Capítulo 5
Giovana narrando:
Eu fiquei ali, congelada, vendo aquilo. Meu coração parecia que ia explodir no peito. Uma mistura de raiva, tristeza e humilhação tomou conta de mim. Não sabia se gritava, chorava ou corria dali. Minhas pernas pareciam não querer me obedecer, mas, com um esforço tremendo, consegui voltar para o restaurante.
Rogério ainda estava sentado, distraído no celular. Respirei fundo, tentando controlar o tremor nas minhas mãos e a vontade de desabar ali mesmo. Me aproximei e, com a voz firme, chamei:
— Rogério, vem cá. Preciso te mostrar uma coisa.
Ele me olhou confuso, mas levantou sem questionar. Caminhamos em silêncio até o estacionamento. Eu sentia o coração acelerado, como se a qualquer momento fosse explodir. Quando nos aproximamos, parei e apontei na direção deles.
— Olha ali. — Minha voz saiu quase como um sussurro.
Rogério olhou, e o choque foi imediato. Hugo e Sabrina estavam encostados no carro, se beijando sem nenhum pudor. A expressão de Rogério mudou na hora. Primeiro, era incredulidade, depois, uma raiva crescente.
— Que p***a é essa?! — ele gritou, já avançando na direção deles.
— Rogério, espera! — Tentei segurar seu braço, mas ele se soltou com firmeza, decidido.
Ele foi direto até Hugo e, sem dizer mais nada, empurrou ele com força, separando os dois.
— Você tá maluco, cara?! — Hugo gritou, visivelmente pego de surpresa.
— Maluco?! Você que tá! Sei filho da p**a — Rogério rebateu, os punhos cerrados. — Como é que você tem coragem de fazer isso, hein? E você, Sabrina? É essa a merda de respeito que você tem?!
Sabrina tentou falar algo, mas Rogério nem deixou.
— Cala a boca! Eu não quero ouvir nada de você!
Hugo tentou se recompor, mas Rogério partiu pra cima, dando um soco que acertou em cheio o rosto dele. Hugo recuou, tentando se defender, mas Rogério não parava. Eu só conseguia observar, chocada, enquanto os dois começavam a brigar de verdade.
— Para com isso! Vocês tão loucos! — gritei, tentando intervir.
Mas a raiva de Rogério parecia incontrolável. Hugo, mesmo sendo mais forte, estava claramente tentando evitar uma briga maior.
— Tá maluco, cara?! — Hugo repetia, tentando se afastar.
— Maluco? Você não viu nada ainda! — Rogério gritou, pronto para partir pra cima de novo.
Foi então que Sabrina finalmente interveio, segurando Rogério pelos braços.
— Chega, Rogério! Não faz isso aqui! — ela implorou, a voz cheia de desespero.
Eu, por outro lado, só sentia a dor crescendo no peito. Tudo que eu queria era sumir dali, mas sabia que aquela confusão era só o começo.
Eu fiquei ali parada, vendo aquela confusão se desenrolar na minha frente. Hugo tentando se justificar, Sabrina choramingando, e Rogério completamente descontrolado. Tudo aquilo parecia surreal, como se eu estivesse presa em um pesadelo do qual não conseguia acordar.
A dor no meu peito era insuportável, um nó na garganta que parecia me sufocar. Eu não queria ouvir mais nada, não queria ver mais nada. A vontade que eu tinha era só de sumir dali, desaparecer de vez.
Sem pensar duas vezes, virei as costas e voltei em direção ao restaurante. Peguei minha bolsa que ainda estava na cadeira onde havíamos sentado e, sem olhar para ninguém, saí pela porta principal. A brisa da noite bateu no meu rosto, mas nem isso conseguiu aliviar o peso que eu sentia no meu coração.
Fui andando sem rumo por alguns metros até me lembrar que precisava de um táxi. Olhei ao redor e vi um ponto próximo. Caminhei até lá, com as pernas tremendo e a cabeça rodando. Peguei o celular para chamar um carro pelo aplicativo, mas as mãos tremiam tanto que demorei para conseguir digitar.
Enquanto esperava, olhei para o céu, tentando respirar fundo. As lágrimas começaram a cair, silenciosas, quentes, queimando meu rosto. Eu me sentia tão humilhada, tão pequena... Tudo que eu queria era fugir para bem longe, para um lugar onde ninguém pudesse me encontrar.
Finalmente, o táxi chegou. O motorista, um homem mais velho de expressão tranquila, abriu a janela e perguntou:
— Boa noite, moça. Vai pra onde?
Respirei fundo, enxugando rapidamente as lágrimas para não demonstrar tanta fraqueza.
— Pra casa, por favor. — Minha voz saiu baixa, quase um sussurro. Passei o endereço pra ele e entrei no carro e fechei a porta. Assim que o veículo começou a andar, deixei meu corpo afundar no banco. A única coisa que eu conseguia pensar era, em como a gente chegou até aqui?
No fundo, eu sabia que essa era a hora de tomar uma decisão. Mas será que eu teria coragem de encarar o que vinha pela frente?
O táxi parou em frente ao prédio, eu paguei a viajem e desci ainda com a cabeça zonza de tudo que tinha acontecido. Passei pela portaria sem trocar uma palavra com o porteiro, apenas acenei de leve, tentando esconder o rosto para que ele não percebesse que eu tinha chorado. Entrei no elevador, apertando o botão do meu andar, e fiquei olhando para os números subindo no visor, como se isso fosse me distrair.
Quando a porta abriu, saí e caminhei até a porta do apartamento. Assim que entrei, o silêncio do lugar me atingiu como uma onda. Aquele mesmo silêncio que tantas vezes foi um refúgio, agora parecia gritar comigo, escancarando tudo que estava errado.
Fui direto para o quarto. A raiva e a dor ainda estavam fervendo dentro de mim, e eu sabia que precisava agir antes que mudasse de ideia. Peguei a mala grande no fundo do armário e joguei em cima da cama. Comecei a abrir as gavetas, puxando roupas, jogando tudo dentro da mala de qualquer jeito.
Enquanto arrumava, minha mente ficava repassando a cena no estacionamento. Hugo e Sabrina... A traição descarada, o olhar de surpresa dele quando me viu. Aquilo doía tanto que eu sentia como se estivesse me despedaçando por dentro.
— Como ele teve coragem? — murmurei para mim mesma, a voz embargada de lágrimas que insistiam em cair.
Peguei mais algumas coisas do guarda-roupa, vestidos, sapatos, minhas bolsas. Abri outra gaveta e vi as fotos do nosso casamento, um álbum pequeno que eu guardava ali. Fiquei encarando por um segundo, lembrando de como eu estava feliz naquele dia, de como eu acreditava que ele era o homem certo para mim.
Deixei o álbum cair no chão e voltei para a mala. Não dava mais para ficar aqui. Não depois de tudo. Eu sabia que precisava sair antes que ele chegasse. Não queria ouvir desculpas, nem promessas vazias.
Peguei o nécessaire no banheiro, os documentos, e fechei a mala. Olhei em volta, respirando fundo. Esse apartamento que um dia foi meu lar agora parecia sufocante. Tudo aqui tinha o cheiro de nós dois, das promessas que ele destruiu.
Continua.....