Desde que Benjamin saiu estou pateticamente trancada no quarto, não consigo acreditar que isso possa ser verdade, essas coisas não existem.
E o que foi aquela coisa das paredes tremendo? Apenas um terremoto, isso mesma, Heloísa, foi só um terremoto.
Fico divagando, até ser tirada de meus devaneios por batidas na porta, Briana e Pandora já vieram atrás de mim umas quatro vezes e fiz o que devia, ignorei.
— Vamos lá Isa, sabemos que está aí! — Grita enquanto esmurra a porta.
— Ela deve estar dormindo, vamos voltar depois. — Isso, me deixem em paz.
— Não, ela está acordada. Está ouvindo Heloísa? Sei que está aí e não iremos até que abra e nos diga o que está acontecendo!
Me levanto e vou até à porta, abro na hora que ela ia recomeçar a bater.
— Quero ficar sozinha, vamos conversar depois.
— Não. Precisamos conversar agora. Sei quem é o cara que viu.
— O nome dele é Benjamin, é da Casa da Noite, ele me contou, assim como contou que todo mundo nessa escola tem poderes mágicos, inclusive vocês. — Minha esperança é que elas neguem.
— Ele não deveria estar aqui… — Sussurra irritada.
— Diana deve tê-lo mandado… — Sou obrigada a interromper essa loucura.
— Vocês ouviram o que eu disse? Ele disse que todos dessa escola tem poderes mágicos! — Repito começando a ficar histérica.
— Não é bem assim, algumas pessoas são apenas humanas e estão aqui para ajudar no disfarce… — Dessa vez é Pandora quem interrompe.
— Vamos falar do que interessa, depois podemos te contar quem é quem aqui. Agora conte o que ele disse, falaram sobre a guerra? — Pergunta me indicando a cama enquanto ela se senta na cadeira.
— Ele disse algo sobre isso, mas é claro que não acreditei em nada… — Pandora me interrompe.
— Acredite. Consigo manipular água, tudo que contenha moléculas de água, incluindo algumas pessoas.
— Já eu faço o mesmo com fogo, meio clichê né, devido ao cabelo ruivo, mas fazer o quê? — Dá de ombros.
— Certo, vou voltar para o internato, Cher não devia imaginar que as pessoas aqui são loucas, não me mandaria para cá se soubesse. — Vou até o armário.
— Não seja infantil, muitas vidas dependem de você…
— Bem, nunca disse que salvaria ninguém! Não consigo organizar minha vida, quem dirá participar de uma guerra. — Mantenho o tom baixo, mas irritado.
— Isa. — Ela para ao meu lado. — Precisamos mesmo de você, essa é uma escola de magia e Benjamin é um dos vilões.
— Ainda vou ter que lidar com isso? Como se já não fosse muita loucura, o cara m*l está andando atrás de mim? — Pergunto incrédula.
— Por acaso ele disse quem está liderando essa guerra? Quem são os líderes dos lados que se enfrentam?
— Acredito que ainda não é a hora Briana…
— Não, essa é a hora exata… Se quiser falar é agora ou nunca, porque estou comprando uma passagem para ir embora desse lugar maluco amanhã mesmo.
— Tudo bem, vamos falar tudo então.
— A história começa uns 1000 anos atrás, quando o rei da Casa da Noite casou com a Rainha da Casa do Dia, foi mais um acordo comercial do que qualquer coisa, mas eles eram felizes ou algo parecido. Então houve um tempo onde a rainha julgou que o que tinham não era suficiente, o casamento já não era o mesmo, então a dada altura da vida eles tiveram uma filha, geralmente filhos de duas casas puxam para um dos lados, mas essa criança mostrava sinais de ser mestiça, de ser muito mais poderosa que os pais, o ser mais poderoso do nosso mundo, a rainha não via a filha como deveria, tudo o que ela a via era uma arma, que a ajudaria a conquistar o mundo, ou uma rival que tomaria seu trono. A guerra começou quando o rei da Casa da Noite sabendo dos planos da mulher, pegou a criança e escondeu no mundo humano, desde então a rainha vem procurando essa criança e acabando com qualquer um que entre em seu caminho, inclusive atacou o rei diversas vezes, e ele fez de tudo para manter a filha longe da mulher perversa. Tiveram dois filhos antes que a mestiça nascesse, mas um herdou os poderes do pai e o outro os da mãe. E desde então a guerra continua, e a rainha busca sua filha perdida.
