Ainda acredita nisso?

712 Words
                O ronco de uma motocicleta grande corta a estrada praticamente deserta: enquanto pilota, com Maddie Cooper segurando-o firmemente, Austin percebe um pontinho brilhante em movimento no céu escuro: uma estrela cadente, e sem nem mesmo pensar, ele encosta no acostamento, há quanto tempo que não vê uma dessas? O céu de Los Angeles era iluminado demais e mesmo que ele o encarasse por horas, não conseguiria distinguir uma estrela de um satélite ou mesmo as luzes de algum avião que está sobrevoando a cidade. - O que houve? – Maddie pergunta preocupada – Algum problema? - Não – ele sorri – nenhum, eu preciso fazer uma coisa – ele suspira e aprecia o silêncio, tem algo mágico no silêncio que ele ama, algo que há muito ele não consegue sentir. - Certo – ela concorda – e o que é? - Ah – ele aponta para o céu em direção à estrela cadente – preciso fazer um pedido. - Ainda acredita nisso? – ela ri alto. - Sim – ele sorri: lembrava-se exatamente de quando começara a acreditar e de seu último desejo realizado, no verão de 2005, antes do acampamento, o pai deixara um envelope sobre a mesa, um acordo de divórcio, e ele, pedira para a sua estrela, no verão de 2005 que os pais não se separassem. Eles estavam casados até hoje – eu não tenho motivos para não acreditar. - E o que pediu? – ela pergunta. - Ainda não pedi – ele responde e logo fecha os olhos e cerra os punhos, com o rosto voltado na direção do ponto em movimento: o que ele pediria? Até hoje a estrela realizara apenas dois desejos, sendo que um deles, ela realizara por vários anos seguidos... Sem pensar muito, ele murmura: encontrar a Ellie e ele mesmo surpreende-se com o pedido – agora sim. - Certo, e o que foi? – ela logo ri – Eu sei, não pode me contar. - Isso mesmo – ele ri e a puxa para o seu encontro – não posso contar, porque é contra as regras. - Uhm – ela sorri – você sempre foi certinho demais. - Eu gosto de seguir as regras – ao menos gostava, ele pensou – mas tem algumas que não consigo mais seguir. - E quais seriam? – ela pergunta. - Regra do seu pai, ano de 2005, eu acho, ele disse que era proibido levar você para lugar desertos e que eu não podia ficar perto demais – ele riu – acho que isso – e ele a puxou novamente – é perto demais.                 E então ele a beijou, mas não foi como ele imaginara, ele a beijou e nem mesmo ter a garota mais bonita da cidade em seus braços fez com que ele parasse de pensar na garotinha do vestido vermelho, e enquanto ele pilotava – voltando para casa, porque ambos haviam decidido que não precisavam de um pub e sim de uma cama, ele ouvia em sua cabeça a risada dela ecoando.                 Na manhã seguinte, quando ele acordou, Maddie havia ido embora e tudo o que ele encontrou foi um envelope branco com arabescos perolados sobre a mesa da pequena cozinha, nele, havia seu nome escrito com caneta tinteiro: não precisava ser muito inteligente para descobrir o que era aquele envelope, mas mesmo assim ele o abriu: “Maddie e Gregor...” – como assim? Ela estava se casando com Gregor Denver? O cara pelo qual ela havia trocado ele, ainda no verão de 2005, enquanto ele estava acampando no Gran Canyon? Era como uma piada de mau gosto. Atirou o convite de volta sobre a mesa: no fim das contas, a diversão não seria ilimitada, ele precisava encontrar alguma coisa interessante para fazer, não podia ficar dormindo com garotas comprometidas. O verso do envelope tinha um rabisco feito à lápis: “Sinto muito. Mas eu tinha um assunto pendente com você, desde o colegial. Espero que compreenda, Maddie”.                 Assunto pendente? Agora ele sentia-se usado... Como assim? A garota decide que quer dormir com você, estando com o seu casamento marcado e nem mesmo avisa antes? O mundo estava perdido e ele definitivamente precisava encontrar um rumo para a sua vida, acabaria enlouquecendo ali antes mesmo do fim do ano. 
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