Capítulo 3 - Casa comigo?

2557 Words
Nicolas - Nicolas, fica frio cara! - Jacob tentava me acalmar, mas a vontade era de derrubar toda essa sala pela raiva que corria fumegante em mim. Me casar para ter algo que eu me preparei toda minha vida para ter? Isso é o cúmulo do absurdo! Em que época vivemos para haver casamentos arranjados? O desgraçado agiu exatamente como eu durante toda sua vida e agora no pós morte, quer valorizar o amor e a família? Ah, que queime no inferno! - Então aceite se casar no meu lugar. - Como eu suspeitava, Jack travou, demonstrando o mesmo que eu, ele acha que casamentos são um porre! - Nicolas… - Não me venha com papo furado, Jacob! Você, tanto quanto eu, odeia relacionamentos e sabe que eu jurei nunca me envolver com ninguém. - Nick, eu acho que você ainda está preso no pas… - Com ódio de ouvir novamente sobre aquele assunto, jogo com tudo o copo de whisky na parede do escritório, próximo da porta e me assusto quando eu a vejo ali. - Vó, eu quase te acertei! - Com o olhar compenetrado no meu, parecendo até outra mulher da que lastimava mais cedo a morte do marido, ela carregava sua bolsa em frente ao corpo e me encarava séria. - Poderia nos deixar a sós, Jacob? - Claro. Momentos depois, Mariela se senta no meu sofá e indica que eu faça o mesmo. O silêncio que normalmente é meu amigo, agora me deixa inquieto e tudo que eu queria era sair dali o mais rápido possível. - Sei que não está feliz com o que seu avô pediu. - Exigiu. - Corrijo. - Ele exigiu que eu fizesse isso, tenho outra opção a não ser sentir revolta? - Tem, você sabe que sim. - Vó, entenda de uma vez por todas: eu - não - vou - me - casar! - falo pausadamente, dando ênfase em minha negativa e a mulher que tem a mesma intensidade nos olhos azuis me encara inabalável. - Porque toda essa resistência ao casamento? - Está falando sério? Preciso mesmo responder? - Ainda sustentando meu olhar, ela aguarda. - Olha só para senhora e o vovô, repare bem em como viveram! Quer mesmo que eu passe por isso apenas para ter algo que vocês viram que eu batalhei tanto para conseguir? Não me lembro de vocês me contarem que papai teve que se casar a força para assumir o cargo. Isso é tão i****a que eu nem sei dizer… Mariela suspira, talvez pelo cansaço de ter vivido um dia exaustivo com vários acontecimentos, ou talvez porque tenha desistido de me fazer entender algo que para mim, não tem nexo nenhum. Mas o fato é que agora seu olhar estava cabisbaixo e ainda sim, meu coração não cedia para essa idiotice. - Tem razão, Nick. Seus pais não se casaram obrigados, ele se casaram por amor. Conhece isso? Amor? - permaneço em silêncio, não porque não sei, mas sim porque prefiro não comentar. Ninguém além de Jacob e Mia, sabem do que passei. Eu amei essa mulher com toda minha força e tudo que recebi em troca foram traições e rejeição. E não estou disposto a entrar em outra furada dessa de novo. - Nicolas, eu não sei o que você passou, também não posso dizer que meu casamento com o seu avô foi o melhor de todos, você nem imagina o quão feliz eu fiquei quando seu pai quebrou esse ciclo de casamentos por vantagem e encontrou na Sophia, uma razão para viver. - Tentando controlar a respiração, para não cair mais em lágrimas, Mariela faz uma pausa para se acalmar. – Querido, eu sinto muitíssimo que não tenha podido testemunhar o amor de seus pais e sinto mais ainda que tenha sido criado dessa forma por nós, mas eu acredito mesmo que no fim, essa exigência possa te fazer bem. - Eu não acredito que você está mesmo pensando em me obrigar a fazer isso! - Nicolas! - NÃO! - grito frustrado pela imposição. Eu já estava perto da sacada do escritório, sentindo a cabeça latejar e de costas para ela. Como se não bastasse, ainda sinto o cheiro doce inundar o local, fazendo-me virar incrédulo para ver a cena da minha avó deixando uma caixa com uma unidade de donuts em cima da minha mesa. Minha irritação é tão grande que minha garganta se n**a a dizer algo em resposta. - A garota estará no endereço da etiqueta. Eu realmente peço desculpas por tudo, mas dessa vez, Nicolas, eu estou do lado do seu avô. Se quiser a empresa, vai ter que encontrá-la e convencê-la a se casar. Observo a cidade movimentada e a noite fria de Nova York, as pessoas estão indo e vindo, cada uma cuidando de suas vidas e eu as invejo. Eu queria poder fazer isso, mas infelizmente todos ultimamente estão se achando no direito de me dizer o que fazer e quando. Isso tudo é uma merda, sinto como se tivessem tirado todo meu poder e me reduzido a pó. Nada faz sentido. Me aproximo, a contragosto, da embalagem deixada