Os dias foram passando, tivemos a notícia de que a Carol foi internada em uma de suas crises, meus sobrinhos ainda estão com o Leo e minha mãe está devastada em casa. Meu pai está em coma e não tem previsão de sair daquele estado sem consciência. Embora eu esteja com meu coração completamente partido, eu preciso me manter em pé sustentando o emocional da minha mãe. Uma das coisas que aprendi na vida é que a gente aprende o quanto é forte, até que precisa ser, principalmente neste momento que sinto saudade misturada com culpa e preciso ser estrutura para minha mãe que está desabando primeiro que eu.
Já se passaram dez dias e eu estou exausta em vários sentidos, decido dar uma volta pelo bairro, respirar um pouco, talvez ver locais que me tragam recordações boas com meu pai me faça bem. Saio caminhando e, ao parar no local que meu pai havia caído sobre meus braços, fico parada e é inevitável não chorar, eu tinha tantas expectativas para minha volta e, uma delas, era matar a saudade da convivência com meu pai, que sempre foi o meu porto seguro. O que a Carol tem de sintonia com minha mãe, eu tenho de com meu pai. As minhas melhores recordações da vida envolvem momentos com ele e nunca me imaginei viver sem poder ouvir: eu te amo, meu docinho! Ser insensível tem inúmeras vantagens, mas esses poucos dias no Brasil, me fizeram sentir tantas emoções que manter o meu padrão de falta de empatia e sentimento pelos acontecimentos deveria ser sinônimo de fraqueza, mas neste momento eu percebo que me torno mais forte, não por mim, mas por um sentimento que eu quase havia me esquecido: amor.
— Oi, Jéssica.
Eu olho para o dono da voz pouco conhecida, mas que logo lembro: o dono do sorriso lindo. Ele não sorri desta vez e se aproxima de mim. Então, fala com o sotaque lindo:
— Theo, lembra?
Por favor, sorri! E, aos poucos, ele vai abrindo um sorriso, tímido, mas ainda assim, muito lindo. Eu o abraço. Tentando tirar um pouco da felicidade daquele sorriso para mim, eu preciso. Ele retribui. Dono de um sorriso lindo, cheiro ardente e um abraço quente, ele acalma o meu coração momentaneamente. Sinto as mãos dele deslizando lentamente pelas minhas costas em acalento e ele repete:
— Vai ficar tudo bem, ok?! Ele é muito forte e vai sair dessa!
Ficamos assim sei lá quanto tempo, mas quando percebo o quanto estou sendo insana abraçando um cara que m*l conheço, me solto abruptamente dele. O que está acontecendo comigo? Insensível, é isso o que eu sou. Ou, pelo menos, é isso que o Tomaz me tornou. Enxugo minhas lágrimas e falo:
— Desculpe, Theo! Desculpe!
O sorriso tímido desaparece e ele responde:
— Não tem com o que se desculpar, não está sendo fácil para ninguém. Eu gosto muito do seu pai, ele sempre me ajuda muito e é como um pai para mim nesta cidade grande.
— Ele é um cara incrível, senti muita falta da energia positiva dele quando estive fora.
— Ele é mesmo!
Ele finaliza com um sorriso tímido aparecendo de novo em seu rosto. Eu me hipnotizo naquele ímã invisível que tem em seu sorriso e ele fala:
— Se você quiser, podemos tomar um café e conversarmos um pouco sobre ele.
Eu respiro fundo, tentando arrumar algum argumento rápido para declinar da proposta dele e ele percebe, então insiste:
— Acho que fará bem a você falar um pouco sobre o assunto. Seu pai me falou que você é um pouco introspectiva e tem dificuldade de falar sobre seus sentimentos.
— Parece que você sabe muito sobre mim e minha família.
