4 V4MP1R4 1NFECUND4D4 (parte 02)

2639 Words
Todos sem exceção entraram em pânico, principalmente com o grito de ódio dado por Mey, que mais parecia um monstro aterrador de tão forte que era. Ela em poucos minutos, surrou a todos os presentes, deixando-os extremamente machucados e desacordados. Mey então arrancou as amarras de sua tia e mesmo com ela bastante debilitada, a carregou nos braços e rumou para muito depois da floresta que cercava a aldeia.  Muito debilitada, Mihaela pede que Mey a largue para que ela possa morrer em paz na floresta, para que a jovem pudesse fugir para o mais que pudesse, não só da aldeia, mas também da Romênia. Mey, vendo que a vida no corpo de sua tia estava se esvaindo, tentou uma última cartada: iria transformá-la numa vampira igual a ela. A jovem vai para uma clareira no meio da floresta, deita sua tia em seu colo, se concentra, coloca as presas de fora e crava-as no pescoço de sua tia, absorvendo o sangue que ainda lhe restava. Ela sugou o precioso líquido vermelho, até sentir o coração de sua tia parar de bater e seus olhos revirarem. Mey ficou com o corpo desfalecido de sua tia nos braços, esperando que ela despertasse como uma vampira igual a ela e nada: o corpo sem vida já começava a esfriar, não se sabe por causa do frio daquela noite ou pelo fato de já não haver nenhum fio de vida nele. Foi aí que ela percebeu que não é uma vampira como todos os que estão espalhados pela Romênia e mundo afora. Ela tinha sido amaldiçoada com todos os poderes dos vampiros, mas não herdou suas fraquezas por completo e o pior: não podia passar sua maldição adiante. Era única e talvez a única vampira daquele tipo. Mas isso não a impediu de gritar furiosamente no meio da floresta e chorar a dor da perda da única pessoa que foi sua mãe durante todo este tempo, a aceitava e se importava com ela. Mey então fez o que qualquer um teria feito: cavou uma sepultura para a tia e ali, naquela noite de natal assombrosa, enterrou o corpo de Mihaela, seguindo toda a tradição romena, mas sem amarrar as panturrilhas da tia e colocando uma moeda em sua boca, para pagar o transporte da alma dela até o outro mundo. De repente, a lua e as estrelas começaram a se apagar e uma escuridão profunda tomou conta da floresta. Do alto do céu, um cavalo vinha trotando ao longe, com uma figura sinistra que usava um manto preto e carregava uma foice em uma das mãos. Era a morte em pessoa, mas não estava representada como um esqueleto. Ela era uma jovem de pele branca marmórea, unhas, olhos e cabelos negros como a escuridão. Sua imagem era terrificante, mas ao mesmo tempo consoladora. Ela parou ao lado da cova que Mihaela fez para sua tia, desceu do cavalo e estendeu a mão em cima do amontoado de terra. A moeda colocada por Mihaela nos lábios de sua tia saiu da cova e foi até a mão da morte, desaparecendo misteriosamente. Logo após ter recebido o pagamento, a morte volta-se para Mey, e aponta a foice para ela. Uma névoa escura começa a sair da parte de cima da foice e a alma de sua tia é revelada ao lado da mesma. Mey tentou abraçá-la, mas não conseguiu, pelo fato de Mihaela agora ser uma presença etérea. A morte falou para Mey que ela tinha um minuto antes de ser presa pelos aldeões. Sua tia então se despediu de Mey, dizendo que quando saiu do corpo, sua alma vagou até a aldeia e descobriu que a velha que a havia espalhado para toda a aldeia que ela era uma vampira, é a própria vampira que havia jurado vingança contra a aldeia. Essa vampira só recupera sua beleza, dependendo de quanto sangue ela consiga ingerir, pois para aparentar ser uma anciã, ela quase não se alimenta, fingindo-se muito bem entre os aldeões. E que ela usa um anel mágico para entrar nas igrejas, sem ser afetada pelos sacramentais. Transtornada com a notícia, mas sem mais dar a mínima para a sorte dos aldeões, Mey perguntou se a morte poderia levá-la junto com sua tia. A morte olhou para ela com seus olhos totalmente enegrecidos e disse que ao se transformar em uma vampira, ela estava morta para o outro mundo. A única solução seria a decapitação, mas mesmo assim o destino dela seria o mesmo de todos os vampiros mortos até o presente momento: o Inferno. Sem palavras, Mey caiu no chão, desolada, e perguntou o que poderia fazer para que pudesse deixar de ser vampira. A morte riu e disse duramente que nada. A única coisa que ela poderia fazer era dar um mínimo de consolo aos aldeões, revelando e destruindo a vampira que vive entre eles sem eles saberem, pois a mesma temia Mey, por ela poder caminhar de dia e há muito buscava uma oportunidade de matá-la sem levantar suspeitas. Cheia de ódio no coração, Mey pegou um punhado de terra no chão e jurou naquele momento que pela alma de sua tia, cuja morte viera pessoalmente levar, que iria embora daquele lugar, para nunca mais voltar. E que se houvesse alguém que pudesse matá-la dignamente, ela iria entregar seu pescoço à sorte. Caso contrário, todos