em cima da mesa e vejo o endereço, é o mesmo lugar onde Mariela e mais um monte de funcionários costumam encomendar essas porcarias às vezes. Eu odeio coisas doces. Mas odeio mais ainda que tirem o que é meu de mim. Pego a caixa e vou para o lugar que costuma ser o meu ponto de alívio quando estou tenso dessa forma. Não preciso me identificar na portaria, todos lá já sabem que eu sou e tenho passagem livre para o apartamento dela. Alessia é uma mulher com quem eu transo as vezes, sei que ela é apaixonada por mim e sonha ser meu par um dia, mas sempre fui transparente e deixei claro que para mim não passa de uma f**a casual. Ela aceita, pois diz que é melhor ter isso do que nada. Toco duas vezes sua campainha e ela abre com um sorriso enorme e sacana no rosto. - Nicolas! Não esperava te ver hoje. - Se quiser eu vou embora, mas vai perder isso daqui. - Indico a caixa e ela sorri. - Obrigada! Você lembrou do que eu gosto. - Sim. - Minto, porque não me lembro de nada do que ela fala depois que transamos. *** - Bom dia, Nicolas. Já pensou no que vai fazer? - Não sabia que as formalidades entre nós já tinham sido dispensadas, senhor McCann. E sim, já pensei, em breve você vai descobrir. - Sem esperar mais uma palavra, me retiro do elevador no momento em que as portas se abrem. Já se passaram quatro dias e esse fiscal de merda vem me pressionando para tomar alguma decisão. Não vejo minha avó desde que ela deixou a bomba de açúcar em cima da minha mesa e para piorar, vigiar a garota enquanto bebo no silêncio do meu apartamento tornou-se meu hobby favorito. De alguma forma eu sinto que a conheço, mas não faço ideia de onde ou quando. Ou talvez possa ser apenas meu inconsciente querendo me pregar peças pela inconveniência da vida. - Bom dia, senhor Campidelli. - Minha secretária cumprimenta. - Avise ao Dylan que vou descer em quinze minutos e limpe toda minha agenda de hoje. Deixando para trás a jovem desconcertada, me acomodo na minha mesa e abro a janela na internet que já tem salvo o endereço dela e envio uma mensagem para Jack vir até aqui. - O que quer? - Jack entra sem bater. Mania irritante das pessoas fazerem isso, mas ignoro. - Veio rápido. - Tenho uma diligência de um cliente aqui perto. O que quer? - Fez a pesquisa que eu pedi? - Nicolas, eu sou advogado. Que tipo de serviço pensa que eu faço? - Jacob. - Repreendo com o olhar, totalmente sem tempo para enrolações. - Ok, desisto. A garota é Melissa Stone, mora com a avó e tem um tipo de padaria que está à beira da falência. Então, se quer um motivo para chegar nela, eis aí sua brecha! - Obrigado. - Digo já me levantando e passando por ele em direção à porta. - Onde vai? - Aproveitar a brecha. Até. Através do vidro, observo a velha senhora atender os poucos clientes que entram com gentileza, um sorriso no rosto e uma paciência que perdi a anos. O lugar é bonitinho pelo tamanho, mas é insuportavelmente inabitável pelo cheiro que vem dos produtos que elas vendem, por isso peço para conversar do lado de fora. Melissa Stone é uma mulher intrigante. Tem o rosto delicado, cabelos compridos e em ondas, num tom de castanho incrivelmente brilhante. Seus lábios são carnudos e o nariz fino e empinado terminam de completar uma obra terrivelmente linda. Seu corpo é esguio e pelo jeito, minha presença tende a afetá-la mais do que o comum. Sou reservado, mas isso não faz de mim um santo. Aliás, muito pelo contrário. Eu só prefiro fazer as coisas de forma discreta e quando tenho meus encontros, eles são onde, quando e com quem eu quero. Exceto Mia, nenhuma outra mulher me disse não na vida e por isso sei que com essa daqui, a história não será diferente. O sorriso bobo em expectativa e a forma infantil com a qual acenava enquanto eu me afastava no carro, denunciavam que apesar de ser adulta, ela se comporta como uma adolescente perto de mim. Suponho que não será difícil impressioná-la, mas ainda assim, me esforço para encontrar um restaurante bom o suficiente para fazer essa proposta e não encontro nenhum. Preciso da ajuda da única pessoa que conheço que é capaz de resolver esse problema. CALL ON - Então, já tem uma noiva? - Preciso que me ajude com o jantar, não achei nenhum lugar interessante, vou fazer na minha casa. - Espera, o que? Nicolas, é só levar ela para qualquer lugar e pronto! Ofereça o dinheiro, jogue seu charme, sei lá! Não precisa disso tudo. - Vai me ajudar ou não, Jacob? - Impaciente, ele bufa do outro lado da linha e se dá por vencido. - Tudo bem, vou pedir à minha empregada para fazer algo. Sabe ao menos preparar uma mesa de jantar? - Mande-a fazer tudo, p**o o