Matheus
Eu não estava conseguindo entender aquilo. Quero dizer, na primeira vez que vi aquela mina na praia eu achei que o desconforto fosse só por ela ser uma gata e eu querer botar em prática meu jeito cachorro de ser. Mas agora sabendo que ela vai morar aqui, tão perto, mano eu não posso gostar de alguém que nem conheço, é muita loucura. Apresentei ela pra minha irmã, que logo gostou dela, diferentemente das putas que eu costumo pegar, minha irmã põe todas pra correr. Chegou a Luísa e a irmã da Bruna, eu logo deixei as mulheres fofocando e fui conversar com o Conrado.
— E aí mano, já tava orquestrando o ataque nas novatas né? Catchorro — ele riu e fez um toque comigo.
— Que nada irmão. Eu vi essa mina ontem de manhã na praia.
— Que loucura em veículo. Mas é gata, pode falar que gostou dela.
— Não tem como não gostar — ri.
— Elas já conheceram o irmão?
— Mano, o Augusto deve tá comendo alguma p*****a pelo morro. Não aparece tão cedo.
— Vai achando, aquele ali não morre nunca — apontou com a cabeça para porta, me virei e o vi entrando.
— Esse tem uma vida longa — comecei a rir. Logo vi o Boy e uma mulher se aproximarem das meninas junto com o Augusto.
Bruna
Não achei que iria gostar de alguém aqui, mas as meninas eram tão engraçadas e loucas que seria impossível não gostar delas. Quando minha mãe e o Boy se aproximaram com um garoto logo pensei, lá vem bomba.
— Queridas, esse é o Augusto.
— E aí - cumprimentei.
— Ele é seu irmão - minha mãe completou.
Engasguei com o gole que havia dado em minha cerveja.
— Nossa mãe, parabéns - bati palmas depois de recuperar o ar - esconde que temos um pai, um irmão. Você merece o prêmio de mãe do ano!
— Não faz assim - minha mãe baixou o olhar.
Após abraçar minha irmã, o Augusto me abraçou. Não o privei do contato, afinal ele tinha tanta culpa quanto eu de ter pais desnaturados. Meus pais saíram assim que viram que eu não queria papo, já o Augusto ficou conversando conosco, e eu percebi o quanto ele era legal.
— Augusto, amor! — Uma mina, baixinha de cabelo vermelho abraçou ele.
— E aí Carlinha.
— Nem me ligou ontem — ela fez bico.
— Não deu gata. Essas são minhas irmãs — ele apontou para mim e para Isa.
— Oi cunhadinhas - a menina sorriu.
— Então depois a gente se fala gata — ele dispensou a mina que saiu meio triste.
— Esse Augusto é terrível — Natália riu.
— Mas essa aí é uma p**a — Luísa revirou os olhos.
— Ciúmes amor?
— De você? — Ela gargalhou alto. — Vai sonhando.
Chegamos em casa e já eram oito horas da noite. Tomei um banho, lavei minhas madeixas e fiquei sentada na cama mexendo em meu notebook. O pessoal estava me mandando solicitações de amizade. Assim que aceitei a do Matheus fui olhar seu perfil, meu primeiro pensamento foi: como ele é gato. E depois fiquei vendo umas fotos com umas minas que eu não conhecia, fiquei com raiva, nem sei porquê. Não conheço esse garoto, não tenho motivo nenhum para me sentir. Ouvi batidas na porta e fechei o notebook. Em seguida o Boy entrou e se sentou em minha cama de frente para mim.
— O que você quer? — Perguntei.
— Quando sua mãe levou vocês embora, eu tinha acabado de assumir o morro após a morte do meu pai. Eu tinha apenas dezoito anos, não sabia como comandar um morro, e então começaram os ataques da Grota. Que na época era comandada por um inimigo. Não era seguro pra vocês ficarem aqui. Mas eu não conseguiria ficar longe de todos vocês. Então sua mãe levou vocês para o Rio e minha falecida mãe me ajudou a proteger o Augusto. A alguns anos invadimos a Grota o DH matou o dono, assumindo a favela. Agora está tudo em família, e seguro pra vocês ficarem ao meu lado. Eu posso não ter visto seu primeiro dente de leite cair, colocado seu primeiro namorado pra correr, mas eu estou aqui agora e quero ser seu pai, tanto quanto eu sei que você quer ser minha filha.
Aquele viado tinha me feito chorar, acabei abraçando ele por impulso, que me apertou em seus braços fazendo eu ser novamente aquela garotinha na escola, vendo os colegas fazerem patos de argila para darem seus pais no dia dos pais, enquanto eu abaixava a cabeça e chorava baixinho.
