Capítulo 6
Giovana narrando :
Continuação :
Arrastei a mala até a porta, tentando me manter firme, mas minhas mãos tremiam. Peguei a chave para sair, mas antes que eu pudesse abrir a porta, ouvi o barulho do elevador parando no nosso andar. Meu coração disparou. Não podia ser ele. Não agora.
A porta do apartamento se abriu de repente, e lá estava Hugo, com o rosto cansado e um olhar que misturava surpresa e preocupação ao me ver ali, pronta para ir embora.
— O que é isso, Giovana? Pra onde você acha que vai? — ele perguntou, entrando e fechando a porta atrás de si.
Era como se toda a dor que eu tinha segurado até agora explodisse dentro de mim. Soltei a mala no chão e caminhei até ele, o coração batendo rápido, o sangue fervendo. Antes que eu pudesse me controlar, minha mão subiu sozinha, acertando um tapa no rosto dele.
— Pra onde eu vou, Hugo? Pra bem longe de você! Longe das suas mentiras, longe dessa humilhação!
Ele colocou a mão no rosto, visivelmente atordoado.
— Calma, Giovana. Vamos conversar...
— Conversar? Conversar? — gritei, descontrolada. — Depois de tudo o que você fez? Depois de eu te ver com ela, Hugo?
Comecei a bater nele com as mãos, sem nem pensar, sem me importar. Era como se todo o ódio, toda a mágoa, precisassem sair de dentro de mim. Ele não tentou se defender, apenas segurava os braços, tentando me conter.
— Você destruiu tudo, Hugo! Tudo! Eu confiei em você, eu te amei, e você fez isso comigo!
— Gio, calma! — ele insistiu, segurando meus pulsos para que eu parasse. — Me escuta, por favor!
— Me solta! — gritei, puxando meus braços. — Não toca em mim! Eu te odeio, Hugo! Eu te odeio!
Ele me soltou, parecendo exausto, como se as palavras tivessem finalmente atingido o peso que eu queria que elas tivessem.
— Gio, eu sei que errei... Mas...
— Cala a boca! — interrompi, com lágrimas escorrendo pelo meu rosto. — Eu vi você com a Sabrina! Eu vi tudo! Não tem desculpa, Hugo. Não tem conserto.
Ele passou a mão pelos cabelos, parecendo desesperado.
— Giovana, por favor, a gente pode consertar isso. Eu amo você!
Eu ri, um riso amargo, dolorido, que me rasgava por dentro.
— Amar, Hugo? Amar não é isso. Amar é respeito, é lealdade. E você não tem nada disso.
Peguei minha mala novamente e caminhei até a porta, determinada. Ele tentou me parar mais uma vez, mas eu o empurrei com força, deixando claro que não tinha mais nada pra dizer.
— Não me procura, Hugo. Acabou.
Abri a porta e saí, deixando para trás não apenas ele, mas tudo o que um dia eu achei que fosse amor.
Saí do apartamento com o coração pesado, arrastando minha mala pelo corredor vazio. A cada passo que eu dava, sentia como se estivesse deixando uma parte de mim para trás. Apertei o botão do elevador, respirando fundo para não desabar ali mesmo. Não podia chorar mais, não agora.
O elevador chegou, e eu entrei, observando meu reflexo no espelho. Meu rosto estava marcado pelas lágrimas, os olhos vermelhos, mas eu não me importava. Tudo o que eu queria era sair dali o mais rápido possível.
Quando cheguei ao térreo, o porteiro me olhou com preocupação, mas não disse nada. Apenas deu um aceno discreto, respeitando meu silêncio. Saí do prédio, sentindo o ar frio da noite bater no meu rosto. Era como se aquele vento tentasse aliviar o calor da raiva e da dor que eu sentia por dentro.
Peguei o celular e abri o aplicativo do Uber . Digitei o endereço da Carla, porque, naquele momento, era o único lugar onde eu sabia que podia ir. Ela sempre esteve ao meu lado, mesmo quando eu insistia em defender o Hugo.
Enquanto esperava o carro chegar, me sentei no banco de concreto em frente ao prédio. Olhei para a mala ao meu lado e pensei em tudo o que tinha acontecido. Meu peito apertava, a vontade de chorar estava ali, mas eu me segurei.
O celular vibrou na minha mão. O Uber tinha chegado. Me levantei, ajeitei a mala e caminhei até o carro.
— Boa noite — disse o motorista, enquanto colocava minha mala no porta-malas.
— Boa noite — respondi, com a voz fraca.
Entrei no carro, fechei a porta e encostei a cabeça no vidro. As luzes da cidade passavam rápido, como se o mundo continuasse girando normalmente, enquanto o meu parecia ter desmoronado.
Carla era a única pessoa que poderia me acolher agora. Eu sabia que ela ia me ouvir, mesmo depois de tudo o que eu tinha ignorado sobre o Hugo. Respirei fundo, tentando manter a calma. Tudo o que eu queria era chegar lá, me jogar no sofá dela e, talvez, conseguir começar a entender como seguir em frente.
O caminho até a casa da Carla parecia interminável. Cada minuto dentro daquele carro fazia minha cabeça girar mais. Eu ficava revivendo a cena no estacionamento, a imagem do Hugo e da Sabrina juntos... era como uma faca cravada no peito, cada vez mais funda.
