Esmeralda, a Luna humana

Dúvidas

ELA

Não acredito que esse brutamontes arrancou o meu niqab e ainda rasgou tudo! Bem, eu não gosto de niqab, de qualquer jeito, foi imposição da megera da mãe de Amir, mas ele não tinha esse direito! Ainda saiu daqui irritado, falando que dormirei sozinha como se fosse uma punição.

Lobisomem i****a, grosso, bruto, gostoso pra caramba!

Nessas horas que vejo que estou ficando maluca. Estou num lugar estranho, cercada por seres ainda mais estranhos, e algo dentro de mim sente um prazer enorme em contrariar o líder bonitão dos monstros.

Tenho medo do que tudo isso representa, mas estou confusa por sentir-me fortemente atraída por ele, como nunca me senti por homem nenhum. Tudo bem que ele é lindo demais, mas sentir vontade de rasgar a blusa dele e lamber o seu peito não pode ser considerado sanidade, pode?

A tal de Dófona veio aqui fingindo ser amigável e disse-me que é impossível voltar para o meu mundo, porque o tempo passa diferente neste universo.

Um dia aqui são anos na Terra.

Por mais que tenha visto tanta coisa absurda, ainda acho que isso é mentira e buscarei um meio de escapar daqui. Dófina me disse também que o Alfa manda em tudo e em todos e que todo mundo tem medo dele, mas que eu sou a sua alma gêmea.

Quem acreditaria que almas gêmeas existem? Bem romântico, mas não aconselharia nenhuma garota a ter tamanha esperança.

Para escapar daqui, terei que agir com sabedoria e frieza. Para começar, já que o Alfa acha que eu sou a sua amada prometida pela deusa pagã deles, terei que me aproveitar disso. Vou fazer com que confie em mim, me mostre o lugar, as entradas e saídas, e na primeira oportunidade, vou dar no pé.

Ele me devolveu a mochila que preparei para a fuga, o conteúdo está intacto, revirado, mas intacto. O dinheiro continua aqui, pelo menos esses lobos não me roubaram.

Vou descansar essa noite e pensar na melhor maneira de escapar.

*****

ELE

— Ela é mentirosa!

— Também notou? Eu achei uma gracinha o jeito dela de mentir.

— Ela é fraca!

— Os humanos são fracos por natureza, os seus filhotes levam tempo demais para fazer coisas simples, como andar e se alimentar sozinhos!

— Como ela pode ser Luna, tão fraca e frágil? Qualquer fêmea que a desafiar pela posição de Luna vencera sem esforço! Não posso suportar algo assim.

— Ela é Luna, eu sei, você sabe!

— O resto do clã não saberá, não é fácil sentir a sua aura, especialmente lobos inferiores. Duvidarão de nós, ainda mais com a sua visão, que fez todos acreditarem que eu era realmente amaldiçoado sem companheira.

— Eu tenho o dom da vidência, como as pessoas interpretam as visões não é da minha responsabilidade... Ela defendeu-se, e, no fundo, eu sabia que ela estaca certa. — O gama a revelará para todos.

— Não termos gamas em nosso clã! — Mais um indício de que eu não teria uma alma Gama era a ausência de Gamas entre os membros do meu clã.

— Será que não? Ela estava em outro mundo, nenhum gama a sentiria até chegar em nosso universo. Não me surpreenderia se alguém desenvolver os traços agora que ela está aqui.

— Depois de maduro?

— Exatamente! Ser gama é escolha da grande Deusa, não é como ser Delta, Alfa ou ômega. Se a Luna não existe nesse mundo, o gama não existe tampouco. Se a Luna entra no nosso mundo, passa a existir, e o gama se revelará.

— São apenas suposições. — Murmurei sem esperança.

— É a lógica, meu Alfa, não existe lua sem céu, nem Gama sem Luna.

O otimismo dela não me contagiou.

— Ela não me quer, não há desejo, não sente nada… — Disse Finalmente o que me levou até a tenda de Dófona.

— Meu Alfa, o senhor vai precisar ser paciente. Os humanos sentem, sim, a conexão, mas não tão rápido e forte como os lobos. O amor dos humanos desenvolve lentamente, a conexão entre vocês é apenas a porta de entrada. Tente alcançar o coração dela como os humanos fazem.

— Como eles fazem para atrair as suas fêmeas?

— Hm… também não sei, talvez devesse perguntar a um humano?

— Não vou perguntar da minha fêmea ao outro macho que… — O rosnado da terceira forma fez a tenda estremecer.

— Entendo… foi uma péssima ideia, se ele fosse atraente para ela, não seria um EX…

— Me informe sobre o que é um marido, Dofona, e não mina dessa vez!

— Tá bom, mas controle a sua natureza. Um marido é o macho escolhido para acasalar e gerar uma família com a fêmea.

A minha fera emanou o impulso de caçar o humano, feri-lo de morte, montar e marcar a minha fêmea na frente dele, antes de tirar a vida do miserável. Os seus dentes rasgaram a minha gengiva e engoli o meu próprio sangue para controlá-la.

— Ela o escolheu? Um humano fraco e desprezível?

— Ela também é humana, meu Alfa, o seu preconceito não vai lhe ajudar em nada. O que acha de falar com o Antero? Ele é mestiço, sua avó era humana.

Antero era um jovem guerreiro do meu exército, muito forte e dedicado. A sua mãe entrou para o nosso clã por ser companheira de um dos deltas e trouxeram toda a família, incluindo a velha humana que morreu pouco antes do Lobo de Antero amadurecer.

— Vou pensar no assunto. Por enquanto, ordene aos machos que se reúnam na alameda de cortejo, vou buscar a minha fêmea e veremos se algum deles se revelará o gama.

— Sim, senhor, com prazer, mas não seria esse um trabalho para o Beta?

— O Beta foi ao território dos Lobos Negros para levar os papeis do acordo de troca de suprimentos para o inverno.

— O Alfa dos Lobos Negros está ampliando o território rapidamente, deixando um rastro de sangue por onde passa, o concílio teme que a Fera esteja se perdendo pela morte da companheira.

— Quanto mais terra tiver, melhor para nós. E se, por acaso, ele se perder, terei um pretexto para matá-lo e tomar tudo que tiver conquistado.

— Ele é nosso aliado…

Ela sorriu com astúcia.

— Sim, por enquanto, mas tirar a vida de um lobo perdido é um ato de misericórdia com o seu povo.

— Por que sinto que não seria por misericórdia que o mataria?

— Porque é um enxerida… e me conhece mais do que eu me sinto confortável.

Dófona sorriu, um sorrido verdadeiro, e acompanhou-me para fora da sua tenda. O meu lobo manifestou-se, lambendo os dentes na expectativa de encontrar a nossa fêmea.