1- Conhecendo a Giovana
Capítulo 1
Giovana narrando:
Oi, sou a Giovana, mas todo mundo me chama de Gio. Tenho 23 anos, sou morena clara, com cabelo preto liso que vai até a cintura e olhos castanhos. Posso dizer que meu corpo é bem bonito, nunca fui de me cuidar, eu como igual a uma capivara e não engordo. Acho que a culpa disso é mais genética mesmo!
Vou contar minha história pra vocês. Sou filha única. Meu pai morreu assim que eu nasci, ele era um bandido que eu nunca conheci. Minha mãe sempre disse que ele foi morto em um assalto, mas eu nunca soube muito sobre ele. Ela sempre se esforçou muito pra me criar sozinha, e quando eu tinha 18 anos, ela teve um AVC e acabou morrendo. Naquela época, eu morava no interior de São Paulo, estava sem trabalho e sem saber o que fazer da vida. Foi quando uma amiga minha, a Carla, me chamou pra vir pro Rio e morar com ela. Carla é como uma irmã pra mim, me acolheu na casa dela e me ajudou muito com meu luto. Eu sofri demais, porque a única pessoa que eu tinha na vida era minha mãe, e pra mim foi muito difícil.
Comecei a trabalhar de secretária em um escritório de advocacia. A Carla arrumou o emprego pra mim com um colega dela que fazia estágio lá. Eu estava cursando Administração e resolvi continuar meus estudos no Rio. Minha vida ficou bem corrida, trabalhei oito horas por dia e, à noite, saía do trabalho direto pra faculdade.
Eu trabalhava em frente a uma delegacia, e foi lá que eu conheci o Hugo. De cara, me apaixonei. O cara já era da bope, hoje em dia ele é tenente da bope, lindo, e, sim, ele era um pouco mais velho que eu, mas isso nem me importou, eu tinha 18 anos e ele 30. Eu, mocinha virgem do interior, fiquei encantada por ele. Começamos a nos conhecer melhor e logo estávamos namorando. Hoje, faz dois anos que nos casamos na igreja, com direito a tudo que você imaginar. Meu casamento foi lindo, mesmo não tendo nada do que reclamar, mas depois que casamos, as coisas mudaram bastante entre a gente.
O Hugo quase não para em casa, sempre acha algo pra fazer. Até nos dias de folga, ele arruma um jeito de sair, e eu, que me formei no ano passado, continuo no mesmo emprego. Ganho bem, o suficiente pra me virar e ainda guardar uma grana, porque o Hugo não me deixa pagar nada em casa, pelo menos nisso ele é bom. Então, o meu dinheiro é só pra mim. Eu tenho um carro e uma moto que comprei com meu dinheiro, porque o nosso apartamento ele que comprou e não me deixou ajudar pagar nada, mas somos casados com comunhão de bens, então é tudo nosso.
Estava até pensando em ter um filho pra ver se as coisas melhoram entre a gente. Sabe quando você sente que se perdeu? Ele chega de madrugada, eu já estou dormindo, e quando eu saio de manhã, ele está dormindo. Tem vezes que ficamos mais de uma semana sem ter relação, e isso me incomoda demais. Hugo foi meu primeiro em tudo, e eu ainda o amo, mas não tá fácil assim. Sinto falta de carinho, de contato com ele, de sexo também. Preciso fazer algo pra salvar meu casamento, mas às vezes me dá um desânimo, e até já pensei que talvez ele tenha outra, mas ele nunca me deu motivos pra desconfiar.
Acho que o que mais me dói é que parece que a gente tá se afastando, como se cada um tivesse a sua vida, sabe? Hugo está sempre tão ocupado, e eu fico aqui, tentando entender onde foi que as coisas começaram a desandar. Às vezes, me pego olhando pro nosso casamento e não reconhecendo mais aquele amor intenso que a gente tinha no começo. No começo era tudo diferente, era só a gente, juntos, com a cabeça cheia de sonhos e planos. Mas agora... agora é como se cada um vivesse no seu mundo.
Eu tento me distrair com o trabalho, mas no fundo, o vazio que eu sinto por dentro é maior que qualquer coisa. Tento fazer as coisas de casa, dar conta de tudo, mas me sinto sozinha, como se estivesse vivendo uma rotina sem emoção. E, no meio disso tudo, fico me perguntando se sou eu que tô fazendo as coisas erradas, ou se o Hugo simplesmente mudou. Será que ele tem outras prioridades agora? Será que o amor acabou, mas ninguém quer admitir?
