Assim que chegamos em casa, Grego desceu e abriu a porta do carro para mim. Desci e me despedi dele.
— Obrigada, Grego. — falei, mantendo a cabeça baixa e desviando o olhar enquanto me afastava dele, tentando esconder a emoção que começava a transparecer.
— Juliana? — ele me chamou, sua voz cheia de preocupação e uma pitada de surpresa.
Parei meus passos, respirei fundo para acalmar a agitação interna, e me virei para encará-lo.
— Manda o papo, Grego. — eu disse, tentando soar firme, mas minha voz traía uma leve tremedeira.
— Você vai se acostumar. — Grego falou com um tom de voz encorajador, seus olhos refletindo sinceridade. — Você é uma mulher forte. Não vai ser fácil, mas vai conseguir lidar com isso.
Concordei com a cabeça e dei um sorriso fraco. Dei mais alguns passos, entrei em casa e fui direto para o meu quarto. Tirei toda a minha roupa enquanto chorava, me sentindo a pessoa mais suja do mundo. Tomei um banho de banheira para tentar tirar a cena daquele homem caindo morto no chão da minha cabeça.
Minutos depois, saí da banheira devagar, vesti um roupão e fui me deitar. Peguei meu rádio e chamei um dos vapores.
Rádio on
— Rapaziada, quero que todos estejam em alerta máxima nesses primeiros meses da minha posse, entenderam?
— Sim, Juliana.
— Pode deixar.
— Vamos ficar atentos.
Rádio off
Desliguei o rádio e fiquei pensando nos acontecimentos do dia até adormecer.
Acordei às dez da manhã e fui fazer minha higiene pessoal. Depois, coloquei uma roupa para ir à academia. Assim que saí de casa, vi Grego do lado de fora e fui ao encontro dele. Enquanto me aproximava, os olhos dele rolavam por cada centímetro do meu corpo. Eu estava com um short bem colado ao corpo, marcando bastante minhas curvas, e um top preto.
— O que tá fazendo aqui, Grego? — perguntei, tirando os óculos de sol.
— Bom dia, Juliana! Eu sempre vinha cedo para buscar seu irmão. — disse ele, sem jeito, passando as mãos pelos cabelos.
— Meu irmão não está mais aqui, Grego. O que sua mulher acha de você levantar tão cedo do lado dela?
— Minha mulher não tem que se meter nos meus assuntos de trabalho. — disse sério.
— Sei. Vou para a academia, assim que voltar você pode me levar para o escritório. — falei, colocando os óculos de sol.
— Beleza, Juliana.
Grego deu uma última olhadinha para o meu corpo, fazendo uma cara de homem cachorro, e confesso que o jeito que ele me olhou me deixou toda acesa.
Eu sempre tive uma paixonite por ele. Quando ele aparecia em casa com meu irmão, eu notava seus olhares para mim. Mas, por eu ser a irmãzinha do chefe, ele nunca tentou nada. Meu irmão era do tipo ciumento, não gostava de ver os caras me paquerando, mas eu sempre dava minhas escapadinhas. Só com Grego que nunca tive oportunidade. Sempre fui louca para ficar com ele, mas minhas chances foram por água abaixo depois que fiquei sabendo que ele engravidou a Vanessa, que se tornou a mulher mais barraqueira do morro. Os dois acabaram se casando e, como não sou talarica, acho que agora minhas chances são zero. Ele e Vanessa têm um filho de 5 anos. Ouço boatos de que Grego vive traindo Vanessa, mas isso não é novidade; bandido não é homem de uma mulher só.
Saindo da academia, voltei para casa. Grego ainda estava me esperando. Entrei em casa, tomei um banho, coloquei uma calça jeans preta, um salto não muito alto e uma camiseta branca. Assim que me viu caminhando na sua direção, Grego abriu a porta do carro para mim.
Depois de algumas horas, já na minha sala, Grego apareceu querendo falar comigo.
— Juliana, o informante trouxe notícias. — disse com uma expressão de preocupação.
— Desembucha, Grego. — falei impaciente.
— O Chiclete, o nosso X9, suspeita que o Bazuca está desconfiado de que tem um informante infiltrado. Chiclete acredita que a invasão no morro pode acontecer antes do esperado.
— Que m***a!
— Calma, Juliana, nós vamos resolver isso.
— Eu quero saber mais a respeito desse Bazuca. Você faz isso para mim?
— É pra já, Juliana.
Grego saiu da minha sala, e eu fiquei pensando no quanto estava lascada. Medos passaram pelos meus pensamentos. O que vai ser se invadirem o morro? Eu não sei o que fazer.
Depois de algumas horas trabalhando e colocando tudo em ordem, lembrei que ainda não havia comido. Peguei minha bolsa para ir ao restaurante da dona Fátima, que era muito amiga do meu pai e da minha mãe.
Ao sair da minha sala, vi o Grego. Ele me entregou o dossiê completo de Henrique Vasconcelos, mais conhecido como Bazuca, o verme que queria invadir o meu morro. Olhei para o Grego e o convidei para ir ao restaurante da dona Fátima comigo.
Fomos caminhando e conversando sobre o Bazuca. Assim que entramos no restaurante, dona Fátima veio nos receber toda simpática. Grego e eu pedimos nosso almoço, mas eu quase não toquei na comida, pois estava lendo aquele dossiê abismada com as maldades do Bazuca. Uma delas fez meu coração sangrar.
— Então foi ele, o desgraçado que matou o meu irmão? — perguntei com ódio na voz.
— O próprio.
— Filho da p**a!
— Ele vai pagar por isso. — disse Grego, colocando sua mão sobre a minha.
Puxei minha mão rapidamente quando percebi que Grego não desgrudava os olhos da minha boca.
— Está tudo pronto para o baile de hoje à noite. Quer que eu te busque?
— Sim, por favor, Grego. Te espero às 22h. Cuida dos demais afazeres do morro agora à tarde. Estou com muita dor de cabeça, preciso ir para casa.
Dei essa desculpa apenas para poder ir embora. Estava com vontade de chorar e não queria chorar na frente de ninguém.
Voltei para casa com o coração pesado e a mente fervilhando de pensamentos sombrios. Assim que entrei, fui direto para o banheiro. Abri o chuveiro e deixei a água quente escorrer sobre meu corpo. Fiquei ali por longos minutos, sentindo a água bater nas minhas costas e escorrer pelo meu rosto.