Ele balança os ombros e amplia mais o sorriso. Que lindo! Eu acho que até sorri junto, não tenho a certeza, faz tempo que não faço isso assim, tão leve, que nem sinto. Essa atitude me faz levar a mão à boca para me certificar do poder dele em atrair o meu sorriso espontâneo. Ele responde:
— Ele costumava dizer que eu era um filho para ele, então talvez sejamos irmãos.
Eu gargalho. E ele sorri, desta vez de satisfação e seu sorriso é parecido com o do meu pai. Quando ele conseguia me tirar sorrisos leves, ele sorria desse jeito. Lembrar-me do meu pai sorrindo me faz sentir o coração quentinho de amor e saudade. E eu preciso confessar: o Theo tem algo especial! Eu, então, pergunto:
— Eu tenho um irmão postiço?
Ele responde timidamente:
— Acho que sim!
Ficamos em silêncio um tempo e eu fixo toda minha atenção na boca dele, esperando que ele me inunde de novo com aquele sorriso fascinante. Ele fala:
— Já que você não quer tomar um café comigo, posso caminhar junto com você. Eu prometo ser uma boa companhia. — Ele sorri neste momento e eu suspiro. — Podemos conversar, ou posso ficar em silêncio. Você que decide!
Eu ainda estou suspirando e acho que ele nota, mas não acho r**m, ou bom, somente que ficar junto a ele, caminhando, será a melhor opção. É bom sentir a energia dele, é bom sorrir sem motivo e espontaneamente. Eu balanço a cabeça positivamente e começamos a caminhar sem destino pela rua. Ele não fala, só me acompanha e é bom ter uma companhia silenciosa, que entende a minha necessidade de não me expressar, mas ele rouba a minha concentração com seu cheiro ardente e com minha necessidade de conferir se ele está sorrindo. De repente, toda aquela tristeza que eu estava sentindo parece ser amenizada, não por sumir, mas por ele conseguir desviar minha atenção com seu jeitinho cativante.
Nem notei o quanto caminhamos, até que vejo crianças saindo da escola, então olho para o relógio e é a hora de voltar, não posso deixar minha mãe sozinha por tanto tempo. Então, falo:
— Eu preciso ir, minha mãe está sozinha e as crianças voltarão hoje da casa do pai, então, eu preciso dar apoio a ela.
Ele fala:
— Sua irmã está internada de novo, não é?
Eu pergunto, tentando me familiarizar com assunto, afinal, ele deveria saber bem mais que eu:
— É sempre assim? Você sabe quanto tempo ela demora?
— Depende, mas geralmente ela passa uns três meses fora.
— Ela tem quantas crises no ano?
Ele sorri timidamente e fala:
— Eu achava que era exagero do seu pai, mas você realmente não sabe nada da sua irmã?
Theo, você precisa parar de ser tão lindo, por favor!
Eu balanço a cabeça negativamente e ele responde:
— Bom, nesses últimos quatro anos, talvez ela tenha tido umas oito crises grandes e algumas menores que não precisou ser internada, mas ficou sob observação em casa.
— Deve ter sido bem difícil para meus pais e meus sobrinhos.
— Sua mãe sofre mais, porque não se conforma com a situação da sua irmã, seu pai já estava adaptado e entende que é para o bem dela. E seus sobrinhos, acham que ela está de férias, viajando. Você vai ver que quando ela volta a vê-los, é uma confusão atrás de presentes que remetem a supostas viagens que ela diz ter feito. Seu pai mesmo já precisou comprar algumas coisas na internet com minha ajuda para seus sobrinhos.
— Nossa, você realmente é um irmão.
Gargalhamos juntos e até sinto meu coração acelerar ao gargalhar no modo Theo de ser. Ele finaliza:
— Só encontrei um amigo, no meio de uma cidade que quer o tempo inteiro, a todo custo, esmagar quem tenta viver em paz.
— Verdade! Bom, obrigada pela conversa, pela companhia, mas agora preciso ir.
— Desculpe insistir, mas é que seu pai havia me pedido para verificar se na escola havia vaga de trabalho para você e soube ontem que estão fazendo seleção de professores para o próximo ano letivo, pois irão ampliar o colégio.
