6º Capítulo - Heloísa

1006 Words
Não acredito, fui criada em um colégio interno, cresci acreditando que meus pais estavam mortos, agora descubro que ambos estão vivos e muito bem. — Não sei o que esperavam de mim, mas estou indo embora daqui. — Me levanto e fico tonta. — Você está em casa querida. — A cara de p*u desse homem, ele tenta me segurar quando quase caio. — Não me toque. — Aviso apertando os dentes para ignorar a dor. Tanto física, como mental. — Vou deixar vocês conversarem a sós, qualquer coisa me chame pai. — Ouço uma mulher dizer. Espere aí, como assim pai? — Tudo bem, vocês são mais loucos do que pensei. Vou embora e não direi que foi um prazer conhecer vocês. — Minha vista fica embaçada, encosto na cama novamente. — Você ainda precisa descansar, filha… — Seu tom gentil me deixa ainda mais irritada. — Heloísa, meu nome é Heloísa. — Aviso com raiva, mesmo que seja realmente meu pai, não tem direito de me jogar em um colégio interno e aparecer anos depois como se nada tivesse acontecido! Ainda ignorando o desconforto me levanto novamente e sou atingida por uma ânsia de vômito, automaticamente minhas mãos vão para minha barriga. — Você precisa comer. — Caminha novamente em minha direção, mas o afasto com um gesto. — Crist, traga algo para sua irmã comer. — Que tal vocês ficarem quietos? Todas essas vozes estão me deixando louca, quero sair daqui agora! — Não reconheço o ódio que nubla minha visão. — Não somos uma família feliz, não tenho pai ou irmãos! Vocês me abandonaram e agora escolho continuar longe de vocês! — Uma dor aguda parece perfurar minha nuca e vir até os olhos. — Se controle Heloísa, fique calma e a dor vai passar… — Pede se afastando. — Pai… Ela machucará você. — A garota parece assustada. — Só quero ir para casa, não quero machucar ninguém. — Aviso. — Tudo bem, mas não hoje. Está tarde, passe a noite aqui e amanhã deixarei que volte para a faculdade. — Vai deixar? Por acaso pedi permissão? Voltarei para Londres, para minha casa, para a única pessoa que se preocupou comigo durante toda minha vida! — Minha mãe. — Seu semblante fica triste, o que me deixa preocupada. — Sua mãe? Não pode ser, Cher não mentiria assim, ela é a única pessoa que não mente para mim! — Quero que tudo isso seja um pesadelo e eu acorde para levar mais uma bronca de Cher. — Ela é sua avó Heloísa, pedi que cuidasse de você quando eu não podia fazer. — Não pode ser… — Me deixo cair na cama. — Me deixe sozinha. — Sussurro. — Tudo bem, só preciso dizer mais uma coisa. — Seu tom faz com que levante meu rosto para poder ver seus olhos. — Então fale. — As lágrimas queimam, mas não vou chorar na frente dele. — Eu te amo, em nenhum momento dos meus mais de 1000 anos deixei de pensar em você, de querer estar ao seu lado quando deu seu primeiro passo, sua primeira palavra, queria ser um simples humano apenas para podermos ter vivido sua infância, juntos. Deixar você ir foi a coisa mais difícil que fiz em toda a minha longa existência. — A sinceridade em seus belos olhos azuis me machuca. Esses olhos, conheço esses olhos! — Era você! — Exclamo fazendo minha cabeça latejar, não era Benjamin na floresta, era o meu pai! — Agora não, você precisa descansar. — Meu Deus! Era ele, era ele! — Certo. — É tudo que consigo dizer no momento. — Não hesite em me chamar querida. — Me assusto ao ser beijada na testa. Quando todos saem desabo em lágrimas, não sei em quem acreditar. Ben não parece ser o vilão, mas Loren parece estar sendo tão sincero. Preciso ouvir isso da boca da única pessoa em quem confiei em toda a minha vida. Sem perceber, seguro o colar que Cher me deu, sinto quando ele começa a esquentar e uma sensação estranha me invade. Então começa a brilhar, e no segundo seguinte Cher está bem aqui, parada na minha frente. — Mas o que… — Não tenho nem palavras para descrever o caos em que minha cabeça se encontra. — Minha princesa. — Estica a mão como se fosse me tocar. — Queria que não tivesse mentido… — Digo com mágoa. — Não confio em você, não confio em nenhuma dessas pessoas. — Não diga isso, meu amor, tudo o que fizemos foi para protegê-la. — Se queria me proteger, por que me mandou para esse lugar? Só queria estar o mais longe possível de tudo isso. — Isa, já disse que não podemos desejar o que não queremos realmente… — O aviso está implícito em sua voz. Começo a pensar querer estar longe desse lugar, penso em um parque aquático que vi na TV uma vez. Forço minha mente para lembrar os detalhes do comercial. Desejo estar lá, longe de toda essa loucura! — Querida não faça isso! — Pede. — É perigoso demais… — Ignoro e continuo pensando no comercial. — Loren. — Sua voz não passa de um sussurro. — Filha, pare com isso, por favor! — Em segundos está na minha frente, implorando e a tristeza me invade, sinto como se meu coração estivesse sendo estilhaçado, em milhares de pedacinhos. Automaticamente a imagem de Benjamin surge em minha mente, não sei exatamente o que acontece, é como uma luz brilhando no fim do túnel, mas logo é substituída pela imagem de meu pai com lágrimas escorrendo por seu rosto. Sinto quando minhas pernas ficam bambas e desabo, mas sou envolvida pelo calor de braços fortes, sou envolvida pelo calor dos braços do meu pai. — Não posso perder você novamente, Heloísa! — Ele me abraça fortemente. — E não vai. — Digo automaticamente e por mais que eu odeie isso, parece certo dizer isso ao meu pai, parece certo ter um pai.
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