ELE
O seu olhar de medo o assombrava, mas os seus olhos fechados o impediam de vislumbrar a luz. Ares a tinha nos braços, ainda assim, sentia a falta do verde que o iluminou.
Ela era humana, incapaz de sentir a conexão, por conseguinte, acreditava que ela nunca o amaria, mas ele sabia que estava condenado desde a primeira troca de olhares.
— Pare, Alfa! — A voz de Deanera era soberba, acostumada a ser obedecida.
Parecia uma piada.
Os pelos da nuca de Ares eriçaram-se, as mãos que seguravam a fêmea se alongaram, garras substituíram as unhas. Parte da vestimenta da humana foi rompida, deixando uma pequena porção da pele da sua coxa a mostra. Menos de três centímetros de pele exposta foram capazes de fazer o seu sangue pulsar com ardor por todo o corpo. Dentes se expandiram, o gosto da toxina de acasalamento escorrendo pela garganta.
O que mais seria necessário para impossibilitar o controle e a fera tomar a fêmea humana ali mesmo, na frente de todos?
Fechou os olhos, concentrando-se nos batimentos cardíacos da humana, reforçando as correntes internas que aprisionavam a terceira forma.
Não era a hora, nem lugar.
Desviou a atenção para a anfitriã gananciosa. Ela estava irritada, acostumada a ter os seus desejos satisfeitos de imediato, estava disposta a cobrar do Alfa a atenção que acreditava ser merecedora.
Ares rosnou alto, os dentes que mostrou eram de guerra, encarando a Elfo que se atreveu a dar-lhe ordens. Ela deu três passos para trás com a mão no peito, recuando motivada pelo instinto de sobrevivência.
Ares não era qualquer um que ela podia seduzir e manipular, ele era um Alfa, O Alfa Maldito, assassino dos próprios pais, usurpador do trono do seu clã.
Ela respirou fundo para se acalmar, numa última tentativa de convencê-lo.
— As tochas foram acesas, um banquete está sendo preparado com o nosso melhor vinho. Pela lei do concílio, a cópula com humanos deve ser completada na minha presença, para me certificar de que não há engodo na aquisição deles.
Beta Alaor, temendo que Ares perdesse o controle da sua fera e exterminasse um povoado inteiro de Elfos, tomou a palavra:
— Pela lei da grande Deusa, uma Luna deve ser tomada diante do clã, no seu território, para ratificação do vínculo com as fêmeas. Serão os anciãos do concílio mais importantes do que a própria Deusa?
Ela buscou mentalmente um contra-argumento, mas o Beta tinha razão. A deusa estava acima dos anciãos.
— Deanera, este caso é diferenciado, permita-me que lhe pague o que devemos, com uma substancial quantia para cobrir quaisquer dissabores. Alfa Ares quer somente levar a sua fêmea para casa.
Do lado de fora da mansão, lobos carregavam baús pesados, recheados de ouro, pedras preciosas, pérolas e especiarias. Foi um conselho da Oráculo que levassem na caravana suficiente p*******o para os Elfos.
Os olhos de Deanera brilharam diante de tão generosa demonstração de poder financeiro, embora, para Ares, todo aquele material pouco valesse em comparação ao que carregava nos braços.
Bens materiais ele tinha de sobra e sempre poderia adquirir mais.
Ares entrou na carruagem sentindo-se desconfortável, lugares fechados e pequenos traziam a tona lembranças que ele desejava apagar da memória. Ele, assim como os lobos que o acompanharam, tinham viajado na forma de lobos, sendo a carruagem usada apenas para transportar os bens materiais.
Os belos e potentes cavalos reconheciam o Alfa e relinchar satisfeitos ao vê-lo retornar. O clã era conhecido pela criação de cavalos, gado e outros animais que serviam de alimento em tempos de frio.
A predileção de Ares por cavalos se iniciou nas noites em que era obrigado a dormir nos estábulos e os animais eram a sua única companhia por dias, até semanas.
