4° Capítulo - Heloísa

1527 Words
Estamos na cafeteria, o lugar está lotado e não imagino o que tantas pessoas no auge da vida fazem em uma universidade em pleno domingo. — Então, onde será que Pandora se enfiou, ou melhor, na cama de quem será que se enfiou? — Me espanto com a pergunta. — Não me olhe assim, nossa amiga é um tanto quanto moderninha. — Dá de ombros. — Briana, não quero ser rude nem nada, mas vocês não são minhas amigas, eu m*l as conheço. — Não consigo me impedir de dizer. — É claro que somos ou vamos ser, você não precisa ser a garota nova que fica sempre sozinha. Isso é deprimente. E você é bonita demais. — Então, se eu fosse f**a, seria certo ficar sozinha e deprimida? Que d***a… — Paro do falar quando meus olhos repousam sobre o homem do outro lado da cafeteria. — É claro que não, não sou fútil desse jeito, foi apenas um comentário i****a. — Mantenho meus olhos no i****a. — Ei! Qual é o problema? — Ela percebe que não tem mais minha atenção. — Vou voltar para meu quarto! — Digo de supetão e minha voz está estridente. — Estou de péssimo humor e deveria ter dormido um pouco mais. — Ele entra na cafeteria e parece ainda mais bonito a luz do dia. — Se acalme e diga qual é o problema… — Segura minhas mãos, automaticamente a afasto. — Desculpe. — Tudo bem, só preciso ir, podemos conversar sobre isso depois? — Olho em seus olhos e ela parece surpresa, quando desvio meus olhos percebo que o homem que me ajudou na noite passada está parado a apenas alguns metros de distância e definitivamente não quero que me veja. — d***a, é aquele i****a… — Sussurro. — Certo, agora você está me assustando, do que está falando? — Não quero outra conversa constrangedora com ele e sua ironia. — O homem que me ajudou ontem está atrás de você, disf… — Nem me deixa terminar e vira de vez. — Onde? O Fernandes? Pensei que tivesse dito que ele era gato, de olhos azuis e cabelos negros. — Ela está olhando exatamente na direção do i****a. — Não o loiro, o outro, bem na sua frente, blusa branca e corpo musculoso. — Sussurro como se a essa distância ele pudesse me ouvir. — Por acaso ontem você tomou algo diferente, quem sabe algum comprimido… — Ah, inferno, é o que falta, ela pensar que sou uma viciada. — Se está perguntando se usei drogas, a resposta é não! Estou saindo daqui, não dormi tempo suficiente. — Levanto e acabo arrastando a cadeira, o que faz com que todos me olhem, inclusive o musculoso de cabelos escuros. — Vou com você… — Não deixo que termine a frase. — Não, só vou descansar um pouco… vá aproveitar seu domingo, pode mostrar o lugar outro dia e terminamos essa conversa. — Já estou me afastando. Ando a passos largos, saio do prédio quase correndo. Não é possível que ela não o tenha visto, será que estou ficando louca e criei um namorado imaginário, não! Namorado não! De onde saiu isso? — Desse jeito vai tropeçar em seus próprios pés, garotinha. — Ele está perto demais e me assusta para c*****o! — Você! Não faça mais isso! — Tento parar meu coração, com a mão no peito. — Sim, eu, o musculoso bonitão. — i****a convencido. — d***a! Realmente estou ficando louca… não acredito nisso, até onde chegamos, Isa, criar amigos e namorados imaginários… — Continuo andando e falando sozinha. — Namorados imaginários? Isso é deprimente, garotinha? — Debocha. — Ainda está aqui? Vá embora! Suma… — Abano as mãos como se ele fosse sumir como mágica. — Por que essa agressividade? Geralmente as mulheres imploram para eu ficar. — Passa a língua pelos lábios e tenho vontade de chutá-lo. — Você é nojento! — Desgosto na cara. — Minha imaginação não poderia ter inventado alguém mais agradável? Algo além de ego, músculos e testosterona? — Sua imaginação? Pensa que sou fruto da sua imaginação? — O i****a cai na risada, o engraçado é que as pessoas ao nosso redor parecem não notar uma parede de músculos tendo uma crise de risos bem no meio do jardim. Claro é a minha imaginação, não a deles. Ele dá gargalhadas até precisar se dobrar com uma mão na barriga e a outra apoiada em uma árvore, continuo andando. Preciso chegar ao meu quarto, preciso chegar ao meu quarto… — Ei! — Grita. — Espere por mim! — Por