Capítulo 8

1359 Words
- Andy narrando: Como eu havia prometido ao James, passei meus 3 dias de folga em casa. Alternando entre fazer nada e procurar alguma coisa para fazer. Foram três dias sonhando com o estranho toda vez que eu dormia ou cochilava no sofá. Ele sempre me pedia a mesma coisa, para achar o pai dele e saber se ele estava bem. Insistia sempre que ele me dissesse o seu nome ou o nome do pai. Afinal, como eu acharia o pai dele sem ao menos saber quem ele é? Não faz o menor sentido. Nada disso fazia o menor sentido. Falei com o James ao telefone nos últimos dias, mas ele não me questionou mais sobre os sonhos com o paciente. Tenho certeza de que agora ele acha que eu estou enlouquecendo de verdade. Então decidi não falar mais sobre isso com ninguém. Agora estou novamente de volta ao plantão. Fazendo exatamente tudo igual. Libero a roleta com a minha biometria, percorro o longo caminho até o CTI do 3º andar e vou direto para o quarto dos médicos. Me troco, substituo minhas roupas pelo pijama azul-escuro e o jaleco branco e vou na direção do posto médico onde estão Patrick e Alicia. Como em todos os outros dias, Alicia nos passa a situação dos pacientes e ela vai embora. Insisto, novamente, para Patrick me deixar com o box 6, mas ele não estranha. Parece não reparar e sei que preciso me preparar e inventar uma desculpa para quando ele cair em si de que todo o plantão eu quero ficar com o paciente desconhecido. Assumo o plantão e começo minhas visitas pelo box 6. É, parece que virou rotina. Devo mesmo estar enlouquecendo. — Oi, estranho. — sussurro para ele assim que paro do lado do seu leito. Seu rosto está um pouco melhor. As feridas e hematomas estão cicatrizando bem, mas os neurologistas estão preocupados com a válvula em sua cabeça, parece que ela não tem funcionado muito bem e estamos ainda mais vigilantes em relação a isso. O examino minuciosamente e quando termino me sento na poltrona ao lado da sua cama. Olhando seu peito subir e descer conforme o respirador mecânico faz o trabalho dos seus pulmões. — Preciso saber seu nome ou o nome do seu pai. — digo olhando para o seu rosto e me inclino para frente, o suficiente para alcançar sua mão sobre o leito e quando a seguro sinto ele apertar suavemente minha mão. Sobressalto e volto a me aproximar do leito, ainda segurando a sua mão. — Por favor, faça isso de novo. — sussurro, desesperadamente, para ele. — Por favor! Eu não estou ficando louca, eu senti isso. — o estimulo apertando sua mão na minha algumas vezes, para ver se ele faz o mesmo. Me inclino sobre ele e alcanço o seu ouvido. — Eu senti você. Eu sinto você, estranho. — Andy? — a voz incerta do Patrick vem da entrada do box e ajeito rápido a minha postura. m***a! — O que está fazendo? — Eu... eu... — me viro para ele. — Estava... as pupilas! — penso rápido. — Isocóricas e reagentes. — pego rápido a lanterna que fica em um kit de exame físico na beira do leito e mostro a ele. — Isso é bom! — ele assente, ligeiramente, animado. — Sullivan quer ver você. — Obrigada. — forço um sorriso até ele sair do box e me viro para o paciente. — Você ainda vai fazer com que achem que eu enlouqueci. — cutuco o ombro esquerdo dele e saio do CTI em direção a sala do meu chefe. O caminho não é longo, mas fica fora do novo setor. Sullivan coordena todos os CTIs do Memorial. Dou duas batidas suaves na sua porta e aguardo sua ordem para que eu entre. — Patrick disse que queria me ver. — Sente-se. — ordena apontando para uma das cadeiras a frente da sua mesa e eu obedeço. — Eu odeio ter que te pedir isso, Andy. Deus é testemunha! — já me animo. Sei que ele vai pedir para que