Dezembro de 2017,
Savannah, Georgia
No fim daquele dia, Ellie e Thom foram ao cinema. A companhia dele era inegavelmente agradável, e uma parte dela, imaginou que possivelmente ele a beijaria: o que não aconteceu e a deixou, se certa forma, confusa com as intenções dele e um pouco frustrada, esperava algo mais do que apenas a companhia.
Mas aquilo pareceu absolutamente pequeno e sem importância, considerando o foco principal de suas férias: o Natal perfeito com a vovó e os convidados aleatórios delas. Os biscoitinhos, os panettones, tudo feito em casa, com ingredientes frescos e selecionados. As flores que decoravam à mesa, foram entregues na manhã da véspera de Natal e os vinhos que Ellie cuidadosamente escolhera para acompanhar a magnífica ceia preparada por ela e a avó, foram acomodados na adega para garantir a temperatura perfeita.
Os convites – feitos em casa – foram entregues pessoalmente aos convidados, e no horário marcado, aos pouquinhos eles foram chegando. Thom estava lindo: jeans ajustado, sapatos sociais e uma camisa preta debaixo do pesado casaco. Era um homem bonito: sempre bem vestido, cabelos bem cortados, castanho escuros com um ou outro fio grisalho, olhos cor de mel e um sorriso fácil: ele arrancava suspiros por onde passava. Fora casado uma vez, tinha dois filhos e uma vida pessoal discreta.
- Está linda – ele disse assim que a encontrou na cozinha, após ter sido recebido pela sua contente e falante avó – ainda mais linda do que o normal.
- Obrigada – Ellie responde um tanto sem jeito: o vestido de mangas três quartos em um tom de bordô fazia um bonito contraste com sua pele clara. O decote canoa e o comprimento pouco acima do joelho, deixam o visual inegavelmente elegante – acho que está muito acostumado com o meu branco habitual.
- Verdade – ele riu, tinha uma risada boa de se ouvir – mas a cor do que está vestindo não me chama muito à atenção – ele aproxima-se e lhe diz baixo ao ouvido – o que me desperta a curiosidade, é o que tem embaixo.
- Nossa – ela diz sem jeito, mas satisfeita, aquilo era realmente bom se se ouvir – não esperava ouvir isso de você – ela diz sorrindo.
- Acho que eu não conseguiria esperar mais para dizer – ele afasta-se um pouco e pergunta – no que eu posso ajudar você?
Aqueles costumam ser os momentos que mudam o destino de uma pessoa: sabia que Thom estava lá apenas para fazer-lhe um agrado e leva-la para cama... Quanto tempo ela não tinha uma noite boa e intensa com um homem gato daqueles? Ela não era mais uma criança, o conceito de s**o sem compromisso sempre a agradara, então, ela podia morder a isca:
- Acho que pode começar levando isso para a mesa – ela lhe entrega uma pilha de pratos e aproxima-se sussurrando em seu ouvido – mais tarde me ajuda a tirar esse vestido...
- Isso vai ser um imenso prazer – ele sorri: aquele tipo de sorriso s****o que pode levar à beira da insanidade até mesmo a mais santa das mulheres, e de santa, Ellie não tinha nada.
Apesar de muito discreta em sua vida pessoal, ela costumava ter sempre um caso ou outro, para aproveitar bons momentos, porém, desde que o canalha Jacob – um professor universitário que aproveitava bons momento com ela enquanto a noiva que ela desconhecia, fazia um intercâmbio na Irlanda – e ela haviam terminado, dois meses antes, ela não tinha tido companhia.
Bem resolvida, trabalhava duro desde o fim da sua faculdade para manter a casa e bancar seus luxos: vinhos caros, bons sapatos e perfumes. Saia para jantar em bons restaurantes, pagava uma empregada doméstica para que a avó não ficasse sobrecarregada e tinha todo o conforto possível, em uma casa de aparência simples, porque ela amava aquele lugar.
O jantar foi, de longe, o mais agradável dos últimos anos: pessoas pelas quais ela tinha muito carinho e apreço, reunidas em torno de uma mesa, comida excelente, bons vinhos e conversas animadas. A avó parecia estar realizada, como há anos Ellie não via e de alguma forma, aquilo era o mais importante, e ela sentiu-se um pouco culpada por não proporcionar mais momentos como àquele à sua amada avó que sempre a cuidara e fizera de tudo por ela.
As senhoras foram jogar cartas e Thom foi ajudar Ellie com a louça, a conversa estava animada e amena, mas qualquer pessoa ali, sem nem mesmo um pingo de maldade, podia sentir a tensão no ar: tanto Ellie quanto Thom estavam apenas pensando em uma forma discreta e inteligente de saírem dali, ela não sabia bem o que dizer, então, ele foi quem deu a ideia:
- Vamos à uma festa - ele diz sorrindo, o mesmo sorrido s****o que dera mais cedo - eu e você, você e eu...
- Parece uma boa ideia - ela concorda sorrindo, entendeu o plano e o aceitou rapidamente - vou retocar a maquiagem.
Ela subiu as escadas e logo estava de volta. Thom estava sentando na sala com as senhorinhas e a garrafa de vinho, conversando amenidades e falando sobre dores reumáticas e a importância de uma boa taça de vinho todas as noites para diminuir os problemas no coração e aliviar a tensão.
- Como disse - ele repete sorrindo, deixando todas encantadas - uma tacinha de vinho, todas as noites, adoráveis senhoras, e muito dificilmente eu as encontrarei tão cedo em meu consultório.
Despediram-se de todos e Ellie saiu rindo:
- Não deveria ter dito aquilo - ela o repreende.
- Como não? - ela pergunta - Você sabe que é verdade...
- Sim - responde Ellie ainda rindo - por isso mesmo.
- Acha que elas vão beber demais? - ele parece preocupado.
- Não - ela ri alto - acho que despejarão no ralo da pia o restante do que há nas garrafas e não beberão vinho nem uma vez mais na vida, apenas para poder visitá-lo em seu consultório!
- Elas não fariam isso - ele sorri - são boas senhoras.
- Você não as conhece - ri Ellie - elas são terríveis.
- E você? - ele dá partida no carro e a analisa de cima a baixo, para logo deslizar seus dedos para a barra do seu vestido, puxando-o levemente para cima - é comportada, Dra. Ellie?
Ela apenas conduz a mão dele... A noite tem tudo para ser boa, e é. A festinha particular de Thom e Ellie termina quase pela manhã e ele a leva para casa: exausta e satisfeita. Combinam de não falar a respeito do que aconteceu e que ele telefonaria à noite. ela sabe que ele não vai telefonar, e no fundo isso não a incomoda, é quase como um alívio.