se alguém não quisesse que o que estivesse atrás dela não pudesse ser revelado.
Quando a parede caiu e a luz entrou, o horror: eles encontraram o esqueleto de uma mulher, sentada e amarrada em uma cadeira feita com as partes dos corpos de outras. Em seu colo, uma Bíblia totalmente fechada com fitas adesivas. Essa cadeira estava no centro de um pentagrama feito com sangue e em cada ponta do pentagrama, a cabeça de uma mulher diferente, sem os olhos e a língua.
- Oh, meu Deus! – Exclamou o pai das meninas, levando a mão à boca - Isso é... Saiam todos daqui, rápidos, vamos!
O pai de Natalie chamou a polícia e principalmente o padre da igreja mais próxima, pois sabia que aquilo se tratava de magia n***a. E quando o padre chegou, constatou que realmente era um ritual macabro. Pois ao abrir a Bíblia, dentro dela estava uma agulha ensanguentada. Quando tentou pegar a agulha, a mesma caiu no chão e as estruturas da casa tremeram, como se a casa fosse desabar. Mas o tremor foi rápido e nada foi abalado.
O antigo dono da casa foi preso imediatamente. Ele era suspeito de ter matado a esposa, que certamente havia descoberto o ritual, mas ninguém podia provar nada, pois nunca haviam encontrado o corpo. Então o pai de Natalie pediu que o padre ungisse o esqueleto da mulher e as cabeças das outras com óleo santo e água benta, a família dela foi contatada e providenciou o enterro. O padre também benzeu a casa com água benta, fazendo uma forte oração de exorcismo em voz alta.
- Repitam comigo, todos ! Eu disse TODOS, sem exceção! « spiritus Dei ferebatur super aquas, et inspiravit in facien hominis spiraculus vitae. Sit Michael dux meus, et Sabtabiel servus meus in luce et per lucem. Fait verbum halitus meus; et imperabo spiritus aeris hujus, et refrenabo equos solis voluntate cordis meis, et cogitatione mentis mede et mutu oculi dextri. Exorciso igitur te, creatura aeris, per Pentagrammaton et in nomine Tetragrammaton, in quibus sunt voluntas firma et fides recta. Amen. Selah. Fiat”.
Os fantasmas das estranhas mulheres, que eram extremamente religiosas e haviam descoberto o pacto satânico do irmão caçula para enriquecer e por isso o mesmo as usou como parte do ritual, retirando-lhes todo o sangue, mutilando-as, montando a bizarra cadeira com partes de seus corpos, amarrando a própria esposa e depois as emparedando, nunca mais apareceram na casa. Mas ninguém da família de Natalie queria mais morar lá.
O jeito foi vender a casa e se mudar para outra em outro bairro. Natalie gostou da nova casa e principalmente das noites tranquilas, aonde as estranhas mulheres vinham com seus candelabros, sentar-se na cabeceira da cama dela e das irmãs, para afagarem-lhes os cabelos enquanto as jovens dormiam.