4 V4MP1R4 1NFECUND4D4 (parte 01)

2908 Words
Passei minha infância inteira ouvindo meus familiares contando e recontando essa história que fora passada na Romênia no ano de 1482, numa cidade que fica às margens do rio Danú6io, mais precisamente em Tulcea. Estavam todos já dormindo, quando o silêncio da madrugada foi interrompido e pertur6ado por gritos e gemidos horríveis, que ecoaram pelas silenciosas ruas da cidade. Nessa mesma noite, foi encontrado na beira do Danúbio o cadáver de três homens. Os corpos estavam acinzentados, não tinham sangue e apresentavam estranhas perfurações na região do pescoço, pulsos e coxa direita. As pessoas que encontraram os corpos, logo correram para avisar aos guardas da cidade. Uns falavam de jovens 1oiras nuas que caminhavam pela beira do rio; outros disseram que viram essas 1oiras correndo, pulando dentro do rio e se transformando em sereias. Mas todos falavam da mesma coisa com um profundo medo: os seguidores de Vlad tinham voltado. A guarda da cidade, apesar de achar ridícu1os e a6surdos aque1es depoimentos, não acreditava tanto nas lendas de Vlad o Empalador. Mas sempre prometia as pessoas que iam apurar com mais detalhes os casos. Principalmente depois que começaram a aparecer novas mortes perto do Danúbio. Primeiro uma menina de 13 anos, depois um grupo de monges ortodoxos teve seus pescoços quebrados e seus sangues retirados até a última gota. E o que era pior: os re1atos sobre as des1umbrantes 1oiras perto do Danú6io aumentavam. Pressionados pelos moradores da cidade, os guardas começaram a patrulhar toda a extensão do rio. E desde que eles começaram essas patrulhas, tudo se acalmou, chegando a passar semanas sem nenhuma novidade. Mas mesmo com a população em paz, um novo ataque aconteceu. 5ó que dessa vez a investida foi contra os guardas, que foram atacados até a morte por uma mu1her branca de quase um metro e noventa de altura, atacando-os na beira do Danú6io. Dos trinta guardas que patrulhavam a beira do rio, treze entraram em confronto direto com a mulher, sendo que quinze deles foram feridos mortalmente, sete tiveram seus pescoços quebrados e oito foram esquartejados, cujos corpos, braços e pernas podiam ser vistos ao longo do rio. Apenas cinco homens, dos treze que confrontaram a estranha mulher, sobreviveram. Mas eles não tinham a menor idéia do que os tinha atacado. 5omente uma jovem de dezessete anos, chamada Mihaela, conseguiu descrever a mulher, perfeitamente bem, pois ela havia atacado sua irmã que, não aguentando as dores do parto, começou a dar a luz na beira do rio. A mulher realmente era extremamente branca, com um metro e noventa de altura, olhos felinos, garras e presas enormes. Ela tinha a força de vinte homens e enquanto sua irmã dava a luz, ela a jogou longe, com a criança ainda no cordão umbilical. Ela atacou as duas, mas com medo, Mihaela conseguiu fugir e infelizmente teve de assistir a tudo. 5ua irmã ainda conseguiu atacar a mulher com um punhal de prata, ferindo-a no braço. Mas as dores do parto não a deixaram lutar e ela se entregou à morte sem forças. A mulher enquanto se alimentava do sangue de sua irmã, de maneira sádica, arrancava-lhe os braços e pernas com uma força extremamente sobre-humana. Por último ela rasgou o ventre da sua irmã, arrancou a criança ainda com cordão em seu umbigo e a jogou longe, sendo a mesma amparada por um monte de folhas. Assim que a mulher voltou a mergulhar no Danúbio, Mihaela aos prantos e em estado de choque ao ver horrenda cena, correu e conseguiu salvar a criança: uma menina. Menina esta cujo nome e sobrenome foram herdados de sua irmã, que se chamava Mary Annie Roxelly. Enquanto contava sua história, um dos guardas interrompeu o depoimento de Mihaela, mostrando ao prefeito de Tulcea, um estranho amuleto que estava na mão esquartejada de um de seus companheiros mortos. O prefeito pegou o amuleto ainda manchado de sangue e convocou o conselho de anciãos da cidade, para que eles pudessem dar alguma explicação sobre aquilo. Nenhum deles sabia dizer algo sobre aquelas inscrições, gravadas em romeno antigo. Porém um deles, um ancião de quase cem anos, ainda com forças para suportar mais vinte em suas costas, sabia do que se tratavam aquelas inscrições e contou a história de um grupo de jovens que viviam numa pequena cabana perto das margens do Danúbio. Eram belas e faziam de tudo para que o tempo fosse generoso com elas, para que os anos se passassem e não lhes retirasse o seu maior poder: a sedução através da beleza. O extremo de sua busca em lutar contra o tempo foi em começar a cultuar o demônio para que o mesmo viesse atender os seus desejos de juventude e beleza imortais. Elas faziam rituais diversos, onde bebiam e se banhavam em sangue de animais. 