A razão para Ares decidir ir sentado na carruagem era a fêmea que mantinha nos seus braços. A sua fera não concebia a ideia de ficar longe dela, pois até mesmo ela acreditou não ser merecedora de uma alma gêmea.
A Caravana adentrou o território e vários membros do clã olharam com curiosidade, mas sem muito interesse. Humanos eram seres inferiores, fracos, inúteis e nocivos, e o desejo de todos era que nenhum companheiro de um lobo fosse encontrado entre eles.
Conhecendo o preconceito do seu povo, o qual ele mesmo compartilhava, Ares ordenou que os seus homens abrissem o caminho para que entrasse com a sua fêmea na sua tenda sem que ninguém tomasse conhecimento. Ele manteria a humana em segredo por algum tempo, enquanto buscava um meio de comunicar ao clã sem criar mais alvoroço do que o necessário.
Antes de deitá-la na sua cama, ordenou a uma das servas que trocasse toda a roupagem, era como se temesse contaminá-la com algo que tocou o próprio corpo. Pousou-a na cama com cuidado, e a sua mão ficou parada no ar, tentado a tirar o pano que cobria o seu rosto. O braço tremia com o esforço necessário para não desvendar o mistério da sua aparência.
Ela se moveu, e ele afastou-se, aguardando que despertasse a certa distância. A proximidade dela era perigosa, era difícil controlar a sua natureza com o aroma dela espalhado em todo o ambiente.
A humana abriu os olhos e o seu coração parou de bater por um segundo quando os olhos verdes o fitaram. Ela sentou-se rapidamente, tocou o pescoço e o ombro, assustada, e o seu doce perfume se misturou ao medo. A sua voz era melodiosa, entrando por seus ouvidos e entranhando todo o seu ser. Sua fera a observava atenta, admirando a criatura que desencadeou emoções novas, que se acreditava incapaz de sentir.
Ela levantou, devagar, parou diante dele, que era incapaz de compreender o que dizia.
Ares fechou os olhos na tentativa de manter a sua natureza acorrentada, buscando a razão acima dos sentimentos.
— Não tenha medo de mim, fêmea! — Ele disse, suavizando a voz o máximo que pôde, mesmo sabendo que ela não tinha como entender.
*****
ELA
Acordei um pouco zonza, com uma for irritante no pescoço. Lembrei-me dos últimos acontecimentos e passei rapidamente a mão pela área dolorida, imaginando que fui mordida algum vampiro ou algo do tipo. Olhei em volta, estava em uma espécie de barraca enorme e luxuosa, coberta por tecidos e peles de animais.
O deus grego estava me olhando, o seu rosto não tinha expressão alguma, e a sensação de opressão cresceu no meu peito.
Eu estava viva e inteira, ainda… Esse homem lindo parecia mais perigoso do que os outros que vi quando estava na cela, perto dele, Amir, antes tão intimidador, não passava de um cordeirinho.
— Quem é você? Por que me trouxe aqui?
Ele me encarou em silêncio, os seus olhos não desviavam dos meus, acho que pretendia me hipnotizar d enovo, pois assim que o encarei, nada mais parecia ter importância.
— Por favor, não me machuca, não me morde, o meu sangue nem deve ser bom, sabe? Eu tive varíola quando criança….E cachumba, sabe o que a cachumba pode fazer com… com… — Ele deu um passo na minha direção, atento à minha reação, como se fosse um leão avançando até uma gazela.
Ele levou o dedo indicador a boca e balançou a cabeça de um lado para o outro, em negativa.
— Você não está entendendo nada do que eu estou falando?
Ele inclinou a cabeça como se tentasse decifrar a minha fala.
Caramba, que homem bonito! Sempre imaginei os monstros e vilões das histórias horrorosos, mas o monstro vilão que provavelmente estava prestes a matar-me tinha a aparência dos sonhos molhados de qualquer mulher.
A calça que vestia se ajustava as pernas bem torneadas assim como a camisa estranha se moldava ao peito musculoso. Os pelos do rosto o tornavam ainda mais másculo, os meus dedos se moveram quando imaginei qual seria a sensação do toque…
De novo não, Esmeralda! Foco! Nada de desviar a mente da realidade! A sua vida está em risco aqui!
