Capítulo 4
ANA NARRANDO
Eu desligo o telefone preocupada. Dona Maria é uma senhora muito querida no morro, e se ela está pedindo ajuda, é porque algo sério aconteceu.
Pego meu kit de primeiros socorros e saio apressada de casa em direção à residência da Dona Maria. No caminho, minha mente começa a imaginar mil possibilidades do que pode ter acontecido.
Chego à casa da Dona Maria e sou recebida por ela no portão.
Maria – Ana, que bom que você veio rápido. Por favor, entre. - Ela fala nitidamente aflita e isso só aumenta mais a minha preocupação.
Ana - O que está acontecendo, Dona Maria? Estou preocupada. Está tudo bem com o João mesmo? - Falo entrando na casa com ela.
Maria - Vou te explicar, mas antes preciso que prometa manter segredo sobre tudo que ver e ouvir aqui hoje.
Ana - Claro, Dona Maria. Pode confiar em mim. Agora me diga o que aconteceu, por favor.
Maria – Bom .... É sobre um rapaz que encontramos na rua. Ele está ferido e desmaiado. Não podemos chamar a polícia, então achei melhor pedir sua ajuda.
Ana – Mas .... - Eu até tento argumentar, mas ela me interrompe.
Maria - Por favor, dê uma olhada nele. Faça isso por mim, depois falamos mais, o estado dele não parece nada bom.
Ana - Não é certo, mas tudo bem, onde está ele?
Maria me conduz até o quarto onde o rapaz desconhecido está deitado na cama do João, ainda desacordado. Observa-o por um momento, examinando suas feridas com olhar profissional. Ele está pálido e com ferimentos visíveis.
Ana – Meu Deus, o que aconteceu com ele? Ele precisa ir ao hospital. Ele está baleado, eu só sou uma enfermeira, precisa ver se atingiu algum órgão, se precisa de cirurgia, ele pode morrer, e negligencia deixar ele aqui.
Maria - Eu não sei ao certo. Eu encontrei ele caído perto da ribanceira, ferido. Ele parecia em estado grave ou até morto, mas quando o João se aproximou, ele ainda estava vivo e pediu para não chamarmos a polícia.
Ana - Ele disse mais alguma coisa?
Maria - Sim, pediu ajuda e disse algo que não consegui entender direito. Parecia "Emi", mas não tenho certeza.
Ana - Emi? Será uma pessoa? Quem será Emi? Ou o que será Emi?
Maria - Não faço ideia, mas isso não importa agora. Ele precisa de cuidados.
Ana - Vou tentar fazer o meu melhor, mas mesmo assim é muito perigoso. Eu não tenho o que preciso aqui, fora que não sou médica.
Eu começo a tratar das feridas do rapaz enquanto Maria me observa com apreensão, mas eu ainda estou tentando entender a situação, eu estou agindo totalmente fora de ética.
( ... )
Depois de fazer alguns procedimentos, eu percebi alguns detalhes importantes.
Ana - Ele parece ter sido atingido de raspão, isso melhora um pouco a situação. Mas não posso dar 100% de certeza. A ferida não parece grave, mas ele precisa descansar.
Maria - Obrigada por vir, Ana. Não sei o que faríamos sem você. - Dona Maria fala enquanto eu vou fazendo o que dar para ajudar o rapaz.
Ana - É o meu trabalho, Dona Maria. Estou aqui para ajudar sempre que precisar.
MARIA NARRANDO
Enquanto Ana termina de cuidar das feridas do rapaz, eu fico pensativa, e me pergunto quem ele é e como foi parar ali naquela ribanceira. Enquanto isso, o rapaz começa querer recuperar a consciência lentamente, isso pode ser um bom sinal, ele só não pode ter febre, isso sim seria muito perigoso e o único jeito seria levar ele para o hospital.
Ana – Precisamos ficar de olho nesses ferimentos, qualquer risco de infecção pode causar a morte dele, ele não pode ter febre de jeito nenhum na situação que ele está .
Maria – Você acha que ele vai ficar bem? Você acha que ele pode morrer? - Pergunto preocupada .
Ana – Vou fazer o meu melhor, como disse ele precisava está no hospital, mas como não é possível, o mínimo é que ele precisa descansar e receber os cuidados necessários. Vou tentar conseguir soro, sangue e alguns equipamentos. Mas antes eu precisava coletar uma amostra de sangue dele para saber o tipo sanguíneo, vou tentar resolver isso.
Eu fico em silêncio, enquanto a Ana termina de cuidar dos ferimentos mais graves e faz mais alguns curativos. O rapaz parece estar estável, mas ainda precisa de toda atenção.
Ana – Dona Maria, acho que ele vai precisar ficar aqui por um tempo até se recuperar completamente, mover ele pode causar algum dano. O banho por enquanto também terá que ser no leito, se quiser posso vim fazer isso para a senhora.
Maria – Claro, Ana. Vou deixar ele à vontade para usar o quarto do João. Agradeço muito pela sua ajuda.
Ana - O João não vai se incomodar? Ele vai ter que dormir na sala né?
Maria - Vou conversar com ele, realmente ele não está gostando nada dessa situação, mas eu sinto que preciso ajudar ele. Mas com o João eu me resolvo.
Ana – Bom apesar de achar essa atitude da senhora trazer ele para sua casa muito arriscada, eu não vou julgar a senhora, o que eu puder ajudar vou ajudar, vou tentar ficar vindo aqui nas minhas pausas para ficar de olho nele, como o posto é aqui perto, não vai me atrapalhar. Se precisar de alguma coisa, ou achar que ele piorou é só me chamar. Tudo que eu podia fazer eu fiz, agora precisamos aguardar, ele é forte, se fosse outra pessoa já teria morrido, ele vai conseguir se recuperar logo.
Maria - Obrigada Ana, você sempre tão prestativa.
Ana - Agora eu preciso ir. Meu horário de almoço está acabando. - A Ana se despede e sai do quarto.
Eu fico sozinha com o rapaz ferido. Observo-o por um momento, tentando entender quem ele é e o que o levou a estar nessa situação.
Será que eu estou fazendo a coisa certa? Será que eu deveria chamar a polícia?
Será que estou colocando meu filho em perigo?
Eu fico pensando em muitas teorias, e minha mente começa a se perguntar sobre o que realmente aconteceu com ele e por que ele não quer envolver a polícia.
Penso tanta coisa até que eu resolvo dar uma pausa, para tantas teorias que estavam martelando na minha cabeça e me sento do lado dele na cadeira que a Ana estava. Eu fico olhando ele e pego em sua mão que está um pouco gelada.
Maria - Espero que você fique bem logo rapaz, você parece ser uma boa pessoa, e eu espero que eu não esteja errada sobre você . - Eu falo e sinto ele mexer a mão bem fraquinho.