Capítulo 4
Giovana narrando:
Eu estava ali, me arrumando, tentando me distrair enquanto a minha cabeça girava. Olhava no espelho e não conseguia parar de pensar em tudo o que estava acontecendo. Hugo... sempre tão ausente, sempre tão distante. Ele dizia que me amava, que eu era tudo pra ele, mas o que eu via não batia com o que ele falava.
Eu me arrumei o melhor que pude. Coloquei aquele vestido que ele gosta, tentei me sentir bem, tentar me convencer de que tudo poderia melhorar. Mas, no fundo, eu sabia que as coisas não estavam bem entre a gente. O Hugo já não era mais o mesmo. Ele parecia perdido, e eu também.
Quando ele se aproximou e disse que eu estava linda, eu sorri. Mas foi um sorriso sem graça, sem aquele brilho que costumava ter. Eu sabia que ele estava tentando, mas as palavras já não tinham o mesmo peso. Eu queria acreditar, queria muito acreditar que ele ainda era aquele homem que me conquistou, mas a realidade era outra.
Ele me disse de novo que eu era maravilhosa, e dessa vez, foi mais difícil segurar o olhar. Eu só me senti vazia, como se as palavras dele fossem só mais um truque pra me fazer acreditar em algo que eu não conseguia mais ver.
Eu tentei disfarçar, mas senti que estava ficando cansada disso. Cansada de esperar, cansada de me enganar, cansada de amar alguém que não estava mais ali. Hugo foi meu primeiro em tudo, mas, e agora? Eu ainda o amava, sim, mas a cada dia que passava, o amor parecia diminuir.
Eu ainda estava tentando entender, tentando achar um caminho pra salvar o que restava de nós. Mas, no fundo, eu sabia que talvez não fosse o suficiente.
Saímos do apartamento, e Hugo me seguiu até o elevador. O clima estava estranho, aquele silêncio desconfortável entre a gente, como se as palavras que poderiam aliviar a tensão estivessem presas na garganta. O som do elevador ecoava na minha cabeça enquanto ele tentava sorrir pra mim, como se tudo estivesse bem. Mas, não estava. Eu podia sentir isso no fundo do meu peito.
Entramos no carro e, apesar de estarmos juntos, parecia que estávamos tão distantes. Hugo ligou o motor e, sem dizer uma palavra, colocou a música que sempre tocava quando íamos pra aquele restaurante. Era uma daquelas músicas calmas, com guitarras suaves, que nos fazia lembrar dos bons momentos, antes de tudo isso acontecer. Mas, mesmo com a música, o silêncio se fazia presente. Eu ficava olhando pela janela, vendo a cidade passar enquanto ele dirigia.
O trajeto até o restaurante foi rápido, mas o clima pesado parecia durar uma eternidade. Eu sabia que, quando chegássemos lá, ele tentaria fazer com que tudo parecesse normal. Ele sempre fazia isso, criava um ambiente perfeito, mas eu não conseguia mais acreditar.
Aquela praia, o restaurante com vista pro mar... era nosso lugar. Sempre íamos ali quando tudo estava bem, quando as coisas faziam sentido. Mas agora, nem o lugar mais bonito do mundo podia esconder o que estava acontecendo entre nós. Eu só queria que Hugo fosse sincero, que ele me contasse a verdade, mesmo que a verdade machucasse.
Chegamos, e ele estacionou o carro. Olhei pra ele e, por um momento, pensei em dizer tudo o que eu estava sentindo. Mas, ao invés disso, apenas respirei fundo, tentando forçar um sorriso.
— Vamos, amor – ele diz, então descemos do carro.
Chegamos ao restaurante, e Hugo, como sempre, tinha reservado a mesa. Ele me segurou pela mão e me guiou até lá, mas aquela sensação de desconforto continuava me acompanhando, me sufocando. Sentei, e logo ele foi puxando a cadeira pra se sentar. Tudo parecia estar tão... mecânico. Eu ainda não conseguia entender como é que tudo foi parar ali. Como é que chegamos a esse ponto de estarmos juntos, mas tão distantes.
O ambiente estava agradável, a vista da praia era linda, mas não conseguia prestar atenção em nada. Meu olhar estava fixo na mesa à frente, quando, de repente, eu avistei alguém familiar. Sabrina. A moça que trabalha com Hugo, que eu nunca gostei. Ela sempre teve uma postura tão... não sei, mas algo nela me incomodava. E, pra completar, ela estava com o noivo, ou pelo menos era o que eu achava que era o noivo dela.
Meu estômago virou, um sentimento de angústia se espalhou dentro de mim. Ela nos viu, e no mesmo instante, se levantou da mesa, com aquele sorriso falso, como se fosse a melhor amiga do mundo. Não pude evitar, imediatamente fechei a cara. Aquela mulher nunca me passou uma boa impressão, e eu não conseguia disfarçar minha irritação.
