Quem é você, estranho?

1230 Words
Outubro de 2017 Vernon, Texas - Oh, meu Deus – gritava Nancy na porta assim que Austin chegava em sua pick up – Tom – ela grita – Tom, nosso pequeno voltou para casa. - Mãe – ele grita rido alto – que pequeno? - Sempre será o meu pequeno – ela adianta-se até a varanda para abraça-lo – apesar de estar parecendo que saiu de um filme de terror – ela esfrega os cabelos longos demais e desgrenhados do filho – não está se cuidando, parece um moleque... - Eu também senti saudades – ele diz rindo e logo encara o homem que sai pela porta da frente – oi pai – e vai abraça-lo também. Estava em casa, finalmente em casa, e por mais estranho que pudesse parecer, uma parte dele gostava disso – mesmo que detestasse todo aquele calor e a sensação de estar vivendo em um filme de faroeste antigo, ele gostava de estar em casa. A mãe havia providenciado várias coisas assim que ele havia dito que viria: pintura e limpeza do apartamento sobre a oficina e também a instalação de um ar condicionado, o que o fizera agradecer mentalmente, era quase humanamente impossível pensar em viver naquele lugar sem um ar condicionado. Em alguns dias estava totalmente instalado e o apartamento não essa assim de todo r**m: era bom ter um espaço somente seu, não precisar estar na casa dos pais, não com os seus hábitos estranhos e rotina barulhenta. A cidade era a perfeita definição de tédio, e até mesmo o programa mais interessante de sextas-feiras, que era sair para beber no pub mais movimentado da cidade, parecia um funeral perto dos lugares que ele costumava frequentar em Los Angeles, pelo menos até aquela noite de quarta-feira, quando ele saíra para correr e parara em um posto de gasolina para pegar uma água: - Maddie Cooper – ele diz sorrindo para a moça loira no caixa, seus cabelos ondulados caem como uma cascata sobre os ombros, o rosto era idêntico ao que ele lembrava-se: aquela era a sua primeira namoradinha, no tempo do colégio. - Quem é você, estranho? – ela o encara sorrindo um tanto confusa. - Não acredito que esqueceu-se de mim – ele diz ofendido – Austin Bryan. - Oh meu Deus – ela sorri envergonhada – eu sinto muito, eu... Nossa – ela o encara novamente – você está tão... Diferente. - Você está idêntica – ele sorri galante, e estava sendo sincero: não parecia que dez, onze anos haviam se passado desde a última vez que haviam se visto. - Você mudou muito – ela ri – e foi para melhor – ela refere-se ao fato de que quando havia ido embora de lá, anos antes, Austin ser apenas um garoto magrelo, pálido, esquisito e desajeitado, com espinhas no rosto e nenhum talento especial, e agora, era um homem forte, com a pele bronzeada, uma barba cerrada interessante e sexy, apesar dos cabelos bagunçados de sempre. - Obrigada – ele responde sorrindo – muito bom ver você. - Bom te ver também – ela responde e ele já está na porta, de saída. Então voltar para casa tinha lá as suas vantagens: as coisas poderiam ficar realmente interessantes, e ao menos ele teria alguém com que divertir-se enquanto estava por lá: garotas eram a sua melhor diversão. Enquanto muitos buscavam na bebida, nas drogas ou ostentando dinheiro em viagens caras, ele gostava de ter mulheres: eram como troféus para ele. Voltou ao seu apartamento e tentou lembrar-se de seu breve relacionamento com Maddie: eles eram amigos, e ele a levou no Baile de Primavera, haviam se beijado e começaram a namorar, estavam no segundo ano do colegial. Ela era como uma boneca de porcelana, linda, delicada, sempre bem vestida e bem arrumada. O pai era dono do posto de gasolina e a mãe tinha um salão de beleza no centro da cidade. Decidiu buscar nas caixas de coisas antigas que a mãe fizera questão de deixar em seu apartamento, alguma foto daquele baile, apenas para lembrar-se melhor de como ela era, de como ele era e de como costumavam ser juntos. Demorou a encontrar, mas acabou parando em um folheto: um guia turístico do Parque Nacional do Gran Canyon, com rabiscos feitos em caneta esferográfica azul, na parte dos mapas do parque, e uma foto amarelada e um tanto desbotada... Aquele era o verão de 1999: ele e Ellie estavam sentados lado a lado em um tronco de árvore, segurando picolés e sorrindo um para o outro. Não sabia como Suzan sempre conseguia registar todos aqueles momentos, era como se ela estivesse sempre por perto e com a câmera à postos, atrás da foto, uma frase escrita em caneta, com uma caligrafia rebuscada: “Para que guardem as boas lembranças desse ano. Com carinho, Suzan e Ellie” Ele lembrava-se vagamente de como a foto chegara em suas mãos: depois do verão, ainda no início das aulas, Suzan enviava algumas fotos reveladas para o endereço deles e com isso, ele tinha o endereço de correspondência de Ellie sempre atualizado, ele sabia que ela se mudava com certa frequência. As lembranças o fizeram sorrir: com toda a questão do processo, da mudança, ele quase esquecera-se de seu sonho... Ele sonhara com ela diversas vezes, com ela puxando-o pela mão, levando-o para algum lugar: Ellie era um furacão, disso ele lembrava muito bem! Geniosa, difícil, teimosa... Mas sempre disposta a ajudar qualquer pessoa, sempre tentando fazer bem aos que estavam ao seu redor... Quando fora que eles haviam perdido o contato? Ele não conseguia se lembrar. O telefone da oficina tocou insistentemente, fazendo com que ele descesse para atender: - Alô? – ele dia. - Oi – ele reconhece a voz suave e doce de Maddie – acho que eu posso estar sendo um tanto invasiva – ela ri constrangida – liguei para a sua casa, mas a sua mãe disse que estaria na oficina, sinto muito se eu estou atrapalhando... - Não – ele sorri malicioso – de forma alguma, Maddie , você nunca vai me atrapalhar. - Então – ela suspira – pensei que talvez fosse legar se a gente sei lá, saísse para conversar uma hora dessas... - Uma hora dessas? – ele repete em tom que questionamento – Me parece vago demais. Te pego amanhã para irmos ao Garden’s? - O Garden’s? – ela pergunta – Fica há quase uma hora daqui... - Tem compromisso? – ele brinca. - Não – ela responde – só pensei que talvez pudéssemos ficar por aqui... - E deixar de aproveitar diversão de verdade? – ele ri – Vamos lá, eu pego você. Uma garota especial merece um lugar especial. - Assim vou me sentir importante demais – ela brinca. - Pego você às oito – ele diz – e leve um casaco. - Tudo bem – ela responde – até amanhã. Diversão garantida. E isso o lembrava do objetivo inicial de revirar aquelas caixas: buscar uma foto dele com Maddie, ele sabia que deveria ter alguma, em algum lugar. Encontrou diversas, incontáveis com Ellie e por fim, a foto do Baile, com Maddie, e ela usava um vestido floral rosado, delicado e esvoaçante, ele lembrava-se bem: o Baile, o beijo e o namoro que durou até o verão, até a viagem para acampar, até que ele encontrasse com Ellie.
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