Fiz a mesma trajetória para voltar pela porta por onde entrei. A cada passo que eu dava, via o quanto a casa era linda: os móveis rústicos de madeira, os quadros gigantes pendurados na parede e as iluminações pareciam uma cena de filme. Tudo ali parecia custar mais do que os meus rins.
— Meu Deus, que luxo exagerado!
Mas quem pode, pode. Durante o meu caminho pelo corredor, vejo o menino de cabelos loiros encolhido, como se estivesse dormindo sentado no chão. Caminho até ele devagar para não assustá-lo e começo a ouvir ele soluçando, como se estivesse chorando. Aproximei-me e vi que ele realmente estava chorando e apertando com força uma fotografia.
Baixei devagar e sentei ao lado dele, mas ele não notou minha presença, parece perdido em seus pensamentos.
— Por que um garoto tão lindo, com os cabelos da cor do sol, está chorando?
Só aí ele notou minha presença e me olhou como se estivesse assustado.
— Quem é você? Por que está na minha casa?
— Oh! Fiz uma expressão de surpresa por ele ter falado assim.
— Fale logo, se não vou chamar meu pai... os seguranças.
— Bem, se você me perguntar por que o garoto mais brilhante que nem o sol está chorando, eu vou falar quem sou.
— Mesmo que você fale, não pode trazer ela de volta. Então não adianta.
— Mas isso ajuda a melhorar a saudade que sentimos. Eu perdi meu pai aos 4 anos e chorava muito porque o amava muito e ainda o amo. Quando eu ficava triste, minha avó me abraçava e falava sobre meu pai, e agora eu falo sempre dele com minha avó. Isso me deixa feliz por saber que nunca o esquecemos.
— E a sua mãe?
— Hum... minha mãe me abandonou e eu ganhei outra super mãe, que é minha avó.
— Mamãe má. As mães são boas. Minha mãe sempre me disse que me protegeria e nunca me deixaria.
Ele olhou para mim e começou a chorar.
— Mas ela me deixou. Por quê? — disse fungando as lágrimas com as alças das mangas da camisa.
— E quem disse que ela te abandonou?
— Ninguém.
— Sabe por que ninguém disse isso?
— Não.
— Porque ela nunca te abandonou. Ela está no céu, olhando por você e cuidando de você. Agora ela é um anjo e vai estar contigo, protegendo você sempre, assim como meu pai cuidou de mim de lá de cima.
— Ela deve estar triste e preocupada por ver o seu filho lindo, que nem o sol, chorando.
— Não! Eu não quero que ela fique triste.
— Então você deve sempre pensar nela com carinho e lembrar que ela está cuidando de você lá de cima.
— Está bem, então eu vou ser forte para não deixar a mamãe triste.
— Muito bem. Sempre que sentir saudades dela, lembre-se do quanto ela te amava, e pode me ligar para falar dela.
— Sério? Ubaaa...
— Eu sou a Thayla e vim para a entrevista de babá do garoto mais lindo e brilhante que nem o sol.
— Sério? Então você é a minha nova babá?
— Ainda não, mas se o Sr. Rossi me contratar, eu serei.
— O papai nunca vai contratar você. Ele só gosta daquelas mulheres assustadoras e bem sérias, tipo ele.
— Não faz m*l. Mesmo que ele não me contrate, você ainda pode ligar para mim para falarmos sobre sua mamãe. O que acha?
— Sério? Ubaaa...
— Eu adoro brincar também.
— Engraçado, eu também gosto de brincar. Mas antes de brincar, primeiro devemos comer proteínas para ganhar energia.
— E esse sol lindo que está na minha frente já comeu?
— Ainda não. — disse olhando para os dedinhos dos pés.
— Por quê?
— Vou comer quando meu pai sair.
— Por que esperar ele sair? Não come com ele?
— Papai não gosta de mim, por isso eu também não gosto dele.
