Capítulo 3

2347 Words
LORENA MORAES Depois de horas olhando o closet, eu finalmente consegui escolher um vestido. Estou com mil e uma fantasias na cabeça e só quero que essa noite seja perfeita, esse era o meu desejo, como eu sonhei com esse momento. Eu passei tantas noites, dias, fiquei tanto tempo imaginando o dia que eu finalmente seria dele, sentir seu toque, seus beijos… meu sorriso nem cabe no meu rosto, só em pensar que finalmente chegou o dia, mas não foi nada disso que aconteceu. Quando me aproximo e olho o prédio, meu coração já aperta, meu brilho sumiu, é um prédio em construção, bem decadente. Nem um "boa noite!" "Tudo bem?" "Você está pronta?" Nada disso, ele não falou nada, só apontou a entrada e me fez segui-lo. Depois de subir intermináveis degraus, nós finalmente chegamos ao tal quarto, o que eu agradeço, estou usando um scarpin nude com saltos altos. Ele usa uma chave para abrir a porta e quando eu passo meus olhos pelo lugar, minha vontade é sair correndo dali, é tudo muito precário. No final isso será como uma vingança para ele, e o pior é que eu achei mesmo que esse momento seria real, como eu sou sou .idiota. — Mas que lugar é esse? — Pergunto olhando o quarto caindo aos pedaços, ele ri com desdém. — O que você esperava, uma suíte nupcial? — Ri cruelmente — você está se superestimando demais, Lorena, isso aqui ainda é muito mais do que você merece! Sinto meu coração afundando lentamente, isso é muito ridículo, eu não sei de onde eu tirei a ideia de que talvez ele fosse ser carinhoso, gentil, ou que faria isso ser especial. — Não, eu sei que você não iria fazer nada melhor que isso — respondi forçando uma segurança que nem de longe existe em mim. — Então, vamos começar logo com isso! — Ele se aproxima de mim e só aí eu percebi que ele bebeu. Ele sopra a mão e sorri sarcástico — decepcionada? Não fique, é só mesmo bêbado para eu conseguir .trepar com você. — Não exagera, Rodrigo, eu não sou uma mulher .feia — respondi forçando ironia — eu tenho um corpo bonito, um rosto bonito, você por acaso tem problemas de ereção? — Ele ri e desce os olhos pelo meu corpo. Eu faço o mesmo com ele e foco minha visão no volume que tem em sua calça, os pêlos do meu corpo inteiro se arrepiam com o tamanho que deve ter ali. — Você está querendo me provocar com isso? — Pergunta rindo, eu n**o também rindo. Mas é nervosismo puro. — Não, mas acho que seu corpo pensa diferente de você, ou isso aí na sua calça é enchimento? — Agora eu provoco. — Enchimento é, veremos… — ele termina de falar e em seguida arranca meu vestido, me jogando no colchão duro. Eu tenho vontade de chorar quando ele termina e me encara com aquela frieza, mas me recuso a ser fraca na sua frente. Ele olha pra mim e diz: — Espero que esteja satisfeita. Amanhã quero sua assinatura no contrato! — Falou depois de olhar satisfeito para o meu estado. Mesmo tentando ser firme e segura é visível a minha decepção. Ele nem mesmo olha direito na minha cara, parece não sentir nada, nada mesmo. — Agora levanta daí e vaza. Não vai ter segundo tempo. —Diz sem nenhum sentimento sequer. Eu arrasto meu corpo dolorido para fora do colchão e vou até o minúsculo banheiro. A minha única vontade é sumir logo daqui, o que seria um sonho realizado, acabou virando um pesadelo. … Humilhante. Essa é a palavra que resume minha primeira noite, mas pior é que eu ainda quero senti-lo outra vez. Eu sou tão ridícula. Eu olho o telefone e vejo que ele já visualizou a mensagem que enviei, eu espero uma resposta, nem que seja um simples "Okay!" mas não vem nada. Minha noite, ou pelo menos o resto dela, foi péssima. Meu corpo dolorido, as marcas deixadas nele, me fazendo lembrar dos momentos de prazer que eu tive — que droga! — grito socando a lateral da banheira. Por que eu tinha que gostar? Ele não foi nada carinhoso, foi até um pouco bruto nos movimentos, por que eu tenho que querer mais? Burra. Mas ele é tão gostoso, tão lindo… bato na minha cabeça — você é masoquista por acaso? Esqueça ele, Lorena, só esqueça! — digo em meio às lágrimas. Ainda bem que hoje é domingo e não preciso ir trabalhar, porque não tenho condições de ir a lugar nenhum. Passei o dia inteiro jogada no sofá e, o auge da minha