perante ela iriam perecer. A morte, ouvindo aquelas palavras, colocou a alma de Mihaela em cima de seu cavalo e montou nele. Nesse momento as estrelas e a lua voltaram a brilhar naquela noite. Ela então olhou para cima e depois olhou para Mey, dizendo que o tempo dela havia acabado. Mey ainda pode ver sua tia acenando para ela, enquanto o cavalo troteava rumo ao infinito. Mas ao dar conta do que estava acontecendo ao redor, viu os habitantes da aldeia cercando-a, todos apontando espadas e estacas em sua direção. À frente dessa caçada que fizeram a ela, estavam o chefe da aldeia e a velha que havia contado o que vira dentro da igreja. Quando viu o olhar de satisfação da velha ao ser capturada, Mey lembrou-se do que sua tia tinha lhe dito sobre ela ser a loira que aparece de tempos em tempos assombrando a aldeia. Ela olhou para o braço da velha e viu a cicatriz da tentativa de ataque de sua mãe e no dedo médio da velha, viu o anel mágico que lhe dava forças para a mesma poder se disfarçar de aldeã, enquanto aos poucos ia eliminando os moradores de Tulcea. O amuleto que antes usava no pescoço, agora teve de ser substituído por um anel, que certamente fora encantado por um bruxo. Mey estava encurralada: os moradores de Tulcea já sabiam que ela era uma vampira, que fora delatada pela mesma vampira que matara os moradores à beira do Danúbio e disfarçada, queria vingança. Uma opção seria se render e acabar com todo aquele sofrimento que já havia se abatido por toda a sua família. Mas ela estava disposta a não ceder fácil à pressão que aquele povo manipulado estava fazendo contra ela. Foi quando, num ato impensado, Mey retirou a espada de um dos guardas e, usando de sua velocidade sobre-humana, foi até a velha e atravessou a espada em seu ventre. A reação dela seria sangrar e cair desfalecida na frente de todos os presentes. Mas a velha nem se abalou com a espada atravessando seu corpo. Ela simplesmente arremessou Mey para longe, retirando a espada de seu ventre, que não sangrou, fechando rapidamente, revelando sua verdadeira face: a loira alta que estava atacando os moradores na beira do rio. Um pânico tomou conta de todos os moradores que estavam na floresta, que inutilmente tentavam correr, mas sem sucesso. Pois a loira vampira estava golpeando, ferindo e matando, todos os que pudesse alcançar. Um pouco cambaleante com a força da outra vampira, Mey levantou-se, olhou ao redor para todo aquele pânico e viu que sua única opção era enfrentar a loira, não apenas por vingança, mas para dar fim a todas aquelas mortes que estavam acontecendo. Mey, não tendo mais nenhuma outra escolha, partiu para cima com tudo. Como viu que com uma espada era inútil avançar contra a outra, Mey pegou outra espada de um soldado esquartejado pela loira e com sua velocidade e força sobre-humanas, avançou até ela, golpeando-a com força. Mas os reflexos da loira eram muito mais rápidos e mesmo com apenas uma espada nas mãos, ela duelava contra Mey, com maestria. Mey a acertava, mas ela se regenerava e não demonstrava nenhum tipo de dor. Mas quando era a loira quem acertava Mey com a espada, mesmo se regenerando rápido, a jovem sentia a dor dos cortes e das perfurações, pois ainda possuía humanidade dentro de si. Ela sabia que aquela luta poderia continuar por dias ou até semanas e tinha de por um fim naquela maldita. Mas tudo o que ela poderia fazer não estava adiantando nada, pois além de espadas, ela tentou luta corporal, mordidas com suas presas e até mesmo atravessar o corpo da outra vampira com suas garras. Porém nada surtia efeito nela. Os aldeões que fugiram e sobreviveram ao ataque da loira, assistiam ao longe a luta entre as duas. O dia já estava amanhecendo e os primeiros raios de sol, mesmo sendo inverno e feriado de Natal, já queimavam a pele. Mey estava exausta. Porém sua rápida regeneração a fazia descansar dos ataques contra a loira em segundos. Sem opções, ela decidira por si mesma, que se assim fosse se destino, lutaria contra a loira eternamente, quando um fraquíssimo raio de sol passou por entre as árvores, aquecendo seu rosto. Ao sentir esse raio, Mey lembrou-se do que sua tia havia lhe dito sobre a vampira possuir um anel enfeitiçado, que lhe dava resistência ao sol, para que a mesma pudesse caminhar durante o dia. Foi aí que segurando fortemente as duas espadas em suas mãos, ela partiu em um ataque feroz, defendendo-se com uma espada e decepando a mão da outra vampira. Assim que a mão em que estava o anel enfeitiçado caiu no chão, Mey cravou a espada no peito da loira e, atravessando-o, pregou-a em uma árvore, prendendo-a. Quando a mão fora decepada, o sol começou a arder em sua pele e como se uma fogueira estivesse queimando ao seu redor. Mey observa a loira praguejando contra ela e clamando que Vlad venha em seu socorro. Como modo de calar a outra vampira, Mey pega a espada da outra vampira e crava em sua garganta, impedindo-a de falar e deixando que o sol