— Eu senti tanto sua falta — sussurrei.
— Agora eu estou aqui — ele beijou o topo da minha cabeça.
Desfiz o abraço e limpei as lágrimas. Em seguida dei uma risada.
— Qual seu nome?
— Breno.
— E o do seu irmão?
— Diego Henrique.
Acabei adormecendo no meio da nossa conversa, que havia se estendido por mais algum tempo. Acordei no dia seguinte com meu celular gritando. Eram oito horas da manhã, p**a que pariu. Desliguei o despertador mas mesmo assim não conseguia dormir novamente. Levantei com o humor do cão, odeio segunda feira e fui ao banheiro, lavei o rosto e escovei os dentes, em seguida desci para tomar café. Quando cheguei na sala e ouvi risadas fiquei roxa de vergonha por estar de pijama.
— Bom dia flor do dia — minha irmã disse rindo.
Me virei e encarei ela, o Augusto, o Matheus, o Caio e um outro que chamava Conrado. Eles jogavam videogame antes, mas agora estavam me encarando. Mandei o dedo do meio pra minha digníssima irmã que riu mais ainda.
— Farol tá aceso — Guto debochou.
Coloquei a mão no rosto e respirei fundo, controlando um surto. E em seguida fui pra cozinha.
— Bruna vai vestir roupa — minha mãe gritou.
— Ei, eu estava acostumada a uma casa só com mulher, ok?
Minha mãe começou a rir.
— Vai querer o que?
— Tem torta de frango?
— Não, mas eu faço. Agora vai vestir roupa.
Dei um beijo nela toda feliz e subi correndo, ignorando os comentários quando passei na sala.
Vesti uma blusa curta verde, um short jeans, fiz uma trança de lado no cabelo, passei base e lápis e desci. Minha mãe estava fazendo a torta então sentei lá no meio do povo.
— Quem vai perder pra mim? — Perguntei.
— A outra sonhando — Conrado disse.
— Sou melhor que você.
— Prova!
Passaram os controles pra nós. Deixei ele fazer um gol e começar a zoar, então passei a jogar sério. Logo já tinha feito dois. No terceiro ele se irritou e parou de jogar. A Isa começou a rir e os meninos caíram na alma dele.
— Bruna, tá pronto! — Minha mãe gritou da cozinha e eu levantei correndo.
— Oba — eu disse sorridente colocando um pedaço de torta no prato. Peguei um garfo, enchi um copo com coca e fui pra sala. Os meninos tentaram roubar mas eu não deixei, então acabou que geral levantou pra ir colocar. Minha mãe ficou toda feliz de todos comeram a torta dela, ficou se gabando ainda.
Nós estávamos jogados no sofá, naquele calor dos infernos, ah, que saudade da minha praia.
— Vamos brotar no clube — Conrado disse.
— Boa garoto! — Caio concordou.
— Meninas vão vestir a burca de vocês — Guto disse.
— Irmão ciumento? — Eu respondi rindo.
— Muito — ele fez cara feia.
— Jesus toma conta — Isa riu também.
— Nem vou chamar minha irmã — Matheus disse.
— Não seja por isso, eu chamo — Conrado deu um sorriso safado e recebeu uma almofadada na cara.
— Partiu me arrumar — levantei do sofá e subi para o meu quarto. Minha irmã fez o mesmo. Coloquei um biquíni e tirei uma foto. Postei no f*******: com a legenda: pré-clube .
Coloquei um vestidinho branco, quase transparente por cima, arrumei uma bolsa e desci. Não tinha ninguém na sala, fui na cozinha e minha mãe estava lendo um livro de receitas pra tentar fazer alguma coisa nova, ela ama cozinhar.
— Mamis, me dá dinheiro?
— Vai pedir seu pai.
— Eu não, você é doida.
Ela começou a rir.
— Vai logo, ele é seu pai, tem que te dar.
— E onde ele tá?
— Na boca.
Bufei e voltei pra sala, peguei minha bolsa e já ia saindo quando o Matheus entrou.
— Eita — ele disse rindo por ter trombado em mim.
— Você mesmo que eu queria ver. Salvador da pátria — levantei as mãos para o céu.
— Obrigado, fico até sem graça com tantos elogios — se gabou e eu dei um empurrão de leve em seu ombro.
— Onde fica a boca?
— Tá usando droga agora gatinha?
— Hahaha, vou pedir grana meu pai.
— Vestida assim? Com aquele tanto de drogado safado? Nem pensar. Eu p**o o que tu quiseres lá.
— Mas...
— Não precisa agradecer — ele riu.