auto humilhação é que eu fiquei olhando o contato do Rodrigo o dia inteiro, aí você pergunta: esperando o quê? Uma resposta, talvez? Uma mensagem perguntando se estou bem? Eu não faço ideia, só fiquei lá, olhando a foto linda dele. O Leandro me ligou, eram umas dezessete horas, me chamando para ir jantar com ele a noite, eu inventei uma desculpa para recusar. — Desculpe Leandro, eu não estou me sentindo bem — digo desanimada. — O que você tem? Eu estou indo até aí! — Diz preocupado. — Não é necessário! — Respondi rápido — eu só estou com cólicas. Você sabe, eu fico horrível nestes dias. Não menti quando disse que não estou me sentindo bem, mas menti o motivo. Minha menstruação acabou faz três dias, ainda bem, ou eu não teria minha noite com o Rodrigo, pensei, bato na minha cabeça novamente — eu tenho que parar de pensar nele — sussurro. — O que você disse? — Leandro pergunta. .Cacete! Eu ainda estou no telefone! - Penso. — Nada. Só me mexi no sofá e acabei derrubando algo — minto. Ele fica calado por alguns minutos, quando eu vou abrir a boca para me despedir, ele fala: — Tudo bem, Lore — Lore, ele me chama assim — se você está tranquila, vou deixar você em paz. Nos vemos amanhã na revista. Beijos. — Obrigada pela preocupação, Leandro, de verdade. Beijos, até amanhã. Depois de desligar o telefone eu acabei pegando no sono. — Bom dia, Vanessa! — Cumprimento minha secretária. — Bom dia, Lorena, teve um bom final de semana? — Pergunta com seu sorriso de sempre. A Vanessa é uma fofa, ela tem vinte e seis anos, trabalha aqui na revista há quatro anos. Veio por indicação do Leandro, eles se conheceram na faculdade. Ela é a simpatia em pessoa, está sempre com um belo sorriso no rosto. Ela é uma mulher muito bonita, tem cabelos cacheados, é magra e pelo tamanho deve ter seus um metro e setenta e cinco de altura, no mínimo. Não entendo porque ela nunca fez um teste, ou talvez já tenha feito e eu não sei, só estou aqui há dez meses. — Tive sim. Foi muito bom — minto, mais ou menos. — E você, como foi o seu? — Bom também, tudo normal — responde sem muita animação. — Então, o que temos pra hoje? — Reunião com a equipe de marketing às oito horas, depois uma reunião com o fotógrafo da campanha de setembro para decidir a modelo. — Certo. Obrigada Vanessa. Entro em minha sala e me preparo psicologicamente para essa reunião, sério que eu vou ter que ver o Rodrigo hoje? Não estou com muita sorte ultimamente. Abro minha bolsa tirando de dentro o contrato, assinado, olho a fotografia da Bruna. Como ela é linda, tenho que admitir, o Rodrigo tem bom gosto, ela é perfeita e é a mulher que mexe com o coração dele. Deixo o contrato assinado junto ao book dela, cumprindo minha palavra, ela será a modelo que irá estrelar as campanhas de setembro. Às oito eu sigo para a sala de reuniões, antes de entrar pela porta eu respiro fundo, só de saber que o Rodrigo está lá já sinto meu coração acelerar no peito. — Bom dia! Todos prontos para começar a semana? — Pergunto com meu melhor sorriso. Olho para as nove pessoas sentadas em volta da mesa, evitando olhar diretamente para o Rodrigo, que está na outra ponta. Depois daquela conversa rotineira que acontece antes de cada reunião, nós começamos. A pauta principal é a divulgação da campanha de setembro. — Já foi decidido a modelo que irá estrelar a campanha? — o Raul pergunta. — Sim. A modelo da campanha de setembro, será Bruna Senna, aquela garota que fez o teste há um tempo atrás. — Ah, sim, ela é a amiga do Rodrigo — fala animado — ela é muito boa, tem talento. Fico muito desconfortável ouvindo os elogios que se repetem na sala, não é inveja, sabe, é só ciúmes, pois os olhos do Rodrigo que estão sempre frios e sem nenhum sentimento, de repente brilham. Eu desvio o olhar quando ele olha na minha direção. — É isso, pessoal, a modelo será comunicada e provavelmente começará na próxima semana. Vocês poderão começar a pensar na campanha de acordo com as fotos. — E a festa de lançamento, também já tem data? — Agora é a Olívia que pergunta. — Ainda não está decidido, podemos olhar uma data no próximo mês. Eu não tenho objeção, a data que estiver melhor pra vocês, eu concordo — Digo e olho novamente na direção do Rodrigo, ele