Uma boa aliada

1439 Words
Vernon, Texas Outubro de 2018 Poderia ser um dia normal, mas Austin estava ansioso, mais ansioso do que o normal. Depois de exatamente quatro meses de muito, muito trabalho, pesquisas de campo e contratos institucionais, ele estaria fazendo o lançamento da versão beta de “Shooting Stars”. Apesar de uma certa resistência inicial de seus pais, Dom veio para a estreia do aplicativo. Austin organizou um jantar com a família e os amigos próximos, recebeu a todos no pequeno apartamento e tratou de oferecer um jantar simples e bem feito. Às 21 horas do dia 21 de outubro de dois mil e dezoito, diretamente de Vernon, no Texas, o aplicativo Shooting Stars era lançado pelo seu desenvolvedor e equipe (Dom e um ex colega de faculdade, Jamie) e a frase célebre “a sorte está lançada” foi a primeira coisa que Austin disse depois de dar o famoso “enter”. - Meu irmão – Dom o abraça – eu te desejo muita sorte, que você consiga encontrar quem você procura e também, desejo que o seu aplicativo, o fruto do seu trabalho e empenho, te traga muito sucesso e um bom retorno. - Obrigada – responde Austin emocionado – sabe que sem você, infelizmente isso não seria possível – ele sorri – obrigada por me incentivar e por me ajudar em tudo o que eu precisei. Tom e Nancy, apesar de terem ficado um pouco desconfortáveis no início, estavam orgulhosos do filho e da amizade bonita que ele estava construindo com o seu meio irmão. Um pequeno amargor de arrependimento por ter privado o seu filho único disso por tanto tempo passou pela mente do casal, mas entenderam que as coisas acontecem, no exato momento em que devem de acontecer. Os dias que se seguiram ao lançamento da versão beta do Shooting Stars foram de bastante trabalho e, apesar de Austin ter tentado manter a imprensa fora, ele era conhecido, e embora não fizesse questão de divulgar muito, precisava de um bom alcance na versão beta para conseguir financiamento para dar continuidade ao seu projeto e também, para conseguir atrair um número de usuários grande, quanto mais usuários no aplicativo, maior seria a sua chance de encontrar a sua Ellie. - Tudo bem ai? - ele ouve uma voz feminina, mas não é sua mãe, subindo as escadas. - Oi - ele responde e levanta-se da cadeira para receber quem quer que seja, não esconde uma certa surpresa quando vê Caroline Hilton, uma conhecida, de muitos e muitos anos - Carol? - Austin - ela ri alto e o abraça - foi um pouco complicado de achar você... - Acredito que sim - ele esfrega o rosto com as mãos - como está? - Bem - ela responde sorrindo - e você? - Bem - ele responde - trabalhando bastante... - Percebi - ela mostra o telefone celular - acho que é justamente por causa do seu trabalho que eu estou aqui. - Jura? - ele a encara confuso: Carol morava em uma cidade próxima e por dois anos acampara no Gran Canion, com ele e Ellie, ele lembrava-se bem disso, ela poderia ter contato - Deixa eu aproveitar - ele suspira - vou pedir uma coisa meio i****a, mas tenho esperança de que consiga me ajudar... - Uhm - ela sorri confusa, viera justamente pedir à ele um favor, não fazia ideia de como poderia ajudar - o que precisa? - Ellie - ele responde - eu preciso encontrar ela. - Ah - ela suspira decepcionada - Austin, eu ,lamento muito... Na verdade, eu vim até aqui para procurar por ela também... Sabe, eu me lembro que o lance das estrelas era com ela, e ai eu li a introdução da versão Beta e tinha certeza de que ela estava no meio disso, me enganei? - Não totalmente - ele afunda-se decepcionado no sofá - eu, na verdade, desenvolvi o aplicativo todo na esperança de conseguir encontrar ela, nos usuários, sei lá, mas a verdade é que depois do verão de dois mil e cinco eu nunca mais tive nenhuma única notícia dela. - Pois é - suspira a garota: diferente do que Austin lembrava, ela deixara de ser loira: os cabelos agora caiam-lhe como uma cascata multicolorida, um arco-íris imenso. Os olhos de