Eu pergunto, surpresa:
— Você também é professor?
— Não, eu só comando a cantina da escola Evolução.
Meu sorriso some de imediato ao ouvir o nome da escola e fico paralisada. Ele percebe e ele fala, com cuidado e pausadamente:
— Se você quiser, pode ir comigo amanhã tentar algo por lá.
Sinto um frio na barriga ao me lembrar da escola e de tudo que vivenciei por lá e ele continua, infelizmente, sem sorrir:
— Eu sei que o seu cunhado ocupa uma das funções mais importantes no colégio, ele é conselheiro, mas seu pai não gostava de pedir favores a ele, então, eu acho que foi por isso que ele falou comigo. E como soube ontem da ampliação, se você realmente quiser trabalhar por lá, será uma boa entregar o currículo e ficar acompanhando as seleções.
Continuo sem conseguir me expressar, então ele finaliza, demonstrando preocupação:
— Desculpe se fui intrometido, eu nem sei se você está procurando emprego, só falei por quê...
Eu o interrompo:
— Não há problemas Theo. Eu só não me imaginei entrando ali outra vez, então é tudo muito novo para mim.
— Você não gostava de lá?
— Nem um pouco.
— Minha prima também não.
— Quem é a sua prima?
— A Bárbara...
Eu fico boquiaberta com essa informação. O sotaque dele realmente é o mesmo dela e, de imediato, começo a me lembrar dela, das nossas conversas, das nossas brincadeiras. É um bombardeio de passado no meu presente. Eu o interrompo:
— Desculpe, eu realmente preciso ir. A gente se vê por aí!
Ele acena para mim e responde, confuso:
— A gente se vê, Jéssica.
Chego em casa e encontro meus sobrinhos debruçados no colo da minha mãe que os beija com muito amor. Uma cena que deixa meu coração quentinho, afinal, ela está muito m*l nesses dias, com saudade do meu pai e vê-la feliz é gratificante. O Leo está de pé na sala também observando encantado a mesma cena que eu. Eu vou discretamente para o meu quarto, até que a minha mãe fala:
— Jéssica, você poderia passar um café para o Leo? Esses dois garotinhos não querem largar a vovó.
Eu balanço a cabeça positivamente sem o observar, não quero sentir de novo aquilo que senti no hospital. Passo por ele e, infelizmente, ele me acompanha. Enquanto esquento a água para preparar o café de costas para ele, ele fala:
— Eu realmente sinto muito pelo que aconteceu, não deve estar sendo fácil para você. Tudo aconteceu justamente na sua volta.
Eu respondo, sem me virar para ele, não posso correr o risco de que nossos olhos se encontrem de novo:
— Obrigada, Leo, as coisas não estão sendo fáceis, mas tudo vai melhorar.
Ele insiste em conversar:
— Eu soube que você se tornou doutora.
Eu continuo de costas para ele, demonstrando que não estou confortável em continuar conversando. Ouço-o puxando uma das cadeiras da mesa da cozinha e merda, isso vai durar mais tempo do que eu imaginei. Ele continua:
— Eu sei que já faz muito tempo que a gente....
Deixo um sorriso de deboche escapar e ele pausa. Eu viro na direção dele que está sentado com as pernas cruzadas em uma postura sexy e ao mesmo tempo imponente. Eu me encosto no balcão de lavar as louças e falo, sem o encarar:
— Olha, Leo, nunca existiu a gente, então não precisa falar nada, nem...
Nossos olhos se encontram em um descuido e meu coração acelera. Merda! Ele está mordendo os lábios e ele é lindo demais, sempre foi e agora com esse ar de homem mais maduro, é irresistível. Ele fala:
— Bom, eu queria falar que estamos com uma vaga no escritório na área administrativa e sei que você precisa de um emprego. Seu pai me falou que quando você voltasse, precisaria se recolocar no mercado de trabalho. E agora que ele está, bom, ele está sem condições de ajudar nas finanças da casa, acho que você poderia...
