O vestido vermelho

1254 Words
Vernon, Texas Julho de 2018                 Austin ainda estava um pouco abalado com os últimos acontecimentos: o rompimento do noivado de Maddie havia causado uma certa pressão social e não apenas de seus pais, pois agora, todos os conhecidos do tempo da escola lembravam-lhe que a garota estava livre e desimpedida, o que o colocava muitas vezes, em situações desconfortáveis.                 Ainda empenhado em trabalhar duro para conseguir desenvolver um aplicativo que fosse interessante, passava pouco tempo fora de casa e agora, com algumas reformas e a troca do velho papel de parede, o ambiente estava ficando realmente bom, ao menos para um homem solteiro que precisava de paz, sossego e um bom lugar para trabalhar. - Bom dia – ele ouve a voz de sua mãe nas escadas e corre para abria a porta. - Bom dia mãe – ele responde assim que a abre, mas logo o sorriso da mãe se transforma em um semblante de decepção que ele bem conhecia. - Austin Bryans – ela diz muito séria – precisa vestir roupas! – ela revira os olhos – E cortar esse cabelo, fazer a barba... – ela passa por ele carregando pães caseiros – Pelo amor de Deus, menino, quando é que você vai tomar jeito? - Acho que nunca – ele ri e senta-se no sofá, apenas de cuecas, deixando a mãe ainda mais irritada – e qual seria a graça de ter um filho normal? - Me daria menos incômodos – ela suspira – precisamos conversar. - Não – ele grita – a última vez que eu ouvi isso, acabei em um jantar com um casal de malucos parecendo concordar com a ideia de que eu deveria me casar com Maddie Cooper – ele grita – ah, sim, claro, foi na sua casa e o casal, era o papai e você. - Meu filho, aquela garota... Ela está grávida – a mãe lhe diz séria – e eu nem mesmo estar aqui te contando isso, bonitão, se o seu pai não tivesse aberto aquela boca grande dele ontem à noite e falado de um encontro entre vocês – ela suspira – me preocupei. - Está querendo insinuar que...? – ele para, pensa – Não, impossível. - Pode ser possível, meu filho – ela suspira. - Não, não pode 0 ele insiste – eu sei bem o que fiz, como fiz, e não há nenhuma chance. - Poderia, ao menos, conversar com a garota? – ela pergunta. - E para que? – ele retruca. - Para descobrir se ela pensa que pode ser... – ela suspira – seu, o filho. - Tudo bem – ele entende a mãe, se Maddie iniciar uma sessão de falatórios, sobre uma criança que poderia ser filha de Austin Bryans, em poucos dias, a cidade toda estaria falando do homem sem escrúpulos que não queria assumir o filho e mais um monte de baboseiras – eu vou conversar com ela – ele suspira – em um lugar público. - Obrigada – a mãe diz aliviada – mas não esqueça de cortas os cabelos, fazer a barba e vestir-se como uma pessoa, no mínimo, decente. - Tudo bem – ele concorda. - E me conte, no que está trabalhando, exatamente? – ela diz curiosa. - Shooting Stars  - ele responde – um aplicativo para mapear as estrelas cadentes e realizar desejos – ele diz. - Me parece perigoso – ela responde. - Sim, perigoso... As pessoas têm desejos às vezes até meio sinistros. - Existirão regras – ele diz. - E vai dar certo? – ela questiona. - Eu não sei – ele ri – é uma tentativa... - De fazer algo grandioso ou de encontrar Ellie? – ela ri. - As duas coisas – ele responde.                 A mãe ainda fica por mais um tempo, aproveita e lhe faz um café decente e conversa mais um pouco sobre os planos. No fundo, ele sabia que ela só queria o seu bem, e sinceramente, em um fim de mundo como Vernon, não era bom para ninguém ser acusado de ser pai de uma criança, principalmente se não a assumir.                 Ao fim do dia, ele estava cansado: não apenas de trabalhar em seu projeto, mas de pensar... Acabou por adormecer no sofá da sala mesmo, com o notebook no colo e o celular na mão: - Ei, Austin – a conhecida voz da menina gritava por ele – você precisa vir até aqui – ela dizia – precisa mesmo vir ver isso! - Eu já vou – ele respondia enquanto caminhava lentamente sorrindo. - Vem logo – ela insiste – rápido, sua lesma velha! - Lesma velha? – ele ri e para no caminho – Vai precisar se desculpar por isso, Ellie, ou eu não vou. - Por favor, Austinzinho – ela dizia com voz chorosa – vem aqui, vem ver... - Pedido de desculpas – ele insiste, parado no meio do caminho entre a fogueira do acampamento e o lugar onde ela estava. - Ah sua lesma velha – ela diz furiosa e começa a andar, praticamente marchando, na direção dele – me desculpa, Austin, por te chamar de lesma velha, por duas vezes – ela diz em súplica – mas você está perdendo uma coisa incrível e eu também – ela resmunga. - Tudo bem, senhorita – ele lhe diz sorrindo – está perdoada, agora sim, podemos ir ver isso que é tão incrível e interessante... O que é mesmo? - A borboletinha – ela responde – está saindo do casulo.                 Ele simplesmente a pega pela mão e os dois saem correndo, mas, quando chegam até o lugar onde o pequeno casulo estava alojado, o encontram vazio: - Ela se foi – Ellie grita furiosa. - Sim Ellie, ela se foi – ele suspira, sentia culpa por ter feito ela perder aquilo – eu sinto muito. - Tudo bem – ela suspira e o abraça – eu, pelo menos, vi uma parte... Você não viu nada. - Verdade – ele sorri, como é que a garotinha do vestido vermelho sempre conseguia ver o lado bom das coisas? Ela não ficava brava por ter perdido, estava triste por ele ter perdido...                 Austin acorda assustado. Quase conseguia ouvir a voz dela, sua risada dentro do apartamento a cada vez em que ela lhe visitava em sonhos. Como podia ainda parecer tão claro, depois de tanto tempo?                 O dia chegava ao fim... Por quanto tempo eu dormi? – ele pensa – Agora está tarde, acho que não vou conseguir fazer mais nada, vou tentar encontra Maddie Cooper e esclarecer todas as coisas entre nós.                 Tratou de tomar um banho e fazer a barba... Os cabelos ele bem sabia que não conseguiria resolver sozinho, mas pentear e alinha-los poderia melhorar a situação. Vestiu calças jeans e tênis e escolheu uma camiseta que ao menos não estivesse desbotada: aquela era a versão séria, ao menos a mais séria que ele lembrava-se de ter.                 O posto de gasolina da família Cooper ficava há uns três quarteirões. Ele poderia ir a pé mesmo, e foi o que fez. No caminho, uma coisa lhe chamou a atenção: uma menina de cabelos acobreados, estava correndo em frente a uma grande casa de madeira. Os pais, bebiam cervejas sentados enquanto ela brincava, tinha algo familiar naquela menina, algo que o fez parar por um tempo e observar, ao menos até o pai dela estranhar e vir ver o que acontecia. Quando voltou ao normal, ele percebeu o que era que ela tinha de tão familiar: o vestido vermelho. 
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