dia dela, mas avise que hoje ela vai trabalhar na minha casa. Você sabe onde fica. CALL OFF Durante o resto do dia, fiquei em casa resolvendo alguns assuntos do meu escritório e involuntariamente Melissa vinha à minha mente. Resolvo ir à sauna antes de começar a me arrumar e lá dentro, enquanto a temperatura alta me faz suar, imagino como isso foi acontecer. Minha vida tinha todo um roteiro pronto, era seguir as tomadas e ter sucesso no final. De certa forma, isso me faz rir, porque ironicamente, os atores fazem nos filmes exatamente como os diretores mandam, talvez Joseph seja meu diretor e honestamente, eu o odeio mais que tudo agora. Começo a me preparar de forma meticulosa, escolhendo de forma que fique impecável até as abotoaduras que melhor combinam com meu terno grafite escuro. Dispensei a gravata para ser menos formal, mas admirando o trabalho da empregada de Jacob e no que ela tornou essa sala de jantar, talvez eu devesse ter colocado. Está tudo perfeito e conforme calculado, Dylan chega acompanhado de Melissa, que está uma verdadeira deusa de tão linda. Ela parece acanhada, com as bochechas coradas e olhar baixo, mas ainda sim consegue se equilibrar em cima dos saltos finos e não tropeçar no vestido longo. Noto que não é de alta costura, mas entendo que fez seu melhor mesmo com suas limitações financeiras. - Está linda, Melissa. - O-obrigada. - Discretamente, ela olha para a mesa e depois ousa me fitar no mais profundo dos meus olhos. – Achei que iríamos jantar fora. - Eu te chamei para jantar, não disse onde. Mas se não estiver confortável aqui, podemos… – Não, não. Está tudo bem. Aqui está ótimo. - Contente com a resposta, puxo a cadeira para que ela se sente e tento ser o mais normal possível, já que faz anos que faço todas minhas refeições sozinho. Particularmente eu prefiro assim, mas contrariando minhas expectativas, Melissa é uma mulher de conversa fluida e não uma jovem fútil que só pensa em aparências. Ela entende algo sobre negócios, apesar de tomar péssimas decisões como foi com o empréstimo e é aproveitando essa brecha, que decido tomar o primeiro passo. - Melissa, sei que o que estou prestes a dizer pode soar estranho, mas gostaria que estivesse com a mente aberta para as possibilidades. - Incômoda, ela se mexe na cadeira e pela f***a de seu vestido tenho a visão da pele de sua coxa. Reviro os olhos e disfarço antes que ela note algo. - Achei que era um encontro. - Desculpe se passei a impressão errada, mas acho que estamos mais para uma reunião de negócios. - Bom, temos um jantar íntimo em sua casa, com uma mesa posta para dois, vinho e massas. Tem razão, não tinha motivos para pensar que era algo semelhante. - Atrevida e carregada de ironia, ela responde sem se dar conta das palavras que saem de sua boca e imediatamente se retrai no lugar. Gosto disso, atitudes assim não deixam margem para que outras pessoa se aproveitem de você. - Certo. Peço desculpas por isso, mas eu realmente preciso fazer isso. - Fazer o que, Nicolas? - Te pedir em casamento. - Não me atento ao momento ideal, e solto a bomba no instante em que ela bebia uma dose de vinho que é lançada para longe. - Pedir o que? - Preciso que se case comigo, Melissa. - Olha, me desculpe, mas acho que você é louco. - Levantando-se de repente, sou obrigado a fazer o mesmo e puxá-la pelo braço, prendendo seu corpo contra a porta. Ela anda rápido com essas pernas compridas, mas eu sou mais. - Me solta! Você não tem o direito de fazer isso! - E eu vou, se me prometer que vai esperar para que eu te explique. - Com a mandíbula tensionada, ela acena positivamente com a cabeça e eu enfim a libero. - Eu disse sério sobre o casamento. - Eu não duvido, mas o que te faz pensar que eu vou aceitar? Você nem sequer se lembra… - Do que? - Pergunto, curioso com o comentário. - Deixa para lá. - Melissa, eu sei que seu negócio não está bem e eu posso te ajudar com isso. Vai ser um contrato benéfico para os dois, eu ganho o que quero e você se mantém no mercado com sua avó. - Nicolas, isso é absurdo! Ah, droga! Eu sei como é! Mas agora não tenho tempo para me juntar a ela e praguejar o nível de idiotice desse problema. - Eu sei que é, mas podemos negociar com calma e todos saem ganhando. Vamos Melissa, o que você tem a perder? A garota parece pensar e reviver momentos que a abalam, sua respiração é profunda e audível, seus olhos brilham estatelados para mim e por um momento achei que ela fosse desmaiar ali mesmo. Mas ela faz pior. Ela apenas se vira, indo embora sem dizer uma única palavra sobre o que propus.
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