4 C1G4N4 E O C4O5

2473 Words
Esta história foi encontrada em antigos livros medievais do Reino Unido, e conta a história de uma família de ciganos que tinha uma filha de dezessete anos chamada Cilena. Essa família viva pacificamente nos arredores da aldeia de Kemble, às margens da nascente do Tamisa. A família tinha fama de serem bruxos, por usarem muitos remédios feitos de plantas e insetos para curar várias enfermidades, além das mulheres serem bem mais belas do que as mulheres de Kemble, por usarem de pastas e cremes feitos de ervas para a pele e os cabelos. E isso deixava as aldeãs com inveja delas, pois quando elas iam à aldeia, os homens não paravam de olhá-las, principalmente para Cilena, que era a mais jovem de todas. - Vadias! Vieram para cá para lançar feitiços de luxúrias nos homens da aldeia! Rameiras do demônio! Um costume que as mulheres ciganas tinham era a de se banharem à noite no Tamisa, sempre à luz da lua. Mas cada uma delas tinha um dia específico da semana. Os aldeões sempre iam espreitá-las. Porém era aos domingos que todos ficavam tomados de desejo, pois era o dia em que Cilena se banhava. Em pouco tempo, todos os moradores sabiam qual era o dia que cada uma das mulheres daquele grupo de ciganos se banhava. Mas a mais esperada era sempre Cilena. Por quê? Bem... Cilena era de uma pele cor de canela, cabelos pretos reluzentes e ondulados; olhos cor-de-mel, penetrantes, fatais, um sorriso convidativo e sedutor; corpo magro e com curvas fartas. - Olhem lá: uma das ciganas está indo se banhar no Tamisa. Vamos atrás dela. Todos os moradores da aldeia conheciam esse costume das mulheres dessa tribo de ciganos. Mas os homens disputavam espaço por trás das moitas, para espiar Cilena banhar-se aos domingos. A jovialidade e a beleza da pequena cigana, para os homens daquela aldeia, eram por demais sedutoras. E principalmente nos domingos de lua-cheia, onde a luz da lua a deixava ainda mais bela. E foi numa dessas noites que cinco jovens, filhos de aldeões bastante influentes, resolveram espiar o banho dominical de Cilena. Eles vestiram túnicas pretas para não serem notados no escuro, chegaram o mais perto possível do Tamisa nas pontas dos pés para se deslumbrarem com a beleza da jovem, que estava adorando aquele banho à luz da lua. E os jovens nem conseguiam piscar os olhos: estavam todos hipnotizados por Cilena. - Olhem aquelas maçãs, aquelas nádegas e aquele pecado no meio de suas pernas. De repente, algo reluzente aparece na parte rasa do rio. Era um pequeno cristal de cor verde, bastante reluzente. Seu brilho lembrava a luz de um vagalume e era como se estivesse atraindo Cilena para ele. A jovem então se abaixa, mas sem dobrar os joelhos e retira o cristal de dentro do rio. Era do tamanho de uma uva, mas de formato de octaedro e realmente: seu brilho esverdeado lembrava e muito a luz de um vagalume. E Cilena não podia esta acreditando no que estava vendo, pois certamente se tratava de alguma pedra mística muito rara, pois cristais, mesmo depois de lapidados, não produzem luz própria. - Mas o que será esse cristal? Nunca na minha vida eu vi tamanho brilho. O que ela não contava, era que aquele simples movimento de se abaixar empinando suas nádegas havia despertado um forte desejo nos jovens que estavam espiando-a. Todos sem exceção resolveram tirar suas roupas, pular dentro do rio, assustando Cilena, que temendo que seu cristal fosse roubado, o engoliu. Mas infelizmente não foi isso o que eles queriam. Os jovens, tomados pelo desejo da luxúria, agarraram a indefesa jovem e, um a um, os cinco a violentaram de todas as maneiras possíveis, tirando tudo o que havia de inocência de dentro dela. - Por favor, eu imploro, me soltem! Não façam isso. Ah! O filho do chefe dos aldeões, que estava junto com os outros, se excedeu e acabou ceifando a vida de Cilena. Aterrorizados com a situação, pois só após o ocorrido eles perceberam que tinham ido longe demais, viram que a única solução para aquilo era jogar o corpo de Cilena no rio e irem embora do local, fazendo um pacto de silêncio sobre o ocorrido. E enquanto se retiravam, o corpo morto da jovem boiou até o meio do rio e afundou. - Ninguém nunca esteve aqui, vocês ouviram? Ninguém! Quando se viu fora do corpo, Cilena olhou para seu peito e a luz do cristal brilhava forte, como se estivesse no lugar de seu coração. De repente, numa explosão de luz e cores, ela é transportada para outra dimensão. Nessa dimensão ela encontra a mais velha das formas de consciência divina, existentes no universo: o Caos. Ele se apresentou a ela como um enorme olho com dois braços e duas pernas robustas, sem corpo e em seu dorso, com milhares e milhares de tentáculos. A priori, ela se assusta com aquela imagem perturbadora, mas com seu modo confuso de explicar, Caos fala que ela havia encontrado o último fragmento de seu poder sobre a Terra. - Jovem alma romani que encontrou o fragmento de minhas lembranças. Entre todos os humanos que caminham sobre a Terra, apenas você encontrou o fragmento que tem poder suficiente para que sejas meu arauto e represente o Caos na terra, que é algo muito simples, mas não pode ser explicado. É o que existe e o que inexiste. Só que nós temos demasiados conceitos dentro da cabeça para o entender como um todo uno. O Caos é o caminho da espontaneidade natural. É o que produz todas as coisas que existem. Quando Cilena pergunta que fragmento era esse, Caos toca o fragmento no peito da jovem com um de seus milhares de tentáculos e aponta para o cristal. Ela sente um brilho ainda maior em seu peito. Caos explica que quando os seres humanos começaram a povoar a Terra, a ordem começou a se estabelecer, seus irmãos foram mortos e ele teve de viver isolado em outra dimensão. Como vingança da humanidade, ele juntou em um cristal, lembranças dos poderes dele e de seus irmãos e o lançou na Terra. Essas lembranças foram deixadas nesse pequeno cristal, para que uma alma de sangue grego pudesse ser testemunha do Caos e do poder destruidor que ele possuía antes de tudo. - O Caos não transcende o universo, porque o universo foi gerado à partir do Caos. O poder do Caos é a totalidade da espontaneidade ou "naturalidade" de todas as coisas. Cada coisa gerada pelo Caos é simplesmente o que é e faz. Por isso, o Caos não faz nada e não precisa fazer nada, para que tudo o que deve ser feito seja feito. Mas, ao mesmo tempo, tudo que cada coisa é e faz espontaneamente e sua conseqüência é o Caos. Por isso, o Caos faz tudo ao não fazer nada. Cilena se desculpa, dizendo não ser essa alma e fala que aquilo tudo fora um grande equívoco, pois sua família cigana tinha raízes indianas. Caos sorriu, mesmo não tendo boca ou expressando algum tipo de sentimento e abriu uma sucessão de imagens que mostravam a saída dos verdadeiros pais de Cilena de Roma, numa viagem espiritual para a Índia, sua concepção em solo indiano e vindo a morrerem quando foram abordados por ladrões em uma estrada nos arredores de Punjabi, sendo que a pequena que ainda não tinha nome, fora encontrada por um grupo de ciganos e recebera o nome pelo qual é identificada até hoje. - Você deve agir de acordo com a sua vontade apenas dentro dos limites da sua natureza, sem tentar fazer o que vai fazer para além dela. Deve usar o que é naturalmente útil e fazer o que espontaneamente se pode fazer, sem interferir na natureza humana. E não tentar fazer aquilo que não pode fazer ou tentar saber aquilo que não podemos saber. O poder do Caos é essa "não-ação". Por ser a única entre tantas pessoas no mundo a ter encontrado a pedra, ela seria a representante do Caos sobre a Terra. Aceitando o destino que Caos havia reservado a ela, a mesma começou a aprender a dominar o poder de separação do Caos, a força Elemental de Eros, o equilíbrio de Anteros, a capacidade de gerar tudo de Gaia, além do poder da escuridão e destruição de Tártaro. Seu antigo corpo já não poderia ser reaproveitado, pois já não passava de ossos e carne podre. Mas ela poderia criar um novo corpo quando ela finalmente compreendesse o verdadeiro sentido do Caos. Quando se lembrou do porque de estar ali, um sim despertado pelo ódio ecoou por toda aquela dimensão, e Cilena começou o seu aprendizado. - Para conseguir entender o curso natural das coisas e seguir o caminho que leva ao Caos, você tem que desaprender muitos conceitos. Para poder desaprendê-los é preciso que antes você os tenha aprendido. Mas, jovem romani, tens que passar a um estado muito parecido com o estado inicial em que estava antes de ter conhecido tudo o que havia conhecido antes, pois o Caos que pode ser expressado e explicado, não é o Caos absoluto. *** Enquanto tudo isso se passava em outro plano, sua família, quando percebeu que Cilena estava demorando demais em seu banho no rio, foi atrás dela. Não a encontrando, começaram uma busca. Eles a procuraram em toda a aldeia de Kemble e nos arredores, mas ninguém sabia de nada. Ninguém tinha visto Cilena: ela simplesmente havia desaparecido. Porém a família dela não iria desistir fácil da busca. E isso estava amedrontando os jovens filhos dos aldeões, que temendo que a verdade fosse revelada, espalharam em Kemble que todos eram bruxos e um de seus feitiços mais poderosos foram feitos para amaldiçoar a aldeia. E para isso eles sacrificaram a própria filha. - Bruxos malditos! Vamos matá-los na fogueira, antes que enfeiticem a todos! Tomados de grande pavor, os aldeões decidiram matar toda a família de ciganos de queimar