Quando o Uber finalmente parou na frente do prédio da Carla, senti um alívio momentâneo. Peguei minha mala e agradeci ao motorista com um sorriso forçado. Subi as escadas até o apartamento dela, porque o elevador, como sempre, estava quebrado. A cada degrau, a raiva ia se transformando em cansaço.
Bati na porta dela, e, em menos de dois segundos, Carla abriu com aquela cara de quem já sabia que algo tinha acontecido.
— O que foi agora, Gio? — ela perguntou, me puxando pra dentro.
Eu não consegui responder de cara. Larguei a mala no canto da sala e desabei no sofá. As lágrimas, que eu segurei durante todo o trajeto, começaram a cair de novo, silenciosas. Carla se sentou do meu lado e segurou minha mão, sem dizer nada, só esperando eu falar.
— Ele me traiu, Carla. Eu vi com os meus próprios olhos... ele e aquela vagabunda da Sabrina — minha voz saiu entrecortada.
Os olhos dela se arregalaram, mas não de surpresa. Era mais um tipo de "eu já sabia".
— Eu te avisei, amiga. Mas me conta tudo — ela disse, com aquele tom que misturava indignação e proteção.
Contei tudo. Desde o restaurante, o Rogério, o estacionamento, até o momento em que ele tentou me impedir de sair. Carla ouvia tudo, sem interromper, mas dava pra ver a raiva crescendo nela.
— Olha, Gio, você fez bem em vir pra cá. Aqui ele não pisa! Você vai ficar comigo até decidir o que fazer. Mas, pelo amor de Deus, não volta pra aquele homem, não. Ele não te merece!
Eu assenti, mas as palavras dela pareciam distantes. Eu ainda estava tentando processar tudo, como se meu coração e minha mente estivessem em guerra.
— Eu não sei o que fazer, Carla. Não sei nem por onde começar — admiti, sentindo o peso do desamparo.
Ela se levantou, pegou uma garrafa de vinho na cozinha e voltou com duas taças.
— O que você vai fazer? Primeiro, vai tomar essa taça de vinho comigo. Depois, vai lembrar que é linda, inteligente e merece muito mais do que aquele traste. E amanhã a gente pensa no resto.
Eu dei um sorriso fraco, mas verdadeiro. Era por isso que eu estava ali. Carla sempre sabia o que dizer, mesmo que fosse só pra me arrancar um sorriso no meio do caos.
A Carla tinha razão. Naquele momento, o melhor que eu podia fazer era me permitir respirar, mesmo que tudo estivesse desmoronando por dentro. Tomei a taça de vinho devagar, sentindo o calor do álcool tentando aquecer algo que já parecia congelado em mim.
— Olha, Gio, amanhã a gente dá um jeito. Se quiser, eu te ajudo a achar um lugar pra ficar ou... sei lá, mete o Hugo na justiça! Ele tem que te dar o que é teu — Carla disse, com a voz firme, mas eu percebia o ódio escondido nela.
— Eu só quero distância, Carla. Não quero mais nada com ele. Nem casa, nem explicação, nem nada. Ele que fique com a Sabrina, que se afundem juntos.
Carla me olhou com aquele olhar de irmã mais velha, respirou fundo e disse:
— Tá, mas até lá, fica aqui comigo. Essa casa é grande demais só pra mim. E, ó, se ele aparecer, vou barrar na portaria, viu? Aqui ele não pisa!
Soltei uma risada curta, mais pelo jeito protetor dela do que pela situação.
— Obrigada, Carla. Você é a única pessoa que eu sabia que podia contar.
— Sempre, amiga. Esquece isso de procurar outro lugar, tá? Mora aqui comigo. Não tem sentido você ficar por aí sozinha, ainda mais depois de tudo.
— Carla, você já tá me ajudando tanto... Eu não quero atrapalhar.
Ela cruzou os braços e me encarou.
— Atrapalhar? Tá maluca? Isso aqui é o mínimo que eu posso fazer. Fora que vai ser ótimo ter companhia de novo. E se aquele infeliz aparecer, a gente chama a polícia.
Dei um sorriso meio tímido, mas no fundo já me sentia mais leve.
— Tá bom, então. Obrigada mesmo.
— Nada de obrigada. Agora vai tomar um banho e relaxar. Arrumei a cama no quarto de visitas pra você.
Fui pro banheiro com as roupas que tinha na mala. Enquanto a água quente caía, as lágrimas voltaram. Era como se a água levasse embora o peso daquele dia horrível. Quando voltei pra sala, Carla já tinha arrumado tudo.
Ela me esperava com outra taça de vinho e um pacote de pipoca na mão.
— Vai, senta aqui. Vamos ver um filme bem r**m pra você esquecer esse traste pelo menos por hoje — ela disse, estendendo o controle remoto.
Me sentei ao lado dela, tentando me permitir uma pausa. Era a primeira vez no dia que senti um pouco de paz.
Mas, no fundo, sabia que o próximo passo seria ainda mais difícil. Porque Hugo não ia deixar isso barato. Ele sempre tinha uma desculpa, uma maneira de tentar me convencer. E, de alguma forma, eu precisava ser forte pra não cair na conversa dele de novo.
Continua .....