O inesquecível Verão de 98
1998 – Parque Nacional do Gran Canyon
- Ellie – Suzan gritava mais uma vez – filha, preciso que você pare aí – ela pede indicando um local com o braço – isso, bebê, nessa árvore, todo o ano...
- De novo? – ela protesta e logo para em frente à um grande pinheiro logo na entrada do parque – vamos atrapalhar o trânsito mãe – ela esfrega o rosto com as mãos, envergonhada.
- Sorriso – ela pede e manuseia a câmera fotográfica – vamos, bebê...
- Xis – ela diz e logo percebe o flash: aquela era a tradição. Todos os anos, no mês de julho, nos primeiros quinze dias... Acampamento no Parque Nacional do Gran Canyon. Com o papai, ou sem o papai, ano após ano... – podemos ir? – ela pede um tanto desanimada.
- Sim – a mãe o abraça e questiona – porque essa carinha triste?
- Queria ficar em casa nesse verão – ela diz enfiando as mãos nos bolsos do vestido vermelho – sabe, com meus amigos da rua, jogar bola, brincar na casa da árvore...
- Mas você sempre faz amigos no camping, Ellie – ela diz sorrindo – vem, vamos – ela passa o braço ao redor da filha – vamos conhecer novos amigos.
- Amigos que vão embora – ela diz furiosa – e no ano que vem, eu volto e não tenho ninguém... Nem em casa, nem no acampamento, não tenho nem mesmo o meu pai.
Suzan sabia que no fundo, Elleanor tinha razão. Aquela história de acampar no Gran Canyon anualmente era uma coisa da família dela, os primos, os tios... E ela era uma das mais velhas, achava o maior barato reunir-se com todos e aproveitar por alguns dias, mas aparentemente, aquele programa não chamava tanto a atenção da pequena Ellie.
Mesmo quando o marido, Patrick, não conseguia vir para casa e acampar com a sua família, o que era cada vez mais frequente, a cada ano ele tornava-se mais ausente, Suzan preparava o carro e ia com a pequena, não perderia o seu encontro de família, mas agora o seu peito apertava: e se Ellie estivesse sendo infeliz? Obrigada a ir acampar e vendo todo o ano seus amigos partirem para nunca mais serem vistos? Como ela podia ser tão egoísta...
Assim que chegaram ao local reservado, havia um grande trailer parado ao lado: um homem mexia no motor enquanto uma mulher sorridente espalhava seus pertences na sombra de um toldo lateral.
- Boa tarde – dia Suzan sorrindo.
- Olá – a mulher sorri também – acho que seremos vizinhas...
- Pelo menos por um tempo – diz a mulher empolgada – sou Suzan Barnet.
- Muito prazer – a outra estende a mão – Nancy Bryan e este é o meu marido, Thom – o homem acena com a cabeça e ela encara a menina – e essa mocinha...?
- Sou a Ellie – ela responde um pouco mau humorada.
- Muito prazer Ellie – Nancy diz – quantos anos você tem?
- Seis – a menina responde birrenta.
- Uhm, e que tal você conhecer o meu bebê? – Nancy pergunta – Eu tenho um menino, o Austin – ela diz calmamente – ele deve estar correndo por ai com a sua bola e... – ela para encara ao longe, um menino com sua bola, cinquenta metros na frente – olha ele lá!
- Posso ir, mamãe? – pergunta Ellie mais animada, ela adora brincar com outras crianças.
- Com cuidado – consente Suzan e logo vira-se para Nancy – obrigada, tivemos um problema com isso agora a pouco, ela queria ficar em casa, pelos amigos... Eu sempre trago ela, todos os anos, é uma tradição...
- Que lindo – diz Nancy – é a nossa primeira vez, mas Austin quer voltar.
- Ellie nem quer mais vir – ela suspira – crianças...
Logo ela está correndo na direção do menino: Ellie sempre teve facilidade em fazer amigos, mas dificuldade em mantê-los, devido à essas viagens de verão e as mudanças constantes de endereço, sempre nos arredores de Savannah.
- Oi – ela disse – eu sou a Ellie.
- Oi Ellie – ele responde, e ao perceber que a sua mãe estava conversando com alguém ao lado do acampamento, eu entendi que aquela menina deveria ser a vizinha de acampamento no verão – eu sou o Austin.
- Austin – ela repete sorrindo, como quem conta as letras – é a sua primeira vez aqui?
- Sim – ele responde – mas eu estou achando incrível, quero voltar no ano que vem.
- Eu não quero – ela diz birrenta – eu nunca mais quero vir para cá.
- Porque? – ele pergunta.
- Por que fizemos amigos e no fim do verão, todos vão embora e deixamos de nos ver e nos falar... E no outro ano, precisamos fazer novos amigos.
- Eu vou estar aqui de novo no ano que vem – ele diz chutando a bola contra uma árvore.
- Você promete, Austin? – ela me encara com os dois olhos verdes e brilhantes.
- Eu prometo, Ellie – respondo sorrindo.
- Então, nós vamos ser amigos – responde e a menina e logo o pega pela mão puxando-o de volta para o acampamento enquanto grita – veja, mamãe, agora o Austin e eu somos amigos.
E em meio aos risos dos adultos pela inocência da pequena, no silêncio do peito de Austin uma promessa feita e a alegria contagiantes de uma menina com o seu novo amigo, nascia uma das mais lindas e verdadeiras amizades que aquele camping já havia visto: Austin e Ellie.
Nenhum dos dois fazia ideia, naquele momento, do poder que aquela promessa teria, em tudo o que ela seria capaz de confrontar para que fosse cumprida, em todas as vezes que seria mencionada: o poder daquela promessa regeria sonhos, criaria realidades, realizaria muitos sonhos e, acima de todas as coisas, mudaria muitas vidas.