O RETR4TO D4 BRUX4

2147 Words
Você acredita em maldições? Não? Pois a jovem Joan Wood, uma jovem e talentosa fotógrafa canadense, recém-chegada na Irlanda, terra de seus antepassados, também não acreditava até o dia em que presenciou uma celebração ritualística feita por bruxos irlandeses. E essa experiência mudou para sempre os seus conceitos a respeito de magia n***a. Num vilarejo localizado na cidade de Galway, no ano de 1982, a jovem Joan passeia alegremente, ao reconhecer os lugares relatados nas antigas cartas de seus bisavós. Ela se encanta por cada detalhe relatado e acompanhada de Lucy, sua Polaroid, fotografa tudo, sem deixar escapar nenhum detalhe: cada vírgula escrita por seus bisavós era fotografada para seu novo trabalho. Ela caminha o dia todo, até chegar o fim do dia e encontrar a pensão que um dia fora de seus bisavós, mas que por motivos de força maior, tiveram que vendê-la e ir embora da Irlanda, indo parar nas terras canadenses. - Olhe só que belíssima arquitetura tem essa pensão! E que tranqüilidade tem esse vilarejo! Deve ser um lugar perfeito para descansar, depois desses deslumbres que tive durante todo o dia. De repente algo a faz parar de respirar por alguns segundos. Uma jovem ruiva, aparentando ter uns vinte e dois anos (oito anos mais nova do que ela), pele branca e um corpo perfeito, olhos azuis vítreos e uma boca desenhada a mão. Ela se vislumbra a cada passo dado pela jovem naquela rua medieval, que mais parece a própria Vênus de Milo encarnada. Por alguns segundos Joan fica sem esboçar nenhuma reação, mas seu faro para fotos perfeitas a faz ir em direção da mesma, sem nem pensar duas vezes. - Olá jovem, tudo bem? Eu estava para entrar aqui nessa pensão e alugar um quarto, quando a vi e fiquei pasma com a sua perfeição. - Nossa... Olá... Nem sei o que dizer. - Me chamo Joan Wood e sou fotógrafa profissional há quase dez anos. Cheguei hoje aqui na terra de meus bisavós e assim que te vi, fiquei pasma com sua beleza. Gostaria que você fosse minha modelo para algumas fotos de paisagens que irei tirar enquanto estiver no vilarejo e você seria a modelo perfeita para estar nelas. - Meu nome é Dairine e estou lisonjeada com o seu convite, pois sempre tiro fotos com os turistas aqui no vilarejo. - Que bom. Podemos começar amanhã, o que acha? Te espero aqui na frente da pensão pelo dia e vamos dar uma volta. No outro dia, lá estava Dairine passeando com Joan e Lucy pelo vilarejo, parando em vários locais, posando para fotos que era revelada ali na mesma hora. Cada foto era de uma beleza incomparável e encantava tanto a modelo, quanto a fotógrafa. Algumas vezes Dairine posava no quarto da pensão onde Joane estava hospedada, sendo que essas sessões eram regadas a vinho, música de vitrola e alguns incensos que Dairine trazia. - Não vejo a hora de emoldurar essas fotos, Dairine! Serão a minha melhor exposição lá no Canadá e quem sabe em todo mundo! - Que bom. Fico feliz em estar ajudando-a. E assim, Joan e Dairine passam a se ver todos os dias, sempre encerrando o dia com as duas dentro do quarto da pensão. Até que, num acesso de extrema entrega, ambas tomadas pelo vinho Amontillado, começaram a dançar freneticamente a música Glória do U2, e se deixaram levar pela música através de um beijo louco, mas romântico e cheio de amor. Estavam entregues a uma paixão louca, onde deitaram juntas e amaram-se naquela mesma noite, como duas jovens adolescentes que estavam descobrindo os sentimentos e os prazeres da vida, pela primeira vez. - Eu... Eu... Eu te amo Dairine. - Joan, eu... Eu não sei o que dizer, mas... Eu sinto o mesmo por você! No outro dia e durante quase todo o dia, Joan ficou sentada na frente da pensão, esperando por Dairine. Mas ela sequer deu as caras, ou mandou algum recado. Elas conversavam muito, durante as sessões de fotos e Joan lembra que uma vez ela mostrou onde morava. Foi quando preocupada e com uma vontade enorme de rever sua amada, ela decide ir até Dairine. - Dairine está demorando demais hoje. Vou