Bruna
— Não acredito que ela escondeu isso da gente esse tempo todo — disse bufando e batendo a porta de casa.
— Calma mana, ela disse que tinha um motivo pra isso — Isabela tentava me acalmar.
— Mas se ela pensa que quando eu chegar lá vou receber meu papai de braços abertos ta muito errada.
Ela deu de ombros, não querendo render assunto.
Parei o carro da minha mãe em frente a praia, eu tinha dezesseis anos? Fodas.
Descemos do carro, travei o alarme e caminhei em direção a areia. Alugamos cadeiras e guarda-sóis e eu tirei meu short. Passei protetor solar no rosto, espalhei pra não ficar branco e comecei a passar bronzeador no resto do corpo. Eu tava bolada mesmo, minha mãe escondeu durante dezesseis anos que a gente tem um pai? Isso não se faz. E agora vai me tirar do clima maravilhoso do Rio e me mandar pra Belo Horizonte? Qual é, lá nem tem praia.
Resolvi entrar no mar enquanto a Isabela ficou deitada na cadeira de sol, foi então que eu vi, um cara maravilhoso saindo da água, o cabelo molhado preto desgrenhado lhe dava um toque de playboy encrenqueiro, e seus olhos eram tão bonitos... Quando ele me olhou e seu olhar se cruzou com o meu foi o suficiente pro meu coração disparar, foi como se tivéssemos acendido uma fagulha, foi... intenso.
Então uma garota loira e bonita o chamou e ele caminhou em direção a ela. Soltei um suspiro e completei meu desejo anterior, que era entrar no mar.
Isabela
Eu amava minha irmã, ela era como mãe para mim, mesmo que nossa mãe seja muito legal, não fique no nosso pé e tal; mas a Bruna era realmente importante para mim. Apesar disso, eu estava animada em me mudar. Vivi minha vida toda no Rio, passei por altos e muitos baixos, tenho curiosidade, o diferente me excita.
Por isso quando pegamos o avião na manhã seguinte não fiquei com os braços cruzados e um bico enorme igual a Bruna. Pra ser sincera nem prestei muita atenção na viagem, acabei adormecendo em minha poltrona. Quando chegamos, pegamos nossas muitas malas e caminhamos para a sala de desembarque, minha mãe nos largou e saiu correndo para os braços de um homem.
— Queridas, esse é o Boy, pai de vocês.
Ele sorriu, docemente e meu coração se abrandou, ele tinha os braços abertos e eu cedi e o abracei. Já Bruna sequer disse oi.
— Bruna — nossa mãe a repreendeu.
— Eu não vou correr de braços abertos pra um cara que esqueceu que tinha filhas por dezesseis anos.
Nossa mãe soltou um suspiro.
— Tudo bem Fernanda, ela terá tempo para se acostumar com a ideia. Posso ter perdido dezesseis anos, mas vou recompensar você.
— Tarde demais, não dá pra apertar um botão que eu volto a ter um ano.
Vendo que a discussão não levaria a nada, Boy nos conduziu para seu carro. Era uma Range Rover preta e blindada, mas por que blindada?
Bruna
Começamos a subir um morro, meu Deus minha mãe me tirou da frente de copacabana para morar num morro. Tudo bem, eu não tenho preconceito mas viver de frente para a praia era uma felicidade enorme, não sei como vou viver sem sentir a brisa marinha.
Bom, a casa em que fomos morar era maravilhosa, enorme, bem maior que nosso antigo lar. Mas a vista que tínhamos de lá era outra favela.
— Sejam bem vindas ao Borel — Boy disse.
Peguei minhas malas.
— Quarto?
Ele apontou para as escadas e eu subi com dificuldade. Quando subi encontrei umas quatrocentas portas, mas também tinham nome nas portas, vi a da Isabela, era branca com detalhes cor de rosa, ao final do corredor encontrei a minha. Branca com detalhes em lilás. Entrei e soltei minhas malas. Então aquele UAU saiu da minha boca. Não havia palavras que pudessem descrever o quanto o quarto era bonito. Me joguei na cama e fiquei sentindo a textura do veludo.
— Talvez eu me acostume com isso — sussurrei para mim mesma.
