Capítulo 7

1418 Words
- Andy narrando: O plantão foi uma loucura, talvez as piores 12 horas iniciais de qualquer plantão que eu já tenha feito. Por isso, quando chegou a noite e Patrick disse que eu poderia ir descansar eu não hesitei em aceitar a sua oferta. Passei no box 6 para me despedir do garoto do acidente de moto e fui direto para o quarto dos médicos. Eu deveria comer também, não como nada desde a hora do almoço, mas nesse momento só preciso descansar e livrar os meus pés desses malditos crocs. Penduro meu jaleco no gancho atrás da porta e chuto os crocs dos meus pés, me deitando em seguida. Coloco o pager e o meu celular ao lado do meu travesseiro e, assim que fecho os meus olhos, já entro em um sono profundo. Estou em um lugar lindo. Grande, amplo e bem arejado. Talvez uma galeria de artes, onde tem os quadros mais bonitos que já vi em toda a minha vida. Eles estão por toda a parte e a luminosidade forte que entra através de uma parede de vidro dá uma vida surreal a eles, a maioria foi pintado com cores fortes e vibrantes. Os quadros variam desde rostos femininos a paisagens cinematográficas. O mais incrível é que dá para ver que todos eles foram pintados a mão. Desvio os meus olhos dos quadros pendurados nas paredes e começo a caminhar pelo local, reparando nos quadros que estão nos cavaletes, alguns com a tinta fresca ainda. — Gosta do que vê? — sobressalto com a voz masculina que ecoa pelo amplo espaço, mas agora ela não é mais desconhecida para mim. Giro em 90 graus para procurar o dono da voz e o encontro no segundo andar, numa espécie de sacada interior. Sentado na beirada do mezanino e com as pernas penduradas em direção ao primeiro andar. — É incrível! — sussurro, voltando a olhar para os quadros e volto a caminhar entre os cavaletes. — Foi você quem pintou? — olho para ele. — Costumo fazer isso quando estou entediado. — ele dá de ombros e aponta para um quadro enorme perto da parede de vidro na entrada. A pintura pega quase toda a parede, chegando na borda do teto.— Esse é o meu preferido. — Quem é? — encaro o quadro. Tem a silhueta de uma mulher em um campo florido. No fundo, tem um riacho e um coreto branco e dourado. — Minha mãe. — olho para ele e o vejo se levantando e indo em direção a escada. O estranho desce os degraus lentamente, um a um, até estar no mesmo andar do que eu e conforme ele caminha na minha direção meu coração parece querer sair do peito. Ele é mais bonito do que eu me lembrava. Está com um jeans preto e uma camisa de malha branca, simples, ambos sujos de tinta e seus pés estão descalços. O estranho para bem na minha frente e pousa sua mão na lateral do meu rosto. O contato da sua pele na minha é quente e eletrizante, faz parecer que meu coração vai parar a qualquer momento. — Você tinha razão, Andy. — seu hálito sopra no meu rosto e fecho os meus olhos, ansiando que ele me beije. Nenhum homem nunca causou essa sensação em mim. — Eu estava indo socorrer o meu pai. Abro os olhos e encaro o castanho dos olhos dele. — De que? — sussurro, apreensiva. — De algo terrível. — ele aperta os olhos com força. Parece querer se livrar de alguma lembrança r**m. — Ele estava com você? — o estranho balança a cabeça, negando com veemência. — Preciso que você descubra se ele está bem, Andy. Por favor. — Me diz seu nome. — peço agoniada e ele n**a. — Como vou chegar ao seu pai se não sei quem você é? Ele se aproxima mais de mim, sua mão grande ainda emoldura o meu rosto. Ergo o meu rosto para não perder os meus olhos dos dele e engulo seco quando seu nariz quando toca o meu. — Na hora certa você saberá. — ele sussurra nos meus lábios. Me assusto com o despertador do meu celular tocando e me mexo na cama, ficando de barriga para cima e