age tão friamente como antes, parece que não aconteceu nada entre nós. — O Rodrigo pode ficar encarregado de decidir sobre a organização e data da festa junto com a Olivia — Raul sugere — geralmente são eles que cuidam da divulgação digital, a festa pode ser nesse estilo. — Os dois estão de acordo? — Pergunto. — Sim, eu vou adorar! — Olivia respondeu animada. Olho na direção do Rodrigo e ele apenas balança a cabeça em sinal positivo. — Certo. Tudo combinado então. Mais alguma coisa? — Pergunto olhando na direção deles. Depois de finalizar a reunião, o Rodrigo é o primeiro a sair, seguido pelo Raul. Ele nem mesmo se despediu, esse consegue ser pior que um iceberg. Fico sozinha na sala por um tempo, sentindo a decepção me invadir com tudo. Por mais que eu tente não consigo agir tão friamente quanto o Rodrigo e mesmo ciente de toda a minha situação, eu ainda esperei que ele fosse agir diferente, que fosse sentir algo. Seco uma lágrima que teima em sair dos meus olhos, está doendo tanto, a rejeição dói. Respiro fundo, uma, duas… várias vezes. Antes de sair da sala olho minha cara no espelho, ensaio um sorriso e ergo minha cabeça. Posso estar péssima, mas ninguém terá o gostinho de me ver .mal. — Oi! — O Leandro se aproxima assim que passo pela porta. — Está melhor? — Me beija na bochecha. — Oi, estou bem sim. — Respondi forçando entusiasmo. Eu aponto a direção da minha sala —Vamos? Eu tenho uma montanha de coisas para fazer. —Ele concorda e seguimos até lá. Eu tento interagir, respondendo o que ele pergunta e sorrio algumas vezes, mas pela cara dele, ele desconfia que não estou bem. O Leandro saiu do hospital há quinze dias e está bem na medida do possível, quem não sabe, nunca fala que esse é um homem doente, parece realmente bem. Assim que chegamos em minha sala, ele me olha e pergunta: —Algum problema, Lorena? Você não parece bem. —É o mesmo problema de ontem, estou naqueles dias —minto —e você, como se sente hoje? —Eu estou bem —suspira profundamente —ainda estou me acostumando com essa coisa na minha cabeça, mas eu não estou com dor, pelo menos —sorri. —Isso é bom, fico feliz. Ele ficou uns trinta minutos na minha sala, nós falamos sobre trabalho, sobre o meu Padrinho e sobre o casamento, desse assunto eu não gostei, ainda estou me habituando com essa nova realidade. O Leandro percebeu, na perspicácia o Leandro puxou o pai, nada passa despercebido aos olhos dele. —Lorena, você não está feliz com esse casamento, não é mesmo? —Pergunta. —Leandro, nós podemos, por favor, não falar sobre isso? —Olho nos olhos dele —isso não vai levar a lugar nenhum. —Mas eu não quero te fazer sofrer, Lorena, você sabe que eu sou louco por você. —Diz passando as mãos nos cabelos —Eu só quero que… —Leandro —o interrompi —eu não estou amarrada, eu escolhi fazer isso e eu tenho certeza que podemos nos entender, certo? —Acaricio seu rosto. —Está tudo bem. Eu sei que não amo o Leandro como homem, mas isso não quer dizer que não gosto dele, eu gosto, como amigo, eu tenho um carinho muito grande por ele. … Um mês passou voando. Eu estou trabalhando feito louca, enfiei minha cara no trabalho para tentar amenizar a pressão que está na minha cabeça, vê o Rodrigo todos os dias, lembrar o que fizemos e ele ser tão indiferente e frio, está me deixando maluca. A campanha de setembro já está sendo preparada e isso significa que a Bruna Senna está sempre por aqui. A mulher é ainda mais bonita pessoalmente e toda a equipe adorou ela. Que lástima. A minha situação está bem r**m, eu amo um cara e vou casar com o irmão dele, como se isso não bastasse ainda tenho que ficar vendo ele desfilar com a namorada modelo, loira, um metro e oitenta de altura, olhos azuis brilhantes, boca da Angelina Jolie… enfim a garota da capa perfeita, que ele exibe pra cima e pra baixo. Às dezoito horas eu fecho meu dia de trabalho, hoje foi bem cansativo, a festa de inauguração será no próximo sábado. Me olho no espelho antes de sair, estou um trapo, tudo que eu quero agora é um bom banho e minha cama. Quando a porta do elevador se abre, eu sinto meu coração acelerar, lá dentro está o homem que mexe com todos os meus sentidos. Continua…
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