Ele virou-se e saiu da tenda, me deixando sozinha. Cheguei a me perguntar se seria possível simplesmente escapar dali, mas ele retornou com um jarro e um copo. Ele derramou o liquido no copo e me ofereceu.
Estava com sede, mas hesitei em aceitar. Ali poderia ter algum tipo de veneno, mas, sejamos francos, se ele quisesse matar-me, teria muitos métodos para isso, e morrer envenenada não era o pior deles.
Vendo a minha hesitação, ele bebeu metade do conteúdo, creio que para me provar que não havia perigo. Dei de ombros e aceitei. Ele me observou enquanto segurei o copo e cheirei o líquido. Era como um bom vinho, embora o cheiro da uva fosse mais pungente do que o que eu conhecia.
Levantei o niqab e bebi um gole, o sabor era fresco e agradável, então bebi tudo e entreguei o copo de volta. Ele seguiu em encarando, e o seu olhar constante estava me deixando constrangida.
— Precisa mesmo ficar me olhando desse jeito? — Perguntei, ao que ele não reagiu de forma alguma. — Então… bonitão, você é algum monstro? Vampiro? Tipo… É mais bonito do que o Damon do TVD…. Ãh… Olha, eu sofro de ansiedade, eu vi o que os seus amigos fizeram lá na cela, mordendo os outros, e se vai me matar… .eu prefiro que não, claro… mas, eu sou muito nova para morrer… — Respirei fundo e deixei o meu corpo cair sentado de volta na cama. — Não está entendendo nada, deve estar aí pensando em como vai me devorar… Seria uma pena morrer tão nova nas mãos do cara mais gostoso que vi na vida!
— Não vou te morder… ainda…
— Ai, caramba! Você me entendeu… O que falei sobre ser bonitão… Você vai me morder? Você é mesmo um vampiro?
— Não.
— Não como “não vai me morder” ou não como “não sou um vampiro”?
— Não sou um vampiro.
— Você é um dos caras maus? — Eu sei, uma pergunta i****a, mas eu estava com medo e a ansiedade não deixava o meu cérebro funcionar direito.
— Sim.
Sério isso? Ele mesmo diz que é mau… eu vou morrer… eu não quero morrer,só queria fugir…
— Oh, Allah… Você sabe que podia ter mentido, né?
— Eu não minto.
— Fala sério ou está de brincadeira?
— Eu não brinco.
— Não brinca e não mente? — Ele apenas me fitou, o rosto sério e frio.— Se não mente, me diz, quem é você, que lugar é esse, e por que me trouxe aqui?
— Sou Alfa Ares, esta é a minha tenda e você é minha.
Alfa…o que é um Alfa? Eu sei daqueles alfas redpills, mas são apenas uns pobres coitados com traumas de chifres, a não ser...
— Você está dizendo que é um Alfa? Tipo, um lobisomem que manda nos outros?
Ele ergueu uma sobrancelha e me dei conta de que essa foi a primeira expressão facial que vi nele.
— Conhece o meu povo?
— Um pouco, mas, de livros de romance de baixa qualidade com Alfas e Lunas e rejeição e sempre tem uma loira oferecida que seduz o alfa que não vale nada, mas o autor trata como vítima…
— Você é a minha Luna. — Ele interrompeu-me.
— Eu? Como assim?
— Ao fim da lua minguante vou te marcar e completar o vínculo.
— Mas… eu nem te conheço!
— Vai me conhecer.
— E se eu não quiser? E se eu te rejeitar?
— Não.
— Eu, Esmeralda, Rejeito você, Alfa Ares, como o meu mate!
Pronto, rejeitei ele, logo cairá no chão com dor e eu vou fugir!
Ele me encarou com as sobrancelhas franzidas, relógio imaginário fazia tic tac e nada…
— Não funcionou?
— O quê?
— Eu te rejeitei, quebrei o bond! Não foi…? Você pode arrumar outra agora!
— Você é a minha fêmea, não preciso de outra.
Nos livros parecia tão fácil…