Capítulo III- Dandara Bispo

1849 Words
Ninguém sabe como é o sentimento de rejeição, estar sempre ali a espera de um convite, um olhar da pessoa que a gente ama, imagina até os filhos escurinhos, os dentes brancos, a cama a noite com ambos os corpos nele, era o sonho perfeito, eu me esforçaria para ser a esposa perfeita pra Paulo, a nossa vida seria apenas guiada por louvores e adoração. Tudo por um bom motivo, amar aquele que nos amou primeiro, o criador, Deus o divino, e o seu filho, em primeiro lugar, mas Paulo a cada dia que passava, lhe vi cegamente envolvido com a minha irmã, Isa é mais bonita, mais nova, e também uma garota que não media esforços para ter o que queria. Cheguei do ensaio da igreja, as vinte horas, talvez vinte e e quinze da noite, já que decidir vir conversando com as garotas. Ao entrar em casa, vi uma das piores cenas, ele por cima da minha irmã, as calças no meio das pernas, o seu traseiro, oh como eu sonhei algum dia ver este traseiro, era perfeito, impecável, mas os que os meus olhos viram, escaparam da realidade, talvez pelo ódio que senti, a minha boca preencheu de amargura, que Isa não era mais virgem eu sabia, a maneira como riu desavergonhada com a vergonha dele, ao tentar se recompor, era imprudente. Sua b***a tendo pêlos, um pouco mais escuro, tinha nada de sexy, linda ou louvável, e me mostra-la da pior forma possível era fim, fechei os olhos, dando um giro pior que tontura de labirintite, bate de leve o meu rosto na porta que ainda fechava. — Danda! — Ele rugiu, a voz ainda rouca, na minha cabeça aquele homem, era o meu ideal preferido para marido, cônjuge, parceiro, amigo mais que perfeito, pior era nem ter visto o principal. — O que esta fazendo Paulo? — Gritei me sentindo dolorida por dentro, fui traída por quem nem compromisso tinha comigo. — Affs Dandara deixe de ser fingida, apenas entre, estar deixando o Paulo com vergonha! — Isa me disse risonha, eu não sabia o que fazer as minhas mãos tremiam, a voz faltava de repente, eu queria o meu fim, apesar de saber que nunca teria chances. — Você sabe que f******r é pecado, e um dos mais graves Paulo. — Virei lhe vendo de compostura restaurada, aquele não era mais o meu Paulo, o que seria o pai dos meus filhos, tampouco o meu amor. Agora ali estava o futuro marido da minha irmã, de cabeça baixa, envergonhado, eu poderia acusa-la por leva-lo a fazer o que fez, ainda de camisola sentada no sofá, como se nada tivessse acontecido, os cabelos desgrenhados denunciava, eu odiei a Isa, desde o seu nascimento, quando perdi o meu posto de filha única, mas esse ódio era coisa r**m, o inimigo criava em mim, para me mostrar que sou falha. — Eu sei, Dandara, o meu pai já me tirou de tocar na igreja, por isso não fui ao ensaio hoje! — As notícias só iam de m*l a pior, entrei pra o meu quarto em silêncio, a atribulação que só crescia estava sendo alimentada e da pior forma, minha mãe chegou do trabalho, o meu irmão não havia chegado ainda quando ouvir os beijos do portão da despedida, vi os beijos demorados pela centelha, a maneira como ela se enroscava nele, dando vários estalos com as bocas. Mal esperei que Isa entrasse, sair rapidamente, vendo o Paulo como um trouxa dando vários tchaus atordoado, era um pobre homem, que estava sendo atentado. — Isa podemos conversar? — Me senti no direito pra isso, eu com dezoito, ela com dezesseis, ali estava eu, querendo fazer o papel de irmã mais velha, com alguém que me via somente com razões de piadas e chacotas. — Fala, vai dizer pra a nossa mãe o que viu? É claro que vai, fuxiqueira como é, não vai perder a oportunidade. Ela me julgava com as mãos nas cadeiras, não n**o que invejo a sua beleza, quando tento entender como duas de nós, tão diferente sairam do mesmo pai e da mesma mãe, apesar que puxei ao meu pai, enquanto ela, os traços finos de mãe. — Não vou, só acho que estão indo com muita pressa, sem contar que o Paulo foi um garoto criado na igreja, é o orgulho do pai, canta, toca bem,se destaca.... Ergeu a mão pegando um bico de pato perto da orelha, resmungando sem som, tirava sarro de mim. — Se ele sair da igreja vai ser r**m pra vocês dois, o mundo tá ai minha irmã, tá aberto, mas o d***o também, ele não vai poupar esforços pra tocar num ungido de Deus, pensa em vocês dois, se um... Passou por mim, me dando uma trombada de ombro, tudo bem que eu não amava a minha irmã, mas o seu m*l eu não queria, como muitas que aparece morta, viram marmita de traficantes, apanham do marido, ficam passando necessidade, as pessoas apontando e julgando. — Sai, tu não sabe nada de vida otária, o que pensa que é? Pra vir falar comigo como se soubesse das coisas? — Eu me calei ao ouvir suas palavras. — Se tu não gosta dele, então deixa ele em paz, Isa. — Pedi, não somente como alguém que amava Paulo, mas como amiga, devota a religião, a garota que viu ele crescer na igreja, sendo apontado como exemplo para todos, orgulho do pai, mas a minha irmã me