Hugo olhou rapidamente pra mim, como se soubesse exatamente o que eu estava pensando. Eu não queria fazer cena, mas não consegui me controlar. E quando ela se aproximou, foi como se o tempo tivesse desacelerado. A expressão dela estava quase de pura simpatia, mas eu sabia que, no fundo, não era nada disso.
— Oi, Hugo! Giovana! Que coincidência boa! — Sabrina disse, com aquele tom doce demais.
Hugo se levantou, com o sorriso que ele sempre dava, aquele sorriso que não dizia nada, mas que sempre soava como uma tentativa de agradar.
— Sabrina, que bom te ver! — ele disse, sem perceber, ou talvez nem se importando, que eu não estava nem um pouco feliz com aquela surpresa.
Ela se sentou na cadeira que Hugo puxou, e eu podia sentir a tensão no ar. Eu olhava pra ela, tentando manter a calma, mas o olhar dela em direção a Hugo... era impossível não notar o jeito como ela o olhava, como se estivesse flertando.
Eu tentei desviar o olhar, mas algo dentro de mim me dizia que, a partir daquele momento, eu teria que lidar com mais do que apenas as dúvidas sobre o nosso relacionamento. Eu precisava entender o que, de fato, estava acontecendo ali.
Eu olhei para Sabrina, e a raiva começou a ferver dentro de mim. Ela parecia tão à vontade, como se fosse normal aparecer ali, como se ela e Hugo fossem amigos de longa data. E não era nada disso. O que me incomodava mais era o jeito que ela olhava para ele, aquele olhar de quem se sente à vontade demais, de quem tem algo além da conta.
Não consegui mais segurar. Olhei para ela e, de forma quase automática, disse:
— E aí, não vai chamar o seu noivo para vir sentar com a gente?
A voz saiu mais seca do que eu imaginava, e Hugo me lançou um olhar preocupado, talvez tentando entender onde eu queria chegar com aquilo. Sabrina, por outro lado, não se abalou. Ela deu um sorriso amarelo, que me pareceu mais forçado do que qualquer coisa, e olhou para o lado, como se procurasse o tal noivo.
— Ah, ele tá ali, já já ele vem. Não queria atrapalhar... — ela respondeu, com uma risadinha, tentando manter a simpatia, mas eu podia perceber a tensão no ar.
Aquela situação já estava desconfortável demais. Eu podia sentir o calor subindo pelo meu corpo, como se tudo dentro de mim estivesse se contorcendo. Eu queria gritar, fazer ela se afastar, mas ao mesmo tempo, não queria causar uma cena.
Eu respirei fundo, tentando não mostrar mais o quanto aquela situação me incomodava. Mas a cada palavra de Sabrina, o incômodo crescia. Eu já tinha vivido muitas situações estranhas em relação a ela, e cada vez mais eu sentia que não tinha mais como ignorar.
O noivo de Sabrina chegou logo depois, cumprimentando a todos com um sorriso simpático. Ele parecia ser um cara legal, bem educado. Sentou-se à mesa e logo começamos a fazer os pedidos do jantar. A conversa até que estava fluindo, mas algo dentro de mim não parava de mexer, uma sensação estranha que eu não conseguia tirar.
Hugo estava com o celular na mão, dizendo que precisava atender algo urgente. Levantou-se e saiu para fora, e nesse momento, Sabrina anunciou que também ia ao banheiro. Meu olhar seguiu ela por um segundo, mas sabia que não poderia me deixar levar pela raiva ali na frente do noivo dela, então me segurei. Olhei para o rapaz ao meu lado, dei um leve sorriso e disse:
— Vou ali fora, já volto, tá?
Ele concordou, distraído com o celular, e eu saí. Não sabia exatamente o que esperava lá fora, mas minha intuição já me dizia que alguma coisa não estava certa. Fui caminhando devagar, procurando saber onde estavam. E então, quando cheguei perto do estacionamento, algo me congelou.
Meu coração deu um pulo. Lá estavam eles, Hugo e Sabrina, se beijando, se agarrando. Escorados no nosso carro, completamente sem se importar com o que poderia estar acontecendo ao redor. O mundo pareceu parar por um segundo, e eu fiquei ali, estática, sem saber o que fazer ou como reagir.
Era uma cena que eu nunca imaginei ver. Meu marido, o homem com quem me casei, com a mulher que eu não gostava, se entregando da forma mais óbvia e despreocupada. A sensação de traição foi um golpe no estômago, uma dor intensa que eu nunca tinha experimentado antes.
Eles nem me viram, estavam tão envolvidos um no outro que parecia que o mundo não existia. Eu queria gritar, correr até eles e dar um basta, mas, ao mesmo tempo, eu estava paralisada, sem saber como lidar com tudo aquilo.
Continua.....