tudo o que eles tinham e assim o fizeram. Todos foram amarrados juntos e queimados juntos com seus pertences. A fogueira foi tão alta que queimou durante três dias e três noites. Ao final da terceira noite sobraram apenas cinzas do que foi um dia a família de Cilena. Uma forte chuva lavou as cinzas da beira do Tamisa e tempos depois, uma roseira de galhos e folhas verde-escuras e pétalas de um verde esmeralda bastante chamativo surgiu. A beleza daquela pequena roseira era inevitável aos olhos: todos os aldeões que chegavam perto ficavam encantados. Mas depois um frio na espinha aparecia e eles lembravam de que ali foi o lugar onde Cilena havia sumido e sua família havia sido acusada de bruxaria e queimada. - Esse lugar é amaldiçoado. Ninguém deve ficar muito tempo por aqui, pois muitas coisas ruins acontecem por essa parte do rio. O tempo passou e Cilena e sua família acabaram se tornando uma lenda. Mas com o decorrer dos meses, tudo aquilo fora esquecido de maneira abrupta e aqueles acontecimentos viraram apenas uma lembrança. Porém um ano depois, numa noite enluarada de domingo, enquanto um ancião tentava a sorte com pescaria na nascente do Tamisa, uma jovem muito bonita de uma pele cor de canela, cabelos pretos reluzentes e ondulados; olhos cor-de-mel, penetrantes, fatais, um sorriso convidativo e sedutor; corpo magro e com curvas fartas, saiu do rio, totalmente nua. Seu corpo estava envolto em uma aura n***a, mas ao mesmo tempo esverdeada. Era a cigana Cilena: não havia nenhum tipo de dúvida. - Por Deus! A cigana mais jovem voltou dos infernos. Tenho que avisar aos aldeões, e rápido! Enquanto ela saia do rio toda nua, o ancião saiu correndo e foi para Kemble, contar o que havia visto, mas todos os que ouviam a história riam e escarneciam dele, enquanto o viam gritar seu relato. Era como se os aldeões não quisessem mais ouvir falar no nome dela e de sua família. Foi aí que o ancião, como que hipnotizado, voltou para a beira do rio, cortou os pulsos com uma faca e morreu com seu corpo sem uma gota de sangue sequer. Mas era Cilena, em sua nova forma, que havia dominado as vontades do ancião, fazendo com que o mesmo se matasse. Também naquela noite, Cilena passeou nua pela aldeia de Kemble. Os aldeões que saíam das tabernas durante a madrugada e os vagabundos que perambulavam, não a viam: era como se ela não pertencesse a esse mundo e, no entanto, ainda estivesse nele. Ela passeou pela aldeia como se flutuasse no ar, indo na casa dos cinco jovens que a mataram. Em cada uma das casas dos jovens, ela retirava o ar de seus pulmões, quebrava-lhes os pescoços e rasgava seus órgãos por dentro, sem precisar tocar-lhes, apenas com sua vontade. Quando matou os cinco jovens ela, apenas com a força de sua vontade disse: - Que todos os que mataram minha família, queimem até virarem cinzas! E todos os que testemunharam ou foram responsáveis pela morte de sua família queimaram em dor agonia. Um pandemônio se instaurou em Kemble, pois enquanto alguns queimavam, outras pessoas tentavam inutilmente apagar o fogo. Quando desencarnaram, eles viram Cilena e tentaram fugir. Mas milhares de tentáculos saíram de seus cabelos e laçaram as almas dos jovens e dos aldeões. Um dos tentáculos rasgou o chão e uma enorme f***a se abriu. As almas dos aldeões e dos cinco jovens foram lançadas diretamente no inferno, sem qualquer tipo de julgamento, enquanto outros tentáculos retiraram as almas dos familiares de Cilena do mesmo, cujas almas foram transformadas em pedras preciosas, que ela as colocou no pescoço em forma de colar. Quando tudo acabou, Cilena fez com que o resto da aldeia caísse em um sono profundo, apenas levando o indicador aos lábios e fazendo sinal para que todos silenciassem. Após o resto dos aldeões ter adormecido, cada corpo vazio ceifado naquela noite foi arrastado de maneira invisível e silenciosa até os pés das rosas. Quando o dia amanheceu em Kemble, foram encontrados cinco rapazes mortos na beira do Tamisa, nos pés da roseira, pelos aldeões que ainda sobraram vivos. Ao redor deles, os corpos daqueles que julgaram a família de Cilena, totalmente carbonizados. Encontraram também um esqueleto bastante decomposto, que acharam ser o da jovem cigana. Desse dia em diante, devido aos acontecimentos macabros que aconteceram em Kemble, os aldeões deram às flores da roseira o nome de “rosa cigana”, pois acreditavam que nela estava depositada a alma de Cilena, o que não era verdade. Pois a mesma agora vaga em um plano astral onde constantemente muda o destino das pessoas a seu bel-prazer. Até hoje a roseira existe lá na beira do rio. Mas ninguém mais toma banho na nascente do Tamisa, principalmente de noite.  
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