DIANA NARRANDO
Acordei no mesmo horário de sempre. Hoje está frio e eu estou cansada. Ontem, quando saí do presídio, fui direto para o fórum. Acompanhei a audiência que o meu pai tanto queria, mas não pôde ir porque estava em outro compromisso.
Me levantei me arrastando da cama e tomei um banho quente. Nada de tubinho hoje. Vesti uma calça social, coloquei uma camiseta e um blazer por cima. Deixei o blazer aberto, acho que deu um charme a mais. Calcei um sapato confortável, sem deixar de ser salto alto. Fiz uma maquiagem bem leve, só para esconder as olheiras de quem não dormiu nem quatro horas direito.
Assim que saí do meu quarto, senti o cheiro maravilhoso de café. Penha sempre salva os meus dias.
— Bom dia, Penha — falei, me sentando em uma banqueta.
Ela já me respondeu sorrindo, colocando aquele café fumegante na xícara. Assim que dei o primeiro gole, senti o café queimando a minha garganta e subindo para o meu cérebro, já me fez despertar.
Tomei o meu café da manhã tranquila. Não peguei o celular nem o tablet. Esses dois objetos têm um poder maquiavélico de acabar com o dia e com qualquer refeição, sempre tem a mensagem de um cliente, de um preso, de um parente de preso ou até mesmo do meu pai me mandando acordar para a vida.
Quando terminei o café, me despedi da Penha, peguei o meu material de trabalho que tinha deixado em cima do sofá e, antes que eu conseguisse chegar na garagem, meu celular tocou e já era o meu pai.
Querendo saber onde eu estava e o que estava fazendo, estou dois minutos atrasada do horário combinado. Assim que cheguei no escritório, fui dando bom dia por onde eu passava.
Nem fui na minha sala, achei melhor passar direto para a sala dele. Depois vejo com a minha secretária os meus horários, sei que tenho uma audiência no final do dia.
— Bom dia, meu pai, por que o Senhor não para de ser tão apressado? Meu Deus, a gente precisa viver, sabia? — falei, dando um beijo no rosto dele e me sentei.
— Bom dia, minha filha. Tempo é dinheiro, eu não tenho ambos para desperdiçar — é a mesma conversa todos os dias.
Meu pai queria saber como foi a audiência do Dr. Galeno. Vamos ter uma audiência e ele é o advogado da vítima e o meu pai gosta de estudar as técnicas dos nossos oponentes.
Contei ao meu pai tudo o que aconteceu e mostrei as anotações que fiz, baseadas no que ele demonstrou onde a gente pode atacar a defesa dele.
— Muito bom, minha princesa. Fez direitinho seu dever de casa. Será a primeira vez contra um cliente do Galeno. Eu quero atacar no ponto certo, vamos levar mais essa — meu pai falou sorrindo, e eu sorri também.
Deixei todas as anotações com ele e fui para a minha sala. Já passei na mesa da Estela, a minha secretária, pedindo para ler a minha agenda. A porta estava aberta quando eu entrei, e o Eduardo estava me esperando.
— Doutora Diana, eu pedi para ele esperar na recepção, mas ele insistiu em entrar — Estela falou, e eu pedi para ela se retirar.
Eduardo me olhou da cabeça aos pés e abriu aquele sorriso cínico que eu odeio. Quando ele se levantou para fechar a porta, eu segurei no trinco já perguntando o que ele queria.
— Fala logo o que você quer e sai do meu escritório. Espero que seja algo muito importante para eu ter que olhar para essa sua cara às 8 horas da manhã — falei, puxando a porta para deixar aberta.
— Calma, Diana, não precisa ser tão agressiva. Eu só vim aqui saber como andam as coisas. Mirella comentou comigo que você vai defender o irmão dela, o tal do LD — olhei bem na cara do Eduardo, apertei um pouco os olhos e perguntei o que ele tem a ver com isso.
Mandei o Eduardo sair da minha sala e ir procurar a turma dele. Ele me mandou ter cuidado com o LD e falou que ele está metido em coisa pesada para não sobrar para mim.
— Eu não sei o que se passa na sua cabeça, mas se você não sabe, eu vou te dizer: eu sou advogada criminalista. Eu não posso ter medo dos envolvidos se eu sou envolvida com eles até o pescoço. Agora, com licença — falei, apontando para a porta. Eu nunca vou perdoar o meu tio por ter contratado esse desgraçado para trabalhar no escritório.
Me sentei na minha cadeira, apoie Os Meus cotovelos na mesa e fiquei pensando como alguém nasce apenas uma vez e consegue ser tão inconveniente a esse ponto, um preservativo teria evitado um traste desse no mundo.
Chamei a Estela, e pedi para ela passar a minha agenda, enquanto eu ligava o meu computador. Estela ficou meia hora falando e eu não prestei atenção em nada.
— Desculpa, tem como você repetir — falei e fiquei olhando atentamente para ela, ouvindo tudo com atenção.
Assim que a Estela saiu, o meu primeiro cliente do dia entrou na minha sala, nunca entra alguém para me entregar um caso simples, só chegam com o problema me pedindo a solução.
Peguei mais um caso daqueles que me deixam madrugadas acordada, me entupindo de café e energético. Enquanto esquenta o meu cérebro calculando e esquematizando uma defesa mirabolante.
Só consegui ler os meus e-mails e mensagens depois da minha primeira reunião do dia, tive a ideia de mandar um e-mail para o procurador geral, só ele vai poder me ajudar no caso do irmão da Mirella. Eu preciso tirar esse caso das mãos do juiz Salvador.
Encaminhei todos os arquivos para o e-mail do meu pai, fiz um ramal com a sala dele e pedi para ele analisar. O meu pai vai conseguir me ajudar nesse caso, eu vou conseguir colocar o LD em Liberdade.