As melhores cartas de amor são escritas em papel amassado, caligrafia confusa e manchas púrpuras de um vinho barato nas bordas do papel. Guardei o anel que me deu junto com a dança no meio do quarto com aquela música brega tocando. Minha paranoia virou arrependimento porque eu sei que cada segundo com você é um pecado. E eu sinto tanta falta de sentir algo bom, algo que seja além de culpa, vergonha e medo.
Mesmo sabendo que era falso eu queria fingir que eu não estava lá, que eu era uma atriz em cena, vivendo o papel e falando o que outra pessoa falaria. Mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira. Uma mentira que machuca, porque eu sei que não deveria ter vergonha de quer o teu abraço. Tem sido tão solitário nos últimos anos. Não é justo. A gente n******e usar as pessoas pra preencher o vazio.
Já tentei de tudo para entender porque estou aqui. De Baco, Jesus e Deusa Tríplice: nenhum fala comigo. Queria tanto ter fé. Queria tanto achar sentido pra qualquer coisa, uma voz vinda do além, um trecho de livro sagrado que me faz florescer… Mas tudo que eu sinto é nada. Não chega nem a doer. Era melhor quando doía. Quando a saudade de quem se foi não era só teoria. Quando eu tinha sonho e batia no peito acreditando que podia fazer um país melhor.
Esse é um mundo de ilusões e odeio ter amigos profetas. Certa vez, um deles me disse que quando Cartola cantava que o mundo iria triturar, ele cantava de mim. E é isso. O mundo triturou a poesia, o sorriso, a v*****e de lutar. Sei que não há muito mais. Embora eu sempre esteja certa, espero errar de novo. Errar pro bem. E viver outra vez.