Pelo jeito, meu pai andou falando muito de mim por aqui. Eu o interrompo:
— Leo, como você falou, eu me formei em Biologia e me tornei doutora em ensino. Estou aqui de passagem e pretendo trabalhar em algo que eu estudei e sei fazer como ninguém. Confesso que aconteceram tantas coisas que nem consegui ir atrás de algo ainda, mas pretendo fazer esses dias. Eu realmente agradeço toda a preocupação.
Os olhos deles brilham diferente, será? Ou será que estou os observando tempo demais? Ele fala:
— Se for questão de salário, eu posso tentar ver algo, mas acho que você poderia ao menos ouvir a proposta.
— Não.
— Não?
— Não é questão de dinheiro, nunca foi. É questão de fazer o que gosta.
E o principal: não posso ficar junto de você por muito tempo.
Ele então fala, inconformado:
— Se mudar de ideia, você pode me procurar.
— Obrigada, Leo.
Ele muda o rumo da conversa com facilidade:
— E além de toda essa situação com seu pai, como tem sido os dias de volta ao Brasil?
Diferente do Theo, que só me acompanhou e que respeitou minha necessidade de ficar em silêncio, o Leo insiste em conversar e isso não é bom para mim. Eu respondo, incomodada, enquanto ele está sentado visivelmente confortável:
— Ainda estou tentando colocar a vida em ordem.
— Você pretende morar aqui de vez?
— Bom, eu queria mesmo voltar para os EUA, mas acho que vai demorar um pouco para conseguir um visto permanente. Não quero ir de novo como estudante e precisar voltar, como fiz agora.
— Você não sentiu falta daqui esse tempo todo que esteve fora?
A conversa, que já não estava boa, está ficando péssima e tomando um rumo que não é saudável para o meu coração. Então, eu tento finalizar:
— Eu fui bem feliz enquanto estive fora do país e quero voltar a morar em qualquer lugar que não seja o Brasil.
— Você não tem vontade de ser feliz por aqui?
— Eu acho que não.
— Se você não tem certeza, talvez alguém precise te mostrar que é possível ser feliz também por aqui.
Ficamos em silêncio nos observando e é o mesmo olhar de antes, aquele que a Bárbara tanto falava, aquele olhar que ela dizia que descrevia em seus livros de romances. Eu tento responder, mas as palavras não têm som. É difícil demais ter sentimentos, é muito difícil não ser insensível de novo como antes, mas por quê? Eu respondo, sem ter certeza de que está audível:
— Não se trata de alguém me mostrar um sentimento, sentimentos estão à nossa volta a todo momento. Na verdade, tudo só depende da minha vontade de querer sentir algo. E, com todo respeito, eu não pretendo querer sentir algo por qualquer pessoa que me faça querer ficar.
Eu não quero ficar, muito menos sentir algo por alguém que me faça ter dúvidas se eu devo mesmo ir embora. O lugar que eu tanto almejo achar para chamar de meu, eu ainda não encontrei ou, ao menos, até este momento eu não tenho certeza. Mas eu sei que o meu lugar não é no Brasil, nem na mesma cidade que o Tomaz mora.
Ele continua me observando e, pela expressão de reprovação, ele escutou bem o que falei. Eu preciso colocar um ponto final na conversa, então respiro fundo, buscando forças para aumentar o tom da minha voz e finalizo:
— Eu vou para o quarto descansar! Fique à vontade, Leo, se precisar de algo, minha mãe pode te ajudar.
Ele balança a cabeça positivamente, entendendo que eu já estou estafada dessa conversa e eu saio da cozinha diretamente para o meu quarto. No quarto, eu me deito na cama e fico pensando nas peças do quebra-cabeça do meu passado que eu escolhi separar e não pretendia juntá-las, até que meu pai me pediu para juntá-las por meus sobrinhos. O Theo é primo da Bárbara; a Carol, casada com o Tomaz; e o Leo, bom, o Leo agora é o pai dos meus sobrinhos.
