ELA
— Espera! Espera! — Disse forçando o meu pé no chão para que o Alfa parasse de andar.
Ele estava me puxando pela mão, e ainda que tentasse me soltar, era como se ele fosse feito de pedra, não cedia e nem sentia minha oposição.
— O que foi? — Perguntou, me olhando com aquela cara de gelo inexpressiva e magnética.
— Eu preciso ir ao banheiro! — A minha bexiga já estava doendo e o Alfa permaneceu me encarando sem dizer nada.
— Escuta, você mora numa barraca grande e talz, não sei se vocês fazem no mato, feito lobos, mas sem banheiro, não dá.
O rapaz de nome Antero, cujos olhos voltaram ao castanho, m*l escondeu o riso.
— Vamos! — Disse o Alfa voltando a andar e me puxando pela mão.
Eu parecia uma criança sendo puxada pelos pais, com os meus passos bem menores do que os dele, e o bruto nem se deu conta de que eu estava meio andando e meio correndo para acompanhá-lo.
E eu nem sou tão baixinha assim, ele que é gigante, deve ter quase dois metros de altura, sem falar em todos esses músculos. Quer dizer, Alfa Ares não era musculoso demais como halterofilistas que vi em revistas, mas tinha o corpo bem definido, equilibrado. Imagino que seria perfeito para o papel de um mafioso dominador dos livros que li, escondido da minha mãe.
Mas a melhor parte dele é a b***a!
Agora que ele andava apressado na minha frente, a calça que vestia, que nem sequer era justa, moldava o bumbum perfeito. Me pus a imaginar como ele seria sem roupas, as costas em V, ombros largos, hum….
O Alfa estacou de repente, rosnando baixinho como um cachorro desconfiado.
— Se não parar, vou te marcar aqui mesmo! — Ele disse em olhar para trás.
O tal de Antero mordeu os lábios segurando o sorriso, olhando para o chão com as bochechas vermelhas. Tímido ele, quem diria…
— Está falando comigo? — Perguntei erguendo uma sobrancelha
— Posse sentir o cheiro do seu desejo e tenho um limite para manter o controle, não o ultrapasse!
— Tá bom….— Engoli em seco.
Apesar do constrangimento, estava mais preocupada com o fato do faro deles ser tão poderoso. Disfarcei e cheirei debaixo do braço, mas estava tudo bem…
— O Olfato de vocês, lobisomens, é tão bom assim?
— O nosso faro é normal, o de vocês, humanos, é que é fraco.
Antero suspirou e abaixou a cabeça, parece que a frase do Alfa o incomodou mais do que a mim, não sie a razão, visto que ele também é um deles.
Viramos e notei que saímos da estrada de terra param uma área pavimentada. Um pouco adiante, avistei uma figura sentada no chão, parecendo um pedinte. Conclui que existiam moradores de rua entre os lobisomens também, até notar que o maltrapilho tinha uma corrente presa em seu pescoço, com a outra extremidade fixada num poste, também de metal.
Ares e Antero caminhavam como se ele fosse inexistente, da mesma forma que nós, humanos, fazemos quando avistamos os sem-tetos, mas, um frio percorreu a minha espinha quando reconheci o homem.
Era Amir
Ele estava com o rosto quase irreconhecível pelos hematomas, sujeira, a barba por fazer e cabelos desgrenhados. Muito diferente da figura altiva e asseada que ele mantinha como o homem mais rico da nossa cidadezinha.
Quando me viu, ele levantou, um pouco cambaleante, e tentou correr na minha direção, porém, logo após alguns passos, foi impedido pela corrente.
— Esmeralda! Você está viva!
— Amir? O que houve contigo?
O Alfa rosnou alto, mostrando os dentes para Amir de um modo assustador e me envolveu nos seus braços.
— Não se dirija a minha fêmea, humano!
— Eles são monstros, eles…
O Alfa me puxou e afastou-me do meu ex-marido como se ele tivesse alguma praga contagiosa.
— Por favor, Esmeralda, me ajuda, um copo d'água, só um copo d'água!!
O lobão avançou em Amir e o segurou pelo pescoço apertando bem em cima da “coleira” da corrente. Amir gritou de medo, me encarou com os olhos suplicantes e implorou por ajuda, o que deixou o Alfa ainda mais furioso.
— Não olhe para a minha fêmea, humano!
— Ares, pare, você está matando ele! — Eu não gostava nem um pouco de Amir, mas nem por isso queria vê-lo morto na minha frente, ainda mais por motivo tão torpe.
O Alfa largou o pescoço de Amir, que caiu no chão.
— Esta defendendo outro macho contra mim?
— Eu? Não! Quer dizer, eu só não quero que mate ele à toa! Olha o estado dele, é assim que tratam nós, humanos, neste lugar?
— Alfa Ares, peço perdão em nome do meu companheiro, ele não sabe o que está fazendo, não tem modos nem doutrina! — Disse o grandão que mordeu Amir na cela, esbaforido, pois tinha vindo correndo de algum lugar.
— Controle o seu macho, general Igor, não serei leniente com desrespeito em meu clã!
— Sim, senhor, Alfa! Ele já está sendo punido! Ficará na coleira sem comida ou água por três dias!
— Você vai matá-lo desse jeito! Não está vendo o estado dele? Vai morrer desidratado!
Confesso que, ao longo do tempo em que fui casada com Amir, por diversas vezes, imaginei ele levando uma surra violenta, na maioria, era eu quem estava batendo na cara dele. Porém, uma coisa é o que pensamos na hora da raiva e mágoa, outra coisa totalmente diferente é quando vemos uma figura patética, vulnerável, enfraquecida, toda machucada, implorado por ajuda.
Ninguém tem o direito de acorrentar uma pessoa, agredi-la e afirmar que é para o bem dela. Para tonar tudo ainda mais bizarro, eu sentia um forte impulso de defendê-lo, não por ser quem era, mas por eu ser quem sou. Algo dentro de mim me fazia reagir como se fosse a salvadora dos fracos e oprimidos, uma super-girl sem poder nenhum e que, se não tomasse cuidado, estaria na mesma posição do mocorongo que tentava ajudar.
— Com todo o respeito, Luna, o meu macho se recusa a se submeter a mim, uns dias na coleira não farão m*l a ele!
E lá vai o impulso incontrolável de dar voz a alguém em situação de risco…
— Ele não é um de vocês, é humano, três dias sem água e ele vai sair daqui num caixão! Dófona me disse que lobisomens tem grande amor por seus companheiros, — Eu queria muito calar a minha boca antes que sobrasse para mim, mas ela não estava obedecendo ao cérebro. — É isso que vocês chamam de amor? Abusar fisicamente de quem chamam de alma gêmea?
Eles ficaram em silêncio, digerindo as minhas palavras. O General de cabeça baixa, envergonhado, Amir escondeu o rosto, mas as lágrimas que escorriam por seu queixo eram um interessante indício de que estava chorando, Antero estava com um pequeno sorriso incontido no rosto, e o Alfa… Ares estava me encarando com o seu rosto gelado, olhos fixos nos meus, como se quisesse alcançar a minha alma.
Cruz credo, que olhar era aquele, parecia um lobo esfomeado olhando para um bife acebolado… acho que molhei a minha calcinha…
— Me perdoe, meu macho, não levei em conta a sua “situação” de humano. — Disse o general, embora o seu rosto contivesse mais desdém do que arrependimento. — Te darei água e algo para comer, mas, vai permanecer na coleira por se negar a se submeter a mim.
— Manter alguém acorrentado é desumano! — Disse em voz alta e ríspida, mas logo em arrependi. Não sei o que estava acontecendo comigo, mas algo em mim me empurrava contra aqueles lobos na defesa do homem que eu desejava que tomasse uma surra dias atrás…
— O meu companheiro é um macho, Luna, desafiou-me e perdeu. Tenho o direito de montar nele e completar o nosso vínculo, e ele se recusa!
— Eu não sou um “maricas”, e ele quer fazer…. Esmeralda, o que ele quer é haram!
Oh…O general estava punindo Amir por não se deitar com ele…. Um homem enorme daqueles…. Me deu até calafrios imaginar a cena.
— O que é haram? — perguntou o general.
— É pecado, contra as leis de Allah, um homem não deve se deitar com outro homem.
— A Grande Deusa fez o corpo do meu companheiro para aceitar o meu. Não há pecado em tomar o que me pertence!
— Mas ele não deu consentimento, então, você não-
— Chega, fêmea, esse não é sue assunto para se intrometer! — Disse o Alfa parecendo furioso ao me interromper.
— Mas a Dófona disse que eu sou uma Luna e que é minha função-
— Você é minha Luna, mas ainda não é Luna do clã, não enquanto não te marcar e completarmos o nosso próprio vínculo. A conexão deles não é da sua conta!
— Mas vai ser, e eu não admito que-
— Nunca será, você cuidará das fêmeas, os machos não são um problema teu!
Primeiramente, esse Godzilla me interrompeu várias vezes seguidas, e eu estava fervendo de raiva. Não conseguir nem terminar o raciocínio que ele me cortava, que raiva! Eu estava disposta a discutir com ele como nunca fiz antes com ninguém, não fosse pela minha bexiga doer e eu ter que fechar as pernas e pressionar as coxas para evitar uma humilhação ainda maior.
— Alfa… — Comecei a falar, encarando ele, desafiando que me interrompesse mais uma vez, só mais uma vez!
— Luna… — Ele me encarou de volta, e apesar do rosto gelado, os seus olhos pareciam faiscar.
O filho da mãe estava se divertindo com aquilo? Não é como se fosse possível ler qualquer emoção na cara de iceberg dele, mas o brilho nos olhos, eu juro que… Argh!
— Eu preciso ir ao banheiro agora!
— Me acompanhe, minha Luna!
Ele colocou a mão na parte superior da minha cintura e guiou-me pelo caminho, deixando para trás Amir e seu abusador.
Há poucos metros daquela espécie de praça com postes e correntes, o Alfa seguiu para um belo sobrado, bem parecido com uma casa de subúrbio classe média de onde vim. Tinha paredes brancas e varandinhas com flores nas grades externas, uma graça. Se não estivesse quase me mijando, teria apreciado mais a arquitetura, mas tive que me ocupar em empurrar o Alfa de lado assim que abriu a porta e correr para dentro na caça ao banheiro.
— No segundo andar, a terceira porta a direita!
Oh, Allah, que alívio!
O banheiro tinha tudo o que tinha na minha antiga casa. Um box com chuveiro, provada, uma pia bem grandona, maior do que da cozinha da casa de Amir, com muita coisa no balcão, como cremes, maquiagem, sabonetes, perfumes… é um Chanel Mademoiselle isso aqui?
Tinha todo tipo de produtos humanos e bem caros. Pareciam novos, e cheiravam como recém-adquiridos.
Interessante…
Não resisti, e fui tomar uma chuveirada, para lavar os cabelos com esse xampu e condicionador caríssimos que eu sempre quis comprar e não tinha grana!