— Não tem a mínima hipótese de que eu seja essa garota, olhe para mim, tenho cara de ter mais que 19 anos? E não conheço minha família… — Me calo ao perceber que estou piorando a situação.
— Seu pai escondeu você, Isa, até completar 20 anos para os humanos, esse era o álibi perfeito.
— Se eu deveria ficar escondida, por que estou aqui agora? Não tenho 20 anos ainda, m*l completei 18.
— Não sabemos ao certo, só fomos instruídas a protegê-la até o momento em que fosse propício contar toda essa história e você pudesse se defender.
— E pensei que queriam ser minhas amigas, que falaram comigo… — Paro de falar, estou muito magoada com isso. — Aidan também está no clube Vamos Fazer a Heloísa de Trouxa?
— O quê? Não, não existe clube algum, ele foi mandado para te proteger. E nos aproximamos por pensar que você parecia uma pessoa legal, afinal de contas poderíamos te proteger de longe.
— Isso é surreal, não sei se posso acreditar no que dizem, mas o restante da história, se isso for verdade, meus pais têm o que, 300 anos? — Pergunto. — Mas o problema é que vi Benjamin se transformar aqui nesse mesmo quarto…
— Ele atacou você? — Pergunta de olhos arregalados, consigo imaginar seus cabelos vibrando com fogo.
— Diana não permitiria, ela precisa da filha viva. Devemos avisar a Loren.
— Quem diabos é lá Loren? — Não entendo o desespero na voz delas.
— O rei. — Dizem em uníssono.
— Ótimo, vão lã falar com ele enquanto volto para minha casa.
— O quê? Não! Ele vai querer vê-la.
— E eu com isso? Ele não é meu rei, vocês que lidem com ele! — Respondo irritada.
— Ele é seu pai! — Falam juntas novamente.
— Meu pai? Não, não acontecerá, estou voltando para casa. Diga à realeza que passei 18 anos podendo contar apenas comigo e com a Cher, obrigado, mas não preciso dele.
Pego o telefone e ligo pedindo um táxi.
Arrumo tudo com às duas sentadas na cama me observando.
— Então é isso. — Coloco meu caderno na bolsa. — Foi legal conhecer vocês, mas meu lugar não é aqui.
— Não podemos deixar você ir, Heloísa, precisa ficar aqui. — Ela parece assustadoramente calma.
— Não é seguro sair. — Dá de ombros ainda mais calma, como um mar parado.
— E vocês vão me impedir de ir? — Cruzo os braços.
— É claro que não, nunca faríamos isso! — Ela levanta e me abraça.
Não sei como, mas tenho certeza de que ela tenta fazer algo comigo, como me deixar inconsciente, uma raiva me invade e ouvimos um barulho altíssimo.
— d***a! O que foi que você fez? — Briana está caída no chão.
— Não fiz nada! — De repente tudo escurece e desmaio.
[…]
Acordo atordoada, tonta e enxergando tudo duplicado.
Olho ao redor e não reconheço o lugar, a cama é macia, sinto cheiro de flores.
Tento levantar e uma dor atravessa minha cabeça.
— Não tente levantar, precisa descansar, se recuperar, gastou muita energia sem preparo? Você me acertou e estou fraca ainda! — Suas bochechas estão rosas.
— Não sei o que aconteceu. Fiquei irritada por você tentar me machucar!
— Não fiz isso! — Arregala os olhos. — Só queria que dormisse um pouco.
— E por que d***a você faria isso?
— Porque eu pedi. — Ouço o homem, com uma voz linda e poderosa.
— E quem você pensa ser para fazer isso? — Fico mais uma vez irritada.
— Seu pai. — Um homem lindo e enorme surge ao meu lado.
É o que me falta!