Hadassa estava pronta para o culto, mas antes de sair algo a impeliu a ir até a janela.
O lugar em que o motoqueiro costumava ficar estava vazio, e ela quase sentiu um desapontamento ao notar o lugar vazio..
Mas agradeceu a Deus, talvez o grupo fosse embora, e quando, eles voltassem em dois anos, ela estivesse casada.
A tentação não teria a alcançado.
Ela fechou a janela.
Já passava das 18:00 horas..
... mas ainda não havia comido
...porque estava temerosa, muito temerosa, nunca tinha contrariados aos pais, mas diria não a Roger, e se ela estivesse errada em não querer um marido muito mais velho e com sete filhos, que Deus a perdoasse, mas não podia aceitar aquilo.
Usaram o carro do pai para ir ao culto, o irmão mais uma vez foi de moto.
Ela sempre quis subir na garupa do irmão, mas sempre era proibida, se pudesse até pilotaria.
Foi pelo caminho, pensando em Salete, na sorte bagunçada que a amiga tinha, mas orou para que a amiga ficasse bem, e fosse cuidada pela família.
Mas quando desceram na porta da sede da congregação..
A primeira coisa que Hadassa notou, foi o motoqueiro sentado na moto, como se a esperasse.
As pernas dele eram longas..
Mas Hadassa balançou a cabeça.. não seria possível, era só coincidência.
Ele não tinha motivos para esperá-la, mas o que aquele motoqueiro fazia ali?
Desceu do carro, mas no momento em que caminhou atrás dos pais, se sentiu tonta, sentiu o mundo rodar, devia ter aos menos bebido um suco, mas não conseguiu, porque estava nervosa.
A sensação de desmaio veio, mas antes de apagar sentiu braços a segurar.
E o mesmo cheiro presente no lenço dominou o seu nariz, mas a escuridão também a dominou, restava saber se a escuridão era pelo desmaio ou era a escuridão de Zachary Romani.
Quando Hadassa acordou, estava deitada no banco da igreja..
A mãe e algumas "irmãs" a abanavam..
Ela correu os olhos pelo lugar, mas não havia sinal dele. Tinha sido uma ilusão, graças a Deus.
– Hadassa? O que houve, minha filha? __ O pai perguntou preocupado.
– Não finalizei o jejum quando devia, estava sem fome.
Roger chegou com um suco e uma fruta.
Ela aceitou o suco.
– É melhor a deixarmos respirar.. Ficar em cima dela será piior.
Ela foi deixada com a mãe, o pai e Roger.
– Está mesmo bem?
– Estou , foi pela falta de alimentação.
Os pais foram ouvir a pregação do pastor, pois o culto começava no salão ao lado.
Hadassa ia se levantar, mas Roger se sentou ao lado dela.
– Amanhã pela manhã, vou levar as crianças ao parque, o seu pai disse que pode me acompanhar, Hadassa.
– Vou faxinar a casa, amanhã, senhor.
– Não sou mais casado, Hadassa, não precisa me chamar de senhor.
– mesmo assim.
– Eu tenho certeza que a faxina pode ficar para depois. __ Roger tentou.
– Não pode.
– Sabe a minha intenção, Hadassa?
– Sei, e a minha resposta é não. Não vou nem mesmo orar a Deus, para termos um futuro, não vou.
– A vontade de Deus é que nos casemos, Hadassa, que se torne mãe dos meus filhos e que dê mais irmãos às crianças que já tenho.
Hadassa vacilou ao ouvir que era a vontade Deus, será?
Mas viveria infeliz, com pilhas e pilhas de roupas para lavar, comida para fazer, tarefas e um monte de outras atividades domésticas, porque Roger não pagava auxiliar na casa dele, dizia que era obrigação da mulher era cuidar do lar. A única ajuda que teria, seria para levar as crianças a escola.
Não queria isso.
Hadassa se levantou, sem responder, nem foi ouvir o culto, mas sim ajudar na escolinha dominical.
A "Escolinha Dominical" era um programa ou classe oferecido na igrejas aos domingos, geralmente antes ou durante o culto principal, destinado a ensinar princípios e valores cristãos às crianças.
Os filhos de Roger estavam lá, uma escadinha infantil.
4 meninas e 3 meninos, Hadassa sentia muito pelas crianças, gostaria de ter disposição para se casar por eles, mas não tinha.
Como m£mbro da igreja, ela podia ajudar a cuidar delas, fazer uma tarefa de casa e até mesmo passar alguns dias com as crianças, em respeito a memória da mãe delas e também pelo ato de cultivar o bem-estar infantil, mas casar com o pai não.
Mas durante a aula, Hadassa notou as marcas no braço da menina de quatro anos, se ajoelhou ao lado da cadeira que a menina ocupava.
– O que houve?
A pequena abaixou a cabeça.
– Eu não comi a comida tudo..
E o pai bateu nela.
– Estou com fome, tia..
– Eu já volto.
Hadassa foi na lanchonete ao lado da igreja, e comprou iogurte e pão de queijo.
Notou alguns olhares estranhos, pareceu que alguns rapazes se afastarem dela, como se ele estivesse com lepra.
Mas pagou o que comprou e foi alimentar a menina escondida o banheiro infantil.
A pequena criança tinha sido deixada sem lanche e sem jantar, porque não comeu todo o almoço.
E Hadassa sabia bem o que era isso, porque na infância a mãe fazia o mesmo com ela, era aterrador, precisar comer tudo, para não ficar com fome depois.
As crianças sofriam com aquele pai.
E ela quase mudou de ideia sobre o casamento, talvez pudesse aliviar o fardo das crianças,talvez..
Mas não podia se sacrificar como um cordeiro..
...orou a Deus para que uma solução surgisse, que algo acontecesse, e que as crianças pudessem ir morar com avó materna que era uma senhora bondosa, assim as crianças teriam o carinho de avó e da tia materna.
Uma criança não merecia sofrer assim, sete crianças, então, ainda mais sem uma mãe para aplacar a dor. E Roger ainda batia nas crianças.
Ela beijou cada uma das crianças, e ainda colocou um lanche na bolsa da maior, assim, ela alimentaria a irmã antes de dormir, porque a pequena só tinha permissão para comer no próximo almoço.
Na hora de partir, Roger perguntou se a filha caçula havia comido.
– Não , ela disse que está de castigo.
– Está.
– Não a deixe de castigo, com fome. Quando, ela não comer, guarde a comida dela no microondas e oferte quando ela estiver com fome. __ Hadassa pediu.
– Ela tem que comer quando todos estão na mesa, Hadassa, uma criança não tem que querer.
Algumas irmãs tentaram convencer o homem, e o recriminaram pelas surras, mas não teve jeito, Roger saiu afirmando que era bíblico educar, mas Hadassa acreditava que podia se educar com amor.
Hadassa quase pediu a Deus para Roger também morresse, mas não podia orar pela morte de alguém, não podia.