ignorou, se jogou na cama, eu decidir não insistir, a gente ia acabar brigando outra vez, e mais uma, ela me humilharia, suspirei ao engolir a minha derrota. Na quarta-feira pela manhã, acordei cedo, era dia de faxina fui ajudar a minha mãe, passei o dia inteiro fora, eu não consegui esquecer a cena, que presenciei na sala de casa, eles iam t*****r em toda parte da casa? Quantas vezes Isa já fez isso? Era noite quando voltei pra casa, minha mãe a cada dia mostrando mais cansada, as olheiras se criavam em baixo dos olhos, com o dinheiro que ganhamos, mandei ir pra casa, fiz umas comprinhas no mercado. Cheguei em casa correndo, tomei um banho rápido, me vesti pra ir pra mais um culto, mas ao sair de casa. — Boa noite! — Estremeci ao pôr o pé pra fora de casa, o magrelo estava lá outra vez, de bone cobrindo o rosto, camisa azul, apoiado na parede de casa. — Menino porque você faz essas coisas? — Ele estava apoiado como se fosse um espirito r**m, só poderia ser, não dava outra, tirando o boné de cima do rosto, me olhou. — Tu canta bem! — Sorri fraco, o susto passava, quanto mais ainda recebia um elogio. — Obrigado, quer ir pra igreja? — Perguntei mas ele riu, soltou um tipo de risada de deboche, dei de ombros. — Porque tá rindo? Tô suja, sou palhaça? — Perguntei séria, se estava zombando de mim, não era novidade que as pessoas fizesse isso. — Aquilo não é lugar pra mim, tá afim de comer um lanche? — Ri eu desta vez. — Estou indo pra igreja, não tem convite melhor pra mim, do que ir pra a casa de Deus, segurei a bíblia com força para mim. — E depois da igreja, rola açai do monstro, um dogão? — Poxa, o pior convite era chamar uma gorda pra comer, engoli em seco, e neguei com a cabeça, porque nem voz tive pra responder. — Tenho que adiantar, já tô atrasada. — Disse dando passos em largada pra a igreja, deixei ele pra trás, não ia importar pra onde ele iria. Cheguei na igreja, procurando Paulo com os olhos, lhe vi sentado na penúltima fileira olhos enterrados no chão, Isa nem foi com ele, eu ia perder, sabia disso, com a minha irmã ou melhor com ninguém eu nunca ganho, começou o culto com louvor, eu cantei junto com as minhas amigas, as levitas, toquei violão, ele fazendo falta no palco, queria tanto que ele abrisse mão de Isa, para voltar pra Deus, mas quem dera. Só cabia aceitar, a palavra do culto, era pra falar dos jovens que não buscam a Deus, como vivem perdidos nas bebidas, nas drogas, eu sabia que o pastor queria tocar ele, e foi no meio do culto, que Paulo saiu, se levantou e foi embora da igreja, imaginei que a pressão pra ele estava vivendo era demais, ao dá um passo pra ir atrás dele, o próprio pastor segurou o meu pulso, era o seu pai, o meu pastor que me segurava. Não me disse nada, continuou a ministrar a palavra, eu queria ir, mas fiquei, cantei a música da oferta, e mais uma vez leitura, canto, louvor, quando o culto encerrou, eu quis saber. — Não adianta ir, irmã, ele tem que aprender! — Abri os olhos com a sua palavra antes que eu perguntasse. — Mas ele está perdido! — O mestre apenas balançou a cabeça. — É em meio ao caos que nos descobrimos, Dandara, pensei que soubesse disto melhor que eu. Como eu ia saber? Não concordava, no meio do caos, eu sentia medo, era só mais uma negrinha gordinha na favela, todos me recriminava, foi na casa de Deus que eu descobrir o meu talento para o canto. — Enquanto irmos atrás dele, sempre vai achar que nos somos os ruins, ele tem que enxergar com os seus próprios olhos. — Eu não lhe disse nada, apenas lamentei, se era doloroso pra mim, imaginei que pra ele que era pai não seria nada fácil. Terminei de guardar os instrumentos, ajudar a guardar as cadeiras, sai da igreja com o grupo de sempre, obreiras, levitas, conversando sobre as fofocas rotineiras, as irmãs não perdoam, quem fazia isso era Deus, só não sabia eu, que na saída da igreja lá estaria o magrelo, sentado na moto, com duas sacolas. — Aí tu não disse qual o molho que gosta no dogão. — Ele gritou levantando as duas sacolas. Engoli a saliva em seco, quando recebi os olhares das irmãs, nem tentei me explicar por que não resolveria. — Eu disse que não iria pra lugar algum com você, nada me faria trocar o culto nesta vida! — Respondi satisfeita comigo mesma, mas ele desceu da moto, paciente, como se não ouvisse nada. — Acabou o culto? — Perguntou sério, trazendo as sacolas na mão, o que esse garoto quer de mim? Me perguntei. — Danda tô indo, a gente se ver amanhã. As meninas e as mulheres foram saindo, me deixando com ele. — Tchau! — Só respondi. — Acabou, mas mesmo assim eu disse que não ia sair com você, o que quer comigo? — Fui direta em perguntar, ninguém se aproximaria de mim por nada. — Comer! — Recuei, ele ia me comer? Mas só levantou as sacolas, pedi sem molho picante, como tu é da igreja, não deve gostar. Ah mas eu gosto e muito de pimenta, ele não fazia ideia do quanto. Pensei comigo mesma.
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