O preço de uma Luna

1275 Words
ELE “Minha!” Disse em voz alta, incrédulo, pois nunca sequer conseguiu sonhar que um dia diria essa frase do fundo do coração. Ele era Ares, O Alfa Maldito, temido até mesmo por seu povo. Um dos lacaios de Deanera a olhou de soslaio e ela indicou que ele cumprisse o seu trabalho. Ele, então, correu para abrir a cela e dar passagem ao poderoso Alfa. Ninguém desejaria ficar no caminho do magnífico predador e a sua presa. “ Vem até mim, minha fêmea!” O Alfa ordenou, e ela instintivamente obedeceu, mas ficou parada na frente dele, com os seus belos olhos verdes fixos no seu olhar. — Sua, Alfa Ares? Mas ela é humana, como pode uma humana ser uma Luna? — Deanera questionou, confusa e desconfiada. Havia a possibilidade de Ares estar apenas interessado numa fêmea para aquecer a sua cama, e nada mais fácil do que uma humana fraca e sem valor. Ninguém se importaria com uma humana o suficiente para ir contra o Alfa mais forte em existência. “ Minha!” A sua fera repetiu, e Deanera compreendeu que testemunhava uma cena histórica, pois a terceira forma não mente. Atrás dele, na outra cela, o seu general recitou a mesma palavra, reconhecendo o seu companheiro humano, que lutava contra ele, fedendo a medo e a rancor. A fêmea de olhos verdes estremeceu e desviou o olhar de Ares para o humano, o que fez a sua fera rosnar de ciúmes internamente. Ares sentiu-se vazio ao deixar de ser o foco da atenção da sua fêmea. O general, furioso com a rejeição, gritou que marcaria o humano ali mesmo se ele não se rendesse, pois não aceitaria a rejeição da sua alma gêmea. Ares sentiu o cheiro da excitação do general, cuja natureza estava a ponto de dominar o macho humano e montar nele, para impor o domínio sobre ele, como mãos fazem na vida selvagem. Notando o horror da sua companheira ao testemunhar o macho humano ser marcado, Ares, sabendo que ela era incapaz de compreendê-lo, a puxou para junto de si, num abraço desajeitado, para que ela não pudesse ver o que fatalmente aconteceria se o macho humano insistisse em rejeitar o general. — Deanera, a minha fêmea não compreende a nossa língua. — Se a marcar, ela compreenderá, Alfa, é o seu direito. Ela é apenas uma humana, não precisa do consentimento dela. Lembre-se de que ela não sentirá o vínculo como sentimos. Ares fora rejeitado por todos na sua existência, até mesmo o seu pai o renegou, disposto a deixar a sua herança para Alaor em vez do filhote e atentou humilhá-lo publicamente. Ele sabia que uma humana não sentiria o vínculo, mas não poderia machucá-la para forçá-la a aceitá-lo. — Você tem o dom de línguas, pagarei pelo seu segredo! Deanera sorriu, satisfeita, antes de tirar um fraco de dentro do alforje pendurado no seu cinturão. — Faça-a beber isso quando voltar para a sua terra, para que ela compreenda o seu idioma. No entanto, Alfa, ela terá que beber por vontade própria. Ares aceitou o frasco sem nem perguntar o quanto ela cobraria. Não importava, ele pagaria o valor que fosse justo. Nada seria caro demais para a sua fêmea, ela era o seu tesouro, uma frágil humana que lhe fora dada pela própria deusa. A sua redenção estava nela, a sua própria existência era um sopro de luz no seu coração escuro. A humana gritou mais uma vez, apavorada, quando o general fez menção de despir o macho humano. — General Igor, controle-se, não permitirei que complete a conexão contra a vontade do humano! A voz de Ares estava ainda mais poderosa e autoritária, com a junção da sua natureza, que concordava com ele. A sua Luna teria ainda mais medo dele se testemunhasse a brutalidade de um dos seus generais ao dominar o humano e montá-lo. O lobo de Igor não teve escolha a não ser acatar a ordem do Alfa, e parou de rasgar as estranhas vestimentas do humano. A fêmea, ainda assustada, viu o general pegar o humano desacordado nos braços e segurá-lo contra o peito, cheio de alegria e de orgulho. O humano estava marcado, e embora a natureza do general ardesse por possuí-lo o mais rápido possível, admirar a sua marca no pescoço do companheiro serviu para apaziguar os seus instintos momentaneamente. Ares afastou a humana, segurou o seu rosto entre as mãos, os belos olhos verdes o fitavam, lacrimejantes. — Dois humanos, um companheiro de um general de primeira patente e uma fêmea Luna de nascimento. Teremos um banquete para celebrar essa data tão feliz! — Não preciso de banquete. — Faz parte do costume, Alfa. Já sabe como as coisas funcionam por aqui, Alfa Ares… Deanera comentou sorridente, calculando o seu lucro para aquela noite. Se o valor da alma gêmea de um general já era uma pequena fortuna, o preço de uma Luna de nascimento era incalculável. — Sei muito bem como as coisas funcionam por aqui, Elfo! Adianto que o meu povo não é moeda de troca e não sairei daqui sem os humanos! Deanera fechou a cara, irritada, pois o Alfa tinha adivinhado que ela pretendia exigir alguns machos para lhe servirem como guardas, e, por que não, sexualmente. — Beta Alaor, pague um valor justo a elfo! Ares pegou a humana nos braços, ela reagiu, gritando assustada, tentando fazer com que a soltasse em vão. — Esse não é o nosso costume, Alfa! Espere! A cerimônia de união deve ser feita em minhas terras! — Deanera correu atrás do Alfa que levava a sua fêmea para fora. — Estou pouco me fodendo para os seus costumes, Elfo! Não são os costumes do meu povo, vocês não obedecem a grande Deusa! Vários guardas de Deanera cercaram os lobisomens com lanças nas mãos. — Você deveria se envergonhar de tratar almas gêmeas como mercadoria, essa não é a lei dos deuses! Como sacerdotisa de Arádia, não devia ser tão mercenária. — Não tem o direito de julgar como eu sirvo a Deusa, quando é um maldito para a sua amada Hecate! A Cerimônia de união é muito apreciada pelo meu povo, é de praxe que os seus acompanhantes nos sirvam! Ares estacou, os seus lobos fizeram silêncio, receosos da reação do Alfa. — Nenhum dos meus homens vai te servir para te emprenhar, Deanera, mas se faz questão de satisfação carnal. — Ares fez sinal para Alaor e disse: — Beta, dê algumas moedas de ouro a mais para ela pagar algum demônio que aceite f***r com ela! O que paralisou Deanera não foram as palavras cruas de Ares, mas a aura que emanava dele enquanto falava. A terceira forma se fez presente nos olhos dele, com a promessa de uma morte lenta e dolorosa que ela preferia evitar. Ao sair da mansão da sacerdotisa Elfo, Ares olhou mais uma vez para a fêmea humana que ainda se debatia nos seus braços. Ele queria poder falar com ela, explicar quem ele era e o que eram um para o outro, mas aquele não era o momento adequado para marcá-la. Cansado da incessante rejeição dela, ele tocou a área sensível da sua clavícula com dois dedos e a fez perder os seguidos com um golpe simples e certeiro. Ele olhou para o céu, onde a Lua banhava a noite, e perguntou a grande Deusa a razão de desprezá-lo tanto. Ele sabia que não era digno de ser amado por ninguém, mas uma companheira loba teria o vínculo para compartilharem, no entanto, dar-lhe uma fêmea humana, incapaz de sentir qualquer conexão, era como torturá-lo ainda mais.
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