Capítulo 04 - LD

1003 Words
LD NARRANDO Porr@, meu corpo tá tão cansado que eu já tô sonhando com a minha cama. Tô pensando em arrumar uma briga só pra ir pra solitária e dormir uma noite inteira, mesmo naquele banco de cimento e naquela fedentina do caralhø, comendo pão duro com água. É pra repensar, mas fazer o quê? Tô precisando dormir. Aqui geralmente eu sento no canto da cela e fico de cochilo. Não tem como dormir nesse inferno. E quando liberam a migalha de água pra tomar banho, tem que ser rápido, mas tem dia que não tomo banho porque tem uns filho da püta que ficam mais tempo do que o determinado e eles cortam a água antes de todo mundo conseguir pelo menos se molhar. A água é fria e tem que tomar banho na frente de um monte de macho. Isso não é vida pra ninguém. Esse lugar fede a podre, ninguém tem paz nessa porr@, é tudo imundo. Isso é o que dá mais ódio daqueles cüzão. Meu pai tá seguindo tudo à risca, mas eu não vou seguir nada ao pé da letra. Comigo vai ser olho por olho, dente por dente. Assim que soltaram a água, me levantei e já pulei dentro do quadrado de meia parede, me molhei com roupa e tudo, só assim consegui meus dois minutos de banho. Quando sai todo molhado, me batendo de frio, a água é gelada. Peguei a sacola e troquei de roupa, trouxeram o café, um café com leite e sem açúcar e gelado. E um pão com manteiga, horrível. Fiquei sentado só imaginando o dia que vou sair daqui, e também já querendo saber quando vou ver novamente a advogada gostosa. Porr@ nessa a minha irmã acertou, Doutora Diana A mulher parece mais um anjo. Hoje é dia de visita, assim que o portão foi liberado, fomos saindo, Quando cheguei no pátio a minha mãe e a minha irmã já estavam me esperando. Porr@ é uma alegria quando elas vem me ver, toda vez a minha mãe chora e isso me quebra. Mas o bom é que ela sempre traz roupa limpa, comida boa, e ainda ganho aquele chamego da dona pérola. Minha mãe me abraçou bem forte, falando que estou magro e com olheiras, ela tá cansada de saber que aqui dentro a comida é uma lavagem e não tem como dormir. Eu não consigo descansar o corpo e nem a mente, com isso não tem condição de manter o meu porte físico, e uma boa aparência. Por sorte hoje eu consegui molhar o meu corpo, e não tinha nem sabão para passar, já que os cara pega as nossas coisas e enfia no cü. — Você não sabe como me dói te ver aqui meu filho, Se eu pudesse eu já teria te arrancado desse lugar — minha mãe falou acariciando o meu rosto. — Eu já falei, é só bolar um esquema de fulga, eu faço corre aqui dentro o pai faz o corre lá fora e a Lili canta minha mãe — Na hora que eu falei isso ela deu um tapa no meu rosto. Com a minha mãe é assim, a mesma mão que dá carinho é a mesma que bate, até que dessa vez ela bateu devagar. A minha mãe quando vai me bater ela me manda abaixar e bate na minha cara. E ninguém pode me defender se não apanha também. — Você não é nem maluco de fazer uma coisa dessa, Lucca! Eu não quero que você fique o resto da sua vida igual ao seu pai, que não pode botar a cara pra fora daquele morro por ser um fugitivo da justiça há anos — minha mãe falou boladona. Eu me sentei no banco e ela se sentou do meu lado, me dando o maior esporro. Falei que era brincadeira só pra ela parar de brigar comigo. Dei o papo que ela não saiu da VK pra me dar lição de moral e sim pra eu ver e fazer um chamego. Mirella já veio me dar aquela lição de moral, falando que eu não posso colocar tudo a perder, que tenho que confiar no trabalho da doutora Diana. — Aquela doutora parece mais uma boneca do que uma advogada, Mirella, tu sabe que a parada aqui é mais embaixo — falei, abrindo as coisas que minha mãe trouxe. — Se aquela boneca não te tira daqui, ninguém mais te tira. Você não conhece a Diana nem a fama que ela tem nos tribunais — minha irmã continuou falando bem da amiga. Enquanto eu comia tranquilamente um bolo maravilhoso de chocolate (meu estômago já tava dando voltas há dias, não aguento mais café frio com pão e macarrão com salsicha), ela continuou. — Tá bom, tua amiga é a Mulher Maravilha. E posso saber a fama dela nos tribunais? — perguntei zoando. — Advogada do capeta, tá bom, quer mais? — Quando minha irmã falou, eu olhei pra cara dela. Perguntei se era brincadeira e a Mirella falou que não, que a Diana já conseguiu livrar muito bandïdo da cadeia. Quando ela falou o nome do pai da garota, eu me toquei de quem se tratava. David Guerra é um advogado bem famoso aqui no presídio. Todo vagabündo quer ser defendido por ele e pelo escritório dele, mas nem todos têm condições de pagar os honorários do cara. Perguntei pelas minhas cocota e apanhei de novo. Minha mãe sonha com o dia que eu vou me ajeitar, me casar e dar netos a ela. — A senhora sabe que faço tudo pela senhora, mas não me pede essa parada aí, não. Casar, ter filho, esse papo torto eu deixo pra Mirella — falei sorrindo, e minha irmã me mostrou a língua. Passei o dia com minha mãe e minha irmã, comi até não aguentar mais. Quando elas foram embora, me bateu uma tristeza. Voltei pra cela com o peito apertado. Mas quem sabe a advogada do capeta consegue devolver a minha liberdade.
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