A DONA DO MORRO

O baile

Depois do banho, me vesti com um roupão macio e fui para o quarto. O ambiente familiar me dava uma sensação passageira de segurança, mas a sombra do dossiê sobre o Bazuca pairava sobre mim, insistente. Deitei na cama, mas o conforto dos lençóis não era suficiente para acalmar minha mente. Peguei o dossiê de novo, relendo os detalhes chocantes que eu já sabia de cor.

Fechei os olhos, tentando afastar as lembranças dolorosas, mas a pergunta persistente não me deixava em paz: será que Bazuca planejava me m***r também? Se ele já havia atacado minha família uma vez, o que o impediria de fazer de novo? O medo se infiltrava em meu coração, mas eu sabia que não podia me deixar dominar por ele. Tinha que ser forte, pelo meu irmão e por todos aqueles que dependiam de mim.

Acordei com o rádio tocando.

Rádio on

— Alô?

— Juliana, posso ir te pegar agora?

— Sim, Grego, te aguardo!

Rádio off

Encerrei a ligação com Grego e fui para o banheiro tomar um banho rápido. De banho tomado, segui até o closet. Fiquei por alguns minutos pensando no que usar, então decidi por um vestido preto bem ousado, que eu nunca usei justamente por ele ser assim. Ele é curtíssimo e tem um enorme decote em V, tanto na frente como atrás.

Fiz uma maquiagem para a noite, deixei meus cabelos soltos, passei um perfume que amo, e fui em direção à saída da minha casa.

Encontrei Grego me esperando do lado de fora, e ele estava lindo, muito bem-vestido. Ele me cumprimentou e, antes de abrir a porta do carro para mim, encarou todo o meu corpo com luxúria, fazendo aquela cara de homem cachorro que me deixa toda acesa.

— Boa noite, Juliana! Está linda demais. — disse, olhando fixamente nos meus olhos.

— Obrigada.

Seguimos até o baile.

Assim que cheguei ao baile, meus vapores subiram, sinalizando que a dona do morro tinha chegado. Fui em direção ao camarote acompanhada por Grego, e todos abriram caminho nos olhando da cabeça aos pés. Quando fui subir o degrau que dava acesso ao camarote, Grego me deu sua mão para me ajudar devido ao salto alto que eu estava usando.

Assim que subi todos os 10 degraus, tive a visão de todo o baile. Lembranças de quando eu vinha aqui com meu irmão Alex vieram à minha mente.

De repente, fui tirada dos meus pensamentos por uma gritaria. Olhei na direção e vi a mulher barraqueira de Grego. Encarei Grego seriamente.

— Eu vou resolver isso, Juliana. — disse, parecendo estar com raiva.

— Acho bom mesmo.

Grego saiu apressado e foi até sua mulher, que continuava gritando feito louca. Enquanto isso, pedi para me trazerem uma caipirinha de limão. Fiquei saboreando a bebida enquanto assistia Grego batendo boca com a mulher dele. Fiquei rindo do modo como os dois discutiam, até que Grego levantou a mão para dar um t**a na Vanessa. Fiz sinal para que um dos vapores interferisse na briga.

Grego

Hoje é dia de baile. Me arrumei impecável, vestindo minha melhor camisa e calça, passando perfume como se fosse um ritual. Vanessa, minha mulher, disse que iria comigo, mas falei pra ela que não, que mandasse ela ficar em casa cuidando do nosso pivete, o Juninho. Ela, como sempre, não gostou e começou a resmungar, mas nem dei bola. Saí de casa e deixei ela gritando feito louca.

Dirigi até a casa da Juliana, e enquanto esperava por ela no carro, fiquei pensando em como ela estava ainda mais gostosa. Tá doido, sempre achei ela um mulherão da p***a, mas o Alex, o irmão dela, nunca gostou que ela se envolvesse com os caras da favela, ainda mais comigo, um homem casado. Quando ela saiu pela porta, fiquei de boca aberta. Juliana estava deslumbrante, com um vestido vermelho colado ao corpo, que ressaltava cada curva dela. Cumprimentei-a com um sorriso maroto e elogiei sua aparência.

— Você tá linda demais, Juliana.

Ela agradeceu com um sorriso tímido, e eu abri a porta do carro para ela entrar.

Ao chegar, fomos direto para o camarote. Juliana ficou observando o movimento do baile, enquanto eu procurava algum conhecido. De repente, a louca da minha mulher apareceu do nada. Juliana me encarou séria, e eu disse a ela que ia resolver.

— Eu falei pra você ficar em casa, sua filha da p**a! — agarrei Vanessa pelo braço com brutalidade, sentindo o calor da raiva subir pelo meu corpo.

— Você não manda em mim, Gabriel! — ela respondeu, puxando o braço de volta.

— Com quem você deixou o Juninho? — perguntei, apertando mais forte.

— Ele tá com a Laís.

— Você tá de brincadeira comigo, né? Deixou nosso filho com aquela viciada pra vir pro baile? Sua desgraçada!

— A Laís tá limpa há mais de três meses, Gabriel.

— Você vai voltar pra casa agora, sua v*******a!

— Eu não vou sair daqui! — ela gritou, atraindo a atenção de todo mundo ao redor.

Meus aliados e alguns vapores que presenciavam nossa discussão começaram a rir, comentando que eu não tinha autoridade sobre minha mulher. O ódio me consumiu, e eu decidi descer a mão nela, mas fui impedido por um dos vapores.

— Tá fazendo o que, seu arrombado? — olhei pra ele com fúria nos olhos.

Ele apontou para o camarote, onde vi Juliana se aproximando.

— Que p***a tá acontecendo aqui, Grego? — ela perguntou, a expressão séria e firme.

— Foi m*l, Juliana.

— Eu não quero confusão no baile. E você, Grego, não bata na sua mulher na minha frente.

— Não preciso que me defenda. — Vanessa cruzou os braços, olhando Juliana de cima a baixo.

— Não é o que parece.

— Tá se achando, né... — Vanessa retrucou com um tom ácido, seus olhos cheios de reprovação enquanto me encarava.

— Cala a m***a da boca, Vanessa! — gritei, minha paciência se esgotando completamente. O calor da raiva estava começando a queimar, e minha voz saiu mais alta do que eu pretendia.

— Leva a sua mulher pra casa. Depois você volta pra me buscar. — ela ordenou, com uma expressão desafiadora e o braço cruzado sobre o peito.

— Eu não vou embora! — Vanessa gritou, a determinação em sua voz desafiando qualquer tentativa de controle.

— Fica quieta, sua filha da p**a! — eu rostei com raiva, a frustração transbordando e misturando-se com uma sensação de impotência.