Vernon, Texas
Abril de 2018
- Não pode fazer isso - o pai começa a andar em círculos dentro da oficina - sua mãe, sabe que ela não perdoaria você... - ele está irritado.
- Bem - suspira Austin - eu lamento que ela não consiga me perdoar - ele suspira e encara o pai - sabe que eu poderia não ter perdoado ela, ou mesmo vocês dois...
- Não tem esse direito - diz o pai.
- Sim, eu tenho - suspira Austin - e eu tenho, assim como Dominic tem, ninguém quer nada, só queremos nos conhecer melhor, sei lá, de repente a gente nem gosta um do outro...
- Você não sabe como as coisas funcionam - grita o pai - acha que pode sair por ai, mexendo com a vida das pessoas...
- Eu não sei como as coisas funcionam? - ele riu - Pai, você e a mamãe, esconderam de mim, minha vida toda, que eu tinha um irmão... Fizeram eu, moleque, pensar que estavam se separando...
- Isso nem era assunto seu - o pai diz - não sei que tanto drama está fazendo, garoto!
- Drama? - ele ri - Você não cresceu sozinho.
- Não - grita o pai - cresci com um i****a que não controla a língua quando bebe - Thom sai caminhando com raiva - pensa na sua mãe, ela sempre fez tudo por você.
Austin apenas ignorou o que lhe dizia o pai e seguiu o seu caminho: seguiria para Denton: quase duzentos e cinquenta quilômetros, três horas de viagem pelas longas e quase desertas estradas do Texas, encontraria seu irmão no local combinado: um bar.
Dominic estava ansioso: mesmo com a notória desaprovação de sua mãe, no fim das contas ela havia dito "eu entendo você" e provavelmente tudo ficaria bem, ela possivelmente tinha medo de perder a atenção do seu único filho, mas para ele, era importante conhecer o irmão. Chegou no horário marcado, e sentou para esperar.
Não era preciso ser exatamente um gênio para perceber, assim que Austin entrou, quem era seu irmão: as semelhanças eram gritantes. Cabelos escuros e encaracolados, olhos cor de mel, quase esverdeados, o mesmo porte físico, apesar de Austin parecer mais forte e Dom, mais franzino.
- Oi - Dom disse abraçando o irmão - nossa, que bom que veio.
- Bom que você aceitou - responde o outro tão empolgado quanto.
Pediram cervejas, conversaram sobre tudo - ou quase tudo.
- E o que você faz? - pergunta Dominic interessado - Trabalho?
- No momento eu estou dando um tempo - ri nervoso - desenvolvedor de aplicativos, tive alguns problemas com quebra de sigilo, ano passado, sai de Los Angeles, voltei para Vernon - ele suspira - preciso dar um tempo.
- Isso é f**a - o irmão responde - já pensou em troca de área?
- Não tem como fugir muito do que a gente é - Austin não se imaginava fazendo outra coisa.
- Dentro do desenvolvimento, jogos, ou mesmo aplicativos que não envolvam o fornecimento de informação confidencial ou dados - Dom da ombros - sei lá...
- Nunca pensei - suspira Austin - mas e quanto à você? O que faz, exatamente?
- Ah - o irmão sorri sem jeito - eu tenho uma ligação forte com o céu - ele ri - sou astrônomo, fiz várias especializações e hoje em dia leciono na Universidade, minjasn disciplinas são voltadas ao estudo dos meteoros e pequenos corpos celestes, de modo geral...
- Fascinante - ri Austin - eu tenho uma história curiosa com estrelas cadentes.
- Meteoros - corri o mais velho.
- Que seja ! - ri o mais jovem - Se não fosse isso, talvez não estivéssemos aqui.
- Agora fique curioso - ri Dom.
- Mil novecentos e noventa e oito, fomos acampar no Gran Cânion... Eu era moleque, tinha uns oito anos. Conheci uma garotinha - ele sorri - fascinante, ela era incrível... Ellie - ele suspira - houvebuma grande chuva de meteoros naquele verão...
- Sim - sorri Dom - decidi que estudaria astrologia depois daquilo.
- Nossa - ri Austin enquanto dá mais um gole em sua cerveja - isso é incrível...
- Mas continua, estou curioso - Dom ri.
- Certo... A minha Ellie, ela acreditava que se fizessemos um pedido à uma estrela cadente, ele ia se realizar. E então, naquela noite, sentamos no acampamento e pedimos inúmeras vezes coisas às estrelas... Por anos, a gente sentou no acampamento, procurando por estrelas e fazendo pedidos, o mesmo pedido, todas as vezes...
- O que pediam? - ele pergunta.
- Pedíamos para que o outro voltasse ao acampamento no verão seguinte.
- E dava certo? - Dom pergunta rindo - Claro, não que exista um embasamento científico...
- Sim! Sempre de certo... - Austin deu outro gole - até eu encontrar um acordo de divórcio sobre a mesa de jantar, pensar que meus pais estavam se separando e pedir que ficassem juntos...
- Ela não voltou no ano seguinte! - Dom exclamou - p**a m***a.
- Exato, nem no seguinte e nem por sete anos... Eu simplesmente nunca mais soube dela.
- Mano, que loucura - o mais velho esfrega o rosto com as mãos - e aí? Como isso te levou a mim?
- Sonhei com a Ellie... E meu tio falou umas coisas estranhas, ai no Natal, resolvi conversar sobre o acordo de divórcio que nunca foi dos meus pais - ele suspira - era da sua mãe e do meu pai, aí fiquei sabendo.
- Por causa de um sonho? - riu o irmão - Eu não sei se em toda minha vida ouvi tanta improbabilidade de fatos dar um resultado, mas sim, estou encantado! - ele pede outra cerveja ao garçom - Mas foram coincidências... Estrelas não realizam desejos.
- Quem disse? - Austin protesta - Não foi só com o acampamento, ao longo da vida eu fiz muitos pedidos.
- Você parece meio bobo falando assim - ri o mais velho.
- Não seja tão cético...
A conversa ainda durou muito tempo, até o dono do Bar pedir educadamente que se retirassem - o que os deixou irritados. Sentaram-se em suas motocicletas, à beira da estrada, ainda falando da vida, até que Dom grita:
- Olha - aponta para o céu - acho que é uma das suas.
- Vamos fazer um pedido! - Austin insiste.
- Não - ri o outro - faz você.
- Vamos pedir algo, algo sobre nós... - ele sorri - vamos pedir para criarmos Al juntos.
- Isso vai ser legal - e fácil, pensou Dom, não queria decepcionar o irmão.
Pedidos feitos, eles despediram-se e seguiramcseus caminhos, mas o Universo ouviu aquele pedido, aquela estrela realizaria sim, um desejo.