eu cubra alguma falta na escala. — Petterson não virá amanhã durante o dia, a avó dele faleceu, preciso de alguém no CTI3. — Eu fico. — respondo rápido. — Sem problemas. — Tem certeza de que está tudo bem? — ele franze o cenho. — Não quero que enfarte por excesso de trabalho. — Meu coração é uma rocha, chefe. Não precisa se preocupar. — me levanto e vou até a porta, mas paro com ela aberta e a mão na maçaneta. — Sabe que pode contar comigo quando precisar. — Pior que sei. — ele revira os olhos e eu deixo sua sala rindo. Ótimo! Consegui mais 12 horas no hospital, ao todo serão 36 horas de plantão e o melhor, no meu próprio setor. Tenho certeza de que o médico de amanhã não se importará se eu pedir para ficar com o garoto do box 6 outra vez. Quando volto ao CTI a primeira coisa que reparo ao entrar é que o paciente do box 6 não está lá. — Cadê o paciente do box 6? — pergunto, desesperada, para a outra enfermeira que dá plantão junto com o James. Ana o nome dela, ela nunca gostou muito de mim. — Ele convulsionou e a neurocirurgia resolveu abordá-lo novamente... — não ouvi mais nada. Quando dei por mim já estava correndo em direção ao centro cirúrgico. Não! Não! Não! Ele não pode morrer agora. Preciso descobrir quem é o pai dele e contar sobre o filho em coma. Ele não pode morrer sozinho. Deve ter sido muito grave. Eu não demorei tanto assim para ir e voltar da sala do Sullivan. Subo mais três andares de escada até chegar ao centro cirúrgico ofegante e com a respiração descompassada. — O paciente que... subiu do CTI3 agora? — pergunto a recepcionista, as palavras entrecortadas pela falta de ar. — Sala 10, neurocirurgia. Entro pelo centro cirúrgico praticamente correndo e percorro um longo caminho até estar na frente da porta dupla de inox e olho a plaquinha em cima dela que diz, sala 10. Ao olhar pela pequena a******a de vidro em uma das portas eu vejo o garoto sendo preparado pela neurocirurgia para entrar em cirurgia. Meus olhos se enchem de lágrimas, não sei porque, e uma crise de ansiedade cresce dentro do meu peito. Como uma tempestade se aproximando rapidamente do litoral. Eu saio da frente da porta e corro até o vestiário do centro cirúrgico, me tranco em uma das cabines e me forço a me acalmar quando, tudo o que tenho vontade, é de sair correndo, desesperadamente. Balanço o meu corpo enquanto tento controlar a minha respiração até conseguir me acalmar completamente. Quando isso acontece saio do centro cirúrgico e volto para o CTI. James me vê assim que eu entro e, sabendo que eu estou uma bagunça por dentro, ele se levanta e vem na minha direção. — O que houve? — pergunta, alarmado. Eu o seguro pelo braço e o guio até o quarto dos médicos. — Estou enlouquecendo. — confesso andando de um lado para o outro. Sentindo de novo aquela sensação de ansiedade crescer dentro do meu peito. — Estou enlouquecendo, James. Ele anda até estar na minha frente e me segura pelos ombros. — Você precisa parar com isso. — n**o veementemente. — Precisa se acalmar, Andy. — seus olhos estão abertos até o limite. Com certeza porque ele nunca me viu assim. — Espere aqui. James me sentou em uma cama dos beliches e saiu do quarto. Ele foi rápido, quando retornou tinha um copo com água na mão e me entregou um pequeno comprimido. — Roubei do box 1. Ele não precisa mais disso. — sem parar para pensar eu enfio o comprimido na boca e derramo a água sobre ele, o engolindo. — Quer conversar? — n**o quando devolvo o copo a ele. — Tem a ver com o paciente do box 6. Assinto olhando para ele. Pedindo, silenciosamente, por ajuda. Para fazer isso parar. - x -

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