um verde esmeralda e a pela outrora quase refletiva de tão pálida, coberta com tantas tatuagens quanto ele poderia contar, a reconhecera apenas por que o rosto não mudaram absolutamente nada em todos os esses anos - a casa dos meus pais pegou fogo em dois mil e cinco, e por isso não acampamos mais. Perdemos muito e eu acabei perdendo todas as fotos que tinha, dos acampamentos e verões... Lembrei que a mãe de Ellie nos fotografava, tantas e tantas vezes, que talvez ela ainda pudesse ter alguma coisa, um negativo, sei la... - Claro - Austin suspira - eu tenho algumas fotos - ele sorri - ela sempre enviava para a minha mãe uma pequena seleção do nosso verão, deixa eu ver se tem alguma com você. Logo os dois estavam sentados no chão da sala do pequeno apartamento revirando caixas. Por moras mais perto do que Ellie, Carol havia ido até Vernon em duas ocasiões visitar o seu amigo do acampamento, mas depois do incêndio, não tivera muito tempo para socializar... Aquele dia, depois de um evento do trabalho, passaria por Vernon, então, resolveu aproveitar para encontrar com os pais dele, se é que ainda viviam no mesmo lugar. - Perdeu tudo ? - ele pergunta distraído. - Quase tudo - ela suspira - foi uma loucura... Documentos, fotografias, livros... O caderno de endereços da mamãe - ela suspira - foi uma coisa bem assustadora, estávamos voltando da casa dos meus avós quando ligaram no rádio - o pai era policial - e foi criminoso, né, sabem quem foi e tudo mais, mas nunca conseguiram de fato, fazer justiça. - Nossa - Austin suspira - e seus pais? - Minha mãe está bem - ela responde - meu pai faleceu em dois mil e sete, acho que ele não aguentou a pressão de não ter conseguido provar nada, preocupava-se com ainda mais retaliações... Infartou em um fim de tarde e não houve volta. - Eu lamento - Austin diz com sinceridade. - Eu sei que sim - ela sorri - mas e você? Que loucura é essa, então? - Ela nunca saiu da minha cabeça - ele suspira - perdemos o contato no verão de dois mil e cinco e eu acho que em algum momento, não cumpri uma promessa que havia feito - ele ri - ela perturba meus sonhos, Carol, com aquele vestido vermelho... - Está falando sério? - ela parece não acreditar no que ele diz. - Mas é claro que eu estou falando sério! - ele suspira - Lembro da voz, da risada, de quando ela cantava desafinada... Simplesmente ela é uma parte da minha vida que eu nunca vou conseguir deixar de lado, e ultimamente, confesso que eu tenho ficado meio obcecado. - Que loucura ! - Carol afirma. - Sim, eu mesmo acho assustador - ele dá de ombros - mas acredito que, se tratando de Ellie, não poderia ser normal. - Concordo com você - ela ri - mas então, procurou nas redes sociais? - Tudo - ele responde - eles mudavam bastante, até para as escolas de Savannah eu telefonei - ele ri - ainda que tenham achado que eu era um maluco p********o atrás de criancinhas, eu tentei. - Fica tranquilo - a garota sorri - agora você tem uma boa aliada para encontrar a sua pequena Ellie - ela ri - eu vou fazer o que está ao meu alcance para te ajudar nessa missão, Austin. - Muito obrigada, Carol - ele responde. Carol ainda fica com ele por mais um tempo, pelo menos até perceber que o tempo está passando e que ela ainda tem algumas milhas para vencer antes do fim do dia. Os dois se despedem depois de trocarem informações de contato atualizadas e de terem encontrado uma foto dos três juntos no verão de dois mil e quatro, Austin presenteou Carol com a foto que prometeu enviar a ele ao menos uma versão digitalizada de boa qualidade daquela fotografia, sabia que era tão importante para ele quanto era para ela. Austin sentia-se esperançoso como há tempos não se sentia: se Carol o havia encontrado, Ellie também conseguiria. Aquilo trazia esperança, uma sensação boa de que tudo daria certo e de que ele encontraria a sua pequena Ellie, mesmo depois de tanto anos.
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