Jessie
Eu estava apreensiva, enquanto entrava dentro do carro e pensava em todas as coisas que poderiam ter acontecido.
Eu sabia que isso tinha sido pelo meu filho, mas o meu orgulho gritava para que eu não entrasse nesse hotel e que eu fosse embora, que nós daríamos um jeito.
Mas, a questão é que não daria. Depois de mim, a família mais próxima que Ryan tinha era a família inteira do pai. Eu não tinha ninguém além de Anahi e isso era um fato.
— Você consegue. — Repeti para mim mesma, puxando o ar para os meus pulmões, em um misto de coragem.
O lugar era tão conhecido quanto eu podia imaginar, por isso, foi fácil despistar todos os funcionários conhecidos e entrar no elevador, subindo para a cobertura do hotel.
Assim que a porta se abriu, o corredor estava vazio — como sempre —, o que me fazia ter algum tempo para pensar em como chegar em Richard e se eu ainda tinha chances de fugir.
— Ah, olá. — A mãe de Richard disse, abrindo a porta sorridente. — Você trabalha aqui, não é? Jessie, certo?
— Ah, não.. — Limpei minha garganta. — Fui demitida... hoje cedo!
Por culpa do seu filho, pensei. Mas, de alguma forma, eu sabia que não podia falar isso a ela.
— Não acredito. — Ele franziu a testa. — Vem, entre.
Ela me puxou para dentro do apartamento, fazendo a voz mais indignada possível, ela me encarou:
— Richard, você acredita que essa moça acabou de ser demitida?
Observei Richard se virar e me encarar de cima a baixo, uma expressão de poucos amigos no rosto e sua testa franzida.
— Eu sei. — Disse, duro.
— Não fica revoltado? — Ela disse, jogando-se no sofá. — Eu, sinceramente, não entendo como podem dispensa funcionários tão bons e educados... — ela negou com a cabeça. — E como está o bebê?
E então, me lembrei do que eu precisava conversar com Richard, sentindo o meu coração apertado. Eu tinha que falar agora ou nunca mais teria coragem ou chance.
– Richard, precisamos conversar. — Soltei, sentindo um alívio imediato.
A sala ficou em silêncio.
— O que quer falar comigo? — Ele fez uma cara de poucos amigos. — Você não acha que eu vou pedir para que ele mantenha seu emprego?
— É a última coisa que me importa agora. — Eu engoli em seco. — Preciso conversar com você em particular.
— Não acho que tenha algo para conversar comigo que não possa ser na frente da minha família. — Ele disse, prepotente.
— Meu filho esta internado. — Eu comecei.
— Não faço milagres. — Disse duro. — E não distribuo dinheiro por aí.
Eu franzi a testa e puxei o ar, sentindo a revolta tomar o meu peito.
— Eu não quero seu dinheiro, Richard, deixe de ser esse merdinh.a prepotente e mimado. — Eu Gritei.
— Abaixe o tom de voz ou... — ele tentou dizer, mas o interrompi.
Eu tinha chegado no meu limite. Tinha estourado, todas as coisas que tinham acontecido nesses últimos três dias eram o suficiente para que eu não tivesse medo de mais nada.
Meu único medo era perder Ryan. Eu aguentaria todas as baboseiras que ele tinha para falar, mas não ficaria quieta.
— Ou o que? Vai me tirar do trabalho mais uma vez? Não me importo, você já me tirou o sustento do meu filho mesmo. — o encarei de cima a baixo. — Eu não te procurei pela porr.a de seis anos, Richard, não quis um centavo do seu dinheiro ou da sua família.
— O que você quer de mim agora? se aproveitar? — Ele deu um passo a frente.
— Não, eu preciso que você salve meu filho... — Libertei as lágrimas dos meus olhos ao me lembrar do meu pequeno, lembrar das coisas que ele estava passando. — Por favor, Richard. Eu me ajoelho se você quiser, mas salve o meu menino...