Essas perguntas rondam a minha cabeça, mas eu sempre tento não deixar transparecer, porque sei que ele tá passando por muito também, é operação atrás de operação e ele não tem tempo para nada. Mas é difícil não pensar que algo tá errado. Eu sei que o Hugo tem um bom coração, mas será que ele ainda me ama como antes? Eu realmente quero acreditar que sim, mas fico me perguntando por quanto tempo mais vou conseguir aguentar essa distância emocional que tá crescendo entre nós.
Hoje é sábado, e eu pensei em fazer algo pra agradar o Hugo. Como hoje eu não trabalho, levantei cedo, cheia de vontade de surpreendê-lo, mas... ele não tava em casa. Fiquei morrendo de ódio, mas tentei me convencer de que ele devia estar em alguma operação, pelo menos quero acreditar nisso. Peguei o celular e liguei pra ele, depois de umas dez chamadas ele atendeu.
— Oi, amor — ele disse assim que atendeu.
— Você não veio dormir em casa, Hugo? O que tá acontecendo? — perguntei, me segurando pra não brigar.
— Amor, eu tava em uma operação. Só vou voltar a noite, mas vou te levar pra jantar hoje. Vamos fazer algo diferente, tá bom ? — ele respondeu.
— Tá bom, Hugo, mas a gente precisa conversar. Então, vê se vem cedo, tá? — falei, frustrada.
— Tá bom, meu amor. Eu te amo, tá? — ele disse, e desliguei a ligação.
Peguei meu celular e liguei pra Carla, que logo atendeu a ligação.
— Oi, amiga — ela disse, atendendo.
— Oi — respondi.
— E que voz é essa? Qual foi a do Hugo dessa vez? — ela perguntou, porque nunca gostou dele.
— Amiga, de novo ele não dormiu em casa e diz que tá em operação. Eu ando tão cansada disso — desabafei com ela.
— Já te falei, amiga, que o Hugo não me desce. Não sei mais... Você deveria colocar um detetive em cima dele, já que tá desconfiando — ela sugeriu.
— Eu prefiro não acreditar que ele faria algo assim. Se eu descobrir, nem sei o que faria — falei, sem nem querer imaginar.
— Eu sei o que você faria... Choraria, mas, sentando pra outro macho gostoso, home é o que não falta, gata. Bora aqui pra casa, vem passar o dia comigo. Tu acredita que eu cheguei agora, eu peguei um boy essa noite que não me deu descanso? — ela disse, e eu dei risada.
— Então tu vai dormir o dia todo? — perguntei.
— Que nada! A gente já dorme demais quando morre. Bora viver bem, vem pra cá que vou fazer uma lasanha pra gente — ela respondeu, toda animada.
Fiquei pensando por um momento antes de responder. Carla sempre me animava quando eu tava pra baixo, e às vezes, só o fato de estar com ela já fazia tudo parecer um pouco melhor.
— Tá bom, vou passar aí — falei, já com um sorriso nos lábios, tentando deixar a preocupação com o Hugo de lado por um tempo.
Desliguei a ligação e comecei a me arrumar. Tentei não pensar muito nas coisas, mas, por dentro, a sensação de estar sendo deixada de lado ainda me machucava. O que estava acontecendo com o Hugo? Não era mais a mesma coisa, e eu sentia como se estivesse ficando cada vez mais distante dele.
Quando cheguei na casa da Carla, ela estava lá, toda animada, como sempre. O cheiro da lasanha no forno já tava invadindo a casa e me deu uma sensação de conforto. Carla sabia como me fazer esquecer por alguns momentos as preocupações da vida.
— Você tá linda, amiga! Chegou na hora certa, a lasanha tá quase pronta — ela me abraçou.
Sentei no sofá e olhei pra ela.
— Eu só queria que as coisas no meu casamento fossem diferentes, Carla... Não sei o que fazer. Eu ainda o amo, mas ele... tá tão distante — falei, minha voz cheia de dúvida.
Carla me olhou com um sorriso meio triste, mas cheio de compreensão.
— Eu entendo, amiga, mas você não pode se esquecer de si mesma, não. O Hugo tem que perceber que não é só ele quem tem uma vida. E, se ele não tá dando o valor que você merece, quem vai dar?
Eu não sabia o que responder, mas o que ela falou fez sentido. Eu tava ali, na casa dela, tentando me distrair, mas lá no fundo, a verdade era que eu precisava de uma mudança. Algo precisava acontecer, e eu não podia esperar o Hugo mudar sozinho.
Continua.....
As atualizações começam dia 18/12
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