LD NARRANDO
Porr@ tá osso cüzão, não tô dando conta de ficar tanto tempo sem dormir, preciso arrumar uma treta e ir para solitária vai ser o único jeito de eu tirar um ronco, depois de tomar umas madeirada dos cana.
Cheguei perto de um dos detentos que se acha o chefe do Bonde, ele nunca cresceu para o meu lado. Mas vai ser o único jeito arrumar confusão com esse cara, os agentes cüzão têm medo dele e já vi alguns até passando paradas pra ele aqui dentro.
O Otarïo tava tomando café, parece até que não tem dente na boca é uma eternidade para comer um pão e tomar um copo descartável de café com leite frio. Passei e esbarrei na mão dele derramando o café.
— Qualé, seu Otarïo, tá me tirando — ele falou e ficou em pé vindo para cima de mim.
Os companheiros de sela começaram a gritar, mandando a gente brigar. Quando ele veio para cima de mim acertei só um jab de direita bem no queixo dele que se desequilibrou para trás mas não caiu.
Ele veio para cima de mim igual um touro bravo, comecei dar socos na costela dele enquanto ele me empurrava contra a parede.
Os agentes chegaram para separar a briga, primeiro imobilizaram ele, logo em seguida puxaram meus braços para trás e me algemaram, fomos nós dois para sala do diretor.
Na hora da explicação, eu não podia dizer que provoquei a briga de propósito, tive que falar que esbarrei sem querer e ele veio pra cima de mim. Eu sabia que eles não iam colocar o doidinho na solitária; ele já arrumou briga com metade do presídio. Nem sei como ainda tá vivo, mas nunca sobra nada pra ele. Ainda não sei quem protege esse maluco, mas ele tem as costas quentes.
— Levem esse meliante pra solitária — o diretor falou, apontando sua caneta de ouro pra mim. Abri um sorriso pra ele.
Saíram me arrastando. Assim que abriram a porta da solitária, aquele fedor horroroso de mijo e merda me atingiu e me jogaram dentro da cela. Dessa vez não me bateram, não achei r**m, mas achei estranho.
Já fui procurar o banco de cimento pra me deitar. Consegui dormir bem, parecia até que eu tava num hotel cinco estrelas; tô há meses sem dormir.
Quando ouvi um barulho, o ferrolho se abriu, dois agentes vieram me chamar dizendo que eu tinha visita. Achei bem estranho ter visita durante a semana, e ainda mais eu estando na solitária.
Pelo caminho, eu me liguei em quem tava me esperando: a doutora Diana. Quando abriram a sala e meus olhos encontraram os dela, minha boca encheu de água. Essa mulher é mais linda do que um anjo.
— Tirem as algemas dele e me esperem do lado de fora — ela falou, e um dos guardas tirou as algemas.
— Doutora, como vai a senhora? — falei de longe, não queria espantar ela porque tô cheirando m*l.
— Lucca, quando cheguei aqui, a primeira informação que tive é que você está na solitária. Mau comportamento acarreta em aumento da sua pena, você não sabia disso? — ela falou, me olhando nos olhos.
Encarei ela, seus olhos azuis, parecendo a imensidão do mar. Meus olhos foram descendo pela sua boca rosada, desci mais um pouco até o decote. Foi quando ela bateu na mesa, perguntando se eu não tava ouvindo.
— Vou bater a real pra senhora, doutora. Eu só arrumei essa briga pra poder dormir, pô. Tu tá ligada que aqui dentro a gente não pode vacilar. Eu já sou meio zoado das ideias e, quando fico sem dormir, piora, tá ligado? — falei com o coração na humildade.
— Eu imagino como é difícil. Recebo muitos relatos de presos que falam a mesma coisa que você. Mas cada vez que você vai pra solitária, o tempo é acrescentado na sua pena. E como eu vou conseguir trabalhar em cima de uma redução se meu cliente vive arrumando confusão? — ela falou, me encarando com o nariz empinado, uma mandona mesmo.
Me desculpei e falei que não ia fazer mais. Ela disse que ia conversar com o diretor pra me tirar da solitária, mas eu pedi pra ela não fazer isso porque eu preciso dormir mais um pouco.
— Lucca, o que me trouxe aqui hoje não foi sua ida pra solitária, e sim quem é o chefe do comando que armou pra você? — a doutora perguntou e inclinou o corpo um pouco pra frente, me dando total visão do seu decote.
— Metralha, esse é o vulgo dele — falei o pouco que sei sobre ele.
Nós do morro não temos muita informação sobre a vida do chefe, a não ser que seja algo do nosso convívio. Meu convívio era com o meu avô Pardal. Já esse filho dele não passa de um zé ruela que a gente não sabe nada sobre ele.
A doutora fez algumas anotações, enquanto eu admirava ela e sentia o seu perfume. Por alguns segundos, cheguei a sonhar colocando ela em cima da mesa.
Os agentes abrir uma porta para informar que o horário acabou, Diana se levantou e estirou a mão para apertar a minha, falei para ela que eu estou fedendo. E não quero sujar ela com as minhas mãos.
— Às vezes você chega a ser fofo sabia, você não é o primeiro preso com quem tenho contato, e provavelmente não será o último. Por isso aperte a minha mão em sinal da boa educação que eu sei que a sua mãe te deu — Ela falou tudo isso ainda com a mão estirada.
Apertei a mão da doutora Diana, e foi um pouco mais ousado dei um beijo na mãe dela. Nossos olhos se encontraram, Posso estar enganado Mas eu vi desejo.
Me algemaram novamente, Diana Foi por um corredor e eu entrei pelo outro lado, me levaram novamente para solitária. Consegui dormir, já comer nem pão mofado.