5abendo disso e desse desejo insano da juventude eterna, o próprio Drácu1a apareceu para e1as no meio de um desses rituais e transformou todas e1as em vampiras. Quando os moradores souberam disso, começaram a caçá-las. 5ó que essa caçada custou um preço e esse preço foi alto: a redução de quase toda a população de Tu1cea. A última das vampiras fugiu jurando vingança. E isso foi há mais de um século. Após o relato do ancião, trataram de dar à irmã de Mihaela, um velório digno, seguindo todas as tradições romenas. Os guardas, juntamente com os aldeões mais corajosos, fizeram um mutirão de vigília, a fim de matar essa última vampira. Só que as noites se passavam e uma enorme sensação de segurança, por acharem que a vampira havia sumido tomaram conta de todos. Os aldeões voltavam aos poucos a utilizarem o Danú6io para pesca e demais usos. Mas mesmo assim o faziam de maneira cautelosa, pois temiam que essa última vampira retornasse e vingasse todas as outras de seu clã. Só que essa última investida contra os moradores de Tulcea, deixou uma semente. Ninguém percebeu, devido aos agitos e mortes que a aldeia sofrera. Mas a pequena Mey como era chamada, aquela que fora salvo por Mihaela, a irmã de sua mãe, havia herdado uma parte da maldição. Pois quando fora arrancada, o cordão umbilical passou pelo ferimento do braço da vampira e o sangue da mesma havia sido passado para a pequena Mey. Tudo começou aos seis anos, seis meses e seis dias de nascida, quando ela despertou os primeiros traços vampíricos, que foram sua força sobre-humana, quando ela levantava bois e vacas como se fossem sacos de algodão; sua velocidade silenciosa e extremamente rápida, que a fazia percorrer grandes distâncias pelos campos de Tulcea em questão de segundos; sua regeneração rápida de ferimentos também era de assustar, pois ela podia se machucar o mais grave que fosse e até mesmo entrar em contato com pessoas doentes, que se curava e regenerava em questão de segundos ou minutos; seus sentidos também ficaram muito aguçados, fazendo com que a pequena Mey pudesse ouvir as conversas dos adultos, o que os aldeões falavam dentro de suas casas, conseguia sentir odores de maneira distinta, diferenciar cheiros bons, ruins e saber quando as pessoas estão mentindo, através do odor liberado na pele, por causa da adrenalina em seu sangue. Ela também conseguia se metamorfosear em morcego e até mesmo voar sem precisar se transformar. Mihaela, tia de Mey ficou chocada com a descoberta de que a sobrinha que estava criando como filha era uma vampira e a primeira coisa a tentar fazer foi avisar ao prefeito e aos guardas de Tulcea, que uma vampira vivia entre os aldeões. Mas seu instinto materno a fez recuar na decisão, e ela começou a testar na sobrinha as fraquezas que os vampiros possuíam. A primeira delas caiu por terra, pois a menina dormia tanto pelo dia, quanto pela noite e o sol não a afetava e muito menos sua pele era pálida. Isso era algo positivo, pois ninguém iria saber que ela era uma vampira, principalmente quando saíssem juntas para a feira ou para a igreja, o que por sinal também fora testado por Mihaela, se Mey tinha aversão às coisas divinas. Ela testou exorcismos, água benta, crucifixos e nada: nenhum sacramental surtia efeito na menina. Objetos de prata também não surtiram efeito em Mey. Foi aí que Mihaela chegou ao extremo de todos os testes: iria atear fogo em Mey e, caso ela sobrevivesse, enfiaria uma estaca em seu coração. Isso ac0nteceu logo na primeira madrugada do mês de junho, quando todos já haviam desistido de procurar a vampira que aterrorizara Tulcea, atacando a todos os que andavam próximos ao Danúbio. Mihaela saiu de casa com Mey ainda nos braços, dormindo profundamente, levou-a