Abri meu closet e comecei a colocar minhas roupas e sapatos em ordem. Depois de uma meia hora a Isabela entrou em meu quarto.
— UAU!
— Foi o que eu disse — dei uma risada.
— Ele não é tão r**m — ela sussurrou.
— É, eu sei — murmurei.
— O almoço vai ser na casa do irmão dele. Vamos conhecer nossos primos?
— Tudo bem, não tô afim de terminar isso agora mesmo.
Minha irmã sorriu animada e saiu. Puxei minha toalha e entrei no meu banheiro, UAU! Será que esse cara não vai parar de me surpreender? Tinha uma banheira de hidromassagem ali cara. Mas eu optei por uma chuveirada rápido mesmo. Prendi o cabelo pra não molhar e tomei banho. Vesti uma blusa branca e preta, um short jeans e deixei o cabelo solto, fiz uma maquiagem rápida e pendurei a toalha no banheiro, tirei uma foto no espelho e postei com a legenda: BH .
Quando saí do quarto dei de cara com minha irmã super produzida, sorri e abracei ela de lado, então descemos.
Chegamos no tal almoço, que na verdade era um churrasco lotado de gente. E na piscina! Se eu soubesse tinha trago biquíni.
— Meninas esses são o DH e a Paty, tios de vocês — meu "pai" falou.
A Isabela os cumprimentou toda entrosada, eu fui um pouco mais reservada, mas os dois até que eram simpáticos. Saí de perto e fui encontrar alguma coisa pra beber, comecei a mexer na caixa de isopor, puxei uma lata de skol beats, então uma mão entrou na caixa puxando outra lata e eu me virei para ver quem era.
Eu queria mergulhar no mar que eram seus olhos, me perdi e me encontrei umas mil vezes. Então meu coração disparou e foi aí que eu percebi... Aquele era o garoto da praia. Seus olhos arregalados grudaram-se nos meus, como se ele se lembrasse da nossa troca de olhares tanto quanto eu.
— Olá — sua voz era doce, baixei o olhar pros seus lábios rosados e carnudos, ele sorria e tinha um sorriso muito bonito.
— Olá — respondi escondendo todo meu nervosismo.
— Eu sou o Matheus — seu olhar contornou meu corpo como se quisesse ver até minha alma.
— Bruna — dei um sorriso e estendi a mão. Ele a apertou e em seguida passou a mão nos cabelos, os deixando despenteados.
— Eu não te vi...
— Ontem! Na praia! Pois é — interrompi ele e depois comecei a rir.
— Nunca imaginei que te veria de novo.
— Muito menos eu. Ontem era meu último dia no Rio.
— Eu estava só de passagem, curtindo com minha irmã.
Lembrei-me da loira que o chamou, a princípio imaginei que fosse sua namorada. Agora estava feliz por não ser... e eu nem o conhecia direito. Acabei mordendo meu lábio sem querer e seu olhar pousou-se nele, como se quisesse tomá-lo para si.
— Quer conhecê-la? — Ele disse.
— Sim — respondi com o coração acelerado — claro.
Isabela
Fiquei conversando com meus pais e meus tios, até que meus primos apareceram e fomos apresentados.
— Essa é a Luísa e esse é o Caio — DH disse.
— Oi — a menina disse e beijou minha bochecha.
— E aí — o menino, tinha um sorriso tão sacana que eu fui em outro mundo e voltei. E para beijar meu rosto e me cumprimentar ele segurou minha nuca. Assim eu piro.
Se acalma Isabela que esse é seu primo!!! Bom a garota era bem simpática, então me arrastou e foi me entrosar com a Natália, amiga dela que era loira também. Mas quando chegamos lá dei de cara com minha irmã sendo super gentil com a garota. E tinha um menino lindo lá com elas.
— Oi lindos, essa aqui é a Isabela. Isa esse é o Matheus irmão da Nathália, esse eu não conheço mas vou conhecer. Qual seu nome amor?
— Bruna, eu sou irmã dela — começou a rir.
A Luísa olhou bem para ela e depois para mim.
— Jeeeesus! Vocês não parecem nadinha — ela balançou a cabeça de olhos fechados e foi muito engraçado.