termine de transformá-la em cinzas. Assim que sobrou apenas as espadas incrustadas na árvore, Mey olhou para a mão decepada da vampira e viu que o anel impedia que a mão se transformasse em cinzas, como o resto do corpo. Ela então arrancou o anel enfeitiçado do dedo médio e quando pensou em usá-lo, lembrou-se de tudo o que descobriu sendo uma vampira e do quanto o anel lhe seria útil, impedindo-a de sofrer quando entrasse numa igreja de novo. Ela o colocou e, após sentir o poder emanando em seu corpo, sabia que estava segura totalmente e que nada mais poderia impedi-la de ser quem era a partir daquele momento. Quando Mey pensou em ajudar os aldeões que sobreviveram ao ataque furioso da outra vampira, os mesmos começaram a atacá-la, a fim de que a mesma fugisse da aldeia. A jovem, que esperava um mínimo de gratidão daquela gente, sentiu vontade de voltar até Tulcea e dizimar os sobreviventes, tamanho era o ódio que estava sentindo. Mas ao invés disso, usando sua velocidade sobre-humana fugiu para longe da Romênia, vagando sem rumo a fim de entender a sua verdadeira natureza, odiando a humanidade em si e odiando ainda mais a si mesma. Pois em todos os lugares que chegava, encontrava vampiros e, além de lutar contra eles, tinha também de lutar contra os caçadores de recompensas. Sua fama estava correndo por toda a Europa. Corria tanto que ela adotou um modus operandi, toda vez que algum vampiro ou outro ser, estava para ser destruído pela mesma: deixava uma rosa vermelha sempre visível em algum lugar, como sinal de alerta para dar medo e para que todos saibam que ela está por perto. Mas mesmo assim com essa fama de caçadora de seres das trevas, ela não se sentia feliz por sua condição de vampira, pois todos os que a ela se afeiçoavam, morriam. E ela permanecia sempre naquele corpo de uma jovem que aparentava ter apenas dezoito anos. Um século depois, tomada de um profundo desgosto, Mey resolveu acabar com a própria vida. Mas quem teria poder suficiente para destruir uma vampira que não tinha as fraquezas dos vampiros comuns e que aparentava ser mais forte do que eles? A resposta veio para essa pergunta veio no século V d.C., quando ela soube de um lobisomem poderosíssimo que vivia na Inglaterra, cuja fama de imortal corria o mundo. A jovem vampira, sabendo que lobisomens são inimigos naturais dos vampiros, rumou para as terras londrinas e correu todo o país à procura desse monstro, encontrando-o em um condado, que era cercado por enormes e grossos muros, talvez para que não pudessem deixar o monstro escapar. Mas ao invés disso, o que ela encontrou lá foi um pequeno condado, como todos os milhares de condados existentes no país. Conversa vai, conversa vem, ela descobriu onde o monstro se esconde e vai até sua toca. Como não era um lugar de fácil acesso, através de uma brecha e transformada em morcego, ela conseguiu entrar e se deslumbrou com o que viu: o tal lobisomem imortal morava no centro de uma gigantesca biblioteca. Eram livros e mais livros de todos os tipos e gêneros dos mais antigos. Mas a maior parte deles escrito em persa. Ela sondou tudo e viu que aquele lugar era muito maior do que ela imaginava. Mas mesmo percorrendo todas as brechas daquele pequeno mundo subterrâneo de conhecimento, Mey não encontrou o tal lobisomem. A solução para ela foi esperar e tentar chamar a atenção do monstro, deixando uma rosa em cima de um dos livros que estavam abertos em cima de uma enorme mesa de madeira, cheia de anotações. Colocada a rosa, a jovem vampira ficou de ponta a cabeça juntamente com outros morcegos que ali se encontravam e esperou que o monstro aparecesse. As rosas murchavam e ela colocava outras e esperava que o monstro chegasse. Essa espera durou cerca de vinte e três anos, quando um homem e um enorme lobisomem apareceram em queda livre no centro da biblioteca, iluminando todo o local através de orbes de luz que flutuavam por todos os lugares. A visão do lugar era ainda mais impressionante, depois de iluminada. O monstro saiu mostrando todo o lugar para seu convidado e Mey percebeu que apesar da aparência assustadora, ele não era um lobisomem igual aos outros, que na forma de bestas-feras eram somente instinto. Ele possuía um conhecimento muito diferente de tudo o que ela havia visto em um monstro. “Talvez seja pelo fato dele ser imortal”, pensou Mey. Mas o fato é que mesmo tendo esperado por muito tempo, naquela noite ela iria enfim poder descansar em paz ao lado de sua mãe e sua tia. Pois quando o lobisomem viu a flor e foi para o lado de fora, se despedir de seu visitante, ela se transformou em vampira e num ato desesperador almejando pela morte a todo custo, rumou em direção àquele que era o único que poderia dar a ela, o descanso mais que merecido por todos os séculos de luta contra a espécie a que fora transformada e contra a humanidade, que nunca demonstrou a ela, um mínimo de gratidão.
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