até a casa dela. Joan entrou por várias ruas do vilarejo, até chegar em uma casa escura e sombria. O interessante é que ela percorreu o caminho, como se estivesse indo até a casa de uma amiga de infância que não via a anos, tamanha era a naturalidade com que cruzava as ruas, mesmo sendo uma turista. A casa que estava à sua frente lhe causa uma acentuada angústia, tamanha a morbidez que exalava. Se fosse comparar a casa a um ser vivo, o que mais se aproximaria de sua aparência seria um defunto, principalmente por causa do corvo crocitando ainda vivo, pregado em sua porta. Mas mesmo de frente a tamanho terror, Joan bate na porta e quando a mesma se abre, o susto: uma mulher velha, de aparência repugnante e satânica, aparece na porta. - O que quer? - Olá senhora. Chamo-me Joan Wood, sou fotógrafa e turista. Dairine está posando para meu mais novo trabalho e, como ela não apareceu hoje, vim falar com ela. - Então você é a tal da Joan. A maldita que corrompeu o coração de Dairine. Saiba sua insignificante, que Dairine é minha e eu não vou deixar que ela pose mais para você. Volte para o seu país, de onde não deveria nunca ter saído. - Mas... Senhora: eu estou em fase de concluir meu trabalho e preciso que ela o conclua junto comigo. - Suma daqui, sua megera! Dairine é minha e ninguém a roubará de mim! Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, Joan é enxotada da porta da casa pela suposta avó de Dairine, que não mede esforços em ser grosseira e bate a porta em sua cara. Ela, inconformada, volta para a pensão, com a imagem de Dairine em sua mente. É uma imagem forte e, se fechasse os olhos, ainda podia sentir o corpo de Dairine ardendo no seu, igual a uma tatuagem recém-feita. E o pior é que Joan não parava de pensar em sua jovem ruiva. Ao chegar à pensão, Joan percebe um movimento diferente: nos cinco dias em que estava hospedada, ela nem sonhava que o vilarejo tivesse uma igreja, pois um padre estava conversando com o dono da pensão. Quando ela foi vista pelo mesmo, ele cochichou com o padre, que olhou imediatamente para Joan, vindo até ela, dizendo que tinha de conversar algo, que era da importância e do interesse dela. Joan e o padre do vilarejo sentaram na recepção da pensão. Ele olhou fundo nos olhos da jovem e disse: - Minha filha, afaste-se daquela casa e daquela família o mais rápido possível! Aquela velha é uma bruxa maldita e todos do vilarejo sabem que a neta está seguindo o mesmo caminho da avó. - Mas... Mas... Padre... EU NÃO POSSO! - Dizem os boatos, que todas as sextas-feiras de lua-cheia, a velha reúne um grupo de outras bruxas iguais a ela, no cemitério que fica nos fundos de sua casa, e todas juntas realizam um ritual satânico. Por isso se afaste delas, urgente! Joan se despede do padre, nervosa, e sobe para seu quarto. Lá ela cai de bruços na cama e começa a chorar de tristeza, pois seu coração há muito não tinha sentimentos tão fortes, quanto os sentimentos que ela nutria por Dairine. Ela chorou novamente ao som da mesma música que estava tocando quando aconteceu o despertar desse sentimento entre as duas, pela primeira vez. Foi quando, ao final da música, ela decidiu sair e conhecer a vida noturna do vilarejo, ver se encontrava algum bar ou pub moderno, no meio de toda aquela paisagem medieval. Ao olhar pela janela do quarto onde estava hospedada, Joane olhou para o céu e viu que era noite de lua-cheia. Tomada de uma enorme coragem, ela abriu um fundo falso de sua mala e tirou de dentro dela um pequeno revólver calibre 32, que usa para se defender de assaltantes e possíveis e**********s em suas viagens. Ela acende um cigarro. Decidiu não fumar nessa viagem, para poder esquecer-se do vício, mas não adiantou. E enquanto colocava as balas dentro do revólver, falava para si mesma: - Vou confrontar aquela velha maldita! Bruxa ou não, ela vai se ver comigo! Assim que Joan termina de carregar o revólver e vai guardar sua mala, a caixa onde estão as fotos que ela tirou de Dairine, cai no chão. Quando ela se abaixa