que está me seguindo? — Digo como uma líder de torcida irritada. — Não estou te seguindo, na verdade, agora estou, mas só porque quero conversar. — Claro, é comum, ser seguida por um gostoso imaginário. Paro abruptamente fazendo com que ele esbarre em mim, viro e encaro essa coisa de outro mundo. — Quem é você? — Mantenho a expressão mais séria que consigo. — E por que diabos resolveu ficar no meu pé? — Venha. — Sai me puxando. — Vamos conversar no seu quarto… — Você não vai para meu quarto. — Afirmo incrédula. — Deixe de ser boba, já disse que gosto de universitárias gostosas. — Ele me olha de cima a baixo. — E você definitivamente não é isso. — Se está interessado em levar um soco no olho, está no caminho certo. — Ganho uma gargalhada como resposta. Seguimos para meu quarto e vou por todo o percurso amaldiçoando o i****a. — Pronto, chegamos… Fale! — Sou Benjamin, Casa da Noite e precisamos conversar. — Seu sorriso some. Novamente essa história de casa. — Certo, Benjamin, por que de minha amiga não pode ver você? — Resposta simples, estou usando um encanto. — Fala com tanta naturalidade que parece verdade, não me contenho e começo a rir, é loucura demais. — Certo senhor feiticeiro, que tal dar o fora do meu quarto. — Abro a porta. — Não me ofenda! Feiticeiros são seres desprezíveis. — Resmunga irritado. — E já disse, precisamos conversar. — Você tem cinco minutos. — Aponto a cadeira e me sento na cama. — Preste bastante atenção, não vou repetir. Você é Heloísa Gross Lane, filha da Casa do Dia e da Casa da Noite, os dois reinos estão em guerra há algum tempo, segundo a profecia um mestiço irá por fim as lutas e cessar as mortes, essa pessoa irá liderar o exército vencedor e… — Sou obrigada a interromper só para ter certeza de que estou acompanhando a história e entendendo o que está querendo dizer. — Espere aí, você acredita que essa pessoa sou eu? — Seguro o riso. — Exatamente. Você é a princesa do dia, como uma princesa do verão. — Você é mais louco do que imaginei. Dois dias nesse lugar e já estou pronta para férias. — Pura verdade. — Não diga que ainda não percebeu que essa não é uma universidade comum, Heloísa, suas novas amigas parecem pessoas normais? — A imagem de Briana e Pandora me vêm à mente. — Ser bonita não é crime, tirando que elas são assustadoramente perfeitas não vejo nada de estranho. — Briana é da Casa do Fogo, esse elemento vive dentro dela. Com Pandora acontece o mesmo, mas ela faz parte da Casa da Água, elas manipulam esses elementos. Existem outros capazes de fazer milhares de coisas, coisas que você nunca imaginou ser possível. Mas nenhum deles tem metade dos seus poderes, Isa. — Não me chame assim, não o conheço. — Sou curta e grossa. — E isso é loucura. Onde você entra nisso? Qual seu superpoder? — É claro que não acredito. — Esse é o meu poder! — Então ele se transforma em uma pantera-n***a, bem diante dos meus olhos! — Que d***a é essa? — grito enquanto observo o enorme animal n***o e então desmaio. […] Minha cabeça dói. Aperto os olhos, tento me lembrar do que aconteceu. Arregalo os olhos ao ver a pantera parada na minha frente, em um passe de mágica Benjamin reaparece. Não sei se estou mais assustada ou impressionada. Uma memória pisca em minha mente. A mesma pantera, com os mesmos olhos, eu com sete anos! — Olhe para baixo… — Pede calmamente. — Isso não é possível! Essas coisas não existem… — Gaguejo. — Olhe para baixo, Heloísa. — A calma em sua voz faz com que eu obedeça e ao ver que estou suspensa no ar, meu coração praticamente vai ao cérebro! Caio na cama como uma jaca madura! — Saia do meu quarto agora! — Grito em pânico. — Isa… realmente precisamos conversar, precisamos de sua ajuda querida… — Se aproxima. — Não, não e não, apenas saia daqui! — Grito e para aumentar meu desespero as paredes tremem, coloco a cabeça entre as pernas e fico assim por vários minutos. Quando minha respiração acalma um pouco, levanto a cabeça e vejo que Benjamin já não está ali, estou sozinha no meu quarto, com essa bomba de que estou no meio de uma guerra por algo que nem imagino o que seja!
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