BLAKE
Acabo de chegar na casa dos meus pais com o coração flutuando. Um sorriso bobo brincava em meus lábios.
Alcanço a sala de jantar escutando uma verdadeira algazarra. Às vezes esqueço de como minha família é barulhenta, principalmente nossa caçula…
— Vitória! — A voz grave do meu pai ressopra energicamente.
— Pai, paizinho… Eu juro que tomarei cuidado da próxima vez. Eu salvei um cachorro de ser atropelado! — Ouço sua voz perigosamente dissimulada.
Sorrio, essa aí, consegue dobrar o coroa como e quando desejar.
A gargalhada rouca de Gabe reverbera pela sala.
— Livrou o cachorro e acabou acertando o poste de luz, não é Vick? Ou ele também entrou em seu caminho? — A provoca não contendo o riso.
Minha mãe observa tudo em silêncio, embora, se a conheço bem, deva estar se contorcendo de rir, mentalmente.
Adoramos provocar Vitória, que explode muito rápido e é a rainha do drama.
Ela acerta Gabe na costela o fazendo engasgar com o próprio riso.
Cruza os braços com uma enorme carranca no rosto.
— Não tem graça, Gabriel!
— Eu sou sempre o motivo da piada de vocês, não é? Eu só quero a caminhonete emprestada, é pedir muito? — Indaga com os braços abertos aumentando o drama.
— Sim! — Todos respondem em uníssono e apareço na sala gargalhando da sua cara de choro.
— Posso emprestar o meu carro, se prometer cuidar muito bem dele.
— Falo caminhando em direção da minha mãe e deixando um beijo no topo da sua cabeça em seguida fazendo o mesmo com o meu pai.
— Ai irmãozão! Já falei que te amo muito? — Pergunta, batendo palmas, totalmente eufórica.
Reviro os olhos.
— Interesseira! - Gabe finge uma tosse.
— Muito bem, meninos, vamos deixar o assunto fora do nosso jantar. - minha mãe exige.
— Até porque dona Vitória, você só pegará em um carro novamente quando tiver responsabilidade suficiente. Fui claro? — Meu pai resmunga deixando uma Vitória nada contente.
— Claro como água, pai.
Ela olha entre mim e gabe com um olhar suplicante.
Sabemos o que isso significa. Balanço a cabeça negando e Gabe dá de ombros.
— Covardes! — Sussurra baixo.
Após tomar um banho e trocar de roupa, começamos a comer em um silêncio agradável se não fosse o mau-humor da nossa irmãzinha.
— Então filho, como foi seu dia no hospital? - minha mãe pergunta com um sorriso carinhoso nos lábios.
— Exaustivo como sempre, mãe. — suspiro.
Ela me olha por alguns segundos e sorri.
— Mesmo? - Arqueia uma sobrancelha bem desenhada, como se farejasse algo. Devia saber que nada passa despercebido por ela.
— È… Hoje encontrei com a Lara, filha da Antonella. Se lembram dela?
Minha mãe semicerra os olhos em minha direção e meu pai fez o mesmo.
— Onde? - Meu pai quer saber.
— Na casa da família Gurgel, fui visitá-los antes de vir para cá. Inclusive, lhe dei uma carona.
— Oh! — Minha mãe exclama e assente.
— Você viu a mãe dela, também? - meu pai inquire, recebendo um olhar mortal da minha mãe.
— Amor, eu só não quero ter que encontrar com aquela maluca outra vez — Explica encolhendo os ombros.
— Não vai. — Respondo. — Ela morreu há uma semana.
A expressão de horror se instala na face de todos à mesa.
— Nossa! Coitada da Lara — Minha mãe sussurra com uma mão no peito.
Nos próximos segundos, relato tudo. Desde o nosso primeiro encontro no hospital. Omitindo a parte em que me sinto absurdamente atraído por ela, é claro.
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— Sabia que te encontraria aqui — Meu pai se aproxima se sentando ao meu lado no banco de madeira do jardim em frente a nossa velha jabuticabeira.
— Quer me contar o que te aflige? — Olho para figura imponente, de olhar vívido e um coração enorme, a quem aprendi amar incondicionalmente.
Sempre fomos confidentes e com ele obteve os melhores conselhos possíveis.
— Estou me sentindo um pouco culpado… Hoje desejei outra mulher. — Adam me olha e cruza os braços como se falasse que tem todo tempo do mundo.
— Eu senti vontade de beijar outra garota, senti desejo por ela. — Esclareço o fazendo balançar a cabeça.
— Blake, você é adulto. Talvez esteja na hora de repensar sobre seu relacionamento. — Murmura batendo levemente em meu joelho esquerdo.
— Por acaso, você nunca sentiu desejo por outra mulher quando estava com a mamãe, nenhuma vez?
Ele n**a veemente.
— Não. Sabe porquê? Eu a amava, e tinha certeza disso, como tenho até hoje — Ele suspira e olha por cima dos meus ombros vendo minha mãe agarrada em Gabe. — Aquela mulher bagunçou o meu mundo desde a primeira vez que a vi ainda no colegial. Se você tem dúvidas enquanto sua relação com sua namorada, não leve isso adiante, só a magoará e perderá tempo — Ele olha no fundo dos meus olhos.
— O tempo, ele é precioso filho, não o desperdice! Boa noite! — Dizendo isto, se levanta e caminha de volta para casa.
Fico sozinho remoendo os meus pensamentos quando observo Gabe sair em disparada da garagem dirigindo o seu Mustang vermelho. Olho no relógio em meu pulso e vejo que já passa das onze da noite.
Solto um suspiro de frustração e esfrego o rosto com imagens de Lara percorrendo minha mente.
Sigo para meu antigo quarto e esparramo-me na minha cama quando ouço meu celular vibrar. Uma chamada de vídeo de Nicole surge na tela.
Respiro fundo tentando reorganizar os meus pensamentos. Viajamos para Florença com a intenção de restaurar nossa relação que já estava bastante desgastada. Brigávamos a todo momento e sempre por motivos fúteis. A relação de três anos já havia esfriado. Então, Nicole sugeriu essa viagem.
Deslizo o botão para atender quando enormes p****s adornados em uma camisola vermelha em cetim enchem a minha tela.
— Baby! Senti saudades — Ronrona suavemente.
Sorrio observando ela se deitar de barriga para baixo na cama, colocando uma mecha n***a do seu curto cabelo atrás da orelha. Sua pele bronzeada, me olhando de maneira sensual, mas que há muito tempo não possui o mesmo efeito sobre mim.
— Está curtindo a viagem? — Pergunto apoiando uma mão atrás da minha cabeça.
— Não é a mesma coisa sem você — Faz beicinho.
Então, assisto uma Nicole eufórica relatar cada passeio e compras que fez em Florença.
Seus olhos azuis brilham a cada palavra falada. Meu olhar viaja para seu rosto e pude perceber o quão distante estamos.
Não só fisicamente como mentalmente.
Chego a uma conclusão: meu pai tem razão, devo colocar um ponto final, antes que a magoe mais.
Despeço-me de Nick e fecho os olhos respirando fundo, tendo minha mente novamente invadida por um certo par de olhos castanhos e longos fios loiros esvoaçantes com um sorriso ridiculamente sexy.