Jejum

792 Words
Na mesa do café da manhã, Hadassa soube que o pai tinha saído com o irmão para trabalhar. A mãe Eva, se deitou no sofá, e a senhora não costumava ficar deitada. Provavelmente não estava bem. – A senhora está bem? _ Hadassa perguntou. – Estou com dor de cabeça, não consegui dormir durante a noite, parecia que alguém rondava a casa, o seu pai olhou, reforçou os cadeados, mas perdi o sono. Viu alguma coisa estranha, Hadassa? – Não, senhora, não vi nada, orei uma parte da madrugada e depois peguei no sono. Estava mentindo, ela que não mentia, nunca, mas como dizer a mãe que encontrou um lenço ao seu lado. Era certo que não fazia ideia de como o lenço foi parar em sua cama, mas não podia contar, ou a mãe pensaria que ela fazia algo errado. Pagaria uma penitência depois, não havia outra saída. __ Pode fazer preparar o nosso café da manhã? – Claro, mamãe. Mas, mãe, posso ao menos falar com Salete por telefone? A amiga que estava grávida, não queria virar as costas para a amiga, não queria. – Hadassa.. – Ela precisa de mim, mamãe, não devo virar as costas, porque ela errou, por favor! Ao menos por telefone, quero saber como ela está, como a gravidez está, a criança também não tem culpa. Salete não demoraria a dá à luz, tinha escondido a gravidez por sete meses, mas agora não conseguia mais esconder. – Só por telefone, pode conversar com Salete por telefone, também não a quero aqui. Ela tinha que se casar e ir para igreja. – O namorado não quer se casar, mamãe. Ela ainda tentou, ela ia na congregação perto da casa dela, mas está envergonhada, porque foi proibida de cantar no coral e de participar das atividades da igreja, devido à gravidez. Só pode assistir ao culto e nada mais. Nem das reuniões das mulheres Salete não podia participar mais, e Hadassa estava triste pela amiga. – Se ela não tivesse se entregado ao pecado, estaria livre. E veja os pecados dela, ore e não cometa os mesmos pecados, Hadassa. — Não vou, mamãe, nem mesmo tenho namorado. Não precisa se preocupar. Nem saia de casa. – E não vai ter namorado. Vai orar na intenção de casar. Inclusive o diácono Roger, pediu permissão do seu pai para orar com você na intenção do casamento. Ela quase deixou a tigela com banana e aveia cair no chão. – O que o meu pai disse? – Ele ainda não respondeu, acho que vai conversar com o seu irmão, primeiro. – Mas, mamãe, o pai devia conversar comigo. Eu que devo escolher o meu marido, não Daniel. – O seu pai e irmão querem o melhor para você. _ Foi a resposta de Eva. O diácono Roger tinha 44 anos, viúvo e sete filhos. A mulher dele tinha morrido no parto da oitava criança, a criança também não sobreviveu. Roger e a esposa falecida, eram um casal aberto à vida, afirmavam que teriam quantos filhos Cristo mandasse. Mas se casar com Roger, só porque ele ficou viúvo... Hadassa sentiu a espinha da coluna gelar, não era assim que queria viver, tendo um filho a cada ano, ou dois no ano, porque a mulher do diácono que faleceu já tinha tido um parto em janeiro e outro em dezembro do mesmo ano. Aquilo a assustava, queria sim uma família, mas podia se casar e esperar alguns anos para ter filhos. Ela sonhava em fazer faculdade, se contentaria com um curso ‘online’, mas o pai dizia que as faculdades atuais eram antros de perdição e deliquentes vag@bundos. Não teve chance nem mesmo de fazer o vestibular. — Não vou me casar com o Roger, mamãe, com ele não. Não conseguiria cuidar de sete crianças. – Teria ajuda Hadassa, ele tem dinheiro e não é pouco, pode ser feliz, o seu pai é mais velho que eu e estamos bem.. Mas Roger era vinte e seis anos mais velho que Hadassa. Além do que, Hadassa suspeitava que a mãe não amava o pai, que era só obrigação e mais nada. Ela entregou o café em uma bandeja para a mãe, e se sentou na mesa para tomar o seu próprio café. Mas mudou de ideia, não comeu. Resolveu jejuar até as 18 horas, era um pedido para que Roger se afastasse dela. Não o queria como marido, na verdade, nem queria se casar, não agora, preferia esperar ter ao menos vinte anos completos. Faria Jejum, nem que precisa jejuar todos os dias. O jejum evangélico era uma prática espiritual observada por muitos cristãos evangélicos como uma forma de busca espiritual, renovação e consagração a Deus. E faria isso, Deus teria piedade dela.
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