Ruby abre os olhos

2341 Words
Ruby despertou algumas horas depois. Não havia ninguém no quarto. Ela se sentia sonolenta. Mesmo tentando se levantar, ainda assim, estava tombando, sequer conseguia apertar o interruptor para chamar as enfermeiras. — O que você está aprontando? — MB perguntou ao notar que Ruby estava tentando se esticar para alcançar o interruptor — Parece até um boneco de posto que não se sustenta em pé. Te aquieta. Disseram que você ia dormir o dia todo. Não deveria estar acordada. — MB! É você? Você está bem? — Ruby sentia a culpa de não ter perguntado antes, mas aliviada de ter uma outra oportunidade de fazer aquela pergunta. — Perdeu um pedaço do fígado, mas parece que vai sobreviver bem. — Lisa entrou no quarto guardando o celular, tinha uma aparência cansada. Não havia dormido ainda. — Verônica acabou de me ligar. Perguntou se havia acontecido algo com você. Eu menti e disse que você estava na aula. Ela não acreditou, óbvio, afinal, você não é do tipo que iria insistir em ir para aula, ainda mais, quando tinha uma belíssima desculpa para faltar, mas por sorte, Vitor chamou e ela teve que desligar. Como você está se sentindo? — Melhor que você. Olha sua cara. Parece um panda. E que história é essa de perder um pedaço do fígado? Não era apenas um corte? Uma infecção? — Ruby perguntou olhando para olhando para os dois que trocavam olhares como se estivessem combinando uma mentira. — Sabe que você olhar assim para ele, sem pentelhar já prova que estão me escondendo algo. Deixe de frescura. Fale logo. Se eu achar que é mentira vou tentar levantar daqui e descobrir por mim mesma. — Mesmo que quisesse, você não iria conseguir descer da cama. No máximo cair. Sequer consegue controlar sua língua por conta da medicação. Não percebeu que está falando pesado? De toda forma, não há razão para esconder nada. Parece que o super-herói ali ao tentar sair do carro com você, se cortou no vidro enquanto passava. O corte foi bem grande, perdeu muito sangue e ele fez os primeiros socorros que podia fazer. Estancou o sangue e seguiu a vida. Acredito que ele pegou algum peso que fez a ferida se abrir novamente. O que gerou um enfraquecimento. E se demorasse um pouco mais, seria tarde demais. Mesmo assim, o pior foi a pequena lasca de vidro, que se alojou por sorte em seu fígado, um pedaço do tamanho de nada foi retirado. Ele vai precisar de uma semana de descanso e estará bem. — Muriel explicou escorado na parede. — E Ruby, quando vai poder sair daqui? — Lisa não estava realmente preocupada com MB, estava feliz que ele estivesse vivo, já que salvou sua amiga, mas mesmo assim, não podia deixar de pensar que aquele homem era o culpado por Ruby estar naquelas condições. — Ela já está de alta, mas por conta da situação, mexi uns pauzinhos e consegui que ambos tivessem alta. Afinal, parece que não é seguro para nenhum dos dois ficar aqui. Os médicos estão preparando as medicações que MB terá que tomar e podemos ir embora. — Muriel se aproximou de Lisa, colocando a mão em sua testa. — Você precisa dormir. Por hoje, vou ficar no apartamento de vocês para que ambas descansem. Se acontecer algo, posso ajudar. E vamos passar para te deixar em seu apartamento. Espero que consiga alguém para cuidar de você. — Agradeço, mas não será necessário. Fico feliz que conseguiu minha liberação. Minha equipe está vindo me pegar. Podem ir na frente e levar a Ruby. Eu posso me virar já. — MB explicou para Muriel com cara de poucos amigos. — Que? Não faz sentido. Vamos deixar ele nessas situação sozinho? Não faz sentido algum. Ele claramente está em uma situação muito pior que a minha. — Ruby respondeu olhando para Lisa. — Vou levar a Lisa embora. Ela precisa descansar. Passamos a madrugada procurando por vocês. Depois viemos para o hospital. Eu não vou deixar ela ficar aqui sem razão alguma. Ainda mais, sabendo que podem atacar você a qualquer hora. Vou levar as duas para casa agora. Se ele disse que ficará bem, vai ficar. Ele não está mais em risco. — Muriel alertou Ruby. Não queria deixar Lisa em risco. Se pudesse, afastava as duas, mas sabia que Lisa nunca permitiria isso. A opção mais segura ela levar ambas para casa. — Muriel está certo. Você viu o que aconteceu. Se descobrirem que estamos aqui, será perigoso. Minha equipe estará comigo e eu ficarei bem. Estarei no meu apartamento em alguns minutos também. Não há razão para confusão alguma. Você pode me ligar mais tarde. — MB sabia que não haveria ataques por enquanto, sua equipe havia alertado que o boato que circulava era que os dois únicos herdeiros da máfia estavam mortos, mas ele preferia ter certeza que Ruby estaria bem. — A noite eu ligo para você então para ter certeza que está em casa. Me desculpa ir antes. Apenas não quero colocar mais ninguém em problemas. — Ruby sabia que se decidisse ficar, Lisa também ficaria e se criaria em briga com Muriel, que está tentando manter todos em segurança. — Combinado. — MB sorriu, antes de falar com Muriel — Fico te devendo essa, por cuidar da minha mulher. — Não estou fazendo nenhum favor para você ou para sua mulher. Estou levando Lisa e sua amiga em segurança para casa. Não quero ligação nenhuma com você. E espero que faça o mesmo. Nos deixe fora da bagunça que é sua vida. — Muriel não fazia ideia que não existia essa opção, Ruby estava envolvida com aquilo desde o dia que foi concebida. MB não queria arrumar confusão, apenas ficou em silêncio. Muriel trouxe uma cadeira de rodas, ajudou Ruby a descer da cama. Em poucos instantes, já estava levando ela em direção à porta. — Espera! Matteo! Me ligue se precisar de algo. Você tem o número da Lisa, né? Qualquer coisa, viu? — Ruby disse antes de ser levada para o lado de fora. — Que? Como você... — MB não fazia ideia de como Ruby havia descoberto seu verdadeiro nome. — Fazia muito tempo que não ouvia alguém me chamando dessa forma. A ida para casa foi em total silêncio dentro do carro de Muriel. Lisa e ele estavam completamente exaustos. Ruby não conseguia parar de pensar em MB sozinho no hospital, o que fez ela esquecer um pouco sobre tudo que havia descoberto antes do acidente. Quando finalmente chegaram em casa. Ruby subiu as escadas com ajuda de Lisa. Muriel foi atrás apenas para ter certeza que as duas não acabariam tombando, sabendo como eram desajeitadas. — Vou esquentar o resto da lasanha de ontem para gente comer. Tá? — Lisa disse a Ruby que estava deitada na cama descansando. — Certo. Me empresta seu telefone? Eu quero ler as notícias. Saber o que está acontecendo. Acho que amanhã vou comprar um novo para mim. — Ruby pediu para ver se havia algo nas notícias sobre seus pais. — Depois do jantar. Por enquanto, você deve apenas descansar. — Lisa orientou Ruby que concordou. Demorou alguns minutos para ela pegar no sono novamente. Lisa preferiu não acordar ela para jantar. Ela e Muriel comeram juntos, antes de irem dormir. Ambos estavam extremamente cansados daquele dia. Ruby acordou algumas horas depois. Já era madrugada. Levantou da cama se sentindo bem melhor. O efeito da medicação havia passado. — Será que ele chegou em casa? — Ruby se perguntou enquanto ia em direção ao carregador de Lisa na sala. Olhou a hora. Viu que já havia passado da meia noite. Procurou por mensagem ou ligações de MB, mas não havia nenhuma. Decidiu ligar. Estava preocupada demais para ignorar. — Será que ele está dormindo? — Ruby pensou em voz alta enquanto ouvia a ligação caindo na caixa postal. Ruby decide não insistir, acreditando que MB podia estar dormindo, cansado depois daquele dia caótico, achou melhor tentar fazer contato no outro dia. Como já estava acordada e sem sono, decidiu esquentar a lasanha enquanto assistia um filme. O filme se transformou em uma série. Ruby acabou dormindo no sofá quando o sol já estava saindo. Lisa se surpreendeu quando acordou pela manhã e encontrou a amiga dormindo na sala, mas vendo a bagunça na cozinha, imaginou o que poderia ter acontecido. — Tenho que ir para aula. Só devo aparecer no fim do dia por aqui, se acontecer alguma coisa, me avise. Estarei com o celular ligado o tempo inteiro. — Muriel disse já na porta do apartamento, enquanto pegava a chave no bolso.— E temos que conversar sobre o que aconteceu naquela noite. Depois da história de Ruby, acabamos não conseguindo conversar, mas não quero que você acabe pensando algo errado da situação. — Faremos isso depois. O momento não é oportuno. E não se preocupe com isso. Eu não irei criar nenhuma situação constrangedora. — Lisa sorriu sem jeito, tinha medo do que Muriel queria dizer com aquela conversa. Afinal, mesmo depois do que rolou entre eles naquela noite, ele ainda continuou tratando ela da mesma forma. — Tenha uma boa aula. Vou ficar em casa agora pela manhã, para ter certeza que Ruby vai acordar bem. Só devo ir para aula à tarde. — Entendi. Até de noite. Me ligue se precisar de algo. Estarei o dia inteiro no Campus — Muriel se despediu antes de descer as escadas correndo, já que estava atrasado, precisava passar em casa para tomar banho e se trocar para aula. Lisa, que estava inquieta com tanta coisa passando em sua mente, decidiu que iria limpar a casa para aguentar aquela ansiedade que ameaçava tomar conta dela. Ruby despertou algumas horas depois. — Lisa? — Ruby chamou surpresa ao notar que os móveis do apartamento estavam em lugares diferentes. — Eu mudei de casa? Ou estou alucinando? Tenho certeza que dormi assistindo televisão, como tem uma mesa na minha frente? — Eu estava ansiosa. Antes mudava os móveis do quarto de lugar, agora posso mudar a casa inteira. — Lisa explicou sem jeito. Não sabia como contar a amiga tudo que estava revirando a mente dela. Na atual situação, parecia algo tão bobo, em comparação a alguém que está sendo ameaçada de morte pela máfia. — E você, como se sente? — Bem. Acho que depois de praticamente hibernar. Não tem como meu corpo não se sentir bem. Deve estar completamente renovado — Ruby notou que Lisa estava maquiada e arrumada — Vai para aula? Ou vai ter outro encontro com senhor Muriel? O clima entre vocês está interessante. Acho que você tem que me atualizar sobre as mudanças entre vocês. — Sim. Algumas coisas aconteceram, mas estou indo para aula. Não posso perder a de agora a tarde, mas deixei o almoço pronto, quer dizer, fora do congelador, temos comida que trouxemos do restaurante ainda. Vou deixar meu celular contigo. Qualquer coisa você liga para Muriel e ele me encontra na sala. Ele tem todo meu horário já. Eu devo chegar antes das seis. Já passo em uma padaria e compro algo para o jantar. De preferência, espero que você fique aqui quietinha. — Lisa alertou a amiga. Tinha medo que ela acabasse se envolvendo em mais problemas. — Está com medo que eu fuja? Até parece que está falando com uma adolescente apocalíptica que vive envolvida com problemas. — Ruby brincou vendo como Lisa se parecia com Verônica naquele momento, não há como negar que as duas têm o mesmo sangue. — Sim. Você é. Tem noção que em menos de 72 horas você foi sequestrada, ameaçada de morte, teve de carro explodido e seu carro alvejado por tiros antes de cair de um penhasco? Tudo isso em menos tempo do que levamos para fazer nossa mudança para cá. Se há uma coisa que você é, é apocalíptica. Parece que nunca se sabe o que pode acontecer com você um minuto depois. — Lisa fez careta. Quando mais ela lembrava de tudo que havia acontecido, mais louco ela pensava ser tudo aquilo que tinha acontecido. — E não sei porque, tenho a sensação que vem muito mais por aí. Estamos lidando apenas com o começo. — Em minha defesa, não tive culpa de absolutamente nada que aconteceu. Eu estava apenas seguindo com minha vida. — Ruby levantou a mão como se estivesse mostrando rendição, brincando com a situação. — Sim. Acho que você terá que me explicar com mais detalhes o que aconteceu. Tudo que fiquei sabendo foi por cima. Para conseguir te apoiar, eu preciso saber o que realmente está acontecendo, mas por enquanto, apenas durma. Aqui está meu celular. — Lisa disse entregando o celular nas mãos da amiga. Sentia mais segura em deixar ela em casa, sabendo que ela pode fazer contato com alguém. — Tudo bem. E não precisa se preocupar. Eu vou ficar bem. Já estou para ser sincera. — Ruby respondeu sorrindo. Ainda sentia um pouco de dor, mas nada que realmente incomodasse. — Certo. Se cuide. — Lisa não estava completamente confiante em deixar Ruby sozinha, por isso, pensou que seria uma boa ideia ela com o celular para emergências. Ruby acenou vendo a amiga partir. Olhando para o celular. Tento ligar novamente para MB, que continuava sem responder ou ligar. Suspeitando que ele ainda estava dormindo, decidiu deixar para ligar mais tarde e aproveitou para almoçar. Assim que terminou, não pode deixar de se preocupar com MB e seu desaparecimento. Lembrando que havia compartilhado a localização dele para o celular de Lisa. Cruzou os dedos esperando que ainda tivesse ligado, mostrando onde ele estava. — Isso não é longe daqui. Uma rua depois. Não deve ter problema ir confirmar se está tudo bem com ele, não é? — Ruby pensou ao ver onde exatamente estava MB. Sabia que havia dito a Lisa que ficaria em casa, mas não podia suportar mais a dúvida se MB estava bem ou não.
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