Quando é que você vai tentar?

1051 Words
Vernon, Texas  Maio de 2018  - Um, dois, três... - ele corre enquanto ri com os olhos vendados dos - quatro, cinco - ele para de repente - Ellie, eu ainda estou te ouvindo...  - Não está não - ela responde furiosa.  - Agora eu estou - ele corre na direção dela e a derruba no chão, fazendo ela rir sem parar.  - Você trapaceou de novo - ela diz tirando a venda do rosto dele com delicadeza e encarando-o nos olhos muito séria - não pode trapacear, Austin.  - Não é trapaça - ele aperta-lhe as bochechas com delicadeza - sabe que não pode falar, Ellie, se falar, eu sempre vou conseguir te encontrar. - Mas se você me provoca, é trapaça - ela resmunga.  - Não é não - ele a abraça, beijando-lhe a testa - vem, vamos brincar de outra coisa.  - Porque? - ela pergunta.  - Por que assim você vai poder ganhar - ele sorri - e sei que isso vai te deixar feliz..                 Austin acorda assustado: Ellie de novo. Duas semanas procurando incansavelmente nas redes sociais qualquer coisa ou pessoa que pudesse ter alguma notícia ou informação... Diversas ligações para escolas de Savannah, mas ninguém passava informações sobre ex alunos à pessoas desconhecidas. Uma mulher, inclusive, ameaçou denunciar ele à polícia caso soubesse que ele andava novamente atrás de crianças - como se Ellie não tivesse crescido!  - Isso vai acabar te matando - ele diz para a sua própria imagem no espelho enquanto joga água fria.                  Pega o telefone celular, e decide ligar para o irmão, afinal, o homem que segue as estrelas não deve estar acordado durante a noite? - Alô? - Dom diz assim que atende.  - Oi, é o Austin - ele diz.  - Claro que sim - ri o mais velho - eu vi que era você. Está tudo certo?  - Sim - ele responde - e não.  - Posso ajudar? - Dom pergunta.  - Talvez - suspira Austin - lembra da garota das estrelas cadentes?  - Sim - diz o irmão - eu me lembro, o que tem ela?  - Sonhei com ela - ele suspira - sempre sonho, mas agora, cada vez mais, está ficando insuportável.  - Certo, e quando é que você vai tentar? - o outro pergunta.  - O que? - Austin questiona confuso.  - Encontrar ela, man - diz Dom.  - É só o que eu venho tentando fazer, tem pelo menos duas semanas - resmunga o outro.  - E nenhum retorno... - suspira o irmão - e porque não cia alguma coisa para encontrar ela? - Como assim, criar uma coisa? - pergunta Austin.  - Um aplicativo, algo que poderia chamar a atenção, você pode ir atrás de cada usuário, entende?  - Estrelas cadentes? - ri Austin.  - Que seja - responde Dom - qualquer coisa que ela provavelmente precisaria baixar e criar uma conta para logar, e ai, sei que pode procurar pelo nome ou sobrenome, entre todos os usuários.  - Eu precisaria procurar perfis fake também - diz Austin.  - Sim, provavelmente - suspira Dom - mas ao menos teria um começo.  - Vou pensar nisso, obrigada.                     Logo os dois se despedem e Austin volta a deitar-se encarando o teto do quarto: pintura desgastada, os pontinhos pareciam pequenas estrelas sobre sua cabeça confusa: estrelas cadentes, Shooting Stars! Era um bom nome para um aplicativo... Mas o que exatamente ele faria?  Para que o aplicativo serviria?                      Passou a madrugada toda pesquisando possíveis funcionalidades para o seu mais novo projeto dos sonhos: tinha o conhecimento, tinha as ferramentas, parceria... Mas não estava conseguindo ter nenhuma ideia de qualquer coisa que pudesse ter a mínima chance de funcionar e quando o ida amanheceu, Austin ainda estava trabalhando, rascunhando em um caderno velho, na décima caneca de café quente e forte e com sangue nos olhos: faria tudo, tudo o que fosse possível para encontrar Ellie.                  O ar fresco e únido de pós chuva começava a entrar pelas janelas entreabertas do pequeno apartamento sobre a oficina. Austin transformara o segundo quarto, aquele que fora seu durante tantos anos, em um home office: comprara equipamentos novos, uma cadeira confortável e é claro, outro ar condicionado e uma cafeteira exclusiva para aquele ambiente.  - O que está aprontando por ai? - ele ouve a mãe perguntar enquanto sobre as escadas. - Trabalho - ele responde - estou criando uma coisa.  - E qual a probabilidade de retorno disso? - ela pergunta rindo - Eu conheço você, o rapaz que não dá pontos sem nós.  - Não tem retorno financeiro a princípio - ele diz rindo - acho que é só uma coisa para passar o tempo e tentar me ajudar a encontrar a Ellie.  - Ainda está com essa ideia fixa? - a mãe ri alto - Meu filho, sabe quantos anos se passaram? Tudo o que pode ter acontecido? Essa garota pode nem mesmo estar viva...  - Está sendo muito pessimista - ele sorri e a encara - e você? O que está aprontando por aqui?  - Precisamos conversar sobre uma coisa - ela suspira - uma coisa importante...  - Certo - ele larga seu bloco de notas e passa a dar total atenção para a sua mãe - estou ouvindo.  - Não agora -ela diz rindo - essa noite, venha jantar em casa, certo? - Certo - ele responde.                 A mãe se despede e ele volta ao seu projeto: telefona para Dom, conversa... Perto das seis da tarde uma ideia está parcialmente definida em sua cabeça: Shooting Stars - o nome de um aplicativo que rastreia estrelas cadentes, notifica e permite que o usuário consiga caçar as estrelas em troca de pedidos realizados. Para isso, os usuários devem realizar alguns pedidos também, em "contrapartida" e as regras são estabelecidas quanto à prazos, valores e legalidade dos pedidos feitos dentro do aplicativo.              Austin está empolgado: envia o material preliminar para o seu irmão ainda antes de ir para a casa dos pais para o jantar e estava tão empolgado com que tinha vindo em sua mente que m*l conseguia esperar pelo feedback de Dom. Começou um check list de coisas para serem feitas na manhã seguinte e saiu para a casa dos pais: confiante e esperançoso de que um dia, voltaria a encontrar a sua pequena Ellie.
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