encarando o estrabo da cama acima da minha, na beliche. Porque estou sonhando com esse homem? O que isso significa? O que ele quer me dizer? Suspiro e toco os meus lábios com o indicador da mão direita. Ele quase me beijou. Fecho os olhos e consigo sentir o calor do seu corpo tão próximo ao meu. Consigo sentir o tormento no meu coração quando ele me tocou ou quando seus lábios estavam tão próximos dos meus. Essa é, sem dúvida, a maior loucura que já vivi. Sonhar com o meu paciente e idealizar coisas surreais. Impossíveis. Pulo da cama quando o despertador toca novamente na função soneca e o desligo. Enfio o celular e o pager nos bolsos do pijama e pego o meu jaleco, calçando meus crocs em seguida. A luminosidade do corredor me cega momentaneamente quando saio do quarto, aproveito para fechar os meus olhos por alguns segundos enquanto ajeito o meu cabelo. — Tudo tranquilo por aqui. — Patrick diz assim que chego ao posto médico. — Vai descansar. — ele assente e se recolhe na direção do quarto dos médicos. Eu fico encarando a entrada do box 6 até ter coragem para ir até lá. O estranho está da mesma forma que eu o deixei quando fui descansar. Entro, me aproximo bem do seu leito e olho o seu rosto ainda bem machucado do acidente. — Porque está fazendo isso comigo? — sussurro para ele e olho para a entrada do box para ver se ninguém está nos olhando. — Não posso ficar sonhando com você! Do nada! — falo, consternada. — Precisa parar com isso! — Café? — dou um pulo quando ouço a voz do James. — p**a m***a, Jay. — coloco a mão no peito e me concentro em acalmar a minha respiração. — Você estava falando sozinha? — ele ergue uma das sobrancelhas quando entra no box e me entrega um copo descartável com café. Dou mais alguns passos e me sento na poltrona reclinável que fica ao lado do leito. — Eu não estava falando sozinha. — murmuro um pouco envergonhada e com medo dele achar que estou com sérios problemas psiquiátricos. James balança a cabeça e gesticula que devo continuar. — Promete que não vai achar que estou ficando louca? — Você é louca. — ele ri e eu o acompanho. Bom, James é a única pessoa com quem eu poderia dizer isso. Então me ajeito na poltrona e encaro o meu amigo, seriamente, e solto depois de respirar fundo: — Eu tenho sonhado com ele. — falo baixinho, de forma retraída. — Com ele quem? — James indaga com cautela. — Ele. — inclino minha cabeça, apontando para o estranho com ela. — Ele, ele? — ele aponta para o paciente com o indicador e eu assinto antes de dar um gole no meu café. — Isso é loucura. — Para, James. — Está falando sério? — ele para de rir e me encara sério dessa vez. — Muito sério. — me levanto, dou um gole no meu café e deixo o meu copo sobre a mesa de cabeceira do quarto. — Ele quer que eu procure pelo pai dele. — James fica me olhando como se eu tivesse virado um bicho de sete cabeças. — Estou falando sério, James. — Andy, você precisa diminuir o ritmo. — ele diz firmemente, com o semblante fechado. — Tem ficado muito aqui, precisa ver pessoas de verdade. — Eu não estou ficando louca. — afirmo e volto a me sentar. — Eu sei. — James caminha até a mim e ergue o meu rosto quando segura o meu queixo. — Me promete que vai cumprir sua folga dessa vez? — assinto para ele. — Vá ver os seus pais, passeie no lago, saia da cidade... Você precisa viver. — Obrigada. — sorrio para ele ternamente e James deposita um beijo na minha testa antes de sair do box e me deixar sozinha com o estranho. Fico encarando-o, olhando o seu peito subir e descer enquanto o respirador mecânico faz o trabalho dos seus pulmões. Ele continua sereno, continua com o semblante tranquilo. Como se fosse acordar a qualquer momento. - x -
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD