espreguicei-me diante do espelho, e não tive vergonha do meu corpo, nem da minha nudez. Cada pedacinho de mim era parte do meu ser, não era pecado existir como sou.
Não contente com as mordidas no meu pescoço, Ares decorou a minha pele com chupões.
Meu lobão é bom no que faz…
Antes de sair, me acordou para se despedir e disse que viria buscar-me para almoçarmos juntos no refeitório comunal do clã.
Ao procurar algo apropriado para vestir, notei que o closet havia mais duas caixas cheias de lingerie. Olha só, o lobão gosta das vestes íntimas dos humanos! A maioria de calcinhas de renda vermelhas, uma menor do que a outra.
Na velocidade em que ele as rasga, é compreensível comprar em lotes.
Já que pretendia me exibir para os membros do clã, optei por vestir algo que trouxera consigo na mochila. O meu vestido favorito, verde da cor dos meus olhos, para evidência-los.
O que foi?
Tenho orgulho deles, ué!
Também sou vaidosa, e com um lobão desses, tenho que andar apresentável.
Mais um presente para a lista além o fogão elétrico: Vestidos de noite! Preciso conversar com ele antes para assegurar que não o levarei a falência.
— Está muito bonita, Luna!
— Obrigada! — Dei uma voltinha. — Gostou? É um vestido do meu mundo, trouxe na mochila.
— Gostei, sim, estou certo de que o Alfa gostará mais ainda.
— Será que ele vai demorar? Estou cheia de fome.
— Quando entreguei a lista dos lobos que escolhi para a sua guarda, ele já estava terminando a organização da segurança do território para o evento de amanhã.
— Nem me fala nesse evento, estou super nervosa e Ares e muito reticente sobre os costumes locais.
— O Alfa é sempre reticente. — O gama riu ao falar o óbvio.
— Ele disse que virão alguns Alfas, e outros seres sobrenaturais que são aliados. Fiquei aflita com a noticia de um evento tão solene, é como um baile de reis e rainhas!
— Pode se dizer que é uma comparação, mas, Alfas como Ares são ainda mais autoritários, visto que são escolhidos pela própria Deusa.
— Ah, acredite, meu caro Gama, temos a nossa cota de direito divino dos reis no meu mundo também. Usam religião para justificar muitos atos.
— Um humano coroado continua sendo vulnerável como qualquer outro, mas um Alfa como Ares, quando se torna líder do clã, recebe uma onda nova de poder, assim como quando se une a sua Luna. Eu mesmo fiquei mais forte após reconhecê-la. Olha, dê uma olhada!
Lá estava o gama tirando a túnica para me mostrar o corpo mudado.
E estava mesmo, parecia que tinha se tornado rato de academia e devorador de esteroides em pouco tempo.
Tive que olhar e conferir se ele estava falando a verdade. Os sacrifícios que uma luna tem que fazer…
.
— Quer dizer que Ares ficou mais forte depois que me mordeu?
— Sim, senhora! É algo que só acontece entre os três escolhidos de Hecate.
— Três? Tem mais dois como Ares?
— Sim, os três tem o dom da terceira forma, uma fera mutante entre humano e lobo, mais veloz e mais ágil que qualquer outro alfa comum. Alfa Ares sozinho derrotaria facilmente um batalhão.
— Você os conhece?
— Eles são nossos aliados. Alfa Orion é um conhecido do nosso Alfa, ele é jovem e o pai está vivo. Em consequência, ainda não herdou o trono, seu clã fica muito distante.
— Ele tem uma luna?
— Não, mas tem uma namorada escondido dos pais, Alfa Ares o auxilia nas escapadas.
— Olha só, que alcoviteiro! E quem é o outro?
— Alfa Derik, do clã dos Lobos Negros, que divide uma floresta conosco. Ele era conhecido por ser o mais tranquilo e jovial dos três, porém, após a recente morte da sua companheira, ele está diferente.
— Eles virão para o baile de amanhã?
— Sim, e farão parte do cortejo e do ritual de Baco.
— Como é esse ritual de Baco? Você gosta?
— É bem comum na nossa espécie, e é claro que eu gosto! Tem muita comida, as fêmeas não marcadas dançam e escolhem-
A porta abriu e o meu lobão entrou com um monte e plantas nas mãos. Eram galhos arrancados com flores de todo o tipo misturadas.
Ele estendeu os braços e ofereceu-me aquilo.
Devo salientar que eram muitos galhos aleatórios e eu não conseguiria segurar aquilo nem se quisesse… e eu não queria. Fala sério, o meu vestido lindo seria arruinado com aquilo!
— O que é isso, Ares?
— O General disse que o macho dele fez uma lista de como cortejar uma fêmea humana.
— E?
— Ele escreveu que fêmeas humanas gostam de flores.
Que fofo, o meu lobãozinho. Aquele era o arranjo mais horroroso do mundo, mas o gesto fez-me suspirar.
— Ares, não precisava todo esse trabalho! Gama, pede para alguém plantar isso do lado da casa.
— Sim, senhora!— Respondeu o Gama contendo o riso.
Gama debochado, vou puxar a orelha dele!
— Não gostou? — Perguntou depois que o gama saiu com o matagal.
— Gostei, claro! Quero plantá-las para não morrerem!
— Esta mentindo! — Ele me encarou com o olhar frio de antes.
— Toda hora você diz que estou mentindo, isso magoa!
— Toda hora você mente!
Suspirei ruidosamente e segurei o seu braço, trazendo-o até o banheiro para lavar as suas mãos.
— OK… Eu gostei do gesto, acho lindo que esteja pensando em mim e me agradando. — Meu lobão ficou quietinho enquanto eu limpava suas mãos e braços…Tem como ser mais gostoso? — Que tal reduzir para uma dúzia de flores, assim, posso por num jarro aqui na mesa, para enfeitar? O que acha?
— Tá bom, doze flores apenas. Você deve me agradecer com um beijo!
— Oh… Está me agradando para ganhar beijo, Alfa? Está ficando bem safadinho!
Ele rosnou baixinho, agarrou a minha nuca e tascou um beijão daqueles de fazer qualquer mulher ver estrelas.
******
Ares abriu a porta, e saiu andando na minha frente. Eu estava esperando que caminhássemos de mãos dadas, mas ele seguiu adiante, caminhando como um rei, uma aura de autoridade sem igual emanava dele. O gama também tinha uma postura formal, e se mantinha alguns passos atrás de mim.
Ares era a imagem de uma majestade inacessível. Seus passos eram largos e decididos e eu teria que dar uma corridinha para acompanhá-lo.
O que eu não faria!
— Ares, espera, eu não ando tão rápido assim!
Ele estacou e eu me apressei para alcançá-lo, e tão logo me aproximei, ele voltou a andar na minha frente, embora menos rápido, mas mantendo uma distância.
Ah, não! Mas não vai ser assim nem fod…!
— Ares! Pare agora mesmo!
Ele estacou de novo, mas dessa vez olhou na minha direção. Eu estava pronta para perguntar o que diabos ele pensava que estava fazendo, quando aquela voz ressoou, me fazendo revirar os olhos.
— Ares! Que bom te ver, tenho tanto para te contar!
Ela segurou o braço dele e o puxou para seguirem andando na minha frente, e ele? Ele foi com ela!
Eu parei, braços cruzados sobre o peito e uma sobrancelha erguida. Quanto tempo vai demorar para ele notar que não o estou seguindo?
— Algum problema, Luna? — Perguntou O gama, ainda atrás de mim,
— Está andando aí atrás como a minha sombra, porque, hein?
— É a primeira vez que é introduzida ao clã na companhia do Alfa, estou apenas seguindo as regras de conduta,
— Regra de conduta uma ova! O Alfa sair de braços dados com a surucucu e eu ficar atrás feito uma cadelinha é regra me que planeta?
Sim, eu estava descontando a minha frustração no obre ômega! Respirei fundo para falar com mais calma.
— Hum… Ela não deveria segurar no braço dele, é inapropriado, mas eles sempre foram assim…
— Ah, é? Que gracinha! Então não podemos atrapalhar o casalzinho! Venha, vamos para o outro lado!
Puxei ele para passearmos na direção oposta a do vira-latas.
— Mas, Luna, o Alfa reservou-
— O meu nome é Ari, não estou nem aí!
— O seu nome é o quê? — O gama perguntou confuso.
— Esquece, gama, é uma frase do meu mundo… Significa “ Que se dane!”
— Está com ciúmes?
— Eu, com ciúmes? Claro que não!
— Eu gostaria de ver a minha companheira com ciúmes, brigando com outras fêmeas por mim!
— Não é nada bom fazer a sua namorada sentir ciúmes de propósito, gama, ela pode ficar magoada e descontar!
— Eu não faria isso de propósito, só que….
O gama parou de falar de repente, olhos arregalados, farejando o ar.
— O que houve? — Perguntei preocupada quando ele seguiu uma direção aleatória cheirando o vento.
Ele não respondeu, seguiu andando cada vez mais rápido, rosnando baixo. Olhei na direção para qual ele rosnava e vi um jovem casal discutindo.
“ Você precisa manter a calma e obedecer às regras!”
“ Elas não mandam em mim, não vou lavar a roupa delas!”
“A Beta resignou tarefas para você, para ser útil no clã! Temos a chance de viver em grupo, protegidos!
“ Não precisamos viver aqui, Anias! Nós cuidamos um do outro, sem sermos escravos de ninguém!”
“ Não somos escravos, eu fui aceito no exército! Fina, nos foi dado uma cabana, finalmente temos um lar, Alexa!”
O rapaz falou algo para a menina, ela suspirou e pareceu aceitar e eles se abraçaram. Uma cena muito bonitinha, não fosse o rosnado alto do Gama me assustando.
Pensei que o meu coração saltaria do meu peito quando o gama saltou no casal, agarrou o rapaz e atirou longe.
— Minha!
Ele gritou, os olhos prateados reluziam como na primeira vez que nos encontramos. A menina, de nome Alexa, eu suponho, o encarou com olhos arregalados, andando lentamente de costas para longe dele.
O rapaz levantou do chão num pulo e jogou-se para cima do Gama. Tadinho, magrelo como era não teria a menor chance.
Normalmente, em situações como aquela que não me dizem respeito, eu daria a volta e sairia de fininho antes que sobrasse para mim, no entanto, o estranho e forte impulso de me meter e resolver a questão venceu. Sem que eu pensasse direito no que estava fazendo, fui até a dupla de encrenqueiros, onde o gama obviamente estava dando uma surra no magrelo.
— Parem com isso agora!
Gritei com uma potência na voz estranha até para mim. Mais estranho do que isso foi que o gama parou com o braço estendido antes de acertar mais um soco no magrelinho. O magrelo parou do mesmo jeito e até a menina parou de tentar fugir e parecia uma estátua.
Olhei de um lado para o outro, alguns transeuntes haviam parado para assistir à confusão, eles me olhavam com incredulidade e admiração.
O gama ajoelhou-se na minha frente, ainda meio rosnando.
— Perdão, Luna, mas este macho estava com as mãos na minha fêmea!
A mocinha gaspeou, encarou-me pálida e caiu no chão feito um saco de batatas. Corri até ela e ergui a sua cabeça no meu colo.
— Olha o que você fez, Antero! Ela desmaiou!
— Sinto muito, Luna, mas ela é minha, outro macho não deveria tocar no que é meu! — Ele vociferou rosnando na direção do magrelo que olhava para nós, assustado.
Engraçado que ainda agora ele falou com se eu devesse considerar normal a surucucu tocar no que é meu, né?
— Eu sou irmão dela, seu i****a, e ela é apenas um filhote, fique longe dela!
O gama encarou o rapaz, boquiaberto, e olhou para mim em seguida, engolindo em seco.
— Tsc tsc tsc…. Jeito r**m de conhecer o futuro cunhado, gama, mandou muito m*l!