até uma enorme fogueira, onde deitou a menina, retirou suas vestes, amarrou-a, untou-a c0m azeite e ateou fogo na mesma. Os gritos de d0r da menina, podiam ser ouvidos ao l0nge, enquanto as chamas torravam sua carne. Por um momento, Mihaela sentiu um pesar em seu coração e pens0u em jogar água em Mey. Mas a menina arrebentou as cordas e caiu no chã0, rolando de um lado a outro, até que o fogo em seu corpo cessasse. Ela, mesmo sentindo as dores do f0go, se ergueu com muita dificuldade, caminhou até sua tia e parou na frente dela. Mihaela ficou aterrorizada ao ver os ferimentos da menina cicatrizando com uma velocidade enorme. Em questão de minutos ela estava do mesmo jeito que fora colocada na fogueira: nua. E apesar de toda a dor que sentiu ao ser queimada, a pequena Mey ainda mantinha sua inocência totalmente intacta. Isso fez com que sua tia deixasse de lado a idéia de usar uma estaca em seu coração, pois a mesma estava aos prantos, abraçada com a menina, jurando criá-la e protegê-la, não só dos moradores de Tu1cea, mas também do resto do mundo, pois apesar da menina ser um tipo diferente de vampiro, e1a ainda era sangue de seu sangue. Mihaela resolve então cobrir a menina com uma manta e voltar com e1a para sua casa. Desse dia em diante, apesar dos olhares de desconfiança dos moradores, Mey convivia com todos sem 1evantar nenhum tipo de suspeitas sobre sua verdadeira natureza, pois de a1guma maneira sua nova condição havia sido abafada dentro dela mesma. Porém um dia, quando tinha acabado de completar seus dezoito anos, estava a jovem recolhendo lenha na floresta para o inverno (uma pilha enorme que para ela, tinha o peso de alguns pequenos galhos), quando se deparou com um cervo 6astante ferido por caçadores. Ele tinha sido acertado por várias flechas e agonizava de dor. Mesmo assustada, ela se aproximou e tocou-lhe os ferimentos. Suas mãos ficaram sujas de sangue. Seus sentidos aguçados despertaram, ao ter sua pele em contato com o ainda quente e pulsante líquido vermelho. Seus olhos podiam ver as artérias do animal; seus ouvidos começaram a ouvir tudo o que estava ao redor, desde a respiração do cervo aos mínimos insetos ali presentes e seu nariz começou a transformar o cheiro de sangue do animal em um cheiro doce, convidativo e atraente. Instintivamente, seus caninos começaram a crescer, tomando tamanhos extremamente desproporcionais para uma pessoa comum. E no lugar de suas unhas, brotaram garras. Ela, agarrando-se ao pescoço do cervo, cravou as presas e sugou o que lhe ainda restava de vida, bebendo todo o sangue do animal, lambendo as mãos sujas e ainda chupando os dedos, como se tivesse despertado um apetite de anos, que só agora começava a ser saciado. Os caçadores aproximaram-se de Mey, mas ela conseguiu sumir por entre os arbustos, saindo dali apressadamente, carregando o enorme feixe de lenha. Ela não tinha mais o ar de inocência que carregava, pois ao entrar em contato com o sangue do cervo, seus instintos mais primitivos referentes ao vampirismo, haviam sido despertados. Assim que chegou perto de sua casa, Mey entrou em pânico, pois ainda estava com os caninos e as garras de fora. Ela tentou arrancá-los, mas outros nasceram no lugar. Depois de muito tentar, ela percebeu que se não era por uma questão de força, tinha de ser algo dentro dela. Foi aí que ela se concentrou e voltou ao normal, tendo os caninos e as garras, recolhidos de volta ao corpo. Aliviada, ela entrou em casa, deu boa noite à sua tia Mihaela, avisou que o feixe de lenha estava do lado de fora, lavou as mãos e o rosto e sentou-se à mesa para jantar. Mihaela perguntou sobre a tarde que ela passou na floresta, se tinha visto algo incomum, ou se ela tinha feito algo diferente. Mey começou a falar sobre o enorme feixe de lenhas que carregou com muita facilidade. Mas sua tia ficou chocada quando ela comentou sobre o cervo e o sangue consumido. “E agora?”, pensou Mihaela. “Se eu não encontrar algo que consiga matá-la, assim que consumir sangue humano e se transformar por inteira, ela poderá matar tudo e todos ao seu redor”. O medo então toma conta dela, sem nenhuma explicação e sem nenhum meio de conter Mey a não ser através da morte. Mas o que poderia matá-la se ela já havia tentado de tudo? A resposta para essa pergunta apareceu meses mais tarde, quando em um dia de início de inverno, ela e Mey se preparavam para irem à igreja, participarem da celebração do Natal. Assim que entrou e se viu cercada de sacramentais, a pele de Mey começou a queimar. Pela primeira vez desde que nasceu ela sentia dor. Mas não se tratava de um pequeno incômodo e sim uma dor de morte, como se estivesse passando por uma tortura enorme. Mihaela se assustou ao ver aquilo, pois Mey desde nova freqüentava a igreja, e nunca ela poderia imaginar que um dia veria aquilo acontecendo. As pessoas começavam a perceber a movimentação estranha na entrada, e Mihaela mandou que Mey fosse embora dali o mais rápido possível. Quando viu Mey correndo o mais rápido possível para longe do solo sagrado, Mihaela se deu conta de que apesar de sua sobrinha ser imune aos raios solares e caminhar de dia, assim como os vampiros ela não poderia entrar em igrejas devido ao excesso de sacramentais reunidos dentro delas. Mey pode ser imune a água benta, crucifixos ou objetos de prata, desde que eles fossem usados de maneira isolada. Mas ao entrar em contato com todos reunidos de uma vez só, ela sofre a mesma penalidade que os vampiros sofrem: serem expulsos do solo sagrado. Totalmente assustada com aquela nova revelação, Mey corre para a floresta, a fim de fugir da dor que estava sentindo. Ela usa seus sentidos aguçados para saber exatamente para onde está indo, pois temia se perder naquela floresta densa e perigosa. Mihaela saiu logo atrás, tentando acompanhar a sobrinha, mas era em vão, pois a menina era muito mais rápida do que ela. Ela correu até sentir seu corpo cansar e resolveu deixar de ir para a igreja, voltando para casa exausta. Ao chegar, Mihaela sentou-se em sua cama e mesmo lembrando do ocorrido com relação a Mey, respirou aliviada, pois a igreja estava vazia e ninguém tinha visto. Quer dizer... Era isso o que ela pensava. Uma aldeã chamada Donna, que estava orando no confessionário esperando o padre, viu quando o corpo de Mey começou a fumegar e deduziu se tratar de uma vampira. Ela então contou ao padre. E assim que saiu da igreja, saiu espalhando para todo o vilarejo que Mihaela e sua sobrinha Mey eram vampiras, pois viu a jovem quase em chamas dentro da igreja. Essa notícia logo se espalhou e chegou ao chefe do vilarejo, que pressionado pelo restante dos aldeões, não teve outra saída a não ser reunir todos e irem caçar “aquelas que fizeram um pacto com o próprio d***o em troca da vida eterna”. Eles então começam uma lenta e calma preparação contra Mihae1a e sua sobrinha, improvisando estacas de madeira, punhais de prata, crucifixos e água benta. Após todos estarem munidos com algum tipo de arma contra vampiros, marcharam em p1ena noite de natal até a cabana de Mihae1a, que estava sozinha e indefesa, sem sa6er que os aldeões tinham sentenciado-as à morte sem nem darem a elas uma chance de se defenderem. Mihae1a, que estava sentada nos fundos da casa com uma 1amparina na mão, esperando Mey aparecer, nem perce6eu quando os a1deões chegaram a sua casa e surpreenderam-na, segurando-a e amarrando-a fortemente, sob acusações de ser uma vampira. Eles então começaram a bater em Mihae1a, querendo que e1a mostrasse quem realmente era, para que suas acusações fossem confirmadas. Para isso, fizeram uma enorme fogueira à beira do rio e após enfiarem uma estaca de prata em seu coração, iriam queimá-la. As pancadas estavam cada vez mais fortes. Mihaela já estava quase perdendo os sentidos, quando posicionaram a estaca e bateram com bastante força, perfurando-lhe o peito. O grito de dor de Mihaela foi ouvido até o outro lado do Tulcea, ecoando até a floresta, chegando aos ouvidos de Mey, que ao ouvir o grito de sua tia, deu um grito de fúria de assustar morcegos, corujas e outros animais noturnos. Garras brotaram no lugar de suas unhas das mãos e dos pés, seus olhos, que eram verdes, ficaram de um laranja vítreo assustador, e suas presas cresceram do tamanho das presas de um animal selvagem. Ela então correu em uma velocidade sobre-humana até a casa de Mihaela, surpreendendo a todos os aldeões com sua aparência.
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