Decido mudar de pensamento e olho o celular, em busca de algum emprego, e não sai da minha cabeça a chance de entrar no colégio Evolução e poder investigar de frente as teorias do meu pai, mas isso significa desvirar todo o meu passado e mexer nas feridas abertas do meu corpo e coração. Em contrapartida, eu também terei a chance de trabalhar com o Leo e me aproximar dele, com objetivo de abrir os olhos dele quanto à paternidade e a necessidade de intervenção em afastar as crianças do Tomaz. Mas com que provas eu irei colocar o Tomaz na cadeia?
De repente, as crianças chegam ao quarto brigando e é inevitável não me lembrar da minha irmã. Onde será que ela está? Como ela se tornou essa mãe que não tem apego aos filhos? Quando brincávamos juntas, ela sempre era a mãezona cheia de filhos e que passava boa parte do dia abraçada com suas bonecas, bem diferente de mim, que era a menina que imaginava trabalhar muitas horas por dia e vivia agarrada com o quadro de giz que meu pai havia me dado. Então, falo para os meninos, parafraseando meu pai:
— Parem, meninos! Vocês precisam brincar em vez de brigar.
Eles, de imediato, param e me olham, atentos. O Felipe fala, emotivo:
— Tia Jess, o vovô sempre dizia isso para a gente.
O Joaquim fala:
— Tia Jess, será que vai demorar para o vovô voltar?
Eu os chamo para se deitarem na cama comigo e eles se aconchegam nos meus braços, então eu falo:
— Eu não sei, Joaquim, mas vamos esperar que ele volte logo, ok? — Dou um leve beijo na cabeça deles. — E queria falar que sei bem que às vezes é difícil conviver com um irmão tão juntinho, compartilhando até data de aniversário, mas entendam que vocês são tudo um para o outro, são os melhores amigos, se conhecem como ninguém, então aproveitem suas virtudes e o fato de sempre ter alguém para brincar.
O Joaquim fala:
— Você também brigava com a mamãe?
Eu balanço a cabeça e falo, sorrindo, me lembrando das nossas brigas bobas:
— Muito, mesmo!
Eles ficam me olhando atentos esperando que eu conte histórias que vivenciamos, mas não me sinto confortável em falar sobre a Carol, então falo:
— Eu acho que poderíamos fazer algo legal juntos e esquecer toda essa briga boba. Vocês gostam de história?
O Felipe se levanta rapidamente e com olhos entusiasmados, fala:
— A gente gosta de histórias de dragões.
Eu falo:
— Bom, se vocês quiserem, podemos procurar umas histórias de dragões na internet e eu posso contar para vocês de um jeito que só eu sei.
O Joaquim fala:
— Ah, mas assistir no Youtube é muito mais legal.
Eu falo:
— Duvido que assistir às histórias no Youtube seja mais legal do que eu as contando de um jeito bem diferente.
Eu finalizo com a voz mais forte, imitando um dragão, eles começam a sorrir e o Felipe se aconchega de novo nos meus braços, falando:
— Procura aí: Dragão azul muito feroz.
Eu digito com dificuldade com as crianças agarradas em mim e o Joaquim, quando vê o que a internet trouxe como busca, fala, animado:
— Essa segunda opção, tia. Essa segunda opção parece ser muito boa.
Eu abro e começo a contar a história cheia de animação. Não é que eu levo jeito com crianças?! Elas dormiram no meio da história e o pedido do meu pai surge na minha memória. Abraçada com meus sobrinhos, eu entendo a necessidade de atender ao pedido do meu pai. Eu preciso proteger essas crianças inocentes, eu tenho este dever, mesmo que envolva revirar um passado que eu enterrei vivo dentro da minha alma.