— Não me pareceu isso hoje na entrevista. Acho que ele se preocupa bastante contigo. — digo, lembrando do quanto ele pareceu protetor na entrevista.
— Acho que não.
— Mesmo assim, o menino Enzo deve sempre comer para se tornar um menino lindo e forte.
— Vou ficar grande e forte como o papai?
— Sim, e será um homem muito bom se comer bem sempre.
— Se você for comigo hoje, eu vou comer.
Meu Deus, onde fui me meter? m*l acabei de conhecer o garoto e ele já quer que eu sente à mesa com ele. Isso é loucura. A Sra. Oliveira e o Sr. Rossi vão me matar se ouvirem isso. O que faço para sair dessa?
— Bem, como ainda não sou a sua babá, não posso sentar à mesa com você. Seria errado.
— Então eu vou pedir ao papai para te contratar.
Aí, minha nossa senhora dos anjinhos.
— Não precisa. Vamos fazer assim: hoje eu vou acompanhar você até a mesa, e da próxima vez eu vou ficar com você à mesa. O que acha?
— Tudo bem, mas aproxima, vamos comer juntos e depois brincar, Thayla.
Apertei as mãozinhas do Enzo como se estivéssemos formando um acordo.
Ele se levantou e eu me levantei em seguida. Enzo estendeu a sua mão para me guiar pelo caminho até a sala de refeições. Chegamos lá e era linda e bem decorada. Gostei da decoração e do quanto parecia ser acolhedora.
— Aqui era o lugar favorito da mamãe. Quando ela fazia bolo de chocolate, esperávamos o papai chegar, e aí eu e o papai comíamos tudo.
— Parece que era divertido. Mas é um motivo para você comer, porque sua mamãe gostava de deixar vocês felizes cozinhando comidas gostosas.
— Então vou comer tudinho para...
Somos surpreendidos pela voz do Sr. Rossi por trás de nós. Agora lascou tudo.
— O que você está fazendo aqui?
— Ela está comigo. Eu pedi para ela vir aqui comigo.
— Ele me olha e depois olha para o Enzo.
— Isso foi errado. Ela é uma estranha e poderia fazer m*l a você, Enzo.
Senti-me ofendida pelas palavras que saíram dos seus lábios, mas ele estava certo.
— Ela não é estranha. Ela vai ser a minha babá.
— Ainda não decidimos nada, filho.
— Eu quero ela, papai. Por favor, deixe ela ficar.
— Eu vou avaliar as outras candidatas e tomar uma decisão, Enzo.
— Eu não quero outra. Por favor, papai.
Ver o Enzo implorando daquela forma para o pai partiu meu coração. Meu Deus, como esse homem pode ser tão insensível? Como ele pode resistir a tamanha fofura e magoá-lo assim? Não posso deixar que isso continue.
— Meu solzinho, o Sr. Rossi tem razão. Você não deve falar com estranhos e muito menos andar com eles. Não precisa ficar triste porque podemos conversar sempre. Você tem o meu número, é só ligar para mim.
— Sr. Rossi, peço desculpas por esse meu comportamento. Vou me retirar agora mesmo.
— Não vá, Thayla. Você também vai me abandonar.
Ver aqueles olhos verdes lindos prontos a lacrimejar fez meu coração partir. Abaixei-me à sua frente e dei um abraço nele. Tenha fé, eu vou voltar. Afinal, sua mamãe é seu anjo e vai me trazer de volta.
Eu falei aquilo por emoção, mas doeu mais em mim porque sabia que eu não voltaria mais a vê-lo.
Tenha fé, pequeno Enzo. Levantei-me e saí da sala, deixando os dois lá em pé olhando para mim.
Saí da casa e caminhei até a parada de ônibus, mas antes de sair, a Sra. Oliveira disse que, caso eu fosse aprovada, ela iria ligar para mim.
O dia foi longo e repleto de emoções.