para pegar as fotos, o terror: no lugar de Dairine, do belo rosto e do belo corpo de Dairine, havia apenas uma megera. A mesma megera que a expulsou aos empurrões de sua casa e a impediu de ver sua amada. Joan foi-se ao chão, transtornada, em prantos e extremamente nervosa. Pois se aquilo o que está vendo é mesmo verdade, ela sente um enorme nojo brotar dentro de si, ao saber que se deitou com uma bruxa velha e horrenda. Como uma louca, decidida a fazer tudo por sua amada, Joan correu as silenciosas ruas do vilarejo, rumo ao cemitério. Certamente por causa da fama que a bruxa tinha e pelas superstições que as pessoas do vilarejo possuíam. - Este silêncio todo... Esse medo que as pessoas tem de sair de suas casas. Tudo isso deve ser obra daquela bruxa. Eu vou dar conta daquela miserável e maldita! Quando Joan chega Ao cemitério, a cena que ela presencia é horrenda demais até pra ela: Dairine amarrada em uma das covas, nua, sendo lambida pela avó e pelas outras velhas que estavam juntas com ela. Elas entoavam orações e cânticos em uma língua estranha, estranha demais até mesmo para os moradores do vilarejo, enquanto passavam a língua pela pele desnuda da jovem Dairine, que parecia estar desacordada. Foi quando que tomada por uma enorme fúria, Joan correu em direção das bruxas. - Soltem Dairine agora, i disse Joan falando alto - ou eu não responderei pelos meus atos! - Como se atreve a interromper assim, um ritual de iniciação à bruxaria, sua atrevida! - Solte Dairine agora, ou eu vou te entregar à justiça! - Sua louca, atrevida! Vai pagar muito caro pelo que acabou de dizer! A velha avançou em direção a Joan, que entrou em um combate corpo a corpo com a mesma. - Não vou deixar você passar! Dairine pertence aos reinos infernais e serve apenas a mim e aos demônios! Ninguém vai roubá-la de mim! - Me largue sua velha maldita! Quero salvar Dairine! - Nunca te deixarei passar! E como castigo pelo seu atrevimento, eu em nome de todas as potestades infernais, te amaldiçôo para o resto de sua vida! Sua consciência e sua alma jamais terão um segundo de paz, porque você vai matar com suas próprias mãos, a pessoa que mais ama nessa vida! Transtornada e totalmente fora de si, Joan agarra com as duas mãos, o pescoço da velha, enforcando-a. As outras velhas que estavam com ela, começam a fugir, deixando apenas no meio do cemitério, Dairine, Joan e a bruxa. - Cale essa sua boca maldita, corvo agourento do inferno. Você nunca mais vai amaldiçoar ninguém! NUNCA MAIS! - Maldita... Dairine é... Mi... A... A MALDIÇÃO SE CUMPRIRÁ! Quando a velha dá seu último suspiro, ouve-se em todo o vilarejo um enorme ribombar de trovões e um raio clareia tudo, cegando Joane por alguns segundos. Quando o raio cessa, Joan olha ao redor e não vê, nem a velha e nem as outras bruxas. - Tudo sumiu, mas... Como? Que artes demoníacas essas bruxas têm para fazer isso? Onde está Dairine? E porque só o Corpo dessa velha miserável e maldita sobrou aqui nesse cemitério, como se estivesse aqui pra marcar o meu crime? Quando Joan fixou seu olhar no corpo sem vida da velha, o terror tomou conta dela mais uma vez. Ela gritou de horrores e ficou em estado de choque ao ver quem é que estava morta por suas mãos, no lugar da velha: Dairine. Assustada, Joan tenta fugir do cemitério. Mas ao olhar para o céu, vê a lua vermelha da cor de sangue. Um forte tremor abala as estruturas do cemitério e uma f***a se abre, engolindo as duas para dentro da terra, onde nunca mais foram vistas até hoje. Dizem os mais antigos moradores do vilarejo localizado na cidade de Galway, que se você estiver sozinho no cemitério em noites de lua-cheia, pode ouvir as lamúrias e os gritos das duas jovens sendo torturadas juntas no inferno, pelo próprio demônio, travestido no corpo da velha bruxa. E quem ainda quiser provas dessa história, um dos retratos, talvez o único que sobrou da velha, que foram tirados por Joan, está emoldurado na parede da pensão, até hoje.
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