Tentei me ajoelhar, mas fui impedida pela mãe de Richard, que me levou e me sentou no sofá.
— Me conte o que está acontecendo. — ela olhou para o filho, com raiva. — Por favor, Jessie.
Eu engoli o choro, tentando parecer mais controlada agora.
— A alguns meses, eu engravidei do seu filho, abstenho-me dos detalhes por hora. — Suspirei. — nunca contei a Richard, mas ele sabia que só tinha chances do bebê ser dele, mas me xingou e disse que eu era uma aproveitadora, dizendo que era infértil.
— Como? — Ela franziu a testa.
— Eu sabia que o filho era de Richard, mas preferia mesmo que ele crescesse pobre a renegado por um pai que nunca se importaria com ele e sinceramente, eu preferia que tivesse continuado desse jeito. — Engoli o bolo que já queria se formar na minha garganta. — a três dias, Ryan descobriu uma leucemia aguda, o que fez com que ele precise de um transplante de medula.
— Oh, céus. — a mulher pôs a mão no peito. — Eu não sou compatível e não tenho família, meu último recurso é Richard ou um de vocês dois e eu juro que não quero dinheiro, eu só quero que ele doe para o meu filho e depois nos vamos sumir da vida de vocês e...
— Richard! — A mulher bateu o salto em sua direção. — Eu não criei você assim, não mesmo.
— Mãe, eu tenho certeza que não sou o pai dessa criança. — ele disse.
— Você acha que alguma mulher se humilharia dessa maneira atoa? — Ela Gritou, batendo contra o peito dele. — Você tem sido um inconsequente a vida inteira, mas nunca imaginei que renegaria a um filho que você mesmo fez, não consigo acreditar que você é mesmo o meu filho.
— Não diga besteiras. — ele se encolheu um pouco.
— Vamos ao hospital. — Ela disse, firme. – Não torne essa decepção maior.
Ele piscou em direção a ela e engoliu em seco, assentindo. Parecia um garotinho quando ela gritava com ele.
— Mãe. — Ele tentou dizer.
— Richard, deixe ela. — O homem que estava sentado à minha frente disse, firme.
Eles dois pareciam uma versão estranha do que foram e o que seriam. Richard era a cópia do pai e meu filho era a cópia de Richard, infelizmente.
Qualquer um que olhasse para os dois saberia que éram pai e filho e por isso, nunca quis apresenta-los.
— Vamos, querida. — A mulher pegou a bolsa. — Richard fará o exame ainda hoje, junto com um de DNA.
— Não precisa de DNA, eu sou continuar a minha vida e Richard poderá fingir que o menino não existe, eu não quero dinheiro. — Eu engoli em seco.
— Querida, um D'Angelo nunca fica desamparado. — Ela me encarou. – E agora que está desempregada, como vai pagar as despesas?
– Arrumo outro emprego. — Murmurei.
— Mesmo que ele não seja meu neto, pagaremos tudo. — O pai dele disse, faznedo-me olha-lo. — Richard foi irresponsável quando fez com que você, com um filho doente, perdesse o emprego e mais, você não teria condições de pagar a conta do hospital mesmo que o dia tivesse quarenta e oito horas.
Ele estava certo, mas não queria assumir que eu eu precisaria deles, queria trabalhar e lutar com isso de maneira digna.
Me mantive em silêncio, com a esperança de que ele não mudasse de ideia, mesmo que eu quisesse. Não queria que as coisas piorassem em casa pela falta de dinheiro e não podia deixar Anahi segurando as pontas — mesmo que eu soubesse que a minha amiga não iria se importar.
Mas, de alguma forma, me sentia aliviada por, pelo menos por um segundo, não precisar segurar tudo sozinha e nas minhas costas.
Sempre foi difícil ser mãe solo e por um tempo, esse peso sumiria — até